“Encerro minha carreira de avenida e é isso”– disse Neguinho da Beija-Flor durante entrevista ao noticiário da Globo. Um dos nomes mais conhecidos do Carnaval brasileiro decidiu deixar a Sapucaí. Dessa forma, o carnaval de 2025 será o último de Neguinho.
O cantor disse, em entrevista à Mariana Gross, que apenas decidiu dar mais espaço aos jovens que estão chegando e também sonham em ser puxadores de escola de samba. Foram mais de 50 anos de dedicação e Neguinho pretende encerrar esse ciclo, como ele gosta: soltando a voz na avenida. Todavia, cabe ressaltar que Neguinho da Beija-Flor seguirá sua carreira artística de shows pelo Brasil. Ou seja, aposentadoria só da avenida.
O que aconteceu com Neguinho da Beija-Flor?
De fato, Mariana Gross estranhou quando, Neguinho da Beija-Flor a convidou para dar uma entrevista exclusiva: “Sempre que você me convida para uma exclusiva, já sei que vem bomba. Já vim até apreensiva com qual revelação você vai fazer”. Foi então que o artista, como esperado, soltou a “bomba”.
“Esse Carnaval de 2025, em homenagem ao mestre Laíla (1943-2021), que começou comigo no Cordão do Bola-Preta [considerado o maior corso carnavalesco do Brasil], é o meu último na Marquês de Sapucaí. Encerro a minha carreira na avenida
A escola de samba, azul e branca irá homenagear o carnavalesco e dirigente que participou de boa parte dos seus títulos, principalmente pela parceria com Joãozinho Trinta (1933-2011) –sobretudo o tricampeonato em 1976, 1977 e 1978.
#actampads1#“O tempo é inimigo da perfeição. O tempo é maravilhoso. Eu já cheguei a 75 anos, são 50 anos de convivência na escola que é minha família, esse momento é difícil (…)Chegou a minha hora, tenho que dar oportunidade para quem quer ser um Neguinho da Beija-Flor, porque tem muitos lá com essa capacidade”- disse o cantor em entrevista.
Em lágrimas, Neguinho completou: “Eu no início da carreira queria ser um Jamelão (1913-2008), um Martinho da Vida . Ficava admirado, posso até não ter alcançado, mas cheguei lá. São 50 anos (de Carnaval). Eu diria o meu muito obrigado pelo carinho, pela oportunidade”.
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Carta de despedida
À minha amada Beija-Flor
O desfile de 2025 marcará minha despedida como intérprete de seus hinos na Passarela do Samba. No próximo Carnaval, escreverei, com a comunidade nilopolitana, o ponto final da trajetória cinquentenária, tempo de muita felicidade e alegria. Vamos atravessar a Passarela do Samba pela derradeira vez, eu com a minha voz e o orgulho de sempre, sustentando a força e a magia de nossa comunidade que brilha no altar dos bambas. Será mais um momento de nosso amor eterno.
Lembro emocionado, querida escola, do início dessa história, quando cheguei jovenzinho para participar da disputa de samba, no inesquecível “Sonhar com rei dá leão”. Joãosinho Trinta, também recém-chegado, criara o enredo sobre o jogo do bicho e eu, então Neguinho da Vala, sonhava entrar para a ala de compositores. O saudoso carnavalesco permitiu que eu tentasse – e deu certo. Com o samba composto por mim, fomos campeões.
De lá para cá, você ganhou 14 carnavais, e me concedeu o privilégio de estar presente em todos. Fomos tricampeões duas vezes, levamos o Cristo mendigo coberto pela censura, na imagem mais conhecida do Carnaval. E o mais importante: inserimos a Beija-Flor de Nilópolis na história da maior festa popular do Brasil. Em lugar de protagonista.
“Deusa da Passarela”
Consolidou-se a Maravilhosa e Soberana, como está no nosso hino-exaltação, “Deusa da Passarela”, que tive a honra de compor. E virou seu merecido apelido no planeta Carnaval.
Por você, venci o câncer, cantando na avenida ainda sob tratamento. Tenho fé que me curei graças a Deus e ao abençoado remédio do Carnaval. Nunca esquecerei como a comunidade me recebeu, na volta aos ensaios, em nossa quadra sagrada. O aplauso e a montanha de carinho estão para sempre tatuados na memória.
Por isso e muito mais, jamais cogitei receber salário da Beija-Flor. Nunca assinei contrato nem me submeti a qualquer burocracia. Nossa relação é única e dispensa protocolos. Costumo repetir que se alguém deve algo, sou eu a você, minha escola. Tenho muito orgulho de carregá-la em meu nome oficial, o da carteira de identidade: Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.
11 de junho de 1975
Guardo como um tesouro a primeira carteira de integrante da ala de compositores. Está lá a data, 11 de junho de 1975, do começo de tudo. Dos companheiros originais, ainda estão aqui o patrono Anísio Abrahão David e a querida Pinah. Começamos juntos a aventura de conduzir uma pequenina escola da Baixada Fluminense ao panteão das gigantes de nossa cultura popular. E chegamos lá, com a participação de muitos outros sambistas que vieram depois e seguirão rumo ao futuro.
Chegou a minha hora. Em 2025, cantarei a exaltação de meu parceiro Laíla – a quem conheci ainda antes do primeiro Carnaval, na lendária roda de samba do Bola Preta –, como epílogo dessa odisseia que durou meio século de folia e felicidade. Superou muito meus melhores sonhos. E continuarei lhe amando. Você pode contar comigo por toda a eternidade.
Obrigado por tudo, minha escola, minha vida, meu amor.“
Olha a Beija-Flor aí, gente! – escreveu Neguinho da Beija-Flor
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