Marlene Dietrich vestida com terninho de marinheira

História do terninho feminino: um clássico da moda que é sinônimo de ousadia

Conheça a fascinante história do terninho feminino, um clássico que tem origem no armário masculino e é sinônimo de sensualidade, poder e elegância.

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Sendo até então um modelo exclusivo do armário masculino, o terninho feminino surgiu no mundo da moda a partir dos anos 1920. Todavia, demorou muito mais tempo para que o modelo fosse bem aceito pela sociedade.

 

A quebra de um padrão

 

Ainda que seja difícil de imaginar, há menos de um século seria um escândalo ver uma mulher com calças.

Em um passado onde o papel de cada sexo era bem definido, homens e mulheres se vestiam de maneiras muito distintas. Nesse sentido, o cavalheiro da era vitoriana (segunda metade do século XIX) não seria confundido com a sua mulher, com uma saia em forma de sino e cintura de vespa .

 

Desenho de 1844 ilustrando roupas da moda para homens e mulheres
Desenho de 1844 ilustrando roupas da moda para homens e mulheres. Crédito: Nordic Museum. Fonte: Wikimedia commons.
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Apesar disso, ainda que a evolução da moda no século XX tenha sido lenta, ela foi um caminho sem volta.

Em torno de 1910 nasceu o movimento sufragista.  Com uma postura firme e forte, suas adeptas exigiam que o governo inglês permitisse a participação das mulheres na vida política.

Nesse meio tempo, as sufragistas adotaram um estilo de jaqueta e saia que se tornou a sua marca, conjunto então chamado de “terno sufragista”. Como a projeção do grupo, para além da política, esse modelo veio a ser uma verdadeira inspiração para a moda feminina.

 

  • Saiba tudo sobre As Sufragistas:  grupo que revolucionou o mundo ao alcançar o direito ao voto feminino e foi precursor do movimento feminista.

 

Ethel Smyth, c.1915.
Ethel Smyth, c.1915. Fonte: History Today.

 

Coco Chanel e o universo masculino

 

O estilo das sufragistas inspirou ninguém menos do que  Gabrielle ´Coco` Chanel. À primeira vista, a estilista é tida por muitos como a criadora do primeiro modelo de terninho feminino.

Contudo, o modelo eternizado por Chanel, o conjunto de blazer com saia denominado tailleur, não levava calças. Seja como for, o modelo representou sim uma verdadeira revolução na moda.

De antemão, a estilista se ligava de vez ao tema da emancipação das mulheres.

 

Coco Chanel em 1936.
Coco Chanel em 1936. Crédito: Boris Lipnitzki. Fonte: Pinterest / Bing Images.

 

 

“Quando Gabrielle ‘Coco’ Chanel começou a desenhar, o terno já era associado com a emancipação da mulheres, tendo facilitado a participação feminina no “mundo dos homens”. (Grace Lees-Maffei,  em “Iconic Designs: 50 Stories About 50 Things”)

 

Coco Chanel a escolher um chapéu em uma visita a Dallas em 1957.
Coco Chanel a escolher um chapéu em uma visita a Dallas em 1957. Crédito: AP. Fonte: Daily Mail.

 

Acima de tudo, Coco Chanel criou uma peça que se ajustava com perfeição à mudança no estilo de vida das mulheres.

O tailleur foi apresentado por Chanel em uma pequena exposição em Paris no ano de 1925. Assim, apesar de ter desenhado o seu primeiro modelo nem 1914, ele apenas caiu no gosto popular na segunda metade da década de 20.

A partir daí, o modelo resistiria por muito tempo, posteriormente sendo adotado por importantes figuras, como Jackie Kennedy, Brigitte Bardot e a Princesa Diana.

 

Jackie e John F. Kennedy em 1963.
Jackie e John F. Kennedy em 1963. Fonte: Wikimedia commons.

 

E não parou por aí.

Além do tailleur, Chanel lançou moda com o vestido de tweed debruado (sem espartilhos), o chemisier simples (que remetia à camisa masculina) e o cabelo curto a “la garçonne”.

Você também pode gostar de Coco Chanel: 8 criações que revolucionaram o mundo da moda!

 

O terninho feminino e o controle social

 

A atriz de Hollywood Marlene Dietrich causou furor em 1932, quando apareceu no lançamento do filme “The Sign of the Cross” vestindo um terninho feminino.

