por Ricardo Mendes e Valdir Arruda
Otto Stupakoff é um dos pioneiros da fotografia de moda no Brasil,
apresentando uma trajetória pessoal e profissional que permite acompanhar
o desenvolvimento dessa atividade no país e no exterior.
Ao longo da década de 1950, a indústria têxtil brasileira passava por um intenso processo de renovação e especialização. As novas tecnologias incorporadas, associadas à invasão das fibras sintