Você e o Minotauro no mesmo Labirinto
Muitos brasileiros que encontro quando estou de férias me relatam que é uma chatice ver tanta “pedra”. Eles fazem estes comentários a partir das ruínas…
Muitos brasileiros que encontro quando estou de férias me relatam que é uma chatice ver tanta “pedra”. Eles fazem estes comentários a partir das ruínas da Itália, Croácia, Turquia, Grécia entre outros. E se estas “pedras” tivessem uma roupagem mais atual para recuperar seu sentido?
Uma parte da minha viagem desta vez foi para a Ilha de Creta (ou Heraklion), na Grécia onde visitamos as ruínas do Palácio de Knossos, erguido por volta de 1900 a.c. e onde se originou a lenda do Labirinto do Minotauro. Foi nesta região que há 4 ou 5 mil anos, floresceu a Civilização Minóica. Sendo um povo tão antigo é de se esperar que eles não tivessem uma explicação científica, para os fatos que hoje conhecemos como comuns. E era mais razoável acreditar nas tramas em que se envolviam os deuses.
A proposta deste texto não é de contar a história em seus detalhes históricos, mas sim de levantar uma questão: e se fosse hoje? Como seria? Vamos pensar no seguinte: alguém está tentando conquistar uma namorada, ou quem sabe, um candidato a uma vaga de trabalho. Seguimos por aí e veremos no que vai dar…
Minos era filho de Zeus, com uma descendência destas, era obviamente alguém poderoso. Seu desejo era governar Creta, mas isso lhe era vetado. Nosso personagem, o Antônio, também é poderoso, pois é um “filho de Deus”. Ele gosta de Maria que não lhe dá muita bola e amanhã, depois de meses desempregado, tem uma entrevista marcada.
Minos pede que um touro emergisse do mar para ser sacrificado em nome de Poseidon (Deus dos mares) e assim com essa magnífica oferenda ser merecedor de seu reinado. Antônio faz um trabalho de “amarração”, compra roupas novas, capricha no corte de cabelo, prepara um discurso matador, para o entrevistador e para Maria. Não tem como dar errado. Para Maria, ele leva flores e para a entrevista um currículo enaltecendo suas as qualidades, que eram tantas que até o próprio Antônio desconhecia…
O touro de Minos era nada menos do que espetacular. Um animal tão fabuloso que Poseidon encantado aceita a oferta: o sacrifício do touro pelo direito de governar Creta.
Maria não tinha grande expectativa, o match do Tinder era só mais uma combinação. Mas, quem diria, parece que ela havia tirado a sorte grande – Antônio com os fios de cabelos alinhados, barba bem feita e para arrematar escolheu levá-la a um restaurante bem bacana. Mas foram as flores que ela nunca havia ganhado, que dobraram sua vontade. Com certeza para Antônio, Maria merecia atenção à altura de sua formosura.
O entrevistador já havia conversado com cinco pretendentes à vaga, mas Antônio inspirado pela conquista da namorada se mostrava seguro, estava bem articulado. Todas as observações do currículo, naquele momento, falavam mesmo daquele Antônio.
Minos que também ficou extasiado pelo touro, resolveu colocá-lo junto ao seu rebanho. Escolheu um outro bem parecido, tão parecido que nem mesmo Poseidon perceberia a diferença, não tinha como dar errado. Mas deu…
Maria e Antônio deveriam ser felizes para sempre, mas Antônio passou a reservar mais tempo para cerveja e futebol com amigos, sempre aparecia um parente doente que ele precisava visitar no fim de semana e ela ficava para segundo plano. Apesar de ter conseguido a vaga de trabalho, ele não correspondia nem com interesse, nem dedicação. Acendeu a luz amarela.
Poseidon percebeu o truque e enfurecido fez com que o bicho se tornasse selvagem. Pensa que a fúria ficou por aí? Com requinte de crueldade fez com que a mulher de Minos se apaixonasse pelo touro. Como promessa sem conteúdo não se sustenta, Maria anteviu o seu péssimo futuro ao lado de Antônio e reativou sua conta online. Na primeira falta, a empresa aceitou a desculpa de Antônio… Já a segunda foi atrevimento e na terceira apresentou um atestado suspeito. Ele acabou por ganhar uma advertência…
Pasífae a esposa de Minos, enfeitiçada e enamorada pelo touro, encomendou a Dédalo um grande arquiteto, que fizesse um aparelho mecânico em forma de vaca que a coubesse dentro, a fim de copular com o animal. Maria que, de fato, era uma mulher muito interessante logo teve outros matches e encontrou um novo pretendente. Antônio ficou enfurecido quando recebeu a carta de aviso prévio.
