Viajar é preciso! Turismo como meio de formação do repertório cultural e artístico do criador de moda

Todo grande criador – seja da moda ou não – necessita viajar. São raros os exemplos dos reclusos. Podemos afirmar que a maioria travou contato…

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Todo grande criador – seja da moda ou não – necessita viajar. São raros os exemplos dos reclusos. Podemos afirmar que a maioria travou contato com outras culturas, outras manifestações sociais e a partir daí tiveram um enriquecimento de seu repertório, pois, este sendo mais rico, enfrenta o papel em branco ou o manequim desnudo com mais desenvoltura.

O que seria das mulheres se Paul Poiret, curioso por arte moderna, não fosse até Viena conhecer o lugar mais ‘quente’ da Europa no início do século XX? Talvez andássemos de espartilho até hoje, afinal, foi na sociedade vienense que pela primeira vez o criador francês viu mulheres comuns usando vestidos reformistas com resolução moderna.

Emilie Floge e Gustav Klimt em vestido reformista feito pela Wiener Werkstatte para a Schwestern Flage 1905-6

Emilie Flöge e Gustav Klimt, ele usando sua bata de trabalho e ela em vestido reformista feito pela Wiener Werkstätte para a Schwestern Flöge, 1905-6

Emilie Flöge e Gustav Klimt, ele usando sua bata de trabalho e ela em vestido reformista feito pela Wiener Werkstätte para a Schwestern Flöge, 1905-6    Poiret se deparou com roupas femininas que não revelavam a forma do corpo, mas que construíam um formato totalmente arbitrário e artificial, vestes estas estampadas com motivos abstratos geométricos em preto e branco, e feitas pela mais importante casa de moda de Viena, a Schwestern Flöge (Casa das Irmãs Flöge). Esta era liderada por Emilie Flöge, que conectada intimamente às vanguardas artísticas austríacas, encomendava vestidos aos mais radicais artistas de Viena: o grupo da Secessão Vienense. Faziam parte do grupo Gustav Klimt, Hans Hoffman, Kolo Moser, entre outros. A proposta era criar uma roupa para as mulheres que não destoassem dos espaços criados pela arquitetura e pela decoração vanguardista deste grupo, bem como da realidade urbana que agora reinava no mundo moderno industrial.

Yves Saint Laurent nunca escondeu sua constante inspiração advinda de suas viagens a sua África natal (ele nasceu e foi criado na Argélia), criava modelos para o universo da moda parisiense que revelavam que ele era um francês pied noir sem a menor timidez. O Marrocos, sempre o fascinou, e este tradicional destino ‘exótico’ norte – africano também arrebatava, no século XIX, os artistas de tendências modernas como Eugene Delacroix e Edouard Manet. Saint Laurent possuía uma segunda casa em Marrakesh, para onde rumava quando não estava em Paris ou Nova Iorque nos anos 60 e 70.

Uma criacao classica de YSL inspirada pela Africa Veruschka usando o casaco

Uma criação clássica de YSL inspirada pela África: Veruschka usando o casaco Saharienne

Yohji Yamamoto, Issey Miyake e Rei Kawakubo (da Comme des Garçons) não pensaram duas vezes para fazer uma viagem de inspiração a outras culturas, paisagens e expressões artísticas. Paris, primeiro para conhecer a técnica de construção das roupas ocidentais, e depois Nova Iorque para notar como a dinâmica industrial ocorria no novo mundo, encheu estes criadores de inspiração, e eles nos presentearam com uma visão absolutamente nova sobre o como a moda ocidental poderia ser pensada criativamente ao mesmo tempo em que era fenomenalmente industrial. Os japoneses e seu choque com as culturas ocidentais – sim no plural – geraram talvez o mais pertinente processo criativo de moda de toda a década de 80 e 90.

Issey Miyake Trico 1984

Issey Miyake Tricô 1984

Yohji Yamamoto Catalogo outono inverno 1985
Yohji Yamamoto, Catálogo outono inverno 1985
Modelos de roupas baseados nas sobreposições vistas nas ruas de NY feitas por mendigos
e desabrigados que perambulavam pela cidade

Às vezes, a viagem não precisa ser tão distante, não é necessário atravessar mares, pegar avião e coisas assim… Ronaldo Fraga, por exemplo, mergulha em sua Minas Gerais, para perfazer caminhos criativos inovadores, que fazem sentido para nós – que compartilhamos os valores manipulados por ele – e para os que estão fora daqui – para os ‘estrangeiros’ ao nosso modo de ser. Pode não seguir ‘a cartilha’ de tendências, mas com certeza é conhecedor e está imerso em cultura artística, do design e da moda. E é isso que lhe dá ‘chão firme’ para criar ‘para além das tendências’. A riqueza do repertório lhe dá confiança em criar a partir de suas escolhas pessoais que conseguem alinhavar local e global com muita facilidade.

Ronaldo Fraga Colecao Rio Sao Franciso

Ronaldo Fraga, Coleção Rio São Franciso

A viagem para um criador de moda pode funcionar de diversas maneiras, serve para aprender a língua e a cultura de outro lugar (viagens de estudo), convém como inspiração (viagens criativas), funciona como mergulho em outros tipos de expressão para além da moda (viagens de formação de repertório), para conhecer e pesquisar a maneira como as pessoas se vestem em outros países (pesquisa de moda – tendências criativas e de consumo – e fazer street vision/street style), podem ainda ser focadas na informação de moda (viagens profissionais e informacionais, como visitas a feiras e semanas de moda), etc. Seja qual for a proposta, seja aqui no Brasil, para conhecer nossa cultura, ou aventurando-se fora do país, sair de casa sempre nos traz um novo frescor, uma lufada de ar criativo, novas soluções para o velho problema de fazer roupas, tecidos, acessórios, etc. Fazer turismo é uma ferramenta poderosa para a formação de repertório cultural e artístico, e estes são base importante para o criador de moda. Parodiando o poeta: Viajar é preciso!

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Por Patricia Sant’Anna*

* Patricia Sant’Anna é Doutoranda em História da Arte (Unicamp), Ms. em Antropologia (Unicamp), Esp. em Museologia (USP) e Bel. em Ciências Sociais (Unicamp). Pesquisadora e Especializada na área de Moda e Design, atua como docente nas disciplinas de História da Arte, Moda e Joalheria, e em Moda e Joalheria Contemporânea. Organiza e acompanha alunos e profissionais da área de artes, arquitetura, design e moda para conhecer lugares interessantes para a profissão destes, no Brasil, EUA e Europa.

Atualmente organiza um grupo que fará com ela e mais dois professores o CURSO DE PESQUISA DE MODA em Nova Iorque, e a VIAGEM DE FORMAÇÃO EM CULTURA DE MODA para Paris. Mais informações: http://poltrona1sjk.blogspot.com/

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