O WeAr Brasil, seminário que tem por objetivo conectar Moda com Tecnologia, apresentou um show de inovação. A roupa do futuro foi o tema desta segunda edição que reuniu em São Paulo estilistas e pesquisadores nacionais e internacionais para discutir a tecnologia vestível e o futuro da moda, com direito a desfiles, peças demonstrativas e até robô!
Dentre os objetivos do WeAr, está o de explorar a interseção da moda com a tecnologia, fortalecendo o mercado brasileiro e promovendo o contato entre makers e estilistas com o propósito de incluir o Brasil como um player forte neste segmento que movimentará US$ 30 bilhões só em 2016.
Lembrando que toda essa revolução só está no começo, pois assistimos a era do desenvolvimento exponencial da tecnologia e que a inovação é feita através da propagação de ideias, processo que vem sendo intensificado ainda mais pelo advento da Internet e redes sociais.
Por que investir em inovação?
Testemunhamos o surgimento de uma “economia do conhecimento” na qual, a pesquisa e a inovação tecno-científica se tornarão o motor central no modo de produção.
Em uma economia onde a única certeza é a incerteza, a inovação é fonte segura de vantagem competitiva. Quando os mercados mudam, as tecnologias proliferam, os concorrentes se multiplicam e os produtos se tornam obsoletos quase da noite para o dia, as empresas de sucesso serão aquelas que, de forma consistente, criam novos conhecimentos, disseminam-nos profusamente em toda a organização e rapidamente os incorporam em novas tecnologias e produtos.
A curva de adoção das inovações é outro ponto que merece destaque: geralmente temos de 5 a 10% de retardatários, de 80 a 90% de medianos e 5 a 10% de inovadores. O interessante é que o tempo de aprendizado das inovações é quase o mesmo para todos os níveis e sair na frente acaba sendo uma grande vantagem, por haver um período maior de assimilação das novas ideias, o que também permite a percepção de oportunidades e possibilita surfar em ondas que estão em ascensão permeadas de ganhos.
Daí a importância de iniciativas como o WeAr, pois não só ajudam a pensar o futuro, mas também a construí-lo, abrindo caminho para a inovação, capaz de proporcionar insights e soluções que acabam por separar as empresas que terão sucesso, das que não sobreviverão.
Wear Brasil 2016
O festival de tecnologia vestível teve curadoria da jornalista Alexandra Farah, que deu foco aos wearables (tecnologias vestíveis), que estão mudando a maneira como as pessoas se relacionam com as roupas. O evento foi realizado em novembro de 2016 no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo .
Em apresentações rápidas que nos deixaram um gostinho de quero mais, especialistas em wearables de Nova York, de Portland, da França, além de destaques nacionais, apresentaram um pouco dos seus trabalhos, como foi o caminho do desenvolvimento e o que acreditam para o futuro.
Antonio Dianin, engenheiro e médico, apresentou o R1T1, considerado o melhor robô de telepresença do mundo e que também foi o primeiro a carregar uma Tocha Olímpica. O R1T1 ajuda, entre outras coisas,mostrou alguns dos produtos da Project Company, como o Chip de Implante NFC RFID (R$ 300,00) e o Anel Inteligente NFC RFID (149,00) que são capazes de executar várias funções através da tecnologia de comunicação sem fio RFID: executa funções do telefone móvel, como compartilhar os dados, bloqueio APP, execução automática, ocultar APP, compartilhamento de cartão de visita apenas encostando o gadget no celular da outra pessoa, link de internet de compartilhamento, compartilhamento de texto e arquivos de compartilhamento on-line. Resistentes a água, as peças não precisam ser carregadas.
O Ricardo O’Nascimento, fusionist designer, que possui um estúdio criativo com sede em Rotterdam (Holanda) com foco em inovação em roupas e ambientes inteligentes, trouxe algumas de suas criações performáticas, como uma roupa que emite flashes de luz lembrando aos fotógrafos quem é a estrela da noite ou o vestuário que captura as cores e formas de seu ambiente através de microcâmeras e as traduz em padrões gerados por computador exibidos em sua superfície de LED. Caminhando pela cidade, a peça wearable pode refletir a arquitetura circundante, ou “replay” de padrões gravados.
