Moda Anos 60 e a Identidade Brasileira na Moda

Depois de décadas de lenta evolução, a Moda dos Anos 60 surgiu com um estilo cada vez mais brasileiro. Conheça melhor os anos 60!

Rita Lee nos anos 60. Uma moda mais casual e inspirada no movimento hippie e no rock foram algumas das principais tendência da década. Fonte: domtotal.com

No Brasil, a década de 60 começou com uma crise econômica e terminou com as consequências do Golpe Militar deflagrado em 1964.  Entretanto, ainda que tenham sido anos muito complicados, a moda dos anos 60 veio com um ar muito mais casual e leve. Acima de tudo, foi nessa época que se destacaram os primeiros costureiros brasileiros, fazendo com que a moda  nacional enfim ganhasse corpo.

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Qual era a Moda dos Anos 60?

 

Clássico padrão criado por Yves St. Laurent. Primeiramente, a moda feminina seguiu a elegância da roupa da década anterior, reforçando nomes como o de Saint Laurent, mas logo trouxe o estilo mais jovem de Mary Quant e as referências futuristas. Fonte: fashion_era.com

 

Depois de uma década de uma feminilidade exagerada e muita fomalidade, a moda nos anos 60 se tornou de maneira geral muito mais casual. A princípio a moda feminina seguiu a elegância da roupa da década anterior, reforçando nomes como os de Yves Saint Laurent, mas logo trouxe o estilo mais jovem de Mary Quant e as referências futuristas.

Nesse meio tempo, outras dois fortes influências da época foram o movimento hippie e o rock´n roll. Ou seja, a época era de confrontação ao conservadorismo e de rebeldia ao sistema.

Desse modo, de maneira geral as roupas se tornaram mais descontraídas e coloridas, fazendo com que a moda dos anos 60 convergisse com o estilo do Brasil. Além disso, nesse período ganharam destaque alguns dos grandes nomes da moda nacional, como Dener Pamplona de Abreu, Clodovil Hernandez, Alceu Penna e Guilherme Guimarães.

 

Matéria sobre Mary Quant no periódico “Honey”, em 1967. Acima de tudo, as roupas se tornaram mais descontraídas e coloridas, fazendo com que a moda dos anos 60 convergisse com o estilo do Brasil. Fonte: Victoria & Albert Museum

 

 

Ícones da Moda dos Anos 60

 

Vestidos de Mary Quant de 1967. As mini-saias foram um dos principais ícones da moda do período. Fonte: Victoria & Albert Museum

 

Fora do país, Courréges então propôs a Moon Girl inspirado pelas conquistas espaciais – uma linha até então totalmente inovadora. Além disso, Mary Quant divertia-se em Londres cortando e encurtando as saias e os vestidos das mulheres. A moda pegou, mas não sem causar espanto em uma sociedade ainda muito quadrada.

Nesse meio tempo, Pacco Rabanne fez experiências com materiais de plástico, metal, papel e couro. Por exemplo, ele marcou época ao vestir Brigitte Bardot,uma das estrelas da década, com uma sensual cota-de-malha.

 

Brigitte Bardot em 1968. Fonte: Wikimedia commons

 

Entre os maiores símbolos femininos da época estavam, por exemplo, as manequins Twiggy e Veruschka, Jacqueline Kennedy, a atriz Audrey Hepburn (vestida por Givenchy nas telas e na vida real), Brigitte Bardot, a garota de Ipanema, e Jane Fonda.

No Brasil, os tamanhos mini e micro em vestidos e saias foram um sucesso espetacular, tendo sido adotados por jovens de todas as idades. Contudo, ao mesmo tempo os jovens costureiros a despontar no cenário nacional produziam uma moda luxo que se pretendia à altura da francesa.

 

 

Os Anos 60 no Brasil

 

Maria Thereza Goulart nos anos 60.  Acima de tudo, a ex-primeira-dama era considerada um dos maiores símbolos de beleza e estilo do Brasil. Fonte: Wikimedia commmons

 

Dentre os elementos que compunham esta década estava o acelerado desenvolvimento tecnológico, sobretudo nos meios de comunicação.

