Racismo – Estilistas do luxo são acusados de preconceito

Escândalo na Moda - Reinaldo Lourenço e Glória Coelho, que estão entre os mais badalados do país, foram acusados de racismo. A estilista reconhece "ter compactuado com os padrões eurocêntricos na moda".

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A luta contra o Racismo explodiu ainda mais depois do chocante assassinato de George Floyd, que morreu asfixiado por um policial branco, de forma gratuita, nos Estados Unidos.

No Brasil, a pauta ganhou destaque tanto na mídia, como nas redes sociais, onde famosas postaram sua revolta e indignação, causado pela morte do menino de 14 anos, João Pedro, que brincava em casa, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, quando foi assassinado.

O tema se espalhou por todas as áreas, e na moda, não foi diferente. Acompanhe as cobranças, denúncias  e exposições geradas pela discussão do racismo:

Foto de abertura via site Circolare.

 

A questão do Racismo no Mercado da Moda

 

Seguindo a temática do Racismo em alta, Paulo Borges, idealizador da SPFW, considerada a maior semana de moda da América Latina, resolveu fazer uma Live sobre o tema em seu Instagram. Dentre os assuntos houve a discussão de como a pauta do racismo está entranhado na moda e em todos os setores da sociedade.

A questão, é que quem trabalha com Moda sabe da enorme quantidade de episódios racistas e casos constantes de abuso contra pessoas de pele negra envolvendo o evento, como pode ser constatado pelas notícias de diversos sites e blogs.

Durante a tal  Live, o ressentimento veio à tona e algumas modelos relataram condições de trabalho ruins e degradantes, e deram nome aos bois, daí surgiram os nomes de consagrados estilistas brasileiros como Reinaldo Lourenço e sua ex-esposa, Glória Coelho. Figuras pra lá de conhecidas nos bastidores da moda, pela arrogância e forma desrespeitosa de tratar seus colaboradores.

Em conformidade com o questionamentos levantados,  diversas modelos confidenciaram sobre as humilhações sofridas pela cor em castings e desconvidadas a desfilar, porque não tinham o padrão da maioria das consumidoras ricas. Tanto, que a SPFW já foi alvo de ações do poder público justamente pela ausência de negras nas passarelas. Em 2009, foi firmado um acordo entre o Ministério Público e a semana de moda para que ao menos 10% das modelos dos desfiles fossem negras.

Paulo Borges, idealizador da SPFW, em Live. Tudo foi desencadeado em virtude  do tema  de Racismo que foi abordado em Live

Denúncias de Racismo

 

Com o mesmo propósito de denunciar episódios de Racismo, a modelo Thayná Santos (@imthaynasantos) usou seu perfil no Instagram neste domingo (7/6), para expor estilistas, empresários e marcas que já foram racistas com modelos negras.

Ela compartilhou suas próprias vivências como mulher negra no mercado da moda, assim como histórias de outras profissionais que vivenciaram situações parecidas. Alguns estilistas e marcas foram citados mais de uma vez nos relatos relacionados a racismo, preconceito e maus tratos. É o caso dos estilistas Gloria Coelho e seu ex-marido, Reinaldo Lourenço.

Entre as acusações feitas, estão descaso e maus tratos com as modelos enviadas para castings de seus desfiles, assim como comentários racistas sobre cabelos crespos, menções a “cumprimento de cota” sobre a escalação de modelos negras e outras ofensas.

Sob o mesmo ponto de vista, a modelo Thayná Santos expôs em seu Instagram o Racismo sofrido relatando humilhações e abusos, citando inclusive nomes.

Expostos

 

Ainda após a Live de Paulo Borges, surgiram acaloradas discussões em grupos de WhatsApp sobre estilistas e arcas conhecidos por atitudes e comportamentos racistas. Em consequência, uma conta do Instagram chamada Moda Racista ( @modaracista ) passou a fazer os “exposeds” ( que significa expostos em português), e se tornou o termo da vez, com relatos de pessoas anônimas.

Desta forma, o estilista Reinaldo Lourenço, um dos mais renomados do Brasil, viu suas atitudes arrogantes — que todo o mercado de moda conhece há décadas — expostos.

 

Afim de dar voz às pessoas que sofreram com preconceito e maus tratos, o Instagram Moda Racista publicou os relatos.

Uma ex-funcionária disse ao Moda Racista que ele não permitia que ninguém se sentasse quando estivesse no mesmo ambiente, fora o fato de não dirigir à palavra a determinadas pessoas. outra ex-assistente de Lourenço confirmou a VEJA que seu ex-chefe tinha uma atitude datada, de uma época em que a moda era ser metido e arrogante.

