Vestido para Vencer

Obstinado, obsessivo, obcecado? Carlos Miele é tudo isso – e o mais incrível é que está dando certo . Do bom e do melhor: Miele…

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Obstinado, obsessivo, obcecado? Carlos Miele é tudo isso – e o mais incrível é que está dando certo .

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Do bom e do melhor: Miele mostra o longo desfilado por Carol Trentini e fotografado por Michael Roberts 

Rue Saint-Honoré, 380. Abrir uma loja nesse solo consagrado da moda em Paris não é para qualquer um. Também não é qualquer um que cava um espaço no terreno furiosamente competitivo dos grandes nomes da moda internacional, desfila – e continua desfilando – em Nova York, veste celebridades como Paris Hilton, Jennifer Lopez e Eva Longoria. Não é de estranhar, portanto, o sorriso – sempre ansioso, mas sorriso – de Carlos Miele, paulistano de 43 anos que se radicou em 2003 em Nova York com duas idéias fixas: fazer carreira global e freqüentar os altos círculos do planeta da moda.

Apesar da concorrência pesada, da assumida falta de embasamento formal, do nariz torcido de especialistas em moda no Brasil (com uns ele não se dá, outros não se dão com ele), Miele, mais conhecido aqui como dono da rede de lojas M.Officer, aos poucos vai conseguindo o que parecia impossível.

Circula bem, já é “um da turma” na semana de moda de Nova York e vem ganhando terreno na passarela que realmente faz o caixa girar, a das milionárias que gastam fábulas com roupas – um vestido de noite com a etiqueta Carlos Miele pode custar mais de 10.000 reais.

Suas roupas mais conhecidas ainda têm aquele ar exuberante associado aos lugares-comuns sobre o Brasil – mas fazer o quê, se esse é um diferencial que pode ser usado a favor? “As americanas olham para as criações de Carlos Miele em busca de um pedaço de Brasil, o que é enfatizado em seus decotes, cores fortes e estampas”, avalia Elisa Lipsky-Karasz, editora de moda do jornal Women’s Wear Daily. Pragmático, Miele adota o selo. Descreve a coleção que apresentou no começo do mês na semana de moda de Nova York, onde desfila desde 2002, como “brasileiríssima e, ao mesmo tempo, internacional, a identidade que pretendo dar à marca”.

Brasileiríssima, no entanto, é contingência. Miele quer mesmo é ser internacional. A mudança para Nova York foi em 2003, um ano depois de brigar com meio mundo em São Paulo e transferir seu desfile para os Estados Unidos. Criticado num meio em que as maldades imperam em particular e a complacência reina em público, hoje ele degusta seu prato gelado. “A moda brasileira não tem assinatura. Você sabe qual é o estilo dos japoneses, dos belgas, mas o Brasil sempre muda, segue ondas. Além disso, os brasileiros não entendem o cronograma da moda internacional porque os desfiles surgiram atrelados a shoppings, ao varejo”, massacra.

Sua loja em Nova York fica num bairro recheado de modernos e foi projetada pelo egípcio Hani Rashid, venerado nos meios de vanguarda. Rashid também assina a loja de Paris, com inauguração prevista para outubro. Vizinho de John Galliano e Ermenegildo Zegna, o prédio do século XVIII devorou 1,5 milhão de dólares só em reformas e decoração. Sem contar os embates com a burocracia e o modo francês de ser. “Do advogado ao pedreiro, os franceses se acham sempre certos”, suspira Miele. Escolher um nome como Rashid, que inclui no pacote a loja de mais de 700 metros quadrados a ser instalada no futuro Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, é o tipo de investimento que dá retorno porque seus projetos vanguardistas rendem reportagens em revistas de moda e de arquitetura.

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Jennifer, Paris e Eva Longoria vestem Miele: modelos exuberantes, ousadia nos negócios e um sistema de divulgação de alta eficiência .
Para bancar todos esses empreendimentos, Miele conta com a estrutura da M.Officer, uma rede de 113 lojas espalhadas pelo Brasil cujo forte são os jeans e outras peças de moda jovem. Ele mesmo não faz mais nada na sua fonte primária de renda: uma equipe contratada administra, outra desenha as coleções da M.Officer. O espírito empreendedor e a ousadia em testar novos modelos de negócio são típicos do baixinho de ego gigantesco – uma vantagem nesse meio –, nascido em Santana, bairro da Zona Norte de São Paulo, e formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas depois de, como adora contar, ser expulso de seis dos nove colégios por onde passou.

Miele começou no ramo da confecção em 1986, em sociedade com dois irmãos que terminou em briga de família. Em 2006, a M5, holding de suas empresas, faturou 254,8 milhões de reais, sendo 90% provenientes da rede M.Officer. “A chave do sucesso é muita obsessão e um certo grau de ignorância. A pessoa muito bem informada corre o risco de ficar só na teoria”, teoriza em meio a uma sessão de fotos com a modelo Carol Trentini comandada pelo americano Michael Roberts, diretor de estilo da revista Vanity Fair. Miele, repita-se, faz questão do bom e do melhor.

Esta é uma lição que o aluno relapso aprendeu e segue à risca: para estar entre os primeiros, tem de ser como os primeiros. Daí os profissionais de renome e um eficientíssimo sistema promocional. Em Nova York, seus desfiles são divulgados pela relações-públicas Vanessa von Bismarck, que trabalha para nomes como Stella McCartney e Christian Lacroix.

Miele também continua a contar com a assessoria da ex-namorada Alex Kramer, 35 anos, nova-iorquina que saiu de um divórcio milionário para as colunas sociais. A boa companhia foi mais um empurrãozinho. “Carlos tem hoje boa receptividade nos círculos sociais de Nova York e é visto como uma pessoa simpática e generosa”, diz a editora Elisa Lipsky-Karasz.

O namoro com Alex acabou recentemente, mas eles são amigos. A fila andou na direção usual, e Miele, que é solteiro, está agora com Renata Castro, modelo mineira de 25 anos. Com tantas investidas, ele abandonou temporariamente as pretensões artísticas (do tipo uma videoinstalação intitulada Os Redundantes e as Elites das Cavernas).

Apesar das apostas de risco, vive recebendo propostas para vender sua holding. Recusa todas. “Ele se acha a Microsoft da moda brasileira”, diz um executivo paulistano que tentou, em vão, marcar um almoço para sondar as possibilidades de comprar uma fatia do grupo M5. Do alto de sua notável auto-estima, Miele avisa: “Quero testar o meu limite”. Quem achava que todo o seu discurso era só pretensão vazia vai ter de esperar mais um pouco.

Por Silvia Rogar / Veja

Leia esta e outras matérias no site Mercado Competitivo.
 

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