Segundo Gontijo, desde então se percebe no mundo uma internacionalização dos processos culturais e dos movimentos sociais. Dentre eles, por exemplo, a mobilização pelo desarmamento, o maior desenvolvimento e a descolonização.

 

Nara Leão em 1964. Os músicos brasileiros do período tiveram uma grande influência na moda do período, principalmente como movimentos como a Jovem Guarda e o Tropicalismo. Fonte: Wikimedia commons

 

Todavia, para o pesquisador Carlos Dória, no Brasil foram o futebol, a música e a moda que fizeram o espetáculo desta década. Afinal, as três categorias fazem parte intrínseca da cultura popular e, ainda mais, da brasilidade que à época se queria construir.

Além de Maria Thereza Goulart, outros ícones da moda nacional eram os artistas da Jovem Guarda. Dentre eles, por exemplo, Erasmo Carlos, Wanderléa, Vanusa e, claro, Roberto Carlos

 

 

Alceu Penna e a moda dos anos 60 Made in Brazil

 

Alceu Penna em evento social com “misses”, em 1968. Antes de mais nada, o ilustrador era um dos nomes mais consolidados da moda do Brasil, e  se preocupava em enaltecer a brasilidade na moda nacional. Fonte: Facebook Alceu Penna

 

Em setembro de 1960 Alceu Penna passou a teorizar sobre as formas de emplacar de uma vez a moda brasileira. Afinal, ele, que já há tempos fazia sucesso no setor da moda nacional, questionava o porquê de se recorrer à referência estrangeiras como inspiração.

Na estação então em curso, a moda se inspirava em trajes espanhóis, nas listras indianas e nas marroquinas. Além disso, em grande evidência estava o bordado inglês. Ora, por que o bordado inglês e não o do Ceará? Por que Espanha, Índia, Marrocos e não o Brasil?

Nesse sentido, Alceu pensava sobre até onde uma linha de inspiração brasileira poderia influenciar a moda internacional. Aliás, uma linha de expressão brasileira? Teríamos que descobrir algo que fosse atual à época e, ao mesmo tempo, adaptável às novíssimas tendências da moda. Algo como, por exemplo, o café!

 

A moda dos anos 60 inspirada no Brasil

Coleção Brazilian Coffe de Alceu Penna, anos 60. A Coleção Café de Alceu buscava enaltecer as riquezas do Brasil como inspiração para a moda brasileira. Fonte: Google Arts and Culture

 

Para o célebre desenhista, a nova coleção teria, assim, as cores das sementes, flores e dos frutos do café em tons vermelho-escuro, verde-vegetal e marrom. Dessa maneira, os estampados e estilizações deveriam sugerir moendas, cestos e peneiras.

Esse material era criado por artistas como, por exemplo, Ademir Martins, Volpi, Darcy Penteado, Heitor dos Prazeres, Milton Dacosta, Lívio Abramo, Maria Bonomi e tantos outros. Modelagem? Dener e Jacques Hein. Joias? Burle Marx. Chapéus? Madame Rosita.

 

Os desfiles internacionais

 

E para divulgar essa linha, segundo a ideia de Alceu, “era necessário ocupar o coração da capital da moda, Paris. Manequins brasileiros fotografados pelas ruas parisienses, modelos da Linha Café destacando-se na paisagem típica da Cidade Luz […] E haveria, depois, a volta para o Brasil. Numa cadeia de desfiles, de Brasília a Manaus, divulgando a fabulosa coleção de modelos autênticos franceses e dos grandes criadores brasileiros.”

“Eis uma magnífica ideia promocional em favor da moda nacional. O desfile realmente aconteceu (…) em Paris. Data e local que fizeram história: a partir de então, para aqueles pioneiros, era possível dizer que a moda nacional começava a existir no âmbito mundial […]. Provando à sociedade francesa que o Brasil, além do petróleo, tem elegância também” (Dória, 1998, p. 67-68).

 

Publicidade da coleção “Brazilian Style” da Rhodia. Fonte: Facebook Alceu Penna

 

  • Leia também a Rhodia e o seu papel na consolidação da moda nacional.

