Uma imersão das impressões da moda através da perspectiva dos teóricos e estudiosos da moda

No século XIX, inicia-se a produção diversificada de discursos sobre a moda, em periódi­cos especializados franceses, colunas de jornais femininos fluminenses, obras literárias e também nos primeiros trabalhos de estudiosos sobre moda.

O filósofo inglês Hebert Spencer pôs em tela o caráter de mutabilidade da moda, em sua obra de 1883 Les manières et la mode. Para ele, a moda passaria por mutações por duas vertentes: a finalidade mimética e a distinção. Ao copiar o visual da alta classe, as demais classes tentariam se aproximar de seu status. Dando continuidade ao ciclo, a alta classe, uma vez imitada visualmente, criava novas modas para manter a distância social. Nesse viés, a moda hierarquiza a sociedade e reflete o status quo.

Les lois de l’imitation de 1890 é a obra em que o sociólogo francês Gabriel Tarde expôs sua teoria sobre a moda. Ele focalizou o laço social composto pela moda por duas ondas que se alternam no tempo: a moda e o costume. Para Tarde, a moda é uma fase transitória, posto que suas invenções renovem os ares da época. O costume, por sua vez, estabiliza a moda com as imitações e dá constância ao “gosto da época”.

No século XX, não só a sociologia, mas também antropologia e psicologia produziram estu­dos sobre a moda. No âmbito da psicologia, J. C. Flügel publicou The psychology of clothes em 1930. Neste livro, ele abaliza três motivações psicológicas para as roupas: o décor, o pudor e a proteção. O corpo com artefatos decorativos valoriza o físico. O pudor, por seu turno, atua sob o imperativo de modéstia e sutileza ao expor o corpo. Sua proteção se destina à higiene e contra as adversidades e desventuras ambientais. Flügel também destacou que a moda manifesta “rivalidades” entre classes, gêneros e idades, isto é, ela aparta e nivela diferen­tes grupos sociais.

Na Encyclopedia of social sciences de 1931, Edward Sapir abordou a face histórica da moda. “Para ele, a moda veste e dá valor à estética corporal”, mas não se associa direta­mente à peça indumentária ou ao look, mas a seus símbolos.

Em fins da década de 1960, René König publicou sua Sociologie de la mode. O estudo socioló­gico reunia uma tríade teórica: as manifestações imediatas da moda na dinâmica social, suas raízes originárias e as ramificações nas quais ela poderia ultrapassar o vestuário.

O sociológico americano Thorstein Veblen criticou a moda severamente em La theorie de la classe ociose de 1985. Veblen acredita que a moda faz repercutir uma nociva atitude de consumismo. À moda só restariam expressões más capitalistas do desperdício, consumo conspícuo e da insígnia do ócio.

A obra La mode do sociólogo alemão Georg Simmel foi lançada em 1988. Para ele, o ambi­ente urbano mais o individualismo nas eras industriais equacionam um ritmo social em que se valorizam simbolicamente as personalidades individuais exteriorizada pela moda.

Nessas linhas resumiram-se os principais pontos alinhados por Maria do Carmo Rainho. A revisão bibliográfica realizada por ela é de extrema importância aos que se propuse­rem a estudar a moda, porque os ampara com um ótimo painel teórico dos que antes se aventuraram nesse campo. Todavia, dentre os numerosos estudiosos que deram ênfase à moda, a bússola teórica a guiar este estudo é Gilles Lipovetsky.

E na imprensa

Na verdade, não só o mundo acadêmico pôde fazer da moda o centro de suas atenções. Mas a leitura especializada da moda pavimentou o caminho que a imprensa iniciaria com uma corrida na cobertura sazonal das coleções lançadas nas principais capitais de moda.

A imprensa também tem destaque como locus em que se produziram discursos pró­prios sobre a moda. Na história européia, o jornalismo do século XIX se dispusera a relatar os costumes da época nos folhetins, descrevendo didaticamente para a sociedade o destaque que a indumentária assumia nos círculos sociais aristocráticos.

No século XX, o jornalismo de moda começava a abrir espaço nas páginas impressas para interpretações a respeito de estilos múltiplos, também exportando as matrizes essenciais da alta costura em moldes e manequins. Isto é, a moda impressa estava intimamente relacio­nada à réplica da veste fina dos ateliês. Após esse início folhetinesco, o jornalismo de moda ultrapassou as dimensões do estatuto das vestes unicamente artístico e passou a abordá-las por seu valor mercantilizado. Assim, o século XXI presencia o jornalismo de entretenimento se debruçar sobre as notícias e a crítica de moda.

O boom midiático e o poder adquirido pelo signo imagético compõem o cenário em que o jornalismo de divertimento e variedades atua no imaginário e tende a seduzir o público. A tal tipo de jornalismo que se vivencia atualmente dá-se a nomenclatura “jornalismo diversional”. Com certeza não se quer generalizar a imprensa, mas aqui se citam os periódicos que ti­nham como finalidade última a apresentação regular das coleções de moda que se referem principal­mente às vestimentas e que associam o texto e as fotografias.

Nascidas em épocas passadas, publicações de prestígio resistem até o presente como líde­res difusoras da moda em voga. Harper’s Bazzar (1867), Vogue America (1898) e Elle Paris (1945) são exemplos de “bíblias” da moda. Nos tempos modernos, considera-se que a moda transite na órbita da mídia e que “todos já ouviram dizer que a imprensa representa o ‘quarto poder’ dentro da socie­dade. Na moda, a mídia é o ‘primeiro poder’, tal é a força institucional e a capacidade de determinar tendências dos grandes meios de comunicação, principal­mente as poderosas revistas norte-americanas”, nos diz Dario Caldas no livro “Universo da Moda”.

Por Juliana Sayuri

Colaboradores: Colaboradores do Fashion Bubbles

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