O crescimento urbano do século XIX trouxe o aumento na quantidade de indivíduos vivendo em um pequeno espaço, ocasionando transformações profundas.
O transporte em bondes, metrôs e ônibus gerou desafios em termos de organização e apresentação das informações: como sinalizar a geografia da cidade com seus novos bairros e ruas; como ordenar a convivência e o fluxo de transeuntes para minimizar a insegurança provocada pelo confronto com estranhos e com diferenças culturais e de classes sociais?
Uma grande questão deste contexto foi como comunicar para o público anônimo os préstimos de um produto desconhecido, já que na cidade, com as economias das sobras dos salários, aumentava o número de pessoas capazes de consumir . Segundo Rafael Cardoso (2004):
Entre as mercadorias cujo consumo mais se expandiu no século 19 estão os impressos de todas as espécies, pois a difusão da alfabetização propiciou nos centros urbanos um verdadeiro boom do público leitor. O anseio de ocupar os momentos de folga deu origem a outra invenção da era moderna: o conceito de lazer popular que desenvolveu-se cem estreita aliança com a abertura de uma infra estrutura cívica composta por museus, teatros, locais de exposição , parque e jardins.
Em todo o mundo ocidental, a segunda metade do século XIX foi um período de crescimento das elites urbanas e portanto, de ampliação das atividades culturais de toda espécie, incluindo a produção e veiculação de imagens que anunciavam novos produtos e ensinavam sobre seus usos culturais.
Isso criou novas tecnologias para impressão de texto, e uma expansão do mercado para produtos gráficos, que gerou uma grande evolução no campo da reprodução de imagens que se deu a partir do florescimento do mercado editorial que se explica tanto pela redução no custo de produção como também pelo aumento do tamanho do público leitor.
Igualmente, o uso de impressos de formato muito especializado está condicionado diretamente às necessidades que variam de acordo com o lugar e a época. E ainda segundo Cardoso (2004):
O cartaz publicitário serve como um bom exemplo da especificidade da comunicação visual a um determinado contexto social e cultural. O cartaz, bem como seu sucessor, o outdoor, teve uma aplicação principalmente urbana como peça de divulgação. O uso do cartaz só faz sentido em contexto em que há o que divulgar, o que tanto explica a existência de reclames e avisos afixados a muros desde muito antes da popularização do cartaz e sua relativa escassez em contextos de pouca atividade comercial.
A rápida evolução dos meios impressos de comunicação é outro fator que distingue o século XIX. Diversos avanços de ordem tecnológica vieram juntar-se nessa época à ampliação do público leitor. Além de livros e jornais, foram criados veículos impressos novos ou pouco explorados anteriormente, como o cartaz, a embalagem, o catálogo e a revista ilustrada.
No contexto da indústria gráfica o papel do designer adquiriu um valor redobrado, pois o critério principal que distinguia a qualidade dos impressos já não era mais a habilidade de execução gráfica, mas a originalidade do projeto e principalmente as ilustrações.
A proliferação de jornais e revistas ilustrados deu início a um rápido processo de avanço nas tecnologias disponíveis para impressão de imagens, era preciso gerar uma linguagem gráfica adequada às novas possibilidades de reprodução. Segundo Cardoso é preciso lembrar que (2004):
…entre as tentativas toscas de justapor textos e imagens características do inicio do séc.19 e as sofisticadas programações do final do mesmo, existe um mundo de diferenças não somente de ordem tecnológica, mas também em termos de cultura visual.
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A evolução desse campo na era moderna é um fenômeno que depende da existência de um público leitor urbano, com nível de renda e de instrução condizente com o consumo regular de impressos.
O conceito do lazer popular que se desenvolveu em estreita aliança com a abertura de uma estrutura cívica composta por museus, teatros, locais de exposição, parques e jardins, culminou com o animado espetáculo das grandes lojas de departamentos. Nas grandes capitais da Europa e da América, a segunda metade do século XIX foi marcada por uma verdadeira explosão de consumo, principalmente como o surgimento, na década de 1890, das primeiras lojas de departamento, também conhecidas como magazines. Au Bon Marché em Paris e Macy’s em Nova York transformaram as compras em uma atividade de lazer.
