Endometriose e gravidez são dois temas que podem estar intimamente relacionados. Responsável por causar fortes cólicas e dores durante as relações sexuais, essa doença é também uma das principais causas da infertilidade feminina.
Uma a cada dez mulheres brasileiras sofre com o problema, segundo a Comissão Nacional de Endometriose, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Muitas das pessoas com essa doença passam grande parte da idade reprodutiva sem um diagnóstico e tratamento, devido ao fato de cólicas e dores serem relacionadas ao período menstrual. No caso da endometriose, no entanto, essas dores são muito mais intensas, e podem até mesmo ser incapacitantes.
Por isso, é preciso atenção aos sinais, de modo a preservar a qualidade de vida e evitar dificuldades para engravidar.
Saiba mais sobre a endometriose e seus efeitos na gravidez no artigo a seguir.
O que é a endometriose?
A doença é caracterizada por uma alteração inflamatória, ocasionada pela presença de células do endométrio fora da cavidade uterina.
O endométrio é o tecido que reveste a parte interna do útero, onde o embrião se assenta quando ocorre a fecundação. Quando ela não acontece, boa parte desse tecido é descartada por meio da menstruação.
A endometriose se desenvolve quando essas células, em vez de serem expelidas pelo corpo, caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde podem se multiplicar e ocasionar sangramentos.
É comum que se alojem na região do peritônio, onde ficam os órgãos internos, como estômago, intestino, fígado e baço, o que explica as fortes dores abdominais que é um dos sintomas da doença.
Além disso, a pessoa que tem endometriose também pode vivenciar cólicas intensas durante e após o período menstrual, fortes dores durante as relações sexuais e dificuldades de urinar e evacuar durante o período de menstruação.
A endometriose é considerada a segunda doença ginecológica mais frequente, afetando de 10% a 15% das mulheres durante a idade reprodutiva. Seus primeiros sintomas podem aparecer já na adolescência. Clique aqui para ter acesso a mais informações sobre as causas, sintomas, diagnóstico e tratamento da endometriose.
Levando em consideração o que a endometriose causa no corpo, uma das dúvidas mais comuns a seu respeito é se pode ser um obstáculo para quem deseja engravidar. Confira a resposta para esse questionamento a seguir.
A endometriose dificulta engravidar?
É verdade que pessoas com endometriose podem ter maiores dificuldades para engravidar, o que se deve a vários fatores.
Como a doença causa inflamação no útero, pode dificultar a implantação do embrião. Além disso, pode haver obstrução nas trompas devido às aderências. A inflamação dos ovários (prejudicando a qualidade dos óvulos) e os cistos característicos de endometriose também podem ser um obstáculo para a ovulação.
Além disso, endometriose também pode promover um ambiente uterino hostil ao embrião, o que dificultaria a implantação embrionária ou a chegada do espermatozóide até o óvulo.
A doença, portanto, age de diversas maneiras, dificultando não apenas a ovulação mas também a fecundação. Profissionais indicam que mulheres com endometriose que desejam engravidar iniciem o tratamento antes de começar as tentativas de concepção.
Ainda que proporcione maior dificuldade para engravidar, a endometriose não necessariamente impossibilita que isso aconteça naturalmente. A gravidez ainda é possível, principalmente em casos nos quais os ovários e as trompas não foram afetados pela doença. Assim, a fertilidade é preservada.
É possível engravidar espontaneamente em 50% a 70% dos casos. Segundo matéria do jornal O Estado de São Paulo, esse é o caso da apresentadora Tatá Werneck, que engravidou em 2019, quando estava se preparando para fazer uma cirurgia de endometriose.
Ela teria ficado surpresa ao descobrir que esperava um bebê, já que, por causa da doença, não sabia que poderia engravidar.
Isso significa que a chance de precisar de intervenção médica para esse fim é de 30% a 50%, quando a doença já está em estado avançado. Nesses casos, pode ser necessário recorrer a tratamentos para ovulação, cirurgia ou técnicas de reprodução assistida.
Outra boa notícia é que a endometriose raramente causa problemas durante a gestação. São pequenos os riscos de parto prematuro, pré-eclâmpsia e outras intercorrências, portanto a mulher com endometriose que engravida tende a ter uma gestação saudável e tranquila.
O risco de aborto espontâneo é minimamente aumentado em alguns casos, mas em geral a gestação da pessoa com essa condição é semelhante às outras.
As exceções geralmente acontecem em quem tem endometriose profunda ou grave, o que pode levar uma gestação a ser considerada de risco, mas cada caso precisa ser avaliado individualmente.
Por outro lado, a gravidez pode impactar no desenvolvimento da doença. Algumas mulheres relatam uma piora dos sintomas da endometriose no início da gravidez e conforme a gestação avança. Isso pode estar relacionado ao crescimento uterino (que causa distensões nas lesões), ou aos altos níveis de estrogênio no organismo.
Ainda assim, o mais comum e provável é que a sintomatologia fique menos severa. Em alguns casos, pode haver, inclusive, a regressão do quadro clínico. Não há uma justificativa clara a respeito dos motivos que levam a essa melhora.
Algumas hipóteses levam em conta os altos níveis de progesterona no corpo da mulher gestante, o que pode contribuir para desacelerar o crescimento das lesões endometriais.
A ausência da menstruação durante a gravidez é outro fator que pode impactar positivamente, levando à melhora do quadro da doença. A amamentação também pode contribuir, já que, durante essa fase, a liberação de estrogênio pelos ovários é inibida, o que suprime a ovulação e, consequentemente, o desenvolvimento da endometriose.
Tais efeitos benéficos promovidos pela gestação e lactação, no entanto, são temporários. Os sintomas da endometriose tendem a retornar após esse período, e podem se manifestar com mais intensidade do que antes.
Seja qual for o caso, mulheres com endometriose precisam de cuidados redobrados durante a gravidez. Leia mais no próximo tópico.
Cuidados durante a gravidez para quem tem endometriose
É perfeitamente possível que mulheres com endometriose tenham uma gestação saudável, desde que sigam alguns cuidados básicos. Isso inclui conversar com seu obstetra sobre a doença, iniciar o pré-natal o mais cedo possível e fazer um acompanhamento de rotina.
Os exames a serem realizados são os mesmos de qualquer outra gestação. O que diferencia, nesse caso, é a necessidade de um acompanhamento adequado, levando em conta a doença. No mais, basta seguir as orientações para gestantes em geral.
Nos casos em que o diagnóstico da doença é feito durante a gestação, é preciso atenção especial e a realização de exames ginecológicos específicos para a prevenção de complicações indesejadas.
O mês de março foi o escolhido para a conscientização sobre a endometriose e seus desdobramentos. A campanha Março Amarelo tem como objetivo alertar mulheres do mundo sobre a importância da realização de exames preventivos, de modo a evitar o desenvolvimento de formas graves da doença.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a endometriose atinge 7 milhões de mulheres no Brasil.
Devido ao elevado número de casos e levando em consideração as complicações da doença (como a infertilidade e o desenvolvimento do câncer de ovário), a campanha é realizada para auxiliar na conscientização sobre o assunto, visando diminuir o número de mulheres afetadas pela doença ao possibilitar que o diagnóstico seja feito o quanto antes possível.
Se o seu corpo tem os sintomas indicados no início do texto, não hesite em procurar um médico. O mesmo vale se você já foi diagnosticada com endometriose e deseja engravidar.
O acompanhamento médico adequado é imprescindível para evitar o desenvolvimento do problema, de modo a preservar sua qualidade de vida e a possibilidade de ter uma gestação tranquila.
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