Entrevista Edmardo Galli – História da Internet no Brasil, carreira, tecnologia e seu impacto em nossa vida
Assistimos a um período de grandes transformações tecnológicas e mudanças exponenciais nos aguardam. Discuti-las mais que nunca será de vital importância. Com este propósito entrevistamos…
Assistimos a um período de grandes transformações tecnológicas e mudanças exponenciais nos aguardam. Discuti-las mais que nunca será de vital importância. Com este propósito entrevistamos o Edmardo Galli, um dos pioneiros da Internet no Brasil.
Em um bate-papo descontraído, fizemos um passeio pelos anos 80, passamos pela história da Internet, para chegar à grandes questões do nosso tempo: inovação, transformação no mercado de trabalho, disrupção tecnológica e as tendências mais quentes do marketing digital.
Edmardo Galli, deu um show de simpatia e transparência, nos revelando através da sua trajetória, diferenciais de carreira, angústias e desejos, assim como atitudes que podem levar a ter sucesso em seus projetos. Confira vídeo!
Confira entrevista com Edmardo Galli
Denise Pitta: Edmardo, atualmente você é CEO da IgnitionOne, líder global em marketing digital, mas você tem uma peculiaridade: começou sua carreira no ramo artístico nos anos 80, conta pra gente como foi esse processo?
Edmardo Galli: Minha história foi uma história confusa… E foi difícil contar uma história bonitinha das minhas desventuras de vida. Na verdade, eu fiz muita coisa …
Eu comecei na música bem novinho, com 15 anos, eu já tocava. Com uns 16 anos, eu queria fazer sucesso! Todo mundo tem vergonha de dizer isso, mas eu garoto, eu queria!!! Queria ter uma banda de rock famosa…
Então com 17 anos eu entrei em uma banda de rock conhecida, a Hanói-Hanói, que tinha aquela música: Totalmente demais… Com 21 anos eu entrei para uma banda que era ainda mais famosa na época, a Heróis da Resistência que tinha o Leoni, Jorge Shy… Foi uma fase muito divertida! Passei mais ou menos uns 10 anos de música.
Vídeos e fotos dos anos 80 – Edmardo Galli
Totalmente Demais / Hanói-Hanói / Vídeo Original 1986 – Edmardo Galli
Heróis da Resistência – Doublé de Corpo – Edmardo Galli
A banda Heróis da Resistência estava constantemente se apresentando nos principais programas de TV dos anos 80 como Chacrinha, Xuxa e Angélica
Depois disso resolvi me embrenhar pela dramaturgia. Eu achava que ser ator poderia ser algo bem interessante, mas aí eu comecei a escrever. Na época eu era casado com uma atriz, Maria Mariana, que era muito conhecida. Ela escreveu um diário, que virou uma peça, que virou um seriado – o Confissões de Adolescente – que fez muito sucesso.
Eu participei dessa época. Escrevemos o seriado e fomos morar na França para filmá-lo. Fizemos isso por alguns anos, também foi uma fase bem legal!
A atriz Maria Mariana e seu diário que virou peça e seriado: o Confissões de Adolescente
No livro Cara Metade, Edmardo Galli em conjunto com sua esposa na época, Maria Mariana, escreveu sobre as delícias e as desventuras da vida a dois. Os dois também tinham uma crônica na Revista Capricho de enorme sucesso nos anos 90
História da Internet no Brasil – Anos 90
Denise: Com toda essa experiência no mundo artístico, como foi a transição para que se tornasse um dos pioneiros do mercado digital no Brasil?
Edmardo Galli: Em 1995 a Internet chegou ao Brasil. Eu tinha dois amigos voltando de Nova Iorque, eles tinham feito um curso sobre Internet e eu fiquei deslumbrado com tudo aquilo. Tivemos a ideia de montar uma empresa para este novo mercado.
Em 1996 ainda não se sabia o que exatamente seria a Internet*, mas a gente resolveu montar uma produtora de websites, que era o que tinha para fazer na Internet naquele momento.
*O que seria Internet? Na época não era algo simples de se explicar… Era um sistema técnico denominado Protocolo de Internet (Internet Protocol) permitia que o tráfego de informações fosse encaminhado de uma rede para outra. O cientista Tim Berners-Lee, do CERN, criou a World Wide Web em 1992. Agora, imagine tentar explicar todo esse processo lá nos idos de 1995 quando a Internet estava chegando no Brasil e não se tinha nem ideia de toda a revolução que desencadearia. Em 1996, Edmardo Galli criou com os amigos Michel Schwartzman e Martha Bevilacqua, uma das primeiras agências de marketing digital do Brasil.
Nessa época, por exemplo, na empresa, éramos três pessoas, um computador e uma linha de telefone. Ou você se conectava na Internet ou falava ao telefone, mas não dava para fazer os dois ao mesmo tempo.
E a gente teve a ideia de contactar personalidades. Fizemos o website do Romário e do Ronaldo ‘Fenômeno’ que foi destaque na Veja e no Jornal Nacional. Inclusive, foi uma das primeiras vezes que o Jornal Nacional falou sobre Internet.
Lançamento do site do Ronaldo ‘Fenômeno’ no Jornal Nacional.
Essa primeira produtora chamava 10’Minutos e na época era uma coisa totalmente empírica, pois não tinha modelos de negócios, tudo ainda estava começando, o que tinha para fazer era websites e logo depois veio a publicidade, e aí é que começou a crescer…
Eu acho que esse mercado, essa indústria se consolidou mesmo depois da “Bolha da Internet”**. Depois dessa época, por volta de 2000 e 2001 é que realmente começou a ter dinheiro, quando cresceu realmente e passou a ter mais publicidade e a gente lucrou muito por ter aberto uma das primeiras agências do Brasil.
10 anos depois essa agência foi crescendo, crescendo e foi adquirida em 2007 pela Ogilvy, o maior grupo de comunicação do mundo.
**A bolha da Internet ou bolha das empresas ponto com foi uma bolha especulativa criada no final da década de 1990, caracterizada por uma forte alta das ações das novas empresas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) baseadas na Internet. No auge da especulação, o índice da bolsa eletrônica de Nova Iorque, a Nasdaq, chegou a alcançar mais de 5000 pontos, despencando pouco tempo depois. Considera-se que o auge da bolha tenha ocorrido em 10 de março de 2000. Ao longo de 2000, ela se esvaziou rapidamente, e, já no início de 2001, muitas empresas “ponto com” já estavam em processo de venda, fusão, redução u simplesmente quebraram e desapareceram.
Sites das Antigas
Perfil Empreendedor
E eu continuei na Internet, montando empresas. Montei uma empresa de rúcula hidropônica, com a ideia de fazer uma coisa que eu nunca tinha feito, fora do digital. Em Jundiaí, fizemos 8 estufas gigantes, com sistema de canos embaixo da terra para gotejar. Eu estava achando o máximo, comecei a me chamar de “O Rei da Rúcula”!
Enterramos dinheiro ali, afogamos nosso dinheiro naquela água. Ficamos com a empresa cerca de 1 ano e meio e verificamos que não tinha retorno.
Foi um bom aprendizado, hoje eu acho que se você não é padeiro, não abra uma padaria…
Transição de Carreira – Transformação no emprego
Denise: As estatísticas mostram que o povo brasileiro está amadurecendo, em breve teremos mais velhos do que jovens. As pessoas estão vivendo mais e com mais qualidade de vida, o que estenderá sua vida profissional. Por outro lado, há uma previsão de que muitas áreas de trabalho irão desaparecer com o avanço da tecnologia… Essas duas tendências tornará as transições de carreiras, como as que você fez, cada vez mais comum. O que você recomenda para se adiantar e ter sucesso?
Edmardo Galli: A questão de eu ter um perfil empreendedor sempre foi importante para mim e acho que será para todo mundo. Esse perfil de funcionário, é um perfil antigo que eu não acredito mais, digo em relação a essa mentalidade.
Sei que é um assunto extremamente delicado, mas a forma que a CLT coloca no Brasil, tira o empreendedorismo das pessoas, transformando-as em funcionários. Eu comparo muito com os Estados Unidos, que é mais mercado, não tem nada disso: se o cara é bom ele fica, se não é, ele levanta e vai embora e não tem nada para receber.
Não acredito nesse perfil paternalista pelo simples fato de que mata o empreendedorismo dentro das pessoas. Para mim, o empreendedorismo é uma angústia, quando você entende que não tem segurança – e mesmo com CLT, ninguém tem segurança -, você precisa se mexer. Se você tem isso mito claro, as coisas acontecem… Mas todo esse sistema paternalista, cria um medo e o medo é o que paralisa o ser humano, o profissional.
Inovação, Tecnologia e seu Impacto no Emprego
Denise: Temos ouvido muito o termo “Disrupção Tecnológica”. O que isso significa e como vai impactar a vida das pessoas e das empresas?
Edmardo Galli: Eu sou um grande fã das soluções tecnológicas durante toda a história da humanidade, na minha opinião, elas vêm para ajudar a raça humana.
A transformação tecnológica e digital, obviamente traz medo, mas isso é inerente à vida. O novo assusta muito, porque ele não vem de uma forma muito suave, inclusive na natureza. O novo destrói o velho. É um processo doloroso, mas não só na tecnologia, é também no mundo, na natureza, entre os animais…
Eu vejo toda essa revolução tecnológica de uma forma muito positiva. Por exemplo, perder empregos: alguns empregos devem ser perdidos mesmo, porque são desumanos. A gente vem melhorando o nível de trabalho dos seres humanos a séculos.
