Quem passava em frente à casa branca na zona norte de São Paulo não suspeitava que ali funcionava uma oficina de costura movida com o trabalho escravo de 16 bolivianos. Os imigrantes trabalhavam das 8h às 22h em condições precárias para receber apenas R$0,20 por peça costurada.
Em duas salas com menos de seis metros quadrados, ar quente, máquinas barulhentas, fios elétricos pendurados, roupas amontoadas, comida estragada na geladeira e colchões jogados no chão. Eram nessas condições que os bolivianos produziam roupas para a terceira maior rede varejista em vestuário do Brasil.
Além das péssimas condições, os imigrantes ainda tinham que pagar pela estadia, alimentação e cartões telefônicos. Ao final do mês, depois de tantos descontos, alguns trabalhadores recebiam menos de R$200 de salário.
Os auditores do Ministério do Trabalho, que foram acompanhados pela Revista Época, explicaram aos bolivianos sobre seus direitos. O silêncio reinava e o clima era de medo. Ninguém aceitou a oferta de ir para um abrigo, ganhar dinheiro pela rescisão do contrato e receber seguro-desempregro. “Não há correntes, como se imagina o escravo do século retrasado, mas isso é uma forma de restringir a liberdade pelo medo, pelo assédio”, diz o auditor Luis Alexandre de Faria.
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Por Samantha Mahawasala
Foto de abertura: Repórter Brasil