O traje de alfaiataria tem um papel de destaque na História da Moda. Acima de tudo, ele deve ser entendido como o maior marco de distinção entre a roupa da época moderna da do mundo contemporâneo.
Ao longo da história, o vestuário masculino foi sempre mais avançado que o feminino. Afinal, o traje ele sempre apontou às mudanças na imagem do provedor, do guerreiro, do político e do religioso.
Contudo, quando se fala no fenômeno da moda é o traje feminino que toma a dianteira. Ou seja, é a roupa das mulheres que predomina dentro dos estudos de moda ou mesmo fenomenológicos.
Dessa maneira, aqui daremos ênfase ao traje de alfaiataria masculino como fenômeno da moda e da “não-moda”.
A Moda, expressão individual
A moda, além de efêmera e inconstante, constrói, através das roupas, a identidade individual. Nesse sentido, a priori ela define o eu do indivíduo pelo sexo, tendo o corpo como espelho do gênero.
Ao tempo em que a roupa feminina carrega um apelo visual mais teatral, a roupa masculina marca o padrão real do vestir socializado.
Nesse padrão também se incluiem as suas versões informais: a roupa esportiva, a roupa de férias, de fim de semana e o traje urbano usado para o trabalho ou diversão.
O conjunto calça-paletó-camisa, formal ou informal, que no Brasil é conhecido como “Terno Masculino”, forma o que se entende por alfaiataria.
Entretanto, ela é composta por uma grande gama de modelos de paletós, calças, camisas, coletes, casacos e gravatas, além de outros acessórios.
O Traje de Alfaiataria está ultrapassado?
A partir de meados do século XX, muitos homens passaram a considerar essa combinação de roupas enfadonha e repetitiva.
Apesar disso, num mundo onde a efemeridade dá o tom na cultura das aparências, o que se questiona é: porque o terno continua sendo o traje civil clássico em grande parte do mundo?
Ou seja, questiona-se como a alfaiataria se relaciona com a moda e quais os valores que a tornam tão eficaz – mesmo diante da sensualidade e dinâmica dos usuários pós-modernos.
Em sua obra O Sexo e as Roupas (1996), Anne Hollander define que a moda é um fenômeno social assim como o são as mudanças no vestuário. Para a autora, a alfaiataria mostra o poder da autoridade, a força simbólica e emocional dos valores de perpetuação.
A Alfaiataria: poder e continuidade
Nesse sentido, o terno tem um caráter abstrato que traz uma mensagem de continuidade formal que é satisfatória no mundo contemporâneo.
Como tal, a sua sobrevivência e adaptação para o armário feminino e trajes mais casuais trouxeram profundas mudanças no seu significado social e sexual.
A princípio, o terno relação com o ofício do alfaiate e à tradição da roupa feita sob medida. Portanto, a alfaiataria agregava um valor de luxo e requinte à roupa que era maior que o da boa aparência.
Como resultado, esse valor se tornou o mais cultuado dentro da cultura masculina atual.
Assim, os avanços tecnológicos da indústria da moda serviram para ajudar a preservar a boa aparência do terno masculino. Isso, acima de tudo, como resposta à fantasias coletivas que até hoje têm força.
O terno foi eleito como o agente ideal da beleza do poder e da sexualidade positiva do homem urbano. Por esse motivo, a alfaiataria se introduziu nas regras do design de moda.
Em outras palavras, de um produto exclusivo ele se tornou um artigo feito em série. Como resultado, o terno passou a ser oferecido no comércio varejista, em diferentes tamanhos, formas, volumes e padrões têxteis.
A base estética do ideal moderno masculino se inspirou na elegância e eficiência da natureza. Ou seja, esta ordem define que os seres humanos sejam complementados por roupas.
Relacionado ao vocabulário visual e estilístico da arte abstrata moderna, o terno mantêm o vigoroso apelo erótico que o fez nascer. Afinal, o traje de alfaiataria, assim como os carros, são sexy.
O Traje de Alfaiataria, do século XIX ao XX
O padrão da alfaiataria surgiu no século XIX no Ocidente. Ele então surgia após o declínio do estilo Rococó, estando relacionado ao Iluminismo e à estética neoclássica.
Desde então, a referência de virilidade era a força e a clareza da democracia grega, esta unida ao modelo simples e eficiente da tecnologia construtiva romana.
O ideal neoclásssico tornou-se erótico, politicamente correto e atraente. Dessa maneira, se tornou a forma de expressar as novas aspirações emocionais e sociais da contemporaneidade.
A mesma ordem estética foi repetida na arte e no design moderno e abstrato do século XX, que surgiu após a queda do gosto romântico, vitoriano e da art-nouveau.
A partir de então, a principal mudança na alfaiataria se deu na na forma de produzir-la: ante era feita sob medida, posteriormente em série pela produção industrializada.
Essa foi a base da construção da roupa prêt-à-porter para ambos os sexos.
Muito além da questão de gênero
Outro dado importante sobre a permanência da alfaiataria vem da própria história do vestuário. Afinal, a sua evolução é entendida a partir de um dueto entre o traje masculino e feminino.
Desse modo, a extensão do traje de alfaiataria para as mulheres mostra uma trégua na relação dos papéis entre os gêneros, trazendo à tona a discussão sobre a androginia na moda.
Nesse sentid, a alfaiataria usada pelas mulheres é o grande marco da história do vestuário no século XX.
Como roupa de mulher, o terninho feminino ou mesmo o tailleur carregam os mesmos valores sexuais e de poder associados ao traje masculino.
E é esta a condição que mantêm a alfaiataria no topo dos estudos sobre a história do vestuário, mostrando-se mais importante do que as questões sobre a moda e o seu caráter efêmero.
Por Queila Ferraz.
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