Sustentabilidade brasileira na moda: um caminho para a identidade da moda nacional?

A sustentabilidade brasileira pode ser o futuro da moda. Afinal, marcas eco fashion elevam o lifestyle sustentável no cenário nacional.

A sustentabilidade brasileira está se transformando em estilo de vida. Certamente,  ela reflete o momento de transição pelo qual passamos. Por isso, os eventos de moda sustentáveis são tão importantes. O Brasil Eco Fashion, por exemplo, dá visibilidade para novas marcas.

Dessa forma, a produção consciente é associada a um novo estilo. Exemplo disso, são os tons terrosos do tingimento natural.

Portanto, é provável que a sustentabilidade brasileira defina os rumos da identidade da moda nacional. Ou seja, o eco fashion pode ser o símbolo de um nova brasilidade.

 

 

Sustentabilidade brasileira é o novo estilo nacional

 

Por um longo tempo, o Brasil esteve à mercê da moda estrangeira. A princípio, essa relação começa na Bélle Époque. No entanto, se intensifica com o surgimento do prét-à-porter na década de 1960.

Pouco depois de abrir sua loja de “prontos para vestir” , Yves Saint Laurent revolucionou a moda mundial. Por consequência, tornou-a mais acessível e democrática. Porém, essa revolução nos levou ao consumismo desenfreado. A cadeia produtiva do fast fashion é um exemplo disso.

Produções em larga escala tem como resultado a obsolescência programada. Ou seja, peças de roupas que são feitas para durar pouco. O resultado é grande impacto ambiental e social.

Do mesmo modo, réplicas se tornaram frequentes.  Assim, muito do que é produzido fora é absorvido e adaptado para o público brasileiro. Isto é, a  identidade da moda nacional se perde.

Mesmo assim,  grupos vanguardistas nos campos da moda, arte e design inovaram a produção consciente. O cenário passa a ser propício para a construção de novas marcas pautadas pela sustentabilidade brasileira.

 

Desfile Brasil Eco Fashion. Fonte: Reprodução.

 

Podemos não ter alcançado um estilo característico. No entanto, alcançamos um estilo de repensar e questionar a moda.  É exatamente aqui que entram as semanas de moda Sustentável.

 

Rio ethical fashion

 

O evento foi para segunda edição em 2020. Assim como a Gucci Fest, foi 100% digital. Além disso, contou com a presença de diversos nomes da moda.

Em primeiro lugar, seu objetivo é redefinir as formas de produção. Juntamente com isso, posicionar o Brasil na moda sustentável internacional. Para isso, o consumo consciente é debatido em diversos painéis. Os assuntos variam desde apropriação cultural e ética na moda até impactos ambientais.

Além disso,  o evento ressalta a importância da produção consciente. Ao mesmo tempo, incentiva a diversidade na moda, criando um ambiente de troca.

Mas isso só foi possível porque eles se basearam nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis da ONU. Os ODS auxiliam na criação de metas como a igualdade. Em outras palavras, elas  servem de base para que empresas e governos atuem a favor da economia sustentável.

 

O Brasil Eco Fashion

 

Brasil Eco Fashion – Projeto Vihe. Fonte: Reprodução.

 

O Brasil Eco Fashion também estimula a sustentabilidade brasileira. Da mesma forma que o REF, sua 4ª edição foi totalmente digital. Painéis com palestrantes e debates envolveram  a sustentabilidade na moda. Os desfiles  são o diferencial do evento. Isso porque eles abrem espaço para marcas sustentáveis que estão começando.

Cada uma delas mostrou ser capaz de sintetizar o estilo sustentável. Nos inspiramos no eco fashion brasileiro para destacar as principais características do estilo.

 

Materiais da sustentabilidade brasileira

 

Orgânicos

 

A fabricação de fios e tecidos é responsável por grande parte da poluição do setor. Além disso, existe um grande desperdício de água. Desde manter as plantações até os processos finais de beneficiamento.

Por esse motivo, cresce a busca por matéria-prima orgânica. O algodão, por exemplo, tem se destacado no Brasil. A Justa Trama desfilou no BEF com seu produto certificado. A comprovação da não utiliza de agrotóxicos aumenta a transparência.

 

A marca Justa trama criou looks modernos em algodão orgânico.
Da mesma forma, a marca apostou em um masculino despojado.

 

Tingimento natural – a cara da sustentabilidade brasileira

 

A marca Ernesto Neto utilizou tingimento natural juntamente com upcycling.

 

A forma de tingir artesanalmente é a cara da sustentabilidade. Por ser feita com grãos, frutos e vegetais, não produz resíduos no meio ambiente. O produto é menos tóxico. Logo, tem menor impacto ambiental.

