Todo dia é dia de homenagear as mulheres, não é verdade? Nesse sentido, preparamos uma série sobre as grandes figuras femininas da moda. Aqui, vamos explorar a vida e obra de Madeleine Vionnet (1876 – 1975), umas das mais importantes estilistas da alta-costura francesa e grande influência para a moda contemporânea.
Quem foi Madeleine Vionnet?
Madeleine Vionnet nasceu em Chilleurs-aux-Bois, na França, no dia 22 de junho de 1876. Vindo de uma família de poucos recursos, ela se mudou com o pai para Aubervilliers quando tinha apenas 5 anos (KIRKE, 1998).
Sendo uma habilidade comum às jovens da época, ela começou o seu treinamento como costureira ainda pré-adolescente, aos 12 anos.
Logo depois, aos 18 anos, após um breve casamento e a perda de um filho pequeno, ela deixou o seu então marido e se mudou para Londres. Por fim na capital britânica, em 1897, Madeleine começou a trabalhar para a famosa costureira inglesa Kate Reily.
- Kirke, Betty. (1998). Madeleine Vionnet. San Francisco: Chronicle Books.
Uma moda de mulheres para mulheres
Acima de tudo, aqui nos centramos em analisar a moda criada por mulheres na Europa durante o século XX. Mulheres que criaram tendências e ajudaram a mudar a forma de ser mulher na sociedade ocidental, grupo do qual Madeleine Vionnet é um ícone.
Com isso, não pretendemos desprezar, por exemplo, a importância da criação japonesa ou mesmo da norte-americana no cenário da moda internacional.
A nossa intenção é, antes de mais nada, mostrar a relevância da presença feminina num mundo que é conhecido quase que exclusivamente pelo domínio dos grandes costureiros e suas maisons – como, por exemplo, Christian Dior, Cristóbal Balenciaga e Yves Saint-Laurent.
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Madeleine Vionnet e os primeiros passos em Paris
A jovem gostou tanto da experiência que ficou determinada em se tornar ela mesma uma costureira de sucesso. Dessa maneira, com esse propósito, Madeleine Vionnet retornou a Paris com muita energia em 1900.
Desde então, a capital francesa se consagrava como a capital da alta-costura no mundo. Lá, a jovem começou a trabalhar para a conceituada maison Callot Soeurs, onde permaneceu por 6 anos.
Foi principalmente nessa badalada casa que Madeleine pôde refinar o seu gosto e técnica.
Posteriormente, de 1907 a 1911, a já experiente costureira trabalhou para Jacques Doucet. Entretanto, com um estilo muito particular, que incluía o uso de modelos descalças e vestidos mais soltos e leves, ela não se encaixava no perfil da nova casa.
Assim, com o desejo de se dedicar à sua arte, a estilista logo lançou o seu próprio empreendimento.
“Sem o exemplo da Callot Soeurs, eu teria continuado a fazer Fords. É por causa deles que eu me tornei capaz de fazer Rolls-Royces.” (Madeleine Vionnet, retirado da matéria “Portfolio: Twenty-One Dresses” de 15 de março de 2015 do The New Yorker).
A maison Vionnet
Então, em 1912, Madeleine Vionnet inaugurava a sua própria casa, a “Vionnet”, na Rue de Rivoli de Paris. Entretanto, ainda que o seu negócio tivesse sucesso, os tempos não eram nada favoráveis.
Afinal, devido o início da Primeira Guerra Mundial (1914-198), a maison teve que fechar as portas pouco depois, logo em 1914.
Demorou ainda alguns anos para que a casa pudesse ser restaurada.
Assim, foi com o fim da guerra, em 1918, que Madaleine reabriu a Vionnet. Dessa vez em outro endereço de Paris, na Avenue Montaigne.
O seu trabalho ganhou grande destaque no período. Tanto pelo estilo como pela qualidade da sua técnica. Como resultado, a estilista começou a ganhar a preferência de muitas mulheres, inclusive atrizes famosas.
Por fim, o negócio ia tão bem que em 1925 a marca abriu uma filial nos Estados Unidos, nada menos do que na concorrida Fifth Avenue de Nova York.
Para saber mais sobre a época, em seguida leia:
- Moda e cidadania nos anos 20 e 30: a emancipação feminina – Parte 2/3.
- História da moda praia nos anos 20: O que as mulheres usavam?
O estilo Madeleine Vionnet
A técnica mais conhecida e inovadora da estilista foi o “viés de corte” (em inglês, bias-cut). Parece complicado, mas o metódo é simples. Em resumo, em vez de se cortar o tecido seguindo o seu padrão na horizontal ou na vertical, ele é cortado em um ângulo de 45 graus com respeito à trama (Agulha de Ouro Ateliê).
Apesar da técnica já ser anteriormente conhecida, ela não foi explorada em roupas femininas antes do trabalho de Madeline nos anos 1920. Ou seja, até então ela era apenas empregada em roupas masculinas.
Mas, afinal, qual o efeito da técnica? O “viés de corte” permite que a roupa acentue as linhas e curvas do corpo da mulher, formando drapeados únicos.
Antes de mais nada, o início do século XX ainda era marcadamente tradicional e fechado no que diz respeito à moda feminina. Entretanto, com a lenta mas gradual emancipação feminina, a moda mudava a passos firmes. Uma das suas principais características era justamente a valorização do corpo feminino.