Saiba mais sobre as transformações no emprego e na carreira aqui e aqui.
Aquele cara que só apertava um parafuso? Perder esse emprego, é algo extremamente positivo! Novos empregos vêm sendo criados, a própria indústria digital abarcou umas duas gerações que não teriam emprego se não fosse essa nova indústria que vem sendo criada com a inovação tecnológica, que é a Internet, publicidade…
É um processo disruptivo e qualquer processo disruptivo, tem o seu lado agressivo, mas ele é extremamente positivo para humanidade.
Se você olhar de ano em ano, ou de 10 em de10 anos, você pode ver flutuações na qualidade de vida do ser humano, mas o fato é que se você olhar em períodos maiores, como 100 em 100 anos, se olharmos para a história da humanidade a gente sempre progrediu e nunca estevemos melhor em qualquer parâmetro de comparação, como mortalidade infantil, renda per capta ou qualquer outro. A gente nunca esteve melhor como civilização.
Marketing Digital
Denise: Quais as estratégias, ferramentas mais inovadoras e dicas de marketing que você considera mais efetivas?
Edmardo Galli: O marketing baseado em dados, é um movimento bastante interessante. A coleta de dados que é uma coisa recente e trouxe a possibilidade de individualizar a comunicação com o usuário. Hoje a gente se comunica com uma pessoa especificamente. Sabemos o que essa pessoa gosta, quanto é essa vontade de comprar aquele produto, se é pouca ou se é muita, e podemos orquestrar toda essa comunicação com o usuário.
Esse é o novo marketing, o marketing de dados que as tecnologias trouxeram. Só vai aumentar a capacidade dos algoritmos coletarem dados dos indivíduos pra gente poder fazer uma comunicação cada vez mais personalizada.
Por exemplo, se você entra em um site, eu começo a ver sua navegação e o que você gosta naquele site. Se é um site de produtos, mais fácil ainda, a gente determina que produtos você está interessado, se você volta e passa por outros lugares que eu possa coletar dados, eu começo a cruzar esse dados para enriquecer o profile daquele indivíduo. Podemos, inclusive, comprar dados de CPF, dados de PII, (Informações de identificação pessoal (Personally Identifiable Information – PII, em inglês).
Quanto mais rico esse profile, com mais dados, melhor a comunicação com esse indivíduo.
Denise: As pessoas ficam um pouco assustadas com essa exposição. Qual sua visão sobre essa questão?
Edmardo Galli: É para o bem, tudo isso, não é para o mal. Nesse sentido, sempre fui aquariano: sempre dei meu cartão na Internet, desde sempre, nunca tive nenhum problema. Eu não tenho muito esses medos fantasmagóricos de que a máquina vai dominar o mundo.
Acho um pouco romântico, um pouco ingênuo esse medo dos dados. Já damos os nossos dados a muitas décadas, de uma forma ou de outra… Hoje as empresas tem a capacidade só de serem mais assertivas. isso possibilita que a gente não encha o saco da pessoa. Ainda enche, mas…
Em resumo, personalização, aliada com a Inteligência artificial, vai comandar essa comunicação. Ela que vai tomar decisões, do que comunicar, quando, onde… Em poucos anos vamos ter uma Siri da vida comandando a comunicação com cada indivíduo em escala.
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Denise: Para finalizar, o que você acredita que será diferencial, ou áreas profissionais em alta para os próximos anos?
Edmardo Galli: Qualquer coisa ligada ao marketing de dados estará muito em alta, mídia é outra área que vai continuar crescendo. Sempre faltou gente em mídia e vai continuar faltando. Gente boa eu falo, que tem forte a matemática, a questão da análise de dados. Bons mídias continuam dominando o mercado e com salários altos.
Saiba mais sobre Edmardo Galli
Reconhecido como pioneiro do mercado digital Brasileiro, Edmardo Galli fundou sua primeira empresa digital em 1996 – a agência interativa 10’Minutos, adquirida pela Ogilvy & Mather em 2007. Foi presidente para a América Latina da Umbro.com e presidente Brasil da Todosport Network. No mercado de entretenimento, Galli ganhou reconhecimento nacional através de duas bandas de rock, Hanói-Hanói e Heróis da Resistência, atingindo discos de ouro e platina em vendagens. Atualmente, é responsável pelas operações na América Latina da IgnitionOne e combina sua experiência artística e corporativa no meio-dia de sua liderança executiva.
Confira outra entrevista com Edmardo Galli:
Agradecimentos
Agradecimentos especiais ao Vinícius Moura e à Camila Di Cezar que ajudaram na organização da entrevista. E ao Elton Renato da 3seventv pela edição do vídeo.
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