O caso impactou tanto que foi parar no congresso americano. Imediatamente, o órgão teve que decidir se a sua atitude violava ou não as regras sociais em vigor.

 

Marlene Dietrich vestida com terninho feminino no lançamento do filme "Sign of the Cross" em 1932.
Marlene Dietrich no lançamento do filme “Sign of the Cross” em 1932. Fonte: Pinterest / Glamour Daze.

 

Naquela época, uma mulher com calças poderia ser presa por se “disfarçar de homem”.

Ainda em 1950, o uso de calças não era aceito no ambiente de trabalho. Nem em ocasiões formais.

De acordo com Anne Hollander,  a relação entre o estilo masculino e o feminino é em suma idealista. Essa divisão de fato ditou por muito tempo a vida das mulheres. Acima de tudo, como não poderia deixar de ser, quais roupas poderiam ou não vestir.

“As roupas masculinas e femininas ilustram como as pessoas desejam que seja a relação entre os sexos”.  (Anne Hollander em  “O Sexo e as Roupas”)

 

O Terninho Feminino: conforto e sensualidade à medida

 

Restam poucas dúvidas, o terninho feminino é mais confortável do que o seu irmão de saia.

Ao mesmo tempo em que o terninho buscava ser prático e cômodo, o tailleur se mantinha com uma aparência mais tradicional.

Acima de tudo, o terninho feminino também é sinônimo de poder.

O modelo usado pelas mulheres é duplamente provocativo. Em outras palavras, ele traz tanto a influência do terno tradicional masculino como o atrativo de uma mulher ousada e moderna.

 

Katherine Hepburn vestida com gravata e terninho feminino no filme Sylvia Scarlett, de 1936.
Katherine Hepburn vestida com gravata e terno no filme Sylvia Scarlett, de 1936. Fonte: Listal.

 

Marlene Dietrich, Katharine Hepburn, Françoise Hardy e Bianca Jagger são exemplos de mulheres que fizeram do terninho feminino o seu emblema.

Todas elas são, sem sombra de dúvidas, sensuais. Entretanto, o são de uma forma discreta.

Essas atrizes sabiam como se mostrar atrevidas, ainda que de uma maneira muito moderada e medida.

Afinal, os homens viam como provocante a imagem de uma mulher vestida com uma roupa masculina. Contudo, desde que ela não disfarçasse o fato de ser uma mulher.

 

Marlene Dietrich vestida com terninho feminino no filme Morocco de 1930.
Marlene Dietrich no filme Morocco de 1930. Crédito: Paramount Pictures, Josef von Sternberg. Fonte: Wikimedia commons.

 

Novamente, a atriz alemã Marlene Dietrich que o diga. A artista já havia sacudido o público em 1930, quando apareceu vestida com um terninho feminino no filme Morocco.

Mais do que isso, com as suas sobrancelhas finas feitas à lápis e a boca de cupido, a atriz levou a plateia ao delírio quando em cena beijava outra mulher.

Com essa atitude, Dietrich parodiava certas regras sociais. Afinal, as mulheres da época não usavam calças e muito menos podiam se portar dessa maneira.

 

O terninho feminino e a liberação das mulheres

 

Nesse sentido, levou muito tempo para que as mulheres conquistassem uma maior liberdade de escolha.

Foi apenas a partir da segunda metade do século XX que o movimento feminista tomou o mundo. Desde então, ele foi apoiado por grandes artistas e intelectuais da época – como, por exemplo, Simone de Beauvoir.

Como resultado, não demorou para que o estilo unisex passasse a estar na ordem do dia.

 

Propaganda e comercialização

 

Assim, estilistas como Pierre Cardin, Yves Saint Laurent e André Courrèges também começaram a criar os seus próprios terninhos.

Em sintonia com a ousadia da própria roupa, eles então divulgavam os seus modelos por meio de uma publicidade cada vez mais provocadora.

 

Modelo vestida com o um terninho feminino de Yves Saint Laurent de 1966.
Modelo vestida com o smoking clássico de the Yves Saint Laurent de 1966. Fonte: Museo Yves Saint Laurent em Paris.

 

Mais do que nada, a democratização do terninho feminino foi um dos avanços mais revolucionários do mundo da moda. Afinal, com ele as mulheres poderiam tanto se sentir sensuais como pessoas de negócios.

