Moda e cidadania nos anos 20 e 30: a emancipação feminina – Parte 2/3
De um estilo muito rígido e pesado para uma maior liberdade de movimento e expressão, conheça com mais detalhes a evolução da moda e cidadania feminina durante as décadas de 20 e 30.
Por fim, a entrada do século XX veio com muitas mudanças sociais. Assim, ainda que em um contexto muito preso ao passado, conheça mais sobre a transformação da moda e a cidadania nos anos 20 e 30.
Novo século, novos ventos
“A moda não é algo que existe apenas nos vestidos. A moda está no céu, nas ruas, a moda tem a ver com as ideias, a forma de vida, com o que está acontecendo.” Coco Chanel.
A inserção das mulheres no mercado de trabalho se deu já nas primeiras décadas do século XX. Desde então, passaram a surgir floristas, operárias, costureiras, garçonetes, professoras, etc.
Entretanto, o mundo seguia muito desigual. Afinal, o trabalho feminino, mesmo nas áreas que exigiam certa educação, ainda significava um baixo salário.
Antes de mais nada, com o seu ingresso no mercado de trabalho, a mulher conquistou mais direitos civis e sociais. E se a moda é o espelho de uma época, ela então se adaptava aos anos 20 e 30, que eram de uma reviravolta.
A moda e cidadania nos anos 20 e 30
Como resultado, as roupas da década de 20 vieram para dar às mulheres maior liberdade e mobilidade. Ou seja, elas“… reduziram drasticamente o tempo gasto para lavá-las e remendá-las, e também o tempo que se levava para vesti-las ou despi-las” (LURIE, p. 236).
Dessa forma, para alcançar os seus direitos civis e sociais enquanto afirmavam a sua identidade, elas agora precisavam, e queriam, trabalhar.
Afinal, as mulheres já não podiam perder tanto tempo, mas ainda queriam se sentir adequadas e bonitas.
Saias mais curtas e mais movimento
Ao mesmo tempo, as mulheres de classe média e alta então adotavam um estilo cada vez mais pujante.
Por exemplo, o tailleur, traje criado por Coco Chanel, passou a ser um dos modelos mais ousados e adotados da época. Antes e mais nada, o modelo servia à afirmação da mulher, expressando ao mundo a sua força e seriedade.
- Em seguida, veja a história de Coco Chanel, a estilista que é ícone de sofisticação e elegância.
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Além disso, o mundo do cinema projetava modelos de mulheres cada vez mais ousadas, sensuais e poderosas. Afinal, quem antes desse período poderia imaginar cenas como essa acima, protagonizada por aquela que é considerada a primeira “It girl”, a atriz Clara Bow.
O movimento pela emancipação feminina
“…as feministas foram unânimes na convicção de que a opressão às mulheres deveria acabar, na rejeição de idéias tradicionais …” (BASSANEZI, p. 286)
Essas ideias se refletiram em uma verdadeira revolução na moda e cidadania dos anos 20 e 30, tendo como máxima expressão as saias mais curtas.
Como reação, parte da sociedade condenou e censurou através de decretos as mulheres que adotassem o estilo. A justiça então passava a estabelecer qual o comprimento ideal das saias e vestidos, impondo multas e mesmo prisão àquelas que desobedecessem.
Claro, essa lei foi em vão. Sendo explorada por grandes estilistas como Jacqes Doucet, que sentiram a urgência de superar ideias tradicionais e retrógradas, as saias curtas revelaram o anseio por uma afirmação feminina mais forte. Afinal, as mulheres, principalmente as mais jovens, já não aceitavam ficar em casa escondidas.
- Jacques Doucet começou a mostrar as ligas rendadas subindo a altura das saias. Saiba mais sobre ele aqui e aqui.
Mudança de vida, mudança de estilo
A moda e cidadania dos anos 20 e 30 também trouxe uma vida mais noturna. Esse gosto se popularizou principalmente nos cinemas, teatros, confeitarias e restaurantes, espaços que já podiam ser frequentados pelas mulheres sem a companhia masculina.
Nessa altura, os chapéus Clochê se apresentavam como uma proteção para as mulheres. Eles quase cobriam os seus olhos, dando para aquela que o levava um pouco de privacidade e decoro.
