Halston: o estilista americano que influenciou a moda dos anos 70 e 80

Conheça a trajetória de Halston, o icônico estilista americano que conquistou fama e revolucionou a moda nas décadas de 70 e 80.

Estilista Roy Halston rodeado por modelos, em 1982. Crédito: Fairchild Archive / Penske Media. Fonte: WWD.

O estilista Halston (1932-1990) teve grande influência sobre a moda americana entre os agitados anos 70 e 80, que então ganhava cada vez mais projeção internacional.

Explorando a sua história pessoal, a vida do enigmático designer é o tema da nova minissérie da Netflix dirigida por Ryan Murphy. Afinal, ele construiu um verdadeiro império dentro do setor da moda, passando do extremo luxo até ao consumo mais popular.

Além disso, o estilista americano deu origem ao estilo Disco, típico dos anos 80, e esteve nos círculos sociais mais badalados de Nova York.

A seguir, antes ou após assistir a série que está dando o que falar, conheça com mais detalhes a vida e obra de Halston.

 

Quem foi Halston?

 

“Acho que as pessoas nascem para seus destinos. Certas pessoas são dotadas para usar as suas mãos, ou vozes ou mentes. Eu tenho a sorte de ser uma dessas pessoas”. (Roy Halston Frowick, Goodreads).

 

Halston. Fonte: Fashion ABC.

 

Roy Halston Frowick, seu nome de registro, nasceu no dia 23 de abril de 1932 em Des Moines, no estado americano de Iowa. Ele era o segundo filho do contador norueguês-americano James Edward Frowick e de sua esposa Hallie Mae.

O jovem Halston desenvolveu um interesse pela costura ainda pequeno, a partir do contato com a sua avó. Desde então, ele logo evoluiu a sua técnica e começou a criar chapéus e a ajustar algumas roupas tanto para a sua mãe como para a sua irmã.

 

Halston. Fonte: L´officiel.

 

Aos 14 anos ele se mudou com a família para Evansville, no estado de Indiana. Tendo lá se formado no ensino médio em 1950, por pouco tempo ele frequentou a Universidade de Indiana.

Entretanto, o seu destino o levava a outros caminhos, o que prontamente o fez se matricular na Escola do Instituto de Arte de Chicago – onde paralelamente começou a produzir algumas roupas e chapéus.

Tendo iniciado de fato a sua carreira dentro da chapelaria, Halston vendeu os seus primeiros modelos em um salão de beleza no Ambassador Hotel. Ele chegou a conquistar alguns clientes de renome na cidade e, como resultado, logo em 1953 abriu a sua própria loja de chapéus, na Michigan Avenue.

 

Halston e uma modelo com alguns de seus chapéus. Crédito: Bettmann / Getty Images. Fonte: ELLE.

 

 

Halston em Nova York

 

Alguns anos depois, em 1958, Roy finalmente se mudou para Nova York. Na cidade super cosmopolita e onde grande parte da alta sociedade americana residia, Halston passou a trabalhar para Lily Daché, uma proeminente fabricante de chapéus.

 

Roy Halston a ajeitar um chapéu em uma modelo, em um salão da Bergdorf Goodman. Crédito: Harry Morrison. Fonte: WWD.

 

No ano seguinte, em 1959, Halston passou a trabalhar para Bergdorf Goodman. Segundo o estilista, foi lá que ele aprendeu de verdade sobre a moda. Afinal, à época, a Bergdorf era um dos principais pontos de referência da alta-costura europeia nos EUA.

Essas grandes boutiques que passaram a trazer a moda europeia, principalmente a francesa, para fora da Europa foram o primeiro contato da alta sociedade local com a alta-costura – fênomeno que no Brasil podemos identificar com a Casa Canadá no Rio de Janeiro e a Maison Madame Rosita em São Paulo.

 

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Popularidade

 

“Você precisa criar a ilusão de sucesso para que as pessoas prestem atenção”. (Roy Halston Frowick, Goodreads).

 

Jackie na inauguração do governo de John F. Kennedy, em 1961. Fonte: Insider.

 

Além disso, foi esse ambiente que possibilitou que o jovem Halston tivesse contato e estabelecesse relações com as mulheres então mais destacadas e bem-vestidas de Nova York. Como resultado, ele logo foi incluído nos círculos sociais mais badalados da cidade, se tornando amigo de algumas das personalidades mais famosas do período.

O estilista alcançou grande fama principalmente após Jacqueline Kennedy usar o seu chapéu pillbox na posse presidencial do seu marido John F. Kennedy em 1961.

A partir de então, com diversos modelos de chapéus muito elegantes e chamativos, Halston passou, por exemplo, a fazer inúmeras capas para a revista Vogue.