Essa de fato foi uma combinação destacada por uma famosa campanha publicitária dos anos 70, criada para o perfume Charlie da Revlon.

 

Propaganda francesa do perfume Charlie da Revlon na década de 1970 com uma modelo em um terninho feminino.
Propaganda francesa do perfume Charlie da Revlon na década de 1970. Fonte: Bonanza Marketplace / Pinterest.

 

Ao longo dos anos, os anúncios da Revlon incluíram mulheres que pareciam estar prestes a conquistar a cidade. Não é de se estranhar que as suas modelos eram fotografadas em uma postura que exalava confiança, muitas vezes vestidas com um terninho feminino.

 

O terninho feminino – símbolo de autoridade e poder

 

Por fim, a divisão entre os sexos não foi o único fator a ditar o estilo das roupas. Igualmente a separação de classes sociais influenciou o modo de vestir de homens e mulheres.

No mundo da moda, o terninho feminino exprime uma posição social alta. Ele é o uniforme próprio da autoridade.

Tanto é assim que as suas adeptas eram por vezes chamadas de “doutoras”.

 

Hillary Clinton em campanha no Arizona em 2016 vestida com um terninho feminino.
Hillary Clinton em campanha no Arizona em 2016. Crédito: Gage Skidmore. Fonte: Wikimedia commons.

 

Ao passo que o modelo veio a ter adeptas tão importantes como Hillary Clinton, o terninho feminino não foi um caso único na moda feminina.

Outros elementos do armário das mulheres também se originaram no mundo masculino. Entre eles, por exemplo, está o uso de blazers com ombreiras. O modelo foi adotado por grande parte das mulheres na década de 80.

Ainda que houvesse quem o abominasse, o acessório tinha um propósito. Acima de tudo, respondia à necessidade que muitas mulheres sentiam em ter uma figura mais masculina e imponente.

Afinal, elas estavam ingressando em peso no mercado de trabalho, e a busca por melhores condições e cargos de chefia significava um choque com a sociedade.

 

Desenho de uma mulher vestindo um blazer com ombreiras em 1980.
Desenho de uma mulher vestindo um blazer com ombreiras em 1980. Fonte: UNC Kenan-Flager.

 

Desse modo, assim como o terninho feminino, as ombreiras davam uma imagem de força e poder.

Para entender melhor veja nosso Especial Ombreiras, com história, significado e tendências – As ombreiras são associadas historicamente ao empoderamento feminino. Evocadas em tempos difíceis e usadas como ferramenta de poder, saiba porque elas permanecerão fortes na moda pós-pandemia.

 

Um clássico mais em voga que nunca!

 

Atualmente, estilistas do mundo inteiro continuam a reinventar o já clássico modelo. Como vimos no desfile do Verão 2021 do Desfile Balmain que trouxe de volta as ombreiras. Desta vez mais estruturadas, esculturais e pontiagudas!

 

coleção de verão balmain
Olivier Rousteing – Desfile Balmain SS21 – Paris Fashion Week – Fonte: GBL

 

Assim, os terninhos femininos atuais permanecem como símbolo de empoderamento, destacando ainda a qualidade que é um dos principais atrativos desse traje. Além disso, numa época em que o ritmo da moda é tão feroz, o modelo oferece uma dose de malícia e força singular àquela que o leva.

Ou seja, ainda que o terninho tenha sido adaptado a vários estilos e caimentos, ele nunca perdeu aquelas que são as suas principais inspirações: a força e o poder da mulher.

Desta forma, não parece que o modelo cairá em desuso tão cedo. Tanto que um terno branco, assinado por Carolina Herrera, foi a escolha de Kamala Harris, a primeira mulher da história a ser vice-presidente dos Estados Unidos, em seu primeiro discurso oficial.

 

 

O modelo foi visto não só como uma declaração de paz, como também uma homenagem à luta das mulheres e minorias na política. Assim, o estilo de Kamala Harris fez uma homenagem clara ao movimento sufragista feminino e, consequentemente, aos 100 anos do direito das mulheres ao voto.

Veja mais sobre o estilo de Kamala Harris, a primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos. Depois saiba mais sobre sua história e trajetória.

 

Leia também A Camisa Branca – Clássicos da Moda,  O Pretinho Básico – Clássicos da Moda e Blazers e Terninhos – Tendência para mulheres executivas!

Por Leonize Maurílio.

Editado e revisado por Mariana Boscariol.

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