Para as mulheres, que eram vedadas de participar de outras atividades como o trabalho e o estudo, a loja de departamento acabou se transformando em um mundo com infinitas possibilidades de interação e de expressão social, que mantinha a mulher longe, tanto da solidão doméstica, quanto do perigo das ruas. O fenômeno se espalhou por todo o mundo gerando outros nomes famosos como o Liberty de Londres, o Printemps e o Samaritaine em Paris ou a Notre Dame de Paris na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro.
Printemps
Printemps
Além do impacto sobre o imaginário do consumidor, as lojas de departamento contribuíram para a formação de métodos de distribuição e venda de mercadorias, pois garantiram a transição do consumo de varejo para o ritmo e escala industrial.
Para Cardoso (2004):
As lojas de departamento viraram cenários aproximando-se assim, do espetáculo e do hábito moderno de olhar como forma de consumir. Consumir com os olhos caracteriza o regime de consumo como lazer e espetáculo. Desde o anúncio no jornal até os grandes reclames afixados às paredes, a publicidade começa a se definir na passagem do séc IXX para o XX como o veículo principal para a expressão dos sonhos em comum.
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Entretanto, é na moradia da classe média, na intimidade do lar, nas mesas, estantes, gavetas e armários da burguesia, grande e pequena, que se encontra um dos primeiros focos históricos importantes para a personalização do design.
A preocupação com a aparência da própria pessoa e, por extensão, da moradia como indicador de status, serviu para a formação de códigos complexos de significação em termos de riqueza, estilo e acabamento de materiais e objetos.
O exterior da casa das pessoas passou a ser visto cada vez mais como uma expressão do seu sentido interior, passível de apreciação e interpretação. A impressão de conforto, de luxo e às vezes de elegância passou a revelar uma preocupação extrema com o bem estar, a estabilidade e a solidez.
A abundância de objetos, que compôs o lar burguês vitoriano, tem revelado muito sobre as condições sociais decorrentes da Revolução Industrial: o interior doméstico passou a se configurar como lar, como local de refúgio e de certezas, oposto ao perigo e instabilidade das ruas.
Interior do lar burguês vitoriano
O novo luxo dos interiores burgueses contrastava com o lixo, a miséria e a doença crescente nas ruas das cidades. Em nome da higiene, da segurança e do progresso, foram empreendidas reformas urbanas de grande porte, como a reurbanização de Paris executada pelo Barão de Haussmann e a do Rio de Janeiro. A preocupação com a higiene não se limitou ao saneamento urbano.
As campanhas sanitaristas acabaram redimensionando as condições de higiene doméstica com conseqüências importantes para a área do design: as virtudes do lar, como o conforto e bem estar, se juntaram a limpeza e eficiência. Louças sanitárias, instalações hidráulicas e eletrificação doméstica fizeram surgir os primeiros eletrodomésticos e também produtos de limpeza com sabão e desinfetante.
Em paralelo ao redesenho das cidades e das casas ocorreu uma reorganização tanto nas fábricas quanto nos escritórios. A evolução do design de móveis de escritório mostra a mudança na conceituação e na natureza do trabalho. As escrivaninhas foram substituídas por mesas e a função de arquivar foi desmembrada para um outro móvel: o arquivo.
Tal mudança coincide com o ingresso da mulher no escritório, ocupando nova posição, como a secretária. Com o advento da máquina de escrever em 1880, o declínio do escrevente e o surgimento do ofício da secretária revela um fenômeno sociológico que se reflete claramente na configuração física e espacial do escritório moderno que foi moldando uma nova ordem social.
E foi contrapondo-se ao senso nítido de desordem e desagregação que marcou a industrialização nos países europeus, que o século XIX chegou ao fim munido de instituições e serviços encarregados de impor e manter a ordem dentro do espaço urbano, criando bombeiros, escolas, transportes e até hospitais.
Segundo Elisabeth Wilson, em sua obra Enfeitada de Sonhos (1989), na moda a indústria têxtil deu o arranque da Revolução e não houve literatura e pensamento teórico que escondesse a forte exploração trabalhista das mulheres neste setor. Incomodava aos contemporâneos que enquanto as mulheres da sociedade burguesa se vestiam com roupas luxuosas, as operárias das indústrias têxteis eram exploradas, recebendo baixos salários, trabalhando em condições de grande insalubridade e excesso de carga horária.