Sendo elementos da sociedade que eram vividos na pele pelas mulheres, esse acessório deixava evidente a dificuldade em superar de vez uma cultura ainda excludente e rígida.
“Alguns disfarces estão fortemente ligados aos nossos medos mais íntimos e neste caso a roupa funciona como escudo para nos ocultar e proteger.” Gianni Versace.
Moda e Cidadania nos anos 20 e 30: a desigualdade
A privação de direitos civis e sociais então imposta às mulheres foi traduzida pela moda.
Nessa altura foi lançado o estilo mais andrógeno, que se inspirava em elementos masculinos para criar uma moda mais despojada e irreverente. Assim, esta tendência dissimulou as curvas femininas, trazendo um novo padrão de feminilidade que ilustrava a luta pela igualdade entre os sexos.
Um estilo mais andrógeno
Contudo, a partir da moda e cidadania dos anos 20 e 30, a não aceitação da igualdade entre os sexos levou a que muitos homens questionassem a masculinização do traje feminino.
Assim, ainda que tivesse todo o sentido para a época, ilustrando a inclusão das mulheres no mercado de trabalho, a adoção de um estilo “menos feminino” não foi facilmente aceita.
Por exemplo, um cronista paulista escreveu que “até a roupa de baile perdeu o bom senso com a febre igualitária, já que nossas senhoras se recusam a parecer mulheres.”
Apesar disso, a nova tendência tinha vindo para ficar. Além disso, as mulheres aboliram seus cabelos longos e aderiram ao corte curto e liso.
Moda e cidadania nos anos 20 e 30: expressão da mulher
“As roupas são inevitáveis. São nada menos que a mobília da mente tornada visível”. James Lave, em Style in costume.
A moda então trazia roupas que eram como trajes defensivos. Afinal, elas queriam repelir os ataques da sociedade, uma vez que até mesmo artistas se mostravam contrários à emancipação feminina e apoiavam os privilégios masculinos.
Vale ressaltar que o discurso conservador dos meios de comunicação fez com que muitas mulheres também rejeitassem a emancipação feminina.
Antes de tudo, o que queriam era promover a ideia de que a cidadania com base nas ideias feministas era incompatível com o ideal de beleza, a meiguice, a feminilidade e a resignação, então entendidos como características ideais da mulher.
A evolução da moda e cidadania nos anos 20 e 30
Sobretudo, o final da década de 1920 foi marcado por anos difíceis. A economia mundial foi seriamente abalada com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Como resultado, a sociedade vivia com menos recursos, havendo dois milhões de desempregados em todo o país.
A grande depressão, como se denominou a crise que seguiu o craque da bolsa nos Estados Unidos, ocasionou no Brasil a super safra do café – um dos principais produtos da economia nacional.
Contudo, a década de 1930 trouxe novas conquistas às mulheres. Por fim, as brasileiras passaram a ter direitos políticos. Como resultado, elas então podiam não apenas votar como também ser candidatas.
Influenciados pelo cinema, os trajes andrógenos estavam em alta. Além deles, o fim dos anos 20 trouxe outra vez vestidos mais ajustados ao corpo, que ganhavam o mundo.
Desde então um estilo de noite mais sensual e elegante surgia com atrizes como Louise Brooks, Greta Garbo e Marlene Dietrich.
A moda e a cidadania nos anos 20 e 30
A atuação política da mulher não era fruto da vaidade feminina. Antes de mais nada, ela era resultado da luta feminista pela igualdade entre os sexos. Ainda que tenha sido um processo muito lento, a transformação da moda e da cidadania feminina para uma versão mais moderna estava a todo o vapor.
A moda então absorvia o fato de que as mulheres eram mais atuantes e seguras do seu papel social. Dessa maneira, o armário feminino passou a mostrar cada vez mais abertamente qual era a sua nova posição no mundo.
Por Simone Cruz.
Editado e revisado por Mariana Boscariol.
Leia também:
- Moda e Cidadania: instrumentos de afirmação da mulher – Parte 1/3.
- Moda e cidadania nos anos 40 e 50: a emancipação feminina – Parte 3/3
* Artigo originalmente publicado em 2011.
Via Elchistoria
Paul Poiret via Flanela Paulistana
Criações de Jacques Doucet.
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