Vida de Modelo nos Anos 80: Paola Rossetto conta como era ser manequim – Parte 2
O Mercado da Moda está sempre em mudança e com o universo das modelos não é diferente. A ex-manequim Paola Rossetto, que brilhou no cenário…
O Mercado da Moda está sempre em mudança e com o universo das modelos não é diferente. A ex-manequim Paola Rossetto, que brilhou no cenário fashion nos anos 80 e 90 revela através de sua trajetória as transformações da Moda Brasileira nos últimos 20 anos sob a perspectiva das modelos.
Confira aqui a Parte 1 da entrevista, onde Paola Rossetto conta como começou, a rotina das manequins nos anos 80 e 90 e sobre o retorno financeiro da carreira.
A Transformação do Mercado
Ainda não existia São Paulo Fashion Week, Fashion Rio e as outras semanas de moda, nem grandes agências de modelos e as meninas não começavam tão jovens nas passarelas, no caso da Paola, ela iniciou sua trajetória aos 23 anos, idade que para os dias de hoje, seria considerada velha!
É difícil imaginar que há pouco mais de 20 anos, o cenário fashion brasileiro era completamente outro. “Os desfiles aconteciam em clubes, geralmente organizados pelas associações, que reuniam cerca de vinte estilistas e as manequins eram sorteadas para se distribuírem entre eles.” Relembra Paola.
Nos anos 80 e início dos 90 os desfiles aconteciam em clubes organizados por associações. Na foto acima desfile organizado pelo Rotary para apresentar coleções de verão e a Noite da Alta Costura Brasileira organizada pela Associação Portuguesa de Desportos
As Agências de Modelo
Com o crescimento do setor, o mercado também começou a mudar, o que afetou diretamente a profissão. “Eu fui vendo que as coisas estavam se modificando e passou a me incomodar o fato das agências, que tinham começado a se firmar no mercado, em meados de 1980, quase 1990, terem mudado o modus operandi. Tudo estava em transformação. As modelos eram captadas, faziam parte de um casting e a booker falava onde elas iam fazer o teste, o que elas tinham que fazer, como tinham que se vestir.
O mercado se transformou. Minhas amigas e eu continuamos a trabalhar da forma que já estávamos acostumadas porque já tínhamos muita clientela e tinha mercado para todo mundo. Entretanto, quando entraram as agências, alguns cachês começaram a baixar”, relata Paola.
“A partir de 1991, 1992, as modelos começaram a ser cada vez mais jovens e com outro tipo físico. Antes o que importava era a personalidade de cada modelo, hoje já é massificado. Com raras e poucas exceções, atualmente não há uma leitura da personalidade da modelo dentro da roupa. Quanto mais você padroniza, mais você dá destaque pra roupa. Antigamente não, eram as personalidades que entravam vestidas.
Essa escolha de modelos quase adolescentes, que são descobertas muito jovens para desenvolver uma carreira, começou na Europa e o Brasil foi absorvendo isso rapidamente. Hoje parece que existe uma máquina de fazer modelos para desfilar.
Houve uma mudança muito grande no desenvolver do caminho da moda, foi muito interessante. Era totalmente diferente, antes só bastava fazer parte do sindicato, não precisava fazer parte de uma agência. Só lá por 1990 e poucos que fui para uma agência pequena, mas já com 28 anos, não era uma ‘new face’. Hoje é bem diferente”.
A Transição – Outros caminhos
Agregado a essa mudança, Paola conta também que num determinado momento ela começou a sentir que o trabalho de modelo não estava mais acrescentando em sua vida. “Quando eu estava com 28 anos já me sentia cansada. Quando percebi isso demorei mais quatro anos pra mudar a minha vida profissional. Comecei a fazer meus contatos, vi o que era capaz de fazer e comecei a divulgar. Estar no ramo da moda e sair para qualquer outro foi dificílimo”.
Para Paola, o que mais marcou sua vida na época que foi modelo foram as pessoas que conheceu. “Algumas delas permaneceram na minha vida até hoje. Eu tenho orgulho de dizer que eu aprendi muito. Aprendi a me virar, me defender e a batalhar pelas minhas coisas nessa época. Nada veio de mão beijada, tinha que ir atrás”.
Olhando para essa fase de sua vida, Paola revela que “foi uma época maravilhosa, muito importante em termos de crescimento pessoal. Nunca imaginei que eu pudesse estabelecer contatos e conhecimento com um universo tão interessante. Eu comecei nesse meio sem ter conhecimento algum. Aos poucos eu fui me aprofundando. Obviamente a gente vai aguçando o sentido, vai notando como a indústria se desenvolve e como ela é importante para uma série de setores – a quantidade de empregos que gera, as oportunidades que oferece. Isso tem tudo a ver com o que o ser humano espera.”
Sobre Moda e Estilo
Ao olhar o panorama da moda de uma forma geral, Paola observa que “a velocidade de informação hoje é muito maior do que era há 25 anos. Entretanto a diferenciação que o indivíduo quer acontece da mesma forma em qualquer período em qualquer época. A moda é uma forma de se diferenciar.”
“Todo mundo normalmente fala que a moda é de supérfluos, futilidades, tenho pessoas próximas que não curtem esse ambiente, tem muitas críticas. Acho que a moda a gente não define, a gente vive. Na verdade é o estilo de cada um se expressar. Quando a gente fala de moda é a forma que cada um se expressa diante do mundo. Muita gente vinha me perguntar ‘quais são as cores pra próxima estação’, eu até falava, mas na verdade a moda te direciona, ela move uma grande indústria, só que no fundo as pessoas que fazem ‘suas próprias modas’. Você tem algumas diretrizes, mas cada um tem que usar aquilo que lhe veste bem, o que faz ele se sentir melhor, o que o distingue”.
“Eu não uso alguma coisa que não gosto porque está na moda. Posso utilizar aquela inspiração e ver o que fica bem pra mim. As pessoas precisam ter um critério de escolha para seguir a moda”. Confessa Paola Rossetto.
Poala Rossetto em Revista dos anos 80
Paola Rossetto estava sempre presente nas colunas de moda dos jornais e também nas revistas
Manequins em desfiles organizados pelas associações que aconteciam nos clubes da cidade
Paula desfilando e pousando para fotos
Na primeira imagem Paola Rossetto desfila nos anos 90, look do Cacau Brasil, no programa da Ana Maria Braga quando ela ainda era da TV Record. Cacau Brasil foi ganhador do prêmio Agulhas de Ouro, importante premiação da época
Leia também: Vida de Modelo nos anos 80 – Entrevista com Paola Rossetto, manequim que brilhou nos anos 80 e 90 – Parte 1, onde Paola conta como começou, a rotina das manequins nos anos 80 e 90 e sobre o retorno financeiro da carreira.
Por Denise Pitta e Samantha Mahawasala