O Eddie sempre comenta que estamos passando por um período de pessimismo coletivo, onde só se têm olhos para as más notícias que invadem todos os meios de comunicação fortalencedo um sentimento de depressão generalizado. Mas como a proposta do Fashion Bubbles é sempre positiva, adorei essa matéria sobre o sucesso da moda brasileira, retirada do site Universia Brasil. Afinal, mesmo em tempos bicudos é sempre melhor que o copo seja visto meio cheio, em vez de se concentrar num copo meio vazio!
Além de um mercado interno forte, moda brasileira conquista o exterior
Por Lilian Burgardt
A Segunda Guerra Mudial e a revolução industrial foram momentos históricos determinantes para o surgimento de novas potências e a expansão de determinados setores em países em desenvolvimento. No Brasil, o período pós-guerra teve papel fundamental para o crescimento do setor têxtil e de confecções, culminando com o crescimento da moda brasileira. Hoje, o setor rende bons frutos ao País, que se firma como o oitavo maior produtor têxtil do mundo e auto-suficiente na produção de algodão. Não bastassem os destaques econômicos, a qualidade do design de moda nacional está cada vez melhor, conquistando o mercado internacional e colocando o Brasil em uma posição interessante diante de concorrentes do velho mundo, hors-concours no quesito moda, como França e Itália.
Tudo isso graças à muita criatividade dos estilistas brasileiros e de um esforço do setor têxtil que, mesmo sem apoio do governo – principal reclamação dos especialistas – vem conseguindo resultados expressivos. “Ao longo dos anos, o País foi se desenvolvendo no setor e, hoje, é o segundo maior empregador, disputando o primeiro lugar com a construção civil”, afirma o diretor do Instituto Brasil de Arte e Moda, Amnon Armoni. Para se ter uma idéia do que isso representa, estamos falando de cerca de 1 milhão e 500 mil pessoas, considerando a população economicamente ativa do País.
Boa parte do que é produzido, porém, é consumido aqui mesmo, no mercado interno. No entanto, o Brasil já tem clientela no exterior. A diretora de marketing do Ibmoda (Instituto Brasileiro de Moda), Luciane Robic, diz que a moda brasileira está conseguindo tangibilizar nosso estilo de vida, ou seja, o modo de viver, os constumes e a cultura brasileira em seus produtos, valor extremamente desejado no exterior. Prova disso é que, nos últimos cinco anos, a identidade dos modelitos presentes nos desfiles como o São Paulo Fashion Week, mudou muito. “Há cinco anos, copiávamos as culturas americana e européia. Hoje, o Brasil tem seu próprio design, bastante competitivo,” diz.
Ter uma identidade, porém, não é o único diferencial que conquista o mercado externo, mas sim, o valor agregado que ela representa para o consumidor. Segundo Armoni, no exterior, o Brasil é visto como um país sensual, que exalta a beleza, e é esse valor que o consumidor procura quando compra a etiqueta Made in Brazil. “Quando a gente compra uma marca italiana, estamos atrás da sofisticação que a ela atribui porque esta foi a identidade criada para os produtos daquele País. Na França, por sua vez, o destaque fica para o luxo, para o glamour.”
Se a sensualidade da mulher brasileira é o valor agregado mais desejado no exterior, nem precisa dizer qual é o sonho de consumo das estrangeiras, não é? Acertou em cheio quem apostou nos biquínis tupiniquins. Segundo Luciane, grandes marcas brasileiras como a Rosa Chá, por exemplo, têm obtido enorme sucesso no exterior, graças às estamparias alegres e aos modelitos, baseado nas curvas da mulher brasileira. Mas não é só o biquíni que faz sucesso lá fora. As roupas femininas, em geral, também ganham espaço cada vez maior.
Por que não somos líderes?
Com a oitava maior produção têxtil do mundo, a autosuficiência em produção de algodão, a criatividade de nossos estilistas, aliados a outros dados interessantes como: ocuparmos o segundo lugar entre os maiores produtores mundiais de índigo, terceiro lugar em malhas e sétimo em fios e filamentos, você pode pensar: então somos líderes mundiais? Na prática, não é bem assim. O setor de têxteis e confeccionáveis movimenta aproximadamente 460 bilhões de dólares em comércio internacional por ano. O líder nesta participação é a China, com 32,2% do total, já a participação brasileira não passa dos 0,44%, segundo dados do Instituto Brasil de Arte e Moda.
O desempenho acanhado tem como causa uma série de fatores. O primeiro deles é que o mercado interno brasileiro é muito forte. Enquanto a China produz para exportar, o Brasil precisa suprir a demanda dos próprios brasileiros. Fora isso, defende Armoni, o brasileiro precisa aprender a exportar. “Enquanto não conseguimos uma participação expressiva no mercado internacional, outros países estão entrando no Brasil com facilidade. É preciso atrair este consumidor estrangeiro para o nosso País, fazer com ele conheça o que é produzido aqui para conseguirmos competir de maneira mais agressiva”, explica.
Segundo Armoni, também é preciso se questionar de que forma o Brasil quer ganhar o mercado externo. Neste aspecto, fica a pergunta: será que dá para competir com a China, a Índia ou o Paquistão em valor de mercadoria? O especialista defende que, hoje, por termos uma sociedade mais madura em relação ao preço de nossa mão-de-obra, competir em valor com estes países é quase impossível. Aí, o que vale é uma questão de preferência. O segundo maior exportador de moda no mundo é a Itália que não exporta preço, mas sim, qualidade. “A Itália exporta a idéia da moda italiana, design de qualidade, ou seja, valor agregado. É nisso que o Brasil deve apostar para ter uma penetração no mercado internacional”, explica.
Se comparado aos outros países da América Latina, o Brasil é claramente mais desenvolvido e possui uma indústria têxtil muito poderosa. Além disso, com uma imagem de beleza bastante difundida, que começou com a era Gisele Bündchen de beleza universal e multicultural, o país tem um potencial enorme a ser explorado. Outro ponto para fortalecer essa questão da imagem de beleza, são os nossos criadores, como Alexandre Hercovitch, Walter Rodrigues, Lino Villaventura, entre outros. Vale lembrar que, recentemente, o brasileiro Narciso Rodrigues ganhou o prêmio de melhor designer de moda feminina nos Estados Unidos, o que comprova o quanto nossos estilistas são reconhecidos internacionalmente. “Todos estes elementos são fundamentais para reforçar o imaginário das pessoas sobre o que a moda brasileira representa e indica que a marca Made in Brazil têm potencial para ser cada vez mais consumida e amada no mundo”, conclui Armoni.