Por Mariana Amaral
“Teimoso e persistente: enquanto eu não consigo o que quero, eu não paro”. Assim se define Esber Hajli, 41 anos, representante da italiana Diesel no Brasil – junto com o amigo e sócio Maurício Saade.
Já nos primeiros minutos de conversa com esse paulistano de gênio extremamente forte é possível perceber que uma de suas maiores qualidades é a vocação e o bom faro para os negócios, inspirados, sobretudo, na racionalidade da mãe – uma brasileira filha de italianos – e na veia comercial do pai – um libanês que veio fazer a vida no Brasil e que durante muito tempo foi atacadista de malhas no mercado popular da cidade.
Acompanhando de perto os negócios da família, o rapaz, que na infância sonhava em ser geólogo, viu o gosto pela moda falar mais alto aos 16 anos, quando resolveu trabalhar como representante de uma marca de jeans da moda no interior de São Paulo: “Era fã dos jeans da Soft Machine. De tanto ir à loja, acabei conhecendo o dono, um argentino que acabou virando meu amigo, o Ted Paez. Ele me convidou para trabalhar e virei representante.”
Ao ver que a oportunidade poderia transformar-se em um bom negócio, Esber passou a trabalhar durante o dia e estudar à noite, chegando a comercializar outras marcas, como a Fiorucci: “Botava o mostruário no carro e ia vender as calças nas cidades próximas, como Valinhos, Jundiaí… No início, não tinha nem carteira de motorista, mas vivia viajando. Meus amigos não acreditavam, porque eu não precisava disso.”
Procurando novas experiências e já formado em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie – SP, mudou-se aos 20 anos para Los Angeles, onde montou um estúdio fotográfico (que funciona até hoje) em sociedade com o primo, César Lima. Em quatro anos, a empresa já contava com 300 funcionários e Esber já produzia catálogos de sucesso, o que fez com que seu gosto pela moda fosse apurado: “Foi um verdadeiro treino para o meu olhar. Moda e fotografia estão muito ligadas… tudo que envolva lifestyle sempre me interessou. Nesse mercado, vendemos conceito: hotéis, bolsas, carros, jeans… Os produtos mudam, mas o espírito é o mesmo. E eu já falo isso há muito tempo. ”
Apostando na segmentação como grande diferencial de mercado e detectando um nicho de negócio a ser trabalhado, Esber voltou ao Brasil e abriu sua primeira marca, a Camisaria Nacional, que de tradicional só tinha o nome: “Fiz uma camisaria que era a coisa mais louca do mundo. Eram micro coleções de camisas com linguagem pop, tags em português, estampas, botões de madrepérolas e tecido de tricoline, o que era novidade na época. Foi um grande sucesso, mas, com o crescimento, precisamos de mais capital, e, com a entrada de um novo sócio, decidi me desligar.”
Incentivado por elogios de ninguém menos que Luciano Benetton, a quem mostrou seus catálogos durante um encontro casual numa visita a um amigo franqueado da Benetton em Recife, Esber decidiu voltar para o exterior e mostrar seus catálogos à estilista Donna Karan, a quem ele admirava. Já em Nova York, conseguiu agendar uma reunião à qual a estilista nunca compareceu. Seria uma história triste se não fosse nessa estada em Nova York que tivesse conhecido Renzo Rosso, o fundador da Diesel, hoje a mais falada griffe de jeans do mundo. “Estava num bar de hotel e ele puxou papo e pediu para ver meu catálogo… ao terminar disse: também tenho uma confecção… o nome dela é Diesel… Na época a Diesel só tinha 2 anos, mas eu já conhecia a marca das minhas viagens… Ele achou super legal, por que em 1987 a marca não era o que é hoje… era uma multimarca…Dessa troca de idéias nasceu nossa amizade.”
Só anos depois desse encontro viria a idéia de trazer a marca para o país: “Nunca cogitei fabricar a Diesel aqui. Não seria o mesmo produto. Pensava assim: quando puder, trago o produto original. O Renzo adorava isso, porque também era a filosofia dele. Voltei a trabalhar com fotografia e quando abriram as importações no Brasil, comecei a negociar.”
Mas a implantação da Diesel não foi tão fácil: entre a decisão de trazer a loja para o Brasil e a concretização foram quase dez anos, por que a marca já era registrada por aqui: “Não desanimei. Comecei a brigar. Quando alguma coisa não dá certo de primeira, é por que é para ser. Eu penso assim. Nada foi fácil na minha vida e se for fácil não quero (risos). Queria muito entrar nesse nicho, por que não via jeans legal na época. Não tínhamos variedade, opção.”
Autodidata no que se refere ao marketing do Luxo, Esber acredita que ler muito, falar inglês, conhecer e gostar, identificar-se com a marca são características fundamentais para quem quer seguir esse caminho. “Leio muito, principalmente livros que falam de emoção. Esse é um business como qualquer outro. Precisamos evitar a arrogância. Não quero que a marca venda só porque é Luxo. O Luxo por siso é efêmero. O produto é muito importante, sobretudo a qualidade. Sem isso, acaba. O MBA Gestão de Luxo é muito importante para o Brasil. Precisamos formar pessoas preparadas para lidar com isso.”
Casado com Sandra e pai de Julia, 10, e Willy, 9, Esber, ao contrário do que se possa pensar, não gosta de badalação, adora tomar vinho e ama jantar fora em restaurantes como DOM, Kosushi, Fasano e Le Vin. Fã de carros, relógios e de marcas como Prada e Miu Miu, Esber considera-se um realizador e, antes de tudo, um batalhador. Alguém discorda?
da Diesel
Matéria do site Gestão do Luxo da Faap