Contando sobre o desenvolvimento de um sapato que emite sons, podendo até compor melodias com as pisadas, Ricardo nos mostrou algumas etapas da criação do protótipo que já está pronto. Mas o interessante foi que, ao responder uma pergunta sobre a comercialização deste produto, Ricardo revelou a complexidade envolvida na criação de uma wearable: “Quando você imagina um produto como este, é necessário pensar em todo ecossistema, como por exemplo, como será a assistência técnica? Se é vestível, também precisará ser lavável? É necessário pensar até no descarte das peças… Sem contar todas as licenças envolvidas. Ao pensar em produto, você precisa pensar em todo o ecossistema envolvido nesse produto”, revela o designer.
O’Nascimento também expôs o seu trabalho com bastante generosidade, nos mostrando como as peças funcionam por dentro. O designer possui um estúdio criativo com sede em Rotterdam (Holanda) com foco em inovação em roupas e ambientes inteligentes.
Outra apresentação que foi bastante marcante para mim, foi a da Andrea Bisker, que mostrou cases de realidade virtual e como ela pode nos ajudar a criar relações de afetividade e empatia.
Entre outros exemplos, a trend specialist, citou os óculos de realidade virtual, que podem ser usados para gerar empatia pela causa do outro, e, também proporcionar uma forma de vivenciar a realidade de outras pessoas.
Andrea embasou sua apresentação no sociólogo francês Michel Maffesoli que fala da Era dos Afetos. “Na avaliação dele, a era moderna chegou ao fim em meados do século 20, junto de seus paradigmas. O individualismo dá lugar a “pessoa plural”, a crença no presente sai de cena para a valorização do presente e o racionalismo cai diante do sentimento. Esse é, para ele, o “espírito coletivo” da pós-modernidade. Na avaliação de Maffesoli, os seres pós-modernos acentuam o sentimento, as vibrações espirituais e artísticas. Segundo ele, a palavra é sintonia. É estar no tom com os outros humanos. É, para o autor, uma ética da estética.”
Me identifiquei bastante com essa apresentação porque acredito que a inovação e um futuro mais promissor precisam passar por uma melhora das relações humanas. Não adianta toda tecnologia do mundo sem que haja amor. Desenvolvimento tecnológico, sem apoio do emocional e do espiritual pode acabar virando “Guerra nas Estrelas”, em que um imenso arsenal tecnológico, como espaçonaves, teletransportes, etc, são usados apenas com foco militar, potencializando conflitos em uma realidade totalmente hostil e caracterizada pela falta de amor.
Voltando às inovações, Camila Ghattas, Futuróloga Diip, explanou sobre a pirâmide da tecnologia em que as invenções humanas saem de artificiais, passando pelo vital até se tornarem naturais, de tão inseridas na cultura, que se tornam invisíveis, como o sistema de esgoto ou a própria Internet. Deu bastante ênfase a nanotecnologia e também destacou a Internet das Coisas. ” Não pense grande, pense pequeno, porque o futuro é nano”, comentou a Camila.
Já a Luciana Meinesz, especialista do Google Fashion Trends trouxe a importância dos dados pro futuro da moda. Itens em crescimento e declínio em 3 vertentes: constante, sazonal e instantâneo: demonstrando a importância de acompanhar ferramentas como o Google Trends, que dmostram através de gráficos, o que as pessoas andam buscando, por exemplo: está em alta a moda do cold shoulders (ombros de fora ), mas as pessoas buscam mesmo é pelo estilo “ciganinha”.
Antes de fazer uma aposta também é interessante verificar como andam as buscas neste item. Luciana, explicou ainda como o digital tem permeado todo o consumo de moda, desde a inspiração, passando pela pesquisa e compra, seja online ou offline. Ela também demonstrou o aumento de 21% dos compradores acessam exclusivamente pelo mobille, destacando que as buscas de moda no celular vem superando as buscas no computador.