 

O Brazilian Style

 

Publicidade da Rhodia na Itália. Crédito: Vienna Cat. Fonte: Flickr / Pinterest

 

A Rhodia, por exemplo, realizava magníficos desfiles de moda coordenados por Lívio Ragan. Neles, a empresa reunia os maiores artistas brasileiros do momento:

“O pretexto dos shows tipo ‘Brazilian Style’ era ‘promover a alta costura nacional’, dando espaço de desfile a uma série de jovens costureiros aspirantes a criadores. Como também se impunha desenvolver a estamparia, ela contratou artistas plásticos para conceber motivos ‘bem brasileiros’ […].”

 

“Brazilian Style”, de Alceu Penna. Crédito: Museu da Moda Brasileira. Fonte: Google Arts and Culture

 

Ou seja, “Para reforçar ainda mais a ilusão de ‘inspiração nacional’ da alta costura então nascente, a Rhodia fez viajar pelo Brasil costureiros, manequins e coleções, de modo a autenticar sua ‘brasilidade’ em sítios celebrados como símbolos da nacionalidade , como Salvador, Ouro Preto e Brasília” (Durand, 1988 p. 79).

“A cada ano (…) viajava para Paris e Milão apenas para copiar o que então era moda. Trazia cores, padronagem, estilo. Depois, fazia adaptações, criando a coleção com alma nacional” (Dória, 1998, p. 60).

 

O Movimento Tropicalista

Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias na banda Os Mutantes, nos anos 60. Parte do movimento tropicalista que então resgatava a inspiração do movimento antropofagista dos anos 20, inspirado no trabalho singular de Tarsila do Amaral. Fonte: umacoisapuxaoutra.com

 

No final da década explode na música o movimento tropicalista, formado por um grande coletivo de cantores-compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Tom Zé e a banda Mutantes,

Acima de tudo, ele resgatava a inspiração do movimento antropofagista dos anos 20, inspirado no trabalho singular de Tarsila do Amaral. Assim, o conceito de devorar a cultura estrangeira continuava na ordem do dia e virou o principal propósito dos artistas envolvidos.

Desse modo, com um foco voltado à cultura do Brasil e em convergência com artistas do setor, o tropicalismo foi uma das grandes influências da moda nacional no final dos anos 60.

Como resultado, a década seguinte começaria já com um toque mais original, em um clime cultural em efervescência.

 

Capa do disco “Tropicália ou Panis et Circencis”, de 1968. Fonte: domestika.org

 

Resgate de referência brasileiras

 

Por exemplo, com o intuito de valorizar referências culturais brasileiras, o movimento tropicalista então regastou a figura de Carmen Miranda (1909-1955). Afinal, a memória da artista há tempos havia sido deixada de lado por uma rejeição ao esteriótipo que representava.

Caetano Veloso, um dos líderes do movimento, descreveu que “… Carmen Miranda foi, primeiro, motivo de um misto de orgulho e vergonha e, depois, símbolo da violência intelectual com que queríamos encarar a nossa realidade, do olhar implacável que queríamos lançar sobre nós mesmos” (artigo “Carmen Miranda Dada” publicado no The New York Times e Folha de S. Paulo em 1991).

E ele continuou a dizer que “Contudo, em 1967 Carmen Miranda reaparece no centro dos nossos interesses estéticos. Um movimento cultural que veio a se chamar tropicalismo tomou-a como um dos seus principais signos, usando o mal-estar que a menção do seu nome e a evocação dos seus gestos podiam suscitar como uma provocação revitalizadora das mentes que tinham de atravessar uma época de embriaguez nas utopias políticas e estéticas, num país que buscava seu lugar na modernidade e estava sob uma ditadura militar.”

 

Por Denise Pitta.

Editado e atualizado por Mariana Boscariol.

 

*Este é um trecho do relatório final da pesquisa Moda e Identidade Brasileira, feito por Denise Pitta de Almeida em 2003 à Faculdade de Moda da UNIP.

 


Rhodia Vestido de Alceu Pena, com estampa de Lula Cardoso Ayres. Vestido com estampa de Manezinho Araújo, fabricado por Jardim Style.

Garotas do Alceu

Movimento Tropicalista

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