Em 1966, considerando que os chapéus então entravam em desuso, ele começou a também produzir roupas. As suas peças foram primeiro vendidas na Boutique Halston na Bergdorf.

Segundo a Vogue da época, o seu lançamento no mercado do vestuário foi um arraso.

 

Modelo Wilhelmina usa um turbante de Halston na capa da Vogue de 15 de agosto de 1962. Crédito: Gene Laurents. Fonte: Vogue.

 

 

A boutique Halston

 

Aproveitando a sua ambição e o sucesso que alcançou, em 1968 o estilista decidiu começar o seu negócio de fato independente. Então sozinho, ele estabeleceu a sua boutique no Upper East Side nova iorquino.

Em um grande salão com uma decoração dramática e nada minimalista – que contava com tecidos pesados e estampas, além de cadeiras ornamentadas com chifres -, Halston teve como primeira cliente a socialite fashionista Babe Paley.

 

Halston com as modelos Alva Chinn e Chris Royer, em 1978. Crédito: John Bright. Fonte: WWD.

 

Logo depois, em 1969, o estilista se lançou em um novo projeto: uma primeira linha de roupa pronta para vestir (prêt-à-porter), a Halston Limited.

Os seus modelos eram em geral simples e sem muitos ornamentos, mas ainda assim muito sofisticados. Acima de tudo, a sua ideia era que eles fossem essencialmente confortáveis e glamourosos.

Nesse sentido, Halston explorava principalmente tecidos delicados e finos como a seda e o chiffon. O que o estilista então tentava era enfatizar a forma do corpo feminino a partir do caimento natural do tecido.

 

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Clientes famosos de Halston

 

Bianca Jagger e Halston, em 1976. Crédito: Getty Images. Fonte: Tatler.

 

Para além de Jackie Kennedy, a boutique de Halston também atendeu a muitas outras clientes famosas. Entre elas, as estrelas de Hollywood Greta Garbo, Anjelica Huston, Elizabeth Taylor, a socialite Babe Paley, Bianca Jagger e a atriz e cantora Liza Minnelli.

Entre esses nomes de grande reconhecimento internacional, Jagger e Minnelli se tornaram, acima de tudo suas grandes amigas.

 

Marisa Berenson, Halston e Liza Minelli em um evento de caridade para restaurar Versalhes, em Paris, em 1973. Fonte: WWD.

 

A marca Halston, novo dono X mesmo designer

 

Roy Halston com alguns de seus desenhos. Crédito: Fairchild Archive / Penske Media. Fonte: WWD.

 

Em 1973, Halston vendeu a sua linha para a Norton Simon Inc. por 16 milhões de dólares. Ainda assim, ele continuou a ser o principal designer da marca. A nova situação lhe permitiu ter uma capacidade financeira e liberdade criativa que, afinal, parecia ser muito vantajosa.

Em 1975, Max Factor lançou a primeira fragrância feminina com o nome da Halston, tendo chegado a vários milhões de vendas nos anos seguintes.

Até o final de década, Halston expandiu o seu trabalho para abarcar também o setor da moda masculina, além de desenvolver outros acessórios complementares como bolsas, malas, lingerie e roupa de cama.

 

Halston em seu escritório no Olympic Towers com a modelo Karen Bjornson, em 1982. Crédito: Thomas Iannaccone. Fonte: WWD.

 

Halstonettes

 

Halston rodeado por modelos. Fonte: página Halston.

 

A fama que alcançou fez com que aqueles que se aproximavam do estilista também ganhassem certo destaque. Como resultado, as suas modelos favoritas, que eram por ele muito valorizadas, começaram a ser chamadas de Halstonettes.

Dentre elas, estavam Anjelica Huston, Karen Bjornson, Beverly Johnson e Pat Ast.

 

As modelos Pat Ast, Roy Halston, Pat Cleveland e Anjelica Huston nos bastidores com Halston, em 1973. Crédito: Fairchild Archive / Penske Media. Fonte: WWD.

 

Era comum que as Halstonettes aparecessem juntas em editoriais de moda e publicidade dos produtos da Halston. Além disso, eram carta marcada nos diversos eventos promovidos pelo estilista e pela marca.

Tendo se aproximado muito de suas musas, o designer foi também pioneiro em contratar modelos de diferentes origens étnicas. Afinal, quebrar certos padrões foi mesmo um dos seus interesses.

Halston inclusive apareceu em 1981 no filme The Love Boat acompanhado por suas Halstonettes.

 

Halston rodeado de modelos. Fonte: L´officiel.

 

Últimos anos

 

“Não há problemas, apenas oportunidades”. (Roy Halston Frowick, Goodreads).

