A década de 50 começou em clima de democracia e com uma situação econômica mais favorável, que se traduziu em um grande desenvolvimento industrial e por tendências nacionalistas. Desse modo, a moda dos anos 50 estava embebida nessa atmosfera, trazendo um estilo mais vibrante que então se diversificava com a expansão do mercado nacional.
Qual era a Moda dos Anos 50?
Após um longo período de crises e guerras, os anos 50 vieram com sede de festa, liberdade e celebração.
Em um momento econômico mais favorável, o estilo da roupa de homens e mulheres se tornou mais diverso e refinado, permitindo o surgimento de novos nomes e empreendimentos. Mas, acima de tudo, a moda dos anos 50 viu uma clara divisão de gênero.
Ou seja, enquanto que a moda masculina se movia para um estilo mais casual no dia-a-dia, a moda feminina dava prioridade à elegância e um estilo mais formal. Além disso, a tendência à época eram os acessórios combinados à perfeição com o look.
Todavia, de peças mais armadas, com muito tecido e exageradas, ao longo da década a moda foi dando espaço para modelos mais sequinhos e simples. Seja como for, a moda femina era mesmo um estilo feminino, elegante e delicado.
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Os grandes estilistas da época
Nesse meio tempo, o lançamento do “New Look” de Christian Dior no final dos anos 40 continuava a ser sentido.
Metros e metros de tecido eram então usados na confecção de um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem-marcada e os sapatos eram de salto alto, além de acompanharem luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e joias (Cláudia Garcia).
Entretanto, por meio do trabalho de novos estilistas, a alta-costura vivia um forte impulso que suavizava as linhas muito marcadas e ultra-femininas. Dentre eles, por exemplo, Cristóbal Balenciaga, Hubert de Givenchy e Yves Sain Laurent.
O Brasil, ainda espelhado naquilo que se produzia na França, seguiu de perto essas tendências. Contudo, uma moda de fato nacional então começava a tomar mais corpo por meio do trabalho de novos costureiros.
Os Anos 50
Segundo Edgard Luiz de Barros, nesse período houve uma cultura modernizante do modelo desenvolvimentista, potencializado, sobretudo, na presidência de Juscelino Kubitschek. Esse novo ambiente induziu não só a comportamentos mais cosmopolitas, mas também a um novo estilo de vida nas cidades brasileiras.
Desde então, houve os chamados “anos dourados” da classe média, confirmando a extraordinária importância da mídia e da indústria cultural. Nesse sentido, houve importantes acontecimentos ao longos dos anos 50.
Dentre eles, por exemplo, a inauguração da primeira emissora de televisão do país: a Tupi. Em segundo lugar, a primeira Bienal de São Paulo. Além disso, foi iniciada a construção de Brasília com a moderna arquitetura de Oscar Niemeyer, o Brasil venceu o Campeonato Mundial de Futebol e o Museu de Arte Moderna foi inaugurado no Rio de Janeiro.
Por fim, a Bossa Nova surgia para revolucionar a música e influenciar a arte e moda do país.
A indústria da moda nos anos 50
No Brasil, a indústria têxtil estava então a todo o vapor. Afinal, tinha muito o que celebrar com as suas exportações e a atividade fabril durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Dentre os seus principais produtos, estava o tecido de algodão.
Como explica Durand (1988 p. 67), essa “(…) era a principal fibra nacional, matéria-prima geradora de divisas e de um pano bem adaptado ao clima quente do país.”
Nessa época, as musas de Hollywood como Marylin Monroe, Jane Russel e Brigitte Bardot faziam a cabeça de homens e mulheres. Além disso, nesse meio tempo os EUA projetavam aquele que seria o queridinho da moda contemporânea: o jeans.
Resistência ao produto nacional
O desenvolvimento da indústria brasileira neste período foi bem descrito por Zuleika Alvim ao se referir ao Mappin: “O Mappin se inseria de forma nítida nesse esforço de afirmação da indústria nacional, algo que assume características ainda mais eloquentes por assinalar uma ruptura com relação ao que a loja representava no passado (…) em suas primeiras décadas de existência, a loja oferecia basicamente, artigos importados.”
E continuou a dizer, “(…) O consumidor da década de 50, na verdade, ainda detinha um arraigado preconceito contra a indústria nacional. Não foi tarefa simples convencê-lo de que poderia extrair os mesmos rendimentos dos produtos fabricados no Brasil” (Alvim, 1985, p. 152).
- Veja também sobre a Rhodia e o seu papel na consolidação da moda nacional.
Moda Anos 50 no Brasil
Na moda, o marco da década de 50 foi o aparecimento de butiques e costureiros nacionais. Acima de tudo, foram estes os fundadores de uma costura “de autor”, não colada nos lançamentos europeus.
Nesse meio tempo, Gil Brandão apareceu como o modelista mais famoso do país. Entretanto, verificamos este fenômeno principalmente a partir do trabalho de Dener Pamplona de Abreu, o paraense que iniciou a sua carreira no Rio de Janeiro e depois se fixou em São Paulo.
Na década seguinte, Dener foi o estilista da futura primeira-dama Maria Thereza Goulart, que então já fazia sucesso ao lado do seu marido, o vice-presidente Jango. Para os brasileiros, Maria Thereza concorria com Jacqueline Kennedy em beleza e elegância.
Uma alta-costura brasileira
Desde então, Dener, com o seu trabalho e prestígio, favoreceu o aparecimento de outros nomes. Dentre eles, por exemplo, Clodovil Hernandez, Guilherme Guimarães e, futuramente, Markito e Ney Galvão (Braga, 2003). Antes de mais nada, esse foi o início da alta-costura no Brasil.
Foi então que tomou corpo a discussão sobre a autenticidade da moda brasileira, ou do que esta viria a ser. Nas palavras de Dener: “[…] a moda francesa dita a alta costura, enquanto a italiana influi nos modelos esportivos. Já a moda brasileira nasceu por necessidade climática […] nossa moda é tropical, com tecidos leves e estamparias mais vivas” (Dória, 1998, p. 131).
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O setor da moda nacional
Por fim, foi nos anos 50 que a moda eclodiu com uma profusão de eventos e fatos, como a realização de grandes desfiles. Além disso, foi nessa década que surgiram os primeiros questionamentos sobre a criação de uma moda de fato brasileira.
Nesse meio tempo, a Canadá de Luxe também foi pioneira com outra grande jogada do mundo da moda. Por iniciativa de Mena Fiala, a butique passou a apresentar em primeira mão as suas peças em um lançamento ao vivo às clientes.
Como isso era feito? Em desfiles de moda organizados pela Casa Canadá, meninas jovens que eram especialmente selecionadas e treinadas por D. Mena mostravam a elegância e beleza dos modelos disponíveis às possíveis clientes. Além disso, eles eram verdadeiros eventos sociais.
Os desfiles da Casa Canadá
Dessa maneira, assim começaram os primeiros desfiles com manequins (as modelos da época) treinadas cuidadosamente na Casa Canadá por Mena Fiala.
Sendo um verdadeiro acontecimento, com ele se estimulou a cobertura das coleções pela imprensa emergente (por exemplo, a Revista Cruzeiro) e um maior apelo junto ao público alvo. Afinal, as pessoas queriam ver e também serem vistas!
Consequentemente, com a projeção que ganharam e o interesse que despertavam, os desfiles se tornaram super concorridos. Acompanhando a mudança das estações e, assim, das coleções, havia um total de quatro a cinco desfiles ao ano.
Nesse sentido, aos eventos atendiam não apenas as mulheres da alta sociedade brasileira, como diversos representantes da imprensa e outras personalidades curiosas.
A indústria têxtil nos anos 50
Entre as grandes indústrias de tecidos estavam a Matarazzo, a Bangu e a Cia Brasileira Rhodiaceta. Antes de mais nada, elas precisavam conquistar uma maior aceitação de sua produção para um público que, até então, menosprezava o produto nacional.
Assim, passaram a convidar costureiros brasileiros reconhecidos, para produzir novas criações com os seus produtos. O objetivo era apresentar às sociedades paulista e carioca coleções de luxo feitas com tecidos nacionais.
Por exemplo, a Bangu criou a ‘Miss Elegante Bangu’, desfile que buscava promover os tecidos de algodão da empresa. Dessa maneira, também promovia a identidade nacional, numa época que era embalada pelos sonhos românticos de Hollywood, e em que os concursos de miss causavam comoção nacional.
Por fim, aproveitando o crescimento do setor, em 1958 Caio de Alcântara Machado criou a Fenit – Feira Nacional da Indústria Têxtil. Esse foi o primeiro salão de moda a reunir matéria-prima, maquinário e roupa, assinalando o amadurecimento do mercado.
A imprensa nacional
Com os “anos dourados” da classe média, começou a ser dada grande importância à mídia e à indústria cultural. Assim, na onda desse crescimento também veio um interesse por parte da imprensa no setor da moda.
Nesse altura, a produção de revistas e jornais se intensificou, chegando a alcançar uma tiragem nacional. Em destaque estavam os colunistas de renome, que então passaram a exercer um papel importante na divulgação dos acontecimentos em torno do mundo da moda.
Antes de mais nada, até então a moda era ditada pelas colunas sociais e pelo gosto pessoal das mulheres da alta-sociedade – totalmente indiferentes à indústria nacional.
“As Garotas de Alceu Penna” e a moda dos anos 50
O ilustrador Alceu Penna foi um dos grandes nomes da moda nacional. Além de ter ajudado a construir a imagem do ícone Carmen Miranda, o artista foi o responsável pela coluna “As Garotas do Alceu”, publicada na revista “O Cruzeiro”.
Nesse época, a moda praia também ganhava cada vez mais projeção – dentro e fora do país. Desde a década de 40, essa publicação semanal era esperada por todas as brasileiras, que logo acudiam às respectivas costureiras para reproduzir aquilo que o que Alceu sugeria como moda.
Além disso, o ilustrador também criou roupas para os badalados concursos da época, como o Miss Bangu, patrocinados por essa indústria têxtil carioca. No evento, Gil Brandão aparecia como o modelista mais famoso (Braga, 2003).
As publicações de moda nos anos 50
Já trabalhando como desenhista e ilustrador, Gil Brandão logo entrou para o seu primeiro trabalho no ramo da moda. O talentoso artistas começou a trabalhar como modelista para a Revista Fon Fon a partir de 1951.
Alavancada por essa diversificação, surgiu também a imprensa especializada em moda, então destinada aos profissionais do setor. De acordo com Joffily, Gil Brandão lançou nas páginas do Jornal do Brasil moldes prontos para roupa no ano de 1959.
O material foi revolucionário, já que propunha, acima de tudo, popularizar o uso de modelos com mais estilo pelas mulheres brasileiras.
Gil Brandão começou a sua colaboração com o Jornal do Brasil logo no início de 1959, e a parceria duraria até 1967. Nesse meio tempo, ele foi o responsável pelas seções “Aprenda a costurar”, “Escolha o seu modelo”, “O modelo da semana”, “Nossas crianças” e “Interpretação de um modelo”.
O seu trabalho fez muito sucesso, e foi um estímulo para que a década de 50 viesse com um verdadeiro boom de revistas especializadas em moda e tendências.
Por Denise Pitta.
Editado e atualizado por Mariana Boscariol.
*Este é um trecho do relatório final da pesquisa Moda e Identidade Brasileira, feito por Denise Pitta de Almeida em 2003 à Faculdade de Moda da UNIP.