Silgia Costa, coordenadora pós-graduação USP – EACH, destacou bastante que acredita muito em um caminho relacionado à condutividade, que se daria na construção do tecido, deixando-0 mais orgânico. Para ela, os têxteis eletrônicos devem ter as propriedades de receber, analisar, armazenar, enviar e mostrar os dados de forma visível. Também são de extrema importância, aspectos como niniaturização, flexibilidade, condutividade e integração.
Guto Marinho, PhD FASM e FAU-USP, falou do conforto sob medida, Análise de Desempenho e Metamateriais para Calçados, Ergonomia, Biomecânica, Simulação Virtual e Fabricação Digital como estratégia de Metadesign. Ele propõe o SmarShoes como sapato do futuro, onde são levados em conta os fatores como o da Baropodometria (estudo da pisada e por consequência da postura) para trazer mais conforto aos calçados. Marinho afirma ainda que estudos de impacto, entre outros, são realizados ao se desenvolver um carro e estudos parecidos poderiam ser usados também na indústria dos calçados.
Reflexão bastante apropriada pois em uma grande parte dos sapatos femininos, principalmente os de salto alto, ainda predominam o desconforto. Eu mesmo possuo sapatos maravilhosos, mas que penso duas vezes em usar, e, em alguns casos até desisti deles, tamanho é o incômoda que causa.
Ana Merighe, fundadora e CEO da Innoveur Consulting e BeautyWear Tech Labs, Diretora do Comitê Acelera FIESP, trouxe alguns questionamentos bem interessantes sobre os desafios enfrentados pelos wearables, abordando os motivos do porquê as pessoas desistem de usá-los, passando por pontos como capacidade limitada e compreender a necessidade daquele produto em seu dia a dia. Ana também pontuou a falta de mulheres no universo da tecnologia e a menor dependência de Smartphones.
Destacou ainda as oportunidades do setor das Wearables, só no segmento de Eyewear, haverá até 2020 um crescimento de mais de 200%.
O Guto Requena, arquiteto e designer que é referência nacional em design com interação tecnológica, também enfatizou a questão do emocional e do afeto, inclusive durante o evento lançou um produto, mandalas de ouro, que são construídas a partir de histórias de amor vivenciadas pelos clientes.
A ideia nasceu do eexperimento Love Project que levou o público convidado a, equipado com os sensores adequados, usar a interface do computador para narrar suas próprias histórias de amor. Além disso, essas histórias foram impressas durante o desempenho por impressoras 3D, resultando em mandalas originais que foram levados para casa pelos visitantes.
Desta forma, os que visitaram a exposição também puderam visualizar todo o processo que visava demonstrar aos usuários, introduzindo-os em como os sensores, a interface do computador e a tecnologia de impressão 3D realmente funcionam. Com essa abordagem, ainda foi criado uma aproximação das pessoas com o processo que pode solidificar suas memórias imateriais.
Enquanto o Thiago Avelar, Odontologia Estética Avelar, implantou em um ciborgue catalão a comunicação transcendental, ou seja, um ‘dente que fala”, e, também relembrou do britânico Neil Harbisson que nasceu com uma condição visual rara chamada acromatopsia, que consiste em não ver cores e enxergar apenas em tons de cinza. Cansado da “mesmice” nas imagens e curioso para conseguir compreender as cores, Neil se tornou um ciborgue e instalou uma antena em seu crânio que o permite ouvir as cores, não de moda metafórico mais, literalmente: a antena detecta a frequência da cor e manda para um chip instalado na cabeça que, por sua vez, conduz essa frequência através do crânio e a transforma em sons. Leia mais sobre ele aqui.
A Bruna Petreca, PhD Royal College of Art e Prof. Belas Artes, especialista em design sensorial, apresentou incentivos à experiência perceptiva digital.
Já a Julia Amado, responsável pelas Soluções Cognitivas da IBM, apresentou maneiras de como a inteligência cognitiva com Watson pode transformar a indústria da moda.
