Imagens de Moda: as fotografias dentro da história da cultura – Parte 4/4
Sendo uma representação real ou construída da realidade, conheça um pouco mais sobre o papel das Imagens de Moda na nossa história cultural.
Com a possibilidade de simulação analógica do real através da construção de imagens, as imagens de moda nos remetem a temas facilmente reconhecíveis por um simples olhar. Elas desenvolvem uma estética particular de representação multiplicada do mundo pela fotografia.
A Fotografia: canal do mundo contemporâneo
No início do século XX, a fotografia já havia cumprido o seu papel revolucionário no que diz respeito à disseminação massiva de imagens.
Segundo Kossoy, essas imagens devem ser entendidas como (2003:136) “realidades fragmentarias, selecionadas segundo a visão do mundo de seus autores e editores”. Ou seja, muito longe de serem completamente fiéis aquilo que retratam, elas são “Registros de realidades parciais, não raro deformantes em relação ao contexto mais amplo, e que em função disto estabeleceram conceitos e preconceitos no imaginário coletivo”.
O autor ainda diz que para se estudar a estética fotográfica contemporânea (2003: 137) “bastaria apenas mencionar, dentre o abrangente leque de aplicações da fotografia no mundo atual, a produção profissional e comercial incessantemente exercida e absorvida pelos meios de comunicação e informação”.
Nesse sentido, Kossoy afirma que “a partir do momento em que a fotografia permitiu sua reprodução na página impressa dos jornais, das revistas e das inúmeras publicações ilustradas, passaram a transmitir as imagens encomendadas dos fatos da história cotidiana do século XX, proporcionando o nascimento do fotojornalismo”.
Não obstante, essa verdadeira revolução veio “não raro, moldando – em função da manipulação das imagens/textos – a opinião pública segundo interesse e ideologias determinados, o mesmo ocorrendo com a exploração da imagem fotográfica fixa quando veiculada pelo cinema e pelos noticiários de TV”.
A fotografia como parte da história da cultura
Enquanto Barthes fala da história dos olhares, Kossoy afirma que a fotografia já faz parte da história da cultura.
Segundo o autor, “… ela se faz presente como meio de comunicação e expressão em todas as atividades humanas. É sob esta perspectiva mais abrangente que deve ser estudada. A fotografia reúne em seu conteúdo informações múltiplas da realidade selecionada (…) Sendo que não é apenas o acontecimento em si que é a meta a ser recuperada” (2003:138, 141). E ele continua dizendo que:
“Interessa o pensamento que levou o homem à determinada ação. É o que cumpre descobrir mergulhando na vida passada e retornando aos documentos, mergulhando na realidade passada e retornando à sua imagem fragmentariamente registrada e desta para aquela, continuamente, buscando compreender as razões psicológicas que deram origem aos acontecimentos.”
Como Kossoy considera que a fotografia faz parte da história da cultura, acaba por delegar a ela uma ampla abrangência. Portanto, ele a considera com uma grande responsabilidade de civilizar os indivíduos e impor padrões éticos e morais.
O papel da fotografia na sociedade
Assim como a imprensa revolucionou a Idade Moderna, a fotografia, uma das invenções decorrentes da Revolução Industrial, teve um papel fundamental na inovação dos modelos geradores de informação e conhecimento da Idade Contemporânea.
Para além das transformações econômicas, sociais e culturais, essa época trouxe um enorme desenvolvimento da ciência, que revolucionou a vida do homem a partir de então.
Sobre este novo homem, suas maneiras de perceber e agir sobre a natureza, e o seu envolvimento com as novas tecnologias, Sontag escreveu (2004:172) que:
“… a tecnologia tornou a fotografia, através do vídeo e do cinema, um instrumento incomparável para interpretar o comportamento, prevê-lo e nele interferir. A fotografia tem poderes que criaram uma nova relação entre a imagem e a realidade que hoje atribuem a eficácia da imagem, atribuindo às coisas reais os predicados de uma imagem.”
A fotografia e a tecnologia
Kossoy define a imagem como (2004;172) o “registro visual fixo de um fragmento do mundo exterior, conjunto de elementos icônicos que compõem o conteúdo e seus respectivos suportes”.
Com esse parâmetro, a fotografia passou a atuar como apoio à pesquisa nos diferentes campos da ciência. Além disso, também teve um papel como expressão artística deste novo tempo.
