Dando continuidade ao nosso estudo sobre a identidade brasileira na moda, vamos analisar qual foi a evolução da moda nos anos 20. Em uma época de desenvolvimento econômico e crescimento urbano das cidades, o setor nacional, ainda que de maneira tímida, então começava a ganhar cada vez mais força.
Qual era a Moda dos Anos 20?
Após o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) veio um período de maior calma e pujança. Não por menos, a moda ressurgiu com mais estilo e vida. Antes de mais nada, os chamados “Anos Loucos” (Roaring Twenties) foram uns dos mais icônicos para a história da moda ocidental.
Mas, qual as principais características da roupa desse período? Acima de tudo, os vestidos se tornaram mais curtos e soltos, com a cintura mais baixa e menos marcada.
Nessa altura, os chapéus Clochê faziam a cabeça das mulheres. Eles quase cobriam os seus olhos, dando para aquela que o levava um pouco de privacidade e decoro. Além disso, ganhava cada vez mais destaque um estilo mais andrógeno, ainda que ele sofresse muita resistência.
Seja como for, assim como nos períodos anteriores, a moda brasileira seguia sendo um espelho da moda francesa. Os grandes nomes da alta-costura no período eram, por exemplo, Coco Chanel, Jeanne Lanvin, and Paul Poiret.
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A Moda dos Anos 20 no Mundo
Nesse tempo de plena recuperação econômica e social, as mulheres de classe média e alta passaram a adotar um estilo cada vez mais ousado.
Por exemplo, o tailleur, traje criado por Coco Chanel, passou a ser um dos modelos mais inovadores e populares da época. Antes de mais nada, o modelo servia à afirmação da mulher, expressando ao mundo a sua força e seriedade.
Posteriormente, o modelo veio a ser adaptado para um versão mais próxima à masculina, o terninho feminino. Entretanto, o uso de calças pelas mulheres ainda não era bem aceito pela sociedade, e o estilo demorou a virar tendência.
Nesse meio tempo, o mundo do cinema então projetava modelos de mulheres cada vez mais destemidas, sensuais e poderosas. Entre elas, por exemplo, aquela que é considerada a primeira “It girl”, a atriz Clara Bow.
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A emancipação feminina
Seja como for, essas ideias se refletiram em uma verdadeira revolução na moda e cidadania dos anos 20 e 30, tendo como máxima expressão as saias mais curtas.
Como resultado, parte da sociedade condenou e censurou as mulheres que adotassem o estilo através de decretos. Desse modo, a justiça passou a estabelecer qual o comprimento ideal das saias e vestidos, impondo multas e mesmo prisão àquelas que desobedecessem.
Claro, essa lei foi em vão. Sendo explorada por grandes estilistas como Jacques Doucet, que sentiram a urgência de superar ideias tradicionais e retrógradas, as saias mais curtas revelaram o anseio por uma afirmação feminina mais forte.
Afinal, as mulheres, principalmente as mais jovens, já não aceitavam ficar em casa escondidas.
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Década de 20 no Brasil
Nesse meio tempo, com a riqueza dos produtores de café brasileiros, os seus filhos puderam estudar na Europa – principalmente em Portugal. Como resultado, surgiu um círculo de brasileiros abastados que estavam em contato com as correntes modernistas em pleno fervor intelectual e artístico fora do país.
Esses jovens foram então impulsionados a questionar a arte e os valores da época, apregoando um primeiro movimento nacionalista no país. Esse, acima de tudo, passou a valorizar a cultura autóctone do Brasil e a refletir sobre o que de fato seria uma identidade brasileira.
O ápice desse movimento resultou na organização da Semana de Arte Moderna, realizada no ano de 1922. O motivo por trás do evento era a celebração do centenário da independência do Brasil com relação a Portugal.
Acima de tudo, a comemoração teve como objetivo renovar o mundo artístico e cultural paulistano, trazendo em evidência o que era mais atual à época em termos de escultura, arquitetura e outras artes (Correio Paulistano, 1922).
Assim, tendo decorrido durante a República Velha (1889-1930), a Semana de Arte Moderna tentava confrontar uma sociedade ainda muito antiquada, oligárquica e conservadora.
A Semana de Arte Moderna de 22
À frente do movimento estava Anita Malfatti (1889-1964), Oswald de Andrade (1890-1954), Mário de Andrade (1893-1945) e Menotti Del Picchia (1892-1988). Posteriormente, com eles a artista Tarsila do Amaral (1886-1973) formaria o denominado Grupo dos Cinco.
Em 1928, o escritor modernista Oswald de Andrade publicou o Manifesto Antropofágico. Essa obra, de importância crucial dentro da construção da identidade brasileira, teve como grande inspiração o quadro Abaporu (antropófago em indígena), pintado por Tarsila.
Primeiramente, a essência do manifesto era a necessidade de devorar a estética europeia para transformá-la numa arte de fato brasileira (Proença, 2001).
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A Identidade Brasileira na Moda dos anos 20
Entretanto, apesar do movimento cultural em efervescência buscar resgatar as raízes brasileiras, a moda do Brasil seguia sendo uma cópia do que se encontrava na França.
Em outras palavras, apesar do clima e das diferenças com respeito às estações, a moda dos anos 20 ainda era refém daquilo que se produzia fora do país.
Como exemplo dessa realidade, temos a própria Tarsila do Amaral, que se casou com um vestido do estilista francês Paul Poiret.
Nesse meio tempo, no âmbito da moda do período surgiu a melindrosa, figura criada pelo caricaturista J. Carlos. Essa também se tornou uma referência para a mulher brasileira da época, vindo a indicar uma mais clara tendência à sensualidade – traço que figura entre os principais da moda brasileira até os dias de hoje.
O termo, típico da moda dos anos 20, se refere ao novo visual das mulheres jovens que deixaram de lado o espartilho e passaram a usar saias mais curtas. Além disso, os cabelos também foram encurtados, seguindo o famoso estilo à la garçonne ou bob cut.
A evolução do setor da moda
Em 1927, o Mappin Stores – loja pioneira direcionada para a elite paulistana, que então se destacava por vender mercadorias importadas – , realizou o primeiro desfile de moda em uma loja da cidade. Desde então, os seus desfiles passaram a ser realizados duas vezes ao ano, uma no inverno e outra no verão (Zuleika Alvim).
Esse era um indício dos novos tempos, que traziam uma renovação gradual, ainda que lenta, do mercado da moda no Brasil.
Por fim, a década terminou com um grande choque. Afinal, em 1929 aconteceu o crash da bolsa de Nova York, episódio que resultou na quebra do império do café no Brasil.
Entretanto, o final dessa década ainda reservava um fato determinante e positivo para a moda. Desde então, surgiu Mena Fiala no cenário da moda nacional, a criadora talentosa de vestidos de noiva que se consolidou no setor a partir da década de 30.
- Agora, que tal saber mais em A Casa Canadá: história do centro pioneiro da alta-costura no Brasil?
Por Denise Pitta.
Editado e atualizado por Mariana Boscariol.
*Este é um trecho do relatório final da pesquisa Moda e Identidade Brasileira, feito por Denise Pitta de Almeida em 2003 à Faculdade de Moda da UNIP.
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