Björk
A moda é onipresente no mundo contemporâneo. Essa é a idéia-mestra que guia este artigo. O fenômeno da moda extrapola as luzes do universo fashion, alastra-se às ruas, aos happenings cotidianos e à arena acadêmica, mas é na esfera da mídia que suas dimensões se dilatam até corpos pavoneados, espetáculos imagéticos e discursos poderosos.Tal como postula o sociólogo francês Michel Maffesoli: “A moda pode ser um bom ponto de partida para a análise. De início, porque ela está onipresente. Não há nenhum domínio que a escape: do mais frívolo àquele tido como o mais sério, encontra-se a necessidade de se identificar. Moda vestimentária, é claro, mas também modas culinárias, lingüísticas, musicais, esportivas. Mesmo as idéias que não escapam de sua influência. Tanto no mundo acadêmico, produtos dessas idéias, quanto no meio jornalístico que as difunde, é de bom tom, em tal momento particular, pensar de um modo “conforme” o ar do tempo”.
Ora, o que mais marcaria o ar de nosso tempo senão a atmosfera espetacular que tende a nos cercar? Na contemporaneidade, a mídia está em posição privilegiada para propagar tais espetáculos, por sua alta qualidade técnica e suas estratégias mercadológicas. Nesse horizonte, a mídia pode articular representações das passarelas, transpondo-as a belas páginas impressas. Esta série pretende pôr em relevo as construções discursivas da mídia impressa acerca dos desfiles da São Paulo Fashion Week realizada de 13 a 19 de junho de 2007.
O filósofo Gilles Lipovetsky já dizia que “a questão da moda não faz furor no mundo intelectual”. Uns a acusariam de “frívola”, “superficial” e “fútil”. Ora, “nesse desejo de vida total que se expressa paradoxalmente por essas formas tênues e superficiais que são as aparências, uma voz tenta sussurrar uma verdade surpreendente: nada é mais fútil do que nossos esforços para tornar tudo sério, útil, racional; nada é mais sério do que o fútil”. Diante de tais acusações, o álibi da moda é justamente sua análise crítica.
Jun Nakao em “A costura do Invisível”
Efemeridade, fervor de novidades e valor simbólico são os vértices que ordenam o universo da moda, aliados às armadilhas da publicidade, dos mass media e do poder aquisitivo dos estratos sociais. A moda se estrutura no “império do efêmero” e na fantasia estética, mas se dissemina na sociedade arrebatando os mais diversos públicos. Logo, o estudo acadêmico sobre a moda arca com discriminações, sobretudo por sua natureza “frívola”. O próprio dicionário de Aurélio Buarque de Holanda define a moda como “arte e técnica do vestuário”, mas o verbete também pode significar “vontade, fantasia, capricho”.
Em contraponto a isso, “é preciso redinamizar, inquietar novamente a investigação da moda, objeto fútil, fugidio, “contraditório” por excelência, certamente, mas que, por isso mesmo, deveria estimular ainda mais a razão teórica”. A moda, portanto, pede por uma análise que se importe em pôr a descoberto todas suas manifestações estéticas, sociológicas e, claro, jornalísticas. Ainda nesta linha de raciocínio, buscamos jogar um foco de luz sobre esse campo fugidio e ilusório que dizem ser a Moda, propositalmente maiúscula.
Os próximos capítulos realizam uma análise de enquadramento da mídia impressa durante a realização da São Paulo Fashion Week, considerada “a maior semana de moda da América Latina”, “o maior evento de moda do país”, e a festa “badaladíssima no circuito fashion mundial”. A proposta, pois, justifica o título Sete dias na moda: São Paulo Fashion Week na mira da mídia.
Referências
MAFFESOLI, M. No fundo das aparências. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 341.
LIPOVETSKY, G. O império do efêmero. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 9.
Por Juliana Sayuri