Além do racismo puro e simples. “Reinaldo e Gloria humilhavam as modelos que não tivessem cara de rica, sendo imprescindível terem a pele branca. Se as meninas tivessem cabelo enrolado, ele não olhava na cara”, revela.

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Mea Culpa

 

Rápida no gatilho, Gloria Coelho entrou em contato com Thayná, e reconheceu ter compactuado com os padrões eurocêntricos na moda.

“Reconheço que por muitos séculos a moda privilegiou padrões de beleza eurocentristas, e que eu ou pessoas da minha equipe no passado possamos ter compactuado com isso, ou sido interpretados dessa forma. Estou aqui me comprometendo a ser melhor, a garantir que minha equipe seja melhor. Está nas nossas mãos desmantelar o racismo sistêmico”, disse a estilista.

Gloria Coelho, também divulgou uma nota em que se compromete a “ser melhor” e afirma que sente “muitíssimo” após ser apontada como racista por uma série de profissionais que já trabalharam para sua marca, diz o site da Veja.

“Me comprometo a incluir mais modelos afrodescendentes, indígenas nos meus desfiles. Me comprometo a partir de agora. Eu e minha equipe estamos unindo forças para ampliar nosso casting e garantir que todas as meninas tenham experiências positivas em castings e fittings”, diz a estilista.

Já Reinaldo Lourenço, que  teria o hábito de escalar apenas modelos com “cara de rica”, também assumiu o erro e pediu desculpas.

 

Reflexões

 

A transparência está entre as mais importantes marcas da contemporaneidade, seja nos prédios envidraçados, nas milhares de câmeras espalhadas por todos os lugares, no vestuário, no empoderamento de ações como a Lava Jato, ou na exposição de comportamentos considerados arrogantes.

Transparência – palavra que veio do Latim, TRANSPARENTIA, relacionada ao verbo TRANSPARERE, que significa mostrar a luz através, isto é deixar a luz atravessar. Formado por TRANS -, “através”, mais PARERE, “aparecer, chegar à vista”.

O mundo foi ficando cada vez mais complexo e camadas de diferentes sentidos foram sendo adicionadas em todos os aspectos da nossa vida.

Já não basta ao mercado de Luxo, uma imagem do belo, da ostentação e do pujante. A indústria da moda como um todo passou a ser cobrada de forma efetiva: como essa roupa foi produzida? A marca tratou seus colaboradores de forma justa e respeitosa? Teve mão de obra escrava? Explorou de forma demasiada seus funcionários? Descartou seu lixo de forma sustentável?

Inegavelmente, discussões sobre racismo e preconceito podem trazer mais consciência para a moda, como consequência

Consequências: Mindstyle X Lifestyle

 

De todos esses questionamentos, uma moda mais sustentável e consciente, surge aos poucos. A consequência é que cada vez mais o Mindstyle substituirá o Lifestyle.

Traduzido literalmente como “estilo mental”, o termo Mindstyle propõe conexão entre ideias e crenças ao invés do lifestyle. Se antigamente as marcas vendiam pelo aspiracional estético, hoje elas encantam o consumidor por suas atitudes e crenças semelhantes.

Esse é, visivelmente, um movimento que cresceu junto ao da sustentabilidade. Não basta mais produzir peças esteticamente agradáveis, as marcas precisam ter um “porquê”, uma espécie de “propósito” que guie a sua existência.

E não se trata apenas, de postagens fofas no Instagram em relação a determinada causa. Como vem acontecendo em relação ao Racismo. As questões vão além: o que tem feito para combater essa questão? Quantos estilistas negros ou executivos estão à frente de marcas e empresas?

Para finalizar, conceitos de Slow Fashion estão em alta , assim como uma moda mais consciente!

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Denise Pitta: Denise Pitta é digital influencer e empreendedora. Uma das primeiras blogueiras de moda do país, é idealizadora do Fashion Bubbles, e também CEO do portal que já recebeu mais de 110 milhões de visitas. Estilista, formada em Moda e Artes Plásticas, atuou em diversas confecções e teve marca própria de lingeries, a Lility. Começou o blog em Janeiro de 2006 e atualmente desenvolve pesquisas de Moda Simbólica, História e Identidade Brasileira na Moda e Inovação. Além de prestar consultoria em novos negócios para Internet. É apaixonada por filosofia, física quântica, psicanálise e política. Siga Denise no Instagram: @denisepitta e @fashionbubblesoficial
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