 

Além disso, a marca utilizou tingimento natural na seda responsável.
Procure modelagens simples e tingimento natural porque são a cara da sustentabilidade brasileira.
Os tons terrosos do tingimento natural são perfeitos para looks modernos.

 

O melhor de tudo é que você pode fazer em casa!! Assim como o tie-dye, que continua firme em 2021. Veja algumas ideias de  cores para tingir. É possível chegar na maioria delas fervendo o ingrediente com água. Adicione sal ou vinagre para fixar. Finalmente, mergulhe o tecido até que a cor seja incorporada. Agora, é só deixar secar.

 

Ervas te ajudam a alcançar tons de verde azul. Flores dão tons variados. Por isso, se joga nos experimentos!

Artesanato

 

Definitivamente, o artesanato tem assumido um lugar de destaque na moda nacional. Da mesma forma, técnicas como crochê e tricô viraram sinônimos do slow fashion. Por esse motivo , a sustentabilidade brasileira se conecta a ele.

A Natural Cotton utiliza o crochê para expor a qualidade do seu algodão orgânico.
A marca caprichou nos adornos! Brincos são inspiração para sustentabilidade brasileira.
A marca Catarina Mina aposta no crochê moderno. O quimono fica incrível com o caimento do material.
A marca Catarina Mina aposta no crochê moderno. O conjunto quimono e blusa se destacam com calça lisa.
O quimono da marca Catarina Mina se destaca com gráficos modernos.
Se inspire no vestido crochê curto para o outono 21.
O crochê moderno em modelagem atual de um ombro só.
O crochê é a cara da sustentabilidade brasileira. Por isso, aposte nos vestidos para o outono 21.

 

O mercado de luxo dos produtor artesanais

 

Rendas artesanais são transformadas em luxuosos vestidos nas mãos do talentoso Ivanildo Nunes.

Um case bem interessante é o trabalho do estilista Ivanildo Nunes, que transforma rendas artesanais, com técnicas complexas que estavam fadados ao esquecimento, em luxuosos vestidos de festa, trazendo valor ao artesanato local, além de sustentabilidade e possibilidades às artesãs.

A moda sustentável de Ivanildo é composta por criações inspiradoras que misturam técnicas artesanais como crochê, richilieu, rendas francesas e de bilro em vestidos pra lá de luxuosos.

O trabalho é tão especial que vem tendo reconhecimento internacional com direito a diplomação em Paris: Ivanildo Nunes – Luxo e exclusividade na moda festa brasileira, é homenageado em Paris.

 

ivanildo Nunes foi diplomado e homenageado em Paris.

Os vestidos misturam técnicas artesanais como crochê, richilieu, rendas francesas e de bilro em vestidos pra lá de luxuosos.

 

Confira entrevista com nossa editora Denise Pitta, com Ivanildo Nunes contando sua trajetória:

 

Upcyclig também ganha as passarelas nacionais nas coleções de Ronaldo Silvestre

 

No Brasil, a moda upcyclig também é destaque nas mãos de estilistas inovadores, como Ronaldo Silvestre. Em suas peças ele transforma refugo de jeans que seria descartado e tecidos que estavam abandonados em estoque, em belíssimas peças atemporais.

 

Feitas pelo Instituto ITI que tem por objetivo transformar vidas através da costura. Ao treinar mulheres em estado de vulnerabilidade, que, desta forma  passam a ter renda, e portanto, suas vidas transformadas.

Segundo ele, seu trabalho é o re-design têxtil, onde pega tecidos encalhados dentro das fábricas e faz uma releitura e retrabalho em cima. Logo, além de contribuir para questões sustentáveis, também estimula o consumo consciente.

Confira abaixo entrevista de Ronaldo e entenda seu maravilhosos trabalho permeado de sustentabilidade:

 

Clássicos atemporais

 

Invista na sustentabilidade brasileira  com clássicos atemporais. Essas peças podem te auxiliar na construção de vários looks. Outro ponto positivo é a durabilidade.

A Movin, por exemplo, cria peças básicas com alta tecnologia.  Sua produção por demanda evita desperdício. Outra marca que se destacou no evento, foi a Vihe. Ela mistura o urbano ao estilo atemporal.

Normalmente, os clássicos atemporais são associados ao agênero. Por um lado, é positivo ver o rompimento dos estereótipos de gênero na moda. Por outro, o estilo parece não atender toda a diversidade de gênero.

Isso porque é comum associá-lo a camisas e roupas oversized.  Dessa forma, os produtos ainda tendem para o feminino ou masculino. Isso acaba restringindo o público.  Entenda mais sobre as camadas de complexidade que envolvem o debate de gênero.