Karolina Cengija, Engenheira de inovação da Intel (Portland, OR), apresentou um pouco da sua experiência como líder de inovação, pois participa continuamente de todos os projetos e colaborações da Intel”.
Dentre os nome internacionais destaque para a participação da estilista Becca McCharen, primeira designer a desfilar peças tecnológicas na semana de moda de Nova York, Clara Daguin, estilista francesa que desenvolveu uma das melhores soluções de design de moda com fibra ótica. As especialistas compartilharam detalhes da criação e como foi o processo de desenvolvimento tecnológico de suas peças. Marcou presença no evento também Alessandro Colombo, Diretor do IED Firenze, que apresentou ideia do wearable e como é o processo de inovação na Itália, exemplificando com algumas peças como a blusa que mede batimentos cardíacos e outros ínces vitais que poderá ser usada em bebês ou idosos em estado delicado.
Entre os temas destaque da apresentação está a Internet das Coisas
A Internet das Coisas (do inglês, Internet of Things) é uma revolução tecnológica a fim de conectar dispositivos eletrônicos utilizados no dia a dia (como aparelhos eletrodomésticos, eletroportáteis, máquinas industriais, meios de transporte, etc) à Internet, cujo desenvolvimento depende da inovação técnica dinâmica em campos tão importantes como os sensores wireless, a inteligência artificial e a nanotecnologia.
A ideia é que, cada vez mais, o mundo físico e o digital se tornem um só, através dispositivos que se comuniquem com os outros, os data centers e suas nuvens. Aparelhos vestíveis, como o Google Glass e o Smartwatch 2, da Sony, transformam a mobilidade e a presença da Internet em diversos objetos em uma realidade cada vez mais próxima.
Um exemplo apresentado no evento foi o band aid, Meu UV Patch, da marca La Roche-Posay que dura alguns dias na pele e se comunica com seu celular, avisando se você está correndo risco com a exposição ao sol e se precisa renovar o protetor solar.
Foram apresentados no evento palmilhas, pulseiras, sapatos e muitos outros produtos que vão nesta direção. Peças que se iluminam, mudam de cores de acordo com a temperatura, se expandem, ajudam na proteção solar e muito mais vem por aí.
As oficinas
Durante o Wear Brasil 2016 foram realizadas 5 oficinas hands-on, em que os participantes criaram projetos reais e foram inseridos no centro do movimento Wearables, conectando os participantes com os melhores makers do segmento.
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Karolina Cengija, engenheira de inovação da Intel® apresentou o tema: “Projetando wearables, adicionando processadores e inteligência as roupas e acessórios”;
- Antonio Dianin, CEO Project Company: “Conheça de perto o robô R1T1; entenda os potenciais do Near Field Communication, faça o implante do seu chip ou leve para casa um anel de NFC “;
- Clara Daguin, designer Hyères Festival França: “Os participantes farão engenharia reversa pra entender como funciona cada detalhe da tecnologia por trás das suas peças”;
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Lina Lopes, maker Lilo.zone;”Criando um acessório responssivo com sensor de iluminação” ;
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Becca McCharen, designer e arquiteta Chromat (NYFW):”Aprenda os conceitos da parametria na arquitetura e aplique na moda”.No evento foram também foram apresentados alguns wearables que já estão no mercado:
O bacana do evento é que se discutiu o futuro das roupas através de seminários, oficinas hands on, exibição de peças e instalações de realidade virtual que nos deram uma mostra bem clara do que será a roupa do futuro.
No palco e na plateia do festival foram reunidos a comunidades da moda, da tecnologia e do design. Todos pro-makers, criativos e entusiastas do futuro.
O resumo da ópera é que a roupa do futuro será inteligente, multifuncional e conectada.
Nós do Fashion Bubbles já estamos ansiosos pela próxima edição do Wear Brasil!
Desfile da Becca McCharen, primeira designer a desfilar peças tecnológicas na semana de moda de Nova York
Por Denise Pitta
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