Empresa investe na internacionalização da grife, que enfrenta acentuada concorrência interna. A exemplo da Zoomp, que há um ano foi vendida pelo estilista Renato Kherlakian para dois investidores, a tradicional grife de roupas femininas Le Lis Blanc também atraiu a atenção do mercado financeiro. A Artesia Gestão de Recursos – do administrador de empresas Márcio Camargo e do economista Marcelo Faria de Lima (os dois com passagem pelo Banco Garantia), que tem em seu portfólio de investimentos empresas do porte da Abyara Planejamento Imobiliário, Metalfrio e Neovia – injetou recursos na marca, segundo fontes próximas à negociação.
O objetivo é ganhar fôlego financeiro para iniciar o processo de internacionalização da rede, que não teria mais espaço para crescer dentro do País. Ao contrário da Zoomp, que carregava na ocasião da venda uma dívida de R$ 30 milhões, a Le Lis Blanc encontra-se em plena expansão: inaugurou em julho uma “maison” em Recife – através de licenciamento – e inaugura em setembro uma loja de 650 m² na rua Oscar Freire, no luxuoso bairro paulistano dos Jardins. Ela vai substituir a loja anterior na região, que era mais acanhada, a loja Le Lis Blanc Casa e a loja de atacado, que atende franqueados e lojas multimarcas.
Com 17 anos de mercado, a Le Lis Blanc conta hoje com 29 lojas e mais de 150 pontos-de-venda em lojas multimarcas, espalhadas em todo País. A expansão internacional, no entanto, não poderia ser sustentada apenas pelas vendas. De propriedade de Rahyja Afrange, Alexandre Afrange e Traudi Guida – que preferiram não se pronunciar a respeito da venda de 51% da empresa -, a marca enfrentava o avanço da concorrência não só de outras grifes, como também se ressentia da entrada no mercado brasileiro de um dos maiores fenômenos atuais da moda, a cadeia de lojas espanhola Zara.
A consolidação do mercado de vestuário brasileiro vai se intensificar, afirma Alberto Serrentino, sócio-sênior da Gouvêa de Souza & MD, especializada em varejo. “O segmento de vestuário é um dos mais fragmentados do varejo e hoje enfrenta concorrência tanto das grandes redes de moda massificada, como C&A e Lojas Renner, entre outras, que têm sofisticado seus lançamentos, como a das indústrias, que têm criado canais próprios de varejo para suas marcas.”
O processo de consolidação de grifes debaixo de um mesmo guarda-chuva acontece com uma década de atraso, avalia Marta Magri, coordenadora da área de moda do Senac São Paulo. Ela cita os grandes grupos já formados no exterior como o LVMH, com as grifes Christian Dior, Givenchy, Guerlain, Louis Vuitton, Moët et Chandon, sob o comando de Bernard Arnault, e o Grupo François Pinaud, que administra YSL, Gucci, entre outras.
É esse formato que inspira os investidores Conrado Will e Enzo Monzani – ambos ex-Pátria Banco de Negócios e hoje à frente das empresas Aureate e M.A.C/HLDC Investimentos, respectivamente. Depois de um ano de reestruturação da Zoomp, eles reposicionaram a marca e já analisam a compra de quatro a cinco grifes ainda este ano. O nome das empresas é guardado a sete chaves.
Criada há 33 anos pelo estilista Renato Kherlakian, a Zoomp havia sofrido um processo de desgaste com acentuada queda de faturamento, afirma o investidor Conrado Will, que não revela quanto pagou pela empresa. Em uma primeira fase, os executivos se concentraram na renegociação da dívida com os fornecedores e no restabelecimento do fluxo de mercadoria. “Saímos do fundo do poço, de entrega de apenas 10 mil peças por mês, para um volume de 170 mil peças/mês.”
E cortaram custos. Até o final do ano saem do prédio atual – uma área de 33 mil m, sendo 11 mil m² de área construída, em Alphaville, avaliada, segundo analistas do mercado imobiliário, em R$ 16 milhões a R$ 18 milhões – para um prédio de 1,5 mil m² na Marginal Pinheiros. “Estávamos distante do eixo da moda”, diz.
Will afirma que a compra da Zoomp traz o mesmo desafio já enfrentado por ele em reestruturações anteriores como a dos laboratórios Dasa, Universidade Anhembi Morumbi e rede Fotoptica. “São empresas familiares que decidiram profissionalizar a gestão. E também precisavam de um bom gerenciamento da marca.”
A empresa prevê fechar o ano com dois milhões de peças e um faturamento de R$ 150 milhões, 35% acima de 2006, afirma Vicente Mello, ex-vice-presidente da Forum, que assumiu a presidência da Zoomp há um mês, em substituição a Gino Duo, hoje na presidência da boutique de luxo Daslu.
Foram criados comitês para cada área da empresa – tecnologia da informação, logística, recursos humanos, fornecedores, entre outras -com reuniões de seus líderes como se fosse um conselho de administração. “São comitês estratégicos, não ficam só no estatuto”, diz Will, que afasta qualquer possibilidade de abertura de capital. “É caro para entrar e caro para manter a empresa na bolsa. Não temos porte.”
Kherlakian, o antigo dono, continua como consultor da empresa. Mas os novos investidores foram buscar de volta Márcia Matsuno, que fez parte da equipe de marketing da marca nos anos 90 e que durante seis anos foi sócia-diretora da São Paulo Fashion Week.
Outro que volta à casa é o estilista Alexandre Herchcovitch. “Ele será o curador das novas marcas”, afirma Will que, junto com Enzo Monzani, diversificou seus investimentos há três meses com a compra da fábrica de celulares da BenQ Mobile, em Manaus.
Matéria do site Gazeta Mercantil.