 

Após anos de muito sucesso, em 1983 Halston assinou um acordo de licenciamento no valor de US$1 bilhão com a rede J. C. Penney. A nova linha que então surgiu consistia em roupas, acessórios, cosméticos e perfumes a preços acessíveis.

 

O estilista com modelos. Fonte: L´officiel.

 

Na época, a mudança foi considerada controversa, pois nenhum outro designer de alto nível havia jamais licenciado seus designs para uma cadeia de lojas nesse estilo

Enquanto Halston estava entusiasmado com o negócio, acreditando então que ele só iria expandir a marca, ele acabou por prejudicar a sua imagem junto ao mercado da moda de luxo, já que muitos consideravam que o seu nome se tornou “barato”.

Como resultado, Bergdorf Goodman inclusive abandonou a linha Halston Limited.

 

Declínio

 

Halston começou a perder o controle sobre a marca, o que lhe causou muita frustração. Afinal, ela mudou várias vezes de mãos, tendo ao longo dos anos sido adquirida pela Playtex International, Beatrice Foods e outras quatro empresas.

Com o tempo, a situação apenas piorou. Ao ponto de, em 1984, ele ter sido proibido de criar projetos para a Halston Enterprises. Por fim, o estilista tentou comprar a sua empresa de volta, mas sem sucesso.

 

Halston. Fonte: página Haston.

 

Em 1986, a Halston Enterprises foi então comprada pela Revlon. Roy Halston passou a receber um salário da empresa, mas já não produzia nada. Desde então, ele apenas continuou a criar peças para sua família e amigos íntimos, como Liza Minnelli.

Depois do fim do seu contrato com a Revlon, houve negociações para que ele assinasse um novo acordo, o qual, entretanto, não foi levado adiante.

Desse modo, até 1990 a empresa se serviu do trabalho de diferentes designers, altura a partir da qual deixou de lado a confecção de roupas para explorar exclusivamente os perfumes que levavam o nome do estilista.

 

Vida Pessoal e Morte

 

“Ouço muitas coisas a meu respeito. Ouço dizer que sou um jet-set e isto e aquilo, e realmente não sou. Eu vivo uma vida muito tranquila”.
(Roy Halston Frowick, Goodreads).

 

Homossexual, Halston manteve um longo relacionamento de muitas idas e vindas com o artista Victor Hugo, que também chegou a trabalhar para a sua marca. Além dele, o estilista também manteve outros relacionamentos com figuras do mundo fashion, como o estilista Luis Estevez.

Seja como for, o mundo das festas, da fama e do consumo de drogas contrasta com o seu lado mais reservado. Até que ponto a sua personagem divulgada pela mídia – incluindo a nova série da Netflix – condiz com o Halston real é algo difícil de avaliar.

 

Carolina Herrera e o artista Victor Hugo em um desfile do estilista, em 1979. Fonte: WWD.

 

Em 1988, o estilista recebeu a confirmação de que era soropositivo.

A fim de melhor poder cuidar de sua saúde, que então já mostrava fortes sinais de deterioração, ele então se mudou para São Francisco. Afinal, lá ele pôde estar cercado por sua família.

Por fim, no dia 26 de março de 1990 ele acabou por morrer em São Francisco em decorrência do avanço da AIDS. Ele tinha apenas 57 anos.

 

Série Halston da Netflix

 

Cartaz da minissérie, com Ewan McGregor. Fonte: Facebook Netflix.

 

A plataforma Netflix lançou no último dia 14 de maio a série Halston. Protagonizada por Ewan McGregor, Bill Pullman e Rebecca Dayan, a minissérie é uma adaptação do livro sobre a vida do estilista intitulado Simply Halston, escrito por Steven Gaines e publicado em 1991.

A produção aborda desde o início da carreira do estilista até o seu declínio. Como descrito pela Netflix: “Seu nome construiu um império. Seu estilo uma era. A carreira do estilista de moda Halston decola, mas sua vida logo foge do controle”.

 

 

Sendo fruto de uma colaboração do diretor Ryan Murphy com Christine Vachon e Pamela Koffler, da Killer Films, a minissérie conta no total com 5 episódios: 1. Nasce Halston; 2. Versalhes; 3. A doce fragrância do sucesso; 4. A festa acabou; 5. Críticas.

Mostrando a agitada vida do estilista e o badalado mundo da moda de Nova York, parece que o público tem aprovado o resultado.

 

Por Mariana Boscariol.

 

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Mariana Boscariol: Mariana Boscariol é uma historiadora especialista no período moderno. Sua experiência profissional e pessoal é em essência internacional, incluindo passagens por Portugal, Espanha, Itália, Japão e o Reino Unido. Sendo por natureza inquieta e curiosa, é também atleta, motoqueira e aventureira nas horas vagas – e sempre leva um livro na bolsa!

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