Nesse meio tempo, uma das grandes influências para essa mudança foram as grandes estrelas do cinema americano, que apareciam cada vez mais sensuais e ousadas para todo o mundo ver e apreciar.
Muitas dessas atrizes eram clientes de Madeleine Vionnet. Dentre elas, por exemplo, Marlene Dietrich (1901-1992), Katharine Hepburn (1997-2003) e Greta Garbo (1905-1990), que chamavam a atenção tanto dos homens como das mulheres, esbanjando elegância com os seus modelos Vionnet.
Sensualidade e leveza
Com um estilo inovador, a estilista costumava criar seus modelos diretamente em um manequim em miniatura. Afinal, a técnica do corte enviesado e do uso de drapeados requeria o uso de muito material, e o melhor era mesmo estar segura de como reproduzir a peça.
Os tecidos preferidos por Madeleine Vionnet eram o crepe, a gabardine e o cetim, que ela manejava com maestria. Como resultado da sua destreza com esses tecidos, que são muito delicados e difíceis de trabalhar, ela é considerada como a estilista que mais contribuições técnicas deu à alta-costura.
Madeleine Vionnet, precursora de tendências
Além disso, Madeline Vionnet foi ao seu modo precursora do movimento de liberação feminina, à época encabeçado pelo movimento das sufragistas – que, nascido na Inglaterra no início do século, já se havia expandido pelo mundo.
Por exemplo, Madeleine foi pioneira em abolir os espartilhos, ainda em uso à época. Ela dava preferência às curvas naturais do corpo da mulher, que eram então acentuadas por um estilo clássico greco-romano.
As aberturas de suas roupas eram sempre surpreendentes. Podiam ser tanto laterais como posicionadas na parte de trás da saia. Todavia, ela também criou peças sem qualquer fenda, que precisavam ser vestidas com cuidado pela cabeça.
Com um toque pessoal, seus tailleurs, modelo criado por Coco Chanel então em alta na época, possuíam saias nesgadas ou enviesadas.
Para além da Moda
Além de ter trazido grandes inovações para a moda feminina, Vionnet também foi revolucionária em outros campos. Por exemplo, como empreendora de sucesso, a estilista foi precursora em conceder aos seus funcionários benefícios como feriados pagos e a licença maternidade.
Antes de mais nada, não nos esqueçamos que àquela época muitos dos direitos e costumes que nos parecem banais ainda não haviam sido garantidos. Não por menos, a estilista se tornou um dos nomes mais renomados e influentes do século XX.
- Saiba tudo sobre As Sufragistas: grupo que revolucionou o mundo ao alcançar o direito ao voto feminino e foi precursor do movimento feminista.
- A seguir, leia sobre a História do terninho feminino: um clássico da moda que é sinônimo de ousadia.
Madeleine Vionnet: do auge à aposentadoria
O período de maior sucesso do seu trabalho foi o final dos anos 20 e o começo da década de 30. Entretanto, com o advento da Segunda Guerra Mundial em 1939 (que duraria até 1945), Madeleine Vionnet voltou a fechar a sua maison.
Dessa vez, indefinidamente.
Ou seja, por sua própria decisão, ela acabou por se aposentar no ano seguinte, em 1940. O seu legado? Além de ter lançado novas tendências de moda, incentivado a emancipação da mulher e promovido novas práticas trabalhistas, Madeleine por fim acumulou um total de mais de 10000 criações.
Somado ao “viés de corte”, atribui-se a ela a divulgação da gola capuz e do modelo frente-única. Forma e caimento suaves eram os seus objetivos para conseguir com que os vestidos se moldassem com perfeição ao corpo da mulher.
Vida longa e discreta
“Até agora, ao falar da escola Vionnet, se trata mais de eu ter sido uma inimiga da moda. Há alguma coisa superficial e volátil sobre o caráter temporário e caprichos enganosos da moda que ofendem meu senso de beleza.” (Madeleine Vionnet, In Springsteel, Lisa. Becoming a Fashion Designer, 2013, p. 63).
Se distanciando muito de outras grandes figuras da época, principalmente da sua contemporânea Coco Chanel, Madeleine Vionnet era muito discreta e pouca afeita à publicidade e exposição pessoal.
Antes de mais nada, ela repudiava os aspectos mais superficiais do mundo fashion, considerando a si mesma como uma inimiga da moda.
Em outras palavras, ela não era exatamente vaidosa no sentido de precisar ter o seu mérito exaltado pelo mundo, se preocupando mesmo era com a sua arte e não com a sua promoção.
A estilista viveu nada menos do que 99 anos, tendo falecido em Paris em 1975. Tendo seguido a sua vida com muita privacidade e simplicidade, imagine quantas mudanças e avanços ela não testemunhou.
Não por menos, o seu legado sobrevive, e Madeleine Vionnet segue sendo uma das mais importantes personalidades do mundo da moda do século XX.
Por Queila Ferraz.
Editado e revisado por Mariana Boscariol.
Em seguida, veja também:
- Jeanne Lanvin: as grandes estilistas da Moda Europeia – Parte 1/5.
- Coco Chanel: As grandes Estilistas da Moda Europeia – Parte 3/5.
- Elsa Schiaparelli: As grandes Estilistas da Moda Europeia – Parte 4/5.
- Vivienne Westwood: As Grandes Estilistas da Moda Europeia – Parte 5/5
*Artigo originalmente publicado em 2010.