 

A marca Vihe aposta em modelagens de clássicos que se perpetuam pelas décadas.
O estilo contemporâneo inspira a marca com silhuetas simples e estilo utilitário.
A marca aposta em lettering bordado para mandar mensagens impactantes do slow fashion.
Mesmo atemporal, a coleção recebeu looks com babados, tendência para 2021.

 

Sustentabilidade brasileira – Novas formas de produzir

 

A renovação das formas de produção também é marcante no eco fashion. Com o intuito de otimizar a fabricação, as marcas buscam novas logísticas. Portanto, os processos do slow fashion viram grande referência para a economia sustentável.

 

Logística reversa

 

A marca Jouer Couture utiliza logística reversa nacoleção Politizada e com tempo.

 

A logística reversa projeta o descarte da roupa, evitando resíduos. Ou seja, seu impacto ambiental é bem menor. Apesar de não estar ligado a estética, é essencial para a moda sustentável. A marca Jouer Couture é adepta da estratégia.

Por ser a segunda que mais utiliza água na produção, essa logística faz diferença na indústria da moda.  O setor também é  responsável pela emissão de 8 a 10% de gases-estufas.

Por isso, a logística reversa deveria se considerada em todas as empresas.  No entanto, nós consumidores, também temos que fazer a nossa parte. Já que estamos envolvidos no descarte, precisamos refletir sobre nosso consumo.

 

A marca Jouer Couture planeja o descarte com logística reversa.

 

Agora, a gente propõe um exercício para você. Se inspire no estilo sustentável para usar uma peça esquecida no armário.  Pode ser até aquela que você comprou de impulso e nunca usou.

Talvez ela não seja mais para você. Se esse for o caso, pense em como aumentar a vida útil ao invés de descartar.

Responsabilidade social também é sustentabilidade brasileira

 

A responsabilidade social só acontece quando a empresa entende seu papel na sociedade. Desse modo, ela pode realizar ações com impacto social positivo.

 

A marca Catarina Mina trabalha juntamente com grupo de mulheres para entregar crochês.

 

A marca Catarina Mina, por exemplo, gera renda para grupos de mulheres artesãs. O resultado são peças lindas de crochê.

 

Busque trabalhar receitas simples em diferentes cores. Desse modo, você consegue recortes maravilhosos.

 

O Projeto ponto firme também leva representatividade social para passarelas. Já faz alguns anos que o designer Gustavo Silvestre leva trabalha  com presidiários. Suas peças são feitas de crochê com bastante cor. Desse modo, valoriza o trabalho manual.

 

Representatividade

 

Representatividade é um dos assuntos mais importantes da contemporaneidade. Uma vez que grupos colocados à margem da moda assumem papel essencial na mesma.

Atualmente, muitas marcas compreendem a necessidade da diversidade.  Vimos recentemente que a SPFW institui cota racial de 50% no cast.  No entanto, a representatividade vem se restringindo ao que é mostrado para o público. De acordo com essa lógica, o BEF abriu espaço para marcas idealizadas por negros e indígenas.

Portanto, marcas como a We’e’ena Tikuna, criada pela indígena de mesmo nome, ganham visibilidade. Bem como a simbologia dos grafismos indígenas que estampam suas roupas.  Assim, a estilista eleva a potência da sua voz e sua cultura para o Brasil inteiro.

 

A marca We’e’ena Tikuna usa grafismo indígena para comunicar cultura e história.
A cultura indígena se une as silhuetas contemporâneas.
Artesanato indígena é utilizado em bolsas e detalhes das peças da marca.
A marca ainda cria para o masculino urbano.

 

Similarmente,  a marca Afroricky une a luta negra a moda. Assim sendo, ela destaca nomes importantes do movimento. Do mesmo modo, ela se conecta com suas origens através das estampas de Moçambique.

 

A marca Afroricky faz a união perfeita entre ativismo negro e moda representativa.
O conjunto masculino blazer e calça simbolizam o ativismo da marca.
Certamente a marca Afroricky faz a união perfeita entre ativismo negro e moda representativa.
Julia H Mattos: Julia H Mattos é designer e estudante de moda. Atua com criação e desenvolvimento de produtos e joias artesanais, com ênfase em coleções cápsulas sustentáveis. Tem prática com pesquisa de mercado e tendências, negociação e administração de fornecedores, planejamento de coleção, processo criativo, confecção, modelagem e ourivesaria. É apaixonada pelos processos criativos e por pesquisa de comportamento do consumidor, com a principal motivação de levar narrativas conscientes e significado para a vida das pessoas, explorando ao máximo o espaço do vestuário na nossa cultura.

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