Assim como Minos foi castigado por Poseidon, Antônio se sentia injustiçado por Deus, pelo “sistema”, pelo momento político. O que ele havia feito para merecer isso? Triste não? O que será que ele fez para merecer isso?
Da união de Pasífae com o touro nasceu o Minotauro, meio homem meio touro. Maria com seu novo affair, o Carlos, estava muito feliz, apesar da “sombra” de Antônio que ainda pairava no ar. Para a empresa perder o Antônio foi mais um custo: fazer nova contratação e novo treinamento, mas ninguém é insubstituível.
Já o próprio Antônio parecia ter voltado 30 casinhas no seu jogo da vida. Estava arrasado, reconhecia que perdeu uma mulher incrível e que a empresa oferecia bons benefícios. Não lhe restava outra coisa a não ser começar tudo de novo, só que com o peso de seus dois novos fracassos.
O Minotauro era uma aberração, assim foi encomendado por Minos a Dédalo, um Labirinto para que a criatura fosse encarcerada lá. Antônio era agora ele mesmo a “aberração”, não havia cumprido suas promessas e teria que suportar as consequências. Ele questionava a moral de Maria, desdenhava a oportunidade da empresa.
Mas a única coisa que realmente acontecia, nos porões de sua consciência, era que ele estava sendo brutalmente sacrificado. É aqui que a coisa toda complica: o “Labirinto” é esta confusão em encontrar os culpados fora de nós mesmos.
Se é a namorada, o governo, a empresa, ou qualquer outra coisa além dele mesmo o “culpado”, então estará em apuros, um verdadeiro labirinto sem saída. Está aí a dificuldade de sair da escuridão. Afinal, se acreditamos que dependemos de alguém, além de nós mesmos para sermos felizes, é muito provável que nunca encontremos a felicidade…
Minos, para manter a fera calminha, faz um novo acordo com Poseidon, oferecendo anualmente um tributo de sete rapazes e sete moças a serem sacrificados. O Minotauro era um ser que assombrava até os mais valentes e seria grande honra alguém conseguir vencê-lo.
Carlos, Antônio, Maria e qualquer um de nós, não estamos no labirinto, mas estamos nas mesmas tramas do cotidiano, dando voltas com nossas questões pessoais, certos de que escolhemos direções diferentes, mas, se isso fosse correto, por quê, as consequências parecem desembocar sempre no mesmo lugar? No caso do Antônio, temos que concordar que suas atitudes fará com que termine no mesmo beco sem saída. É assim, de uma forma ou de outra, que vamos construindo o nosso próprio labirinto.
Dentre os jovens apresentados ao rei Minos para serem sacrificados ao Minotauro, Teseu, se destacou aos olhos de Ariadne, nada menos do que a filha do rei Minos – ela se encanta imediatamente pelo rapaz. Carlos que agora está apaixonado por Maria tem uma motivação maior para enfrentar os desafios do cotidiano e enfrentar o nosso “Minotauro” de cada dia.
Teseu recebe de Ariadne uma espada e um novelo de lã. A ponta do fio ela segura e ele vai desenrolando o novelo para que ele não se perca no Labirinto. No embate Teseu mata o Minotauro com sua espada e volta para a amada. Maria, assim como Ariadne foi para Teseu, é uma inspiração para Carlos, que se sente como um super-herói.
A diferença é que para vencer seus desafios ele substituiu o novelo de lã e a espada pela criatividade e inteligência. Não é isso que nos torna a paixão? Maior do que acreditamos ser? Família e filhos são sempre a representação do novelo que nos mantém no caminho. Enfim, sem Ariadne, Teseu teria mesmo chances contra o Minotauro?
Resumindo tudo: Trabalhar durante a semana esperando uma compensação reservada somente no fim de semana, significa que a semana é o labirinto e o final de semana é a saída. Manter um relacionamento frio, flertando escondido com o proibido, quer dizer que o flertar também é a saída. Como se vê, não é. Fazer o que quer que seja como um sacrifício só é mais um indício de que o Minotauro ainda vai te pegar.
Ariadne – A grande inspiração para que o herói, Teseu, vença o Minotauro
As ruínas do Palácio de Knossos em Creta
O Palácio de Knossos foi erguido por volta de 1900 a.c. Mais tarde foi destruído por um terremoto e reerguido em 1700 a.c. as ruínas existentes hoje datam dessa segunda construção. Knossos era o maior e mais sofisticado dos Palácios de Creta. Possuía mais de 1.000 cômodos
Vinícius Moura com uma das relíquias encontradas no palácio, o Afresco do Rei Sacerdote, também conhecido como O Príncipe dos Lírios, que fazia parte do conjunto chamado de Corredor da Procissão. Os Minóicos são considerados um dos mais belos povos da antiguidade, veja mais imagens e saiba mais sobre eles aqui
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