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Ocupação Zuzu: Itaú Cultural apresenta exposição de Zuzu Angel. Veja fotos, conheça a história da estilista

A história da estilista Zuzu Angel é contada como nunca foi antes na exposição “Ocupação Zuzu”, no Itaú Cultural que vai até 11 de maio,…

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A história da estilista Zuzu Angel é contada como nunca foi antes na exposição “Ocupação Zuzu”, no Itaú Cultural que vai até 11 de maio, com entrada franca

De maneira ímpar e emocionante. Só assim para definir a abertura da exposição da estilista Zuzu Angel no Itaú Cultural. A cerimônia foi conduzida pelo superintendente administrativo do Itaú Cultural, Eduardo Saron, e contou com a presença da Marta Suplicy, ministra da cultura; Maurílio Guimarães, prefeito de Curvelo; além das palavras lindas que foram ditas por pessoas essenciais para a realização desta exposição, como Milú Villela, presidente do instituto, e Hildegard Angel, filha da estilista, que emocionou a todos com seu discurso.

Com três andares e mais de 400 peças, a mostra “Ocupação Zuzu”, tem o intuito de apresentar Zuzu Angel por completo, indo além de seu trabalho como estilista. Com fotografias, manuscritos, croquis, vestidos e até um documento do Instituto Médico Legal, sobre sua polêmica morte, além de peças de seu filho Stuart – morto por militares na ditadura nos anos 70, expostas pela primeira vez ao público – a exposição consegue trazer à tona, não só a história da moda, mas como política e militante da estilista.

Além de todas as peças, a abertura contou com um desfile-performance, com modelos usando replicas das roupas feitas por Zuzu no auge do seu glamour. O ponto alto do desfile, foi a entrada de modelos vestidas de preto, simbolizando o luto de Zuzu na busca por seu filho. É como se esse grande talento da Moda Brasileira nos tivesse sido roubado. O desfile foi finalizado com a leitura de textos escritos pela estilista durante a desesperada busca por seu filho. Não teria outra palavra para descrever o momento, se não como “emocionante”.

O desfile-performance apresentou não só o trabalho de Zuzu Angel, mas todo seu sofrimento. Com make e cabelo da época, modelos usaram réplicas das roupas de Zuzu. A leitura das cartas da estilista foram de arrepiar.

Para iniciar o desfile, as peças alegres que consagraram Zuzu Angel como a primeira estilista brasileira a ser conhecida internacionalmente – a primeira a desfilar em Nova York e vestir celebridades de Hollywood – e terminou com suas criações negras, que expressavam seu sofrimento e foram boicotadas enquanto a estilista era viva e tentava, por meio da moda, falar sim de política – e por que não? Moda é puramente expressão! O trabalho de Zuzu Angel foi um marco histórico, o primeiro a usar moda para protestar contra a ditadura.

Para que os visitantes possam sentir parte desse sentimento que acompanhou Zuzu até sua morte, a mostra tem um espaço onde os visitantes podem escrever cartas para pessoas que desapareceram, ou já se foram. Foi uma ideia usada para fundir o espectador à obra.

A exposição estará no espaço Itaú Cultural até o dia 11 de maio, e é obrigatório para quem gosta de moda, ou simplesmente para quem gosta de acrescentar boa história na vida.

Serviço: Ocupação Zuzu
Terça a sexta das 9h às 20h
Sábado, domingo e feriado das 11h às 20h
Endereço: Avenida Paulista, 149 em São Paulo – S.P.

A Festa


Hildegard Angel e Amaury Jr. e Marta Suplicy, Hildegard Ange e Milú Villela

João Braga e Paulo Borges

O Desfile

A Exposição

“Quem é essa mulher?”

A indagação de Chico Buarque em sua música “Angelica”, dedicada a Zuzu, é exatamente o que procuramos até os dias de hoje: decifrar Zuzu Angel, figura que jamais poderia ser descrita como uma estilista, uma militante, ou uma celebridade, pois acumulou em sua história, muito mais que simples rótulos. Zuleika Angel Jones foi uma mulher que se fez presente na Terra, na história.

Nascida em 5 de junho de 1921, em Curvelo, Minas Gerais, mudou-se ainda criança com a família para Belo Horizonte. E foi ali na capital mineira que começou sua história no mundo da moda. Ainda pequena, demonstrava paixão e talento sentada em uma maquina de costura, fazendo roupas para as primas, talento que começou a ser desenvolvido na juventude depois de se mudar para Bahia. Em 1947, quando se estabeleceu no Rio de Janeiro, começou uma carreira profissional, se mostrando mais que uma costureira, Zuzu já se tornara uma estilista.