Em poucos anos, a indústria inglesa do algodão dominava o mundo, tendo destruído as indústrias de algodão indígena e devorado a matéria-prima na qual se baseava, o que implicou condições de vida e de trabalho duras pra mulheres e crianças daquela colônia.
A partir do século XVIII o tecido de algodão passou a ser usado não somente para forros ou artigos domésticos, mas também para as roupas da alta sociedade. A partir daí as técnicas de estamparia do algodão foram mecanizadas, aumentando a venda e a procura do produto.
A industrialização da lã também começou a se estabelecer definitivamente na Inglaterra, deixando de ser uma tecelagem de domínio familiar e artesanal, passando a ser usada inclusive pela alta sociedade, pois anteriormente era um tecido usado somente pelas classes mais baixas.
Quanto à tecelagem da seda, que foi sempre considerada mais luxuosa do que a lã e o algodão entre os séculos XVII e XVIII que a
Quanto à tecelagem da seda, considerada mais luxuosa do que a lã e o algodão entre os séculos XVII e XVIII, transformou a Inglaterra em importante produtor de tecidos dessa fibra.
Esta indústria incluía na sua mão de obra homens e mulheres dos mais diferentes níveis sociais, tais como os ricos mestres tecelões e as mulheres e crianças trabalhadoras mais exploradas. A seda sempre foi um tecido raro, difícil de ser produzido por exigir uma mão-de-obra muito qualificada.
Na cadeia produtiva têxtil as fibras mais conhecidas encontram-se na natureza: a seda, a lã, os pelos e as crinas de origem animal e os caules que permitem a extração de fibras de origem vegetal. As fibras químicas abrangem as fibras sintéticas, derivadas de produtos petroquímicos, e as artificiais derivadas da celulose.
Enquanto as fibras naturais necessitavam de um trabalho intensivo ou de grandes espaços, e por vezes de ambos, a produção dos tecidos sintéticos não necessitava um tipo especial de clima, nem de uma força de trabalho abundante.
Desenho mostra maquinário têxtil inglês: a automação crescente é marca da Revolução Industrial – Imagem do site klickeducação.
Saiba mais sobre a Revolução Industrial e a Era Vitoriana
Madame Moitessier, 1856
“A Era Vitoriana corresponde ao reinado da Rainha Vitória e ao período da Revolução Industrial Inglesa, dotada de mão-de-obra barata e impulsionada por potentes máquinas a vapor. Apesar de se tratar de uma referência inglesa, a rainha Vitória teve grande influência na moda.
As saias ficaram mais rodadas e o efeito desejado era obtido usando um enorme número de anáguas, mas seu peso acabou ficando intolerável. Surge a crinolina de armação ou anágua de arcos, introduzida pela Imperatriz Eugênia. Simbolizando a nova era do aço, mas com a tecnologia a seu favor, era feita de arcos flexíveis de aço que podiam formar uma peça separada na cintura ou costurada na anágua. A crinolina foi o símbolo da moda do Segundo Império, uma armação com aros de crina de cavalo prensada. Usada por mulheres de todas as classes sociais, surge como a libertação para as mulheres que não mais se encontravam presas em várias camadas de anáguas. A cintura era extremamente apertada com ajuda do espartilho.
Nesse contexto se torna possível o surgimento de figuras como Charles Fredéric Worth com sua grande contribuição para a moda. Considerado o criador da “Alta Costura”, a confecção sob medida e feita a mão, foi o primeiro a criar uma coleção completa para cada estação. Suas criações marcaram a segunda metade do século XIX.
Com a invenção da máquina de costura, denominada “democratizadora da moda” e a distribuição de moldes de papel que chegavam pelo correio, tornaram as costureiras escravas de suas máquinas, pois o trabalho era mal pago. “
Invenção da máquina de costura
Le Bom Marché, La Samaritaine e Printstemps são exemplos de magazines da época, com um novo conceito de venda, pois ali comercializava roupas prontas, artigos masculinos, femininos, infantis, meias, sapatos e chapéus.
Leia matéria completa no site Design de Moda.
Traje Vitoriano
Anúncio de máquina de costura
Notre Dame de Paris na Rua do Ouvidor está entre os primeiros magazines brasileiros.
Rua do Ouvidor no Rio de Janeiro- 1890
Rua Rio Branco na Altura da Rua Ouvidor no Rio de Janeiro
Por Queila Ferraz