Setor de vestuário sofre escassez de matéria-prima e a roupa, vai ficar mais cara?
Alta no valor do algodão, cotação do dólar e retomada econômica gradativa, estão entre os motivos para falta de matéria-prima no mercado de vestuário, resultando em aumento de preços para toda cadeia produtiva, até o consumidor final. Entenda o que está acontecendo!
Matéria-prima em crise – A pandemia por Covid-19 causou diversos impactos pelo mundo, afetando praticamente todas as áreas, com ênfase na economia que foi abalada com a paralisação de diversos setores por todo o mundo.
Esse grande impacto também chegou ao mercado da moda, uma vez que houve a redução na produção de matéria-prima básica para o setor. Algodão, malha, poliéster, além de outros insumos, tiveram seus estoques reduzidos.
Essa redução, a princípio não foi tão impactante ou percebida, pelo grande público. Entretanto, com retomada econômica motivada pela flexibilização da quarentena, a demanda necessária de tecidos e outros artigos entrou em escassez. Logo, o resultando é alta nos preços e valorização do produto.
Denise Pitta, editora chefe do Fashion Bubbles, junto com a Vanessa Cainelli, idealizadora da marca MIV (@vistamiv ) entrevistaram Débora Silva de Oliveira, CEO da Klivan Confecções. Empresa sediada no Paraná, no mercado há 12 anos, atendendo grandes magazines e marcas. Débora fala sobre a crise da matéria-prima e o impacto da retomada do setor. Confira!
Retomada da economia é motivada pela flexibilização da quarentena
Depois de três meses de recessão, a economia na indústria de vestuários começa a reaquecer, isso porque o público geral e cliente final que estavam com demandas reprimidas, voltaram a consumir, tanto no mercado físico, como online.
Porém, os fabricantes de tecidos e outras matérias-primas estão encontraram dificuldades em manter os preços. Já que nos últimos 2 meses consecutivos houve aumento no valor do quilo do algodão, afetando também a malha e o poliéster.
Desta forma, o aumento dos preços precisou ser repassado às empresas de vestuários, lojistas e por fim aos consumidores, gerando alterações em toda a cadeia produtiva.
O impacto no setor e a crise da matéria-prima
A CEO da Klivan, Débora Oliveira, revela que a grande expectativa do setor é a retomada do faturamento que foi perdida durante o ano, o mais rápido possível. Entretanto, esse processo está totalmente engessado pela falta de matéria-prima e especulação do mercado.
” A matéria-prima sumiu e não temos como manter carteira de pedidos que temos. Não conseguimos repassar os aumentos e ainda temos que, muitas vezes, cancelar os pedidos. Assim, estamos substituindo a matéria-prima inicial, por composições paralelas, nos reinventando de alguma forma.” Explica a executiva.
“A pandemia impediu que o mercado interno fosse abastecido com os produtos e insumos importados. Além da alta do dólar, que influenciou ainda mais na verticalização das compras do importado para compras nacionais. Logo, os magazines passaram a fazer sua aquisições no mercado interno, aumentando assim, a demanda nacional “. Comenta.
Esse cenário já era previsto como explicamos nos artigos: Moda pós-pandemia e o Vírus da Desglobalização.
Indústria Sucateada
“Infelizmente a indústria brasileira está sucateada e não tem condições de atender todo esse mercado de uma hora pra outra. Nossa indústria não se desenvolveu devido a pouca procura: 70% se constitui de importados, sobrando somente 30% de demanda nacional.” Reforça a CEO.
“Muitas beneficiadoras de fios fecharam de 2018 para cá, porque não damos conta da produção interna. Os produtores acabam por exportar nossa pluma. Esse processo aumentou muito a desindustrialização. E os impactos são uma menor arrecadação e maior desemprego”. Revela.
Questionamos sobre a possibilidade dessas beneficiadoras retornarem, estimuladas pela alta na demanda. Entretanto, Débora explica que não acredita que isso aconteça, pois o investimento é muito alto para se montar uma beneficiadora.
Mas, afirma também, que o mercado tende a se estabilizar. E se continuar com a demanda interna como está agora, teremos a oportunidade da indústria de confecção ter uma recuperação rápida!
Alta no dólar estimula exportação de matéria-prima
A alta no dólar também gerou um grande impacto no comércio de matérias-primas do ramo vestuário. Pois mesmo as empresas nacionais que poderiam suprir a demanda interna, efetivaram negócios com o mercado exterior.