Com criações, de características próprias e jamais usadas até então, a estilista passou a se destacar no mercado da moda. Tratava-se de algo novo, uma moda brasileira, em que ela usava materiais do país e cores tropicais. Misturava materiais como renda, seda, fitas e chitas com temas regionalistas e folclóricos, com estampados da fauna e flora brasileira. Zuzu Angel foi pioneira também na introdução de pedras brasileiras, fragmentos de bambu, de madeira e conchas, em suas criações. A mistura era feita de uma maneira para que a estilista pudesse produzir tanto para o mercado da elite, como também, para a mulher comum.

Com talento de sobra, foi questão de tempo para que ganhasse notoriedade internacional. Em 1970, Zuzu abriu sua loja em Ipanema e rapidamente atentou olhares norte-americanos. Conquistou seu lugar de direito, foi vitrine de grandes lojas especializadas e apareceu em importantes veículos de comunicação dos Estados Unidos. Pioneirismo é uma palavra que vinha encravada em sua personalidade, e novamente a estilista brasileira inovou, quando colocou o logo de sua marca (um anjo), do lado externo de suas peças.

Mas sua notoriedade mundial não se restringiu a seu talento no mundo da moda. Sua batalha contra o militarismo brasileiro teve início quando seu filho, Stuart Angel Jones, estudante de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ativista do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR-8, foi dado como desaparecido depois de ter sido preso, em 14 de junho de 1971, por agentes do CISA – Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica. Imediatamente Zuzu começou a percorrer prisões e quartéis, atrás de Stuart, mas logo teve notícias da morte do filho.

Segundo um depoimento do preso político Alex Polari de Alverga, o qual se comunicava através de cartas com Zuzu, Stuart foi arrastado por um jipe pelo pátio interno da Base Aérea do Galeão, com a boca no escapamento do veículo. Mais tarde, Alex ouviu os gritos de Stuart, numa cela ao lado, pedindo água e dizendo que ia morrer. Depois, seu corpo foi retirado da cela. Este depoimento de Alex está no vídeo “Sônia Morta e Viva”, produzido e dirigido por Sérgio Waisman, em 1985.

Zuzu Angel declarou guerra contra a ditadura militar do país e passou a fazer incansáveis denuncias no Brasil e no Mundo sobre a tortura, morte e ocultação do corpo de Stuart e de outras vítimas. A estilista passou a usar seus desfiles para fazer as denúncias diretamente para a imprensa e para pessoas importantes. Chegou a entregar pessoalmente uma carta a Henry Kissinger, na época Secretário de Estado do Governo norte-americano, já que seu filho também tinha a cidadania americana. Utilizou sua fama para envolver, a favor da sua causa, inúmeros clientes e amigos importantes: Joan Crawford, Kim Novak, Veruska, Liza Minelli, Jean Shrimpton, Margot Fonteyn e Ted Kennedy, entre outros.

Além dos contatos diretos, Zuzu, passou a usar a própria arte para protestar, adicionando ao lado de seu logo (o anjo) imagens de tanques de guerra, pássaros engaiolados, sol atrás das grades, jipes e quepes, simbolizando o sofrimento de seu filho nas mãos dos militares. Inovando de novo, como ela mesma dizia, com “a primeira coleção de moda política da história”.

Sua batalha só acabou aos 55 anos, quando em 14 de abril de 1976, às 3 da manhã, Zuzu Angel sofreu um fatal “acidente” de carro, na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. Sua morte na época foi uma incógnita, pois o governo disse que Zuzu “dormiu ao volante”. Se não fosse um documento feito pela própria Zuzu, deixado na casa de Chico Buarque, uma semana antes de morrer, que dizia: “Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”, quem sabe o seu assassinato nunca tivesse sido descobeto. Testemunhas dizem terem visto um carro fechando o automóvel da estilista, fazendo-o despencar de uma altura de cinco metros. Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu o regime militar como responsável pela morte da estilista.

Finalizo esta matéria com a música que Chico Buarque dedicou a Zuzu Angel:

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=2njisDw3HmA?rel=0]

“Eu não tenho coragem, coragem tinha meu filho.

Eu tenho legitimidade.”

(Zuzu Angel)

 

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