Essa mudança foi alimentada pelo desenvolvimento da indústria gráfica, que possibilitou a multiplicação da imagem fotográfica em quantidades cada vez maiores.
Foi assim que se iniciou um novo processo de conhecimento do mundo e de seus habitantes. Através de detalhes contextualizados, que tornavam acessível ao homem os diferentes extratos sociais. Ou seja, as informações visuais de hábitos e fatos de grupos diferentes do seu.
“A descoberta da fotografia propiciaria novas possibilidades de autoconhecimento e recordação, de criação artística, de documentação e denúncia graças a sua natureza testemunhal dada pela sua condição técnica de registro preciso do aparente e das aparências se constituiria em arma temível, passível de toda sorte de manipulações, na medida em que os receptores nela viam a “expressão da verdade.” (Kossoy, 2003:27)
As imagens de moda
A fotografia de moda trouxe uma grande contribuição à nova condição histórica.
Características particulares dos indivíduos e sociedades do mundo passaram a ser cada vez mais conhecidos. O principal veículo foi justamente a sua representação e reprodução em série em revistas, no cinema e na televisão.
Aqui, penso que as imagens de moda, além de gerarem a produção de materiais, são uma importante fonte para a pesquisa sobre os modelos de cultura projetados nas sociedades capitalistas.
Afinal, elas passaram a servir como forma de expressão cultural. Podem, assim, documentar em imagens fatos sociais e políticos, costumes, cenários e personagens culturais em diferentes contextos geográficos do planeta.
Nesse sentido, as fotografias passam por um processo civilizatório calcado na imagem.
Considerando que somos indivíduos pertencentes a uma civilização de imagem, é pertinente que possamos pensar em teorizar o uso da fotografia como referência visual que documenta e revela informações.
Mas não só, já que elas também detonam emoções a partir da memória, provocando sentimentos profundos como o afeto ou mesmo o ódio.
Imagens de moda, ferramenta à pesquisa social
É pelos motivos aqui expostos que o uso das imagens se tornou tão significativo para a investigação científica sobre a evolução da cultura.
Por isso, sobre os estudos de fotografia, Kossoy lembra que as imagens são (2003:32) “…documentos insubstituíveis cujo potencial deve ser explorado”. Com isso, o autor defende que:
“Seus conteúdos, entretanto, jamais deverão ser entendidos como meras “ilustrações ao texto”. As fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tentar sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas de pesquisa e análise para a decifração de seus conteúdos e, por conseqüência, da realidade que os originou.”
Toda a fotografia enquanto registro tem origem no desejo de um indivíduo em congelar um aspecto do real em uma imagem, num dado momento e lugar. Esse desejo sempre tem uma marca sentimental, temporal e espacial, determinada no seu tema.
A fotografia, inspiração do momento
Assim, para Kossoy (2002), o homem, o tema e a técnica são os componentes fundamentais de qualquer tipo de produção de imagem.
Para o autor, o assunto, o fotógrafo e o equipamento são os elementos constitutivos de um processo em que o objeto teve sua imagem cristalizada na bidimensionalidade do material sensível, num dado momento e lugar.
Nesse sentido, a fotografia como produto final é resultado da ação humana e de suas escolhas.
Portanto, a fotografia, para ser analisada, precisa ser entendida como a representação plástica de um conteúdo que veicula uma informação incorporada ao seu suporte e os métodos tecnológicos que o materializam.
Ela é um objeto-imagem no qual podem ser detectadas as características da época em que foi produzida. Assim, como o corpo, ela é sempre uma fonte primária de informação (Baitello Jr., 2002).
A fotografia passa a ser fonte secundária quando se torna um instrumento de disseminação histórico-cultural destinado a preservar e difundir a memória através do filtro cultural do fotógrafo.
Além disso, é necessário considerar a relação do conjunto fotógrafo-câmara-assunto com o suporte midiatizado para o consumidor, via reprodução fotográfica.
A reprodução fotográfica
Sobre o tema, Barthes afirma que para se compreender e estudar a fotografia, dentro dos traços que a distinguem como dispositivos técnicos e forma de representação cultural, é preciso aceitá-la como inclassificável.
Ela é, assim, caracterizada pela sua possibilidade de reproduzir ao infinito o que só ocorreu uma vez.
Kossoy concorda com Barthes. O autor afirma que (2003:42) “É em função dessa multiplicação da informação que a fotografia alcança sua função social maior”.