Ao negociar com outros países que também estão sofrendo com a falta de algodão, por exemplo, o valor da matéria-prima é mais alto e assim, mais rentável. O que resulta em baixa nos estoques nacionais e altos preços para a importação.
Também é importante salientar que essa procura pelo comércio exterior no caso do algodão, ocorreu devido a atrasos e perda de colheitas nos Estados Unidos, grande fornecedor do produto. O que diminuiu consideravelmente os estoques disponíveis no mercado mundial.
Reflexo econômico já era esperado
Em meados de fevereiro de 2020, quando a pandemia ainda nem havia chegado ao Brasil, alguns países Europeus como Portugal, já esperavam uma redução da oferta de tecidos no mundo e a alta nos preços.
Isso porque a China, que fabrica grande parte de todo tecido, entre outros produtos usados no mundo, estava com suas linhas de produções paradas.
Essa paralisação foi contínua, chegando a praticamente todos os países do mundo e assim, reduzindo também a produção em fábricas de vestuários.
Desta forma, a pausa e diminuição na produção fabril começou a impactar nos estoques e negociações. Porém, com já mencionado, não foi tão percebido de imediato, já que a demanda de compra também estava em grande oscilação e queda.
Consequências no Brasil
No Brasil, o Grupo Pacífico Sul, indústria têxtil de Blumenau, Santa Catarina, com grande referência no ramo vestuário, enviou um comunicado aos seus representantes que encerrou as vendas para entrega este ano, no último dia 20.
Já a Marisol Malhas, outra renomada indústria do setor têxtil, informou que suspendeu as vendas de todas as linhas de produtos até segunda ordem, assim como a fabricante de elásticos Zanott.
Outro impacto registrado em artigo do G1, é que no Ceará, por exemplo, a setor tem estimativa de que as peças de vestuário ficarão até 35% mais caras!
O que diz a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção – Abit – sobre a falta de matéria-prima
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, também posicionou-se sobre o tema e vê toda essa tensão na indústria, como uma variação da busca por produto e demanda, mas considera um fato normal, levando em conta a paralisação quase que total entre 90 a 100 dias.
Segundo ele, “não é possível religar a economia como uma lâmpada de abajur”, lembrando que antes de ter sido decretada a pandemia do novo coronavírus não havia desabastecimento. E ele acrescenta: “Entendemos que será necessário uns 90 dias para regularizar o fluxo da cadeia de produção e distribuição”, previu.
Pimentel diz também que a indústria têxtil e de confecção é de concorrência perfeita, o que regula preços e segura historicamente a inflação do ramo. Ainda assim, os preços têm sido influenciados por fatores externos que vão além da produção que ficou parada: “o problema está na desvalorização do Real”.
Conforme ele disse, 70% da indústria têxtil está atrelada a moedas estrangeiras. “O algodão é dolarizado, as máquinas são dolarizadas. Mais de 70% das máquinas são importadas. Produtos químicos da produção também são. Isso causa um reequilíbrio dos preços relativos, que mais a frente vão se reacomodar”, afirma.
Pimentel diz ainda, que o aumento surpreendente da demanda interna, motivada pelo auxílio emergencial, também contribuiu para o desabastecimento da matéria-prima. “No entanto, quando se observa um país que vai terminar o ano mais pobre e uma alta taxa de desemprego, a tendência é de um reequilíbrio não só das atividades produtivas, mas também da demanda”, afirma.
Compras de Final de Ano Serão Afetadas?
Todos esses aumentos e mudanças no valor dos tecidos e outros itens da indústria do vestuários, irão resultar em um impacto significativo na época mais economicamente ativa do ano: o período das festas.
As festas de fim de ano são consideradas a melhor época para o comércio, uma vez que as pessoas compram tanto para uso próprio, como para presentear amigos e familiares.
Para concluir, com a gradativa retomada econômica e falta de empregos, atrelado ao preço elevado, é possível que haja uma redução nas vendas. O que pode resultar em dificuldades para toda cadeia do ramo, pelo menos até o primeiro trimestre do próximo ano.
Por fim veja tendências para a Moda do Amanhã entendendo conceitos de Logística Reversa e Economia Circular.
Fontes: Estadão Economia, Mundo Lusiada e CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
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