Para eles, a trajetória de toda fotografia se estabelece em três estágios: a intenção, que tanto pode ser do fotógrafo como de quem a encomendou; o ato do registro; e, finalmente, os caminhos percorridos pela fotografia como objeto.
Ou seja, as mãos que se dedicaram à ela, os olhos que a viram, e as emoções que ela despertou. Em outras palavras, a emissão, a mediação e a recepção.
Fotografias de moda: imagens construídas ao detalhe
A intenção fotográfica determina os caminhos a serem trilhados pela fotografia de moda na mídia. A imagem, afinal, está marcada pelo compromisso moral ao ser levada ao público como produto midiático. Isso se dá desde a escolha do tema até a opção pelo tipo de apresentação da imagem.
Transformada em objeto que pode ser simbolicamente possuído, as imagens de moda tanto apontam para uma presença como para a prova de determinada ausência. Elas atuas, assim, como estímulo para o sonho, o desejo, a saudade.
As imagens de moda refletem naquele que a olha quem se é e o que se deseja ser. Deixa, assim, claro o desejo de aquilo que não se é ou o que não se tem.
O sentido do inatingível evocado pelas imagens alimenta nas pessoas, de forma direta, sentimentos eróticos. Para elas, o desejo é intensificado pela distância do objeto desejado, podendo também incitar ou estimular impulsos morais. Entretanto, os sentimentos morais estão embutidos na história – cujos personagens são concretos e as situações são sempre específicas.
Assim, quando se trata do emprego das fotografias para despertar o desejo e a consciência, são válidas regras quase opostas.
Os sentidos e as imagens de moda
Para tanto, as imagens fotográficas que invocam sentimentos, quer eróticos ou morais, devem estar sempre ligadas a um contexto histórico. Em outras palavras, devem existir num momento apropriado de sentimento e atitude.
Neste sentido, Sontag salienta que (1994:31) “Fotos não podem criar uma posição moral, mas podem reforçá-la – e podem ajudar a desenvolver uma posição moral embrionária. O que determina a possibilidade de ser moralmente afetado por fotos é a existência de uma consciência política apropriada (…)”. E continua a dizer que:
“A natureza do sentimento que as pessoas podem manifestar em reação a fotos depende do grau de familiaridade que tenham com essas imagens. Fotos chocam na medida em que mostram algo novo…As imagens paralisam, anestesiam e tornam o evento mais real.”
Como Flusser (2003) destacou sobre o poder mágico da imagem, as mídias e suas fotografias têm o poder de transformar o mundo em um objeto mental.
Afinal, elas fornecem a maior parte do conhecimento que se possui hoje, tanto acerca do passado, remetendo à memória, como no alcance do presente, ao nos convidar a sonhar.
A mídia e o setor da moda
A imprensa encontra um forte campo para atuar no segmento da moda. Ela tem no uso das imagens fotográficas o seu maior aliado para o diálogo entre o corpo, a sociedade e a cultura.
Assim, as imagens de moda tanto formam o gosto, como impõe padrões de elegância com forte carga moral e socializadora.
Sobre essa condição das imagens fotográficas, Sontag lembra que (1994:15) “As fotos, que brincam com a escala do mundo, são também reduzidas, ampliadas, recortadas, adaptadas, adulteradas. Jornais, e revistas as publicam, museus as expõem. Tanto a ordem como o tempo exato para olhar cada foto são impostos; e há um ganho em termos de legibilidade visual e impacto emocional.” E segue diendo que:
“Fotos fornecem um testemunho. Algo de que ouvimos falar mas que duvidamos parece comprovado quando nos mostram uma foto, o registro da câmera justifica e parece ter uma relação mais acurada, com a realidade visível do que outros objetos miméticos.
Como pedagogia de moda, as imagens fotográficas na mídia apontam à forma correta de ser elegante dentro de um grupo social. Dessa maneira, ao ensinar a viver, as imagens de moda dentro da mídia são não apenas socializadoras, como também aculturadoras.
Por Queila Ferraz
Leia também:
- A Fotografia de moda e seus editoriais – A imagem e o objeto do desejo – Parte 1/4.
- A seguir, vejaRevistas Femininas: Editorias, Mídia Impressa e Fotografia de Moda – Parte 2/4.
- Por último, as Fotografias de Moda: a história dos olhares em imagens – Parte 3/4.
- Mídia Impressa: a Imagem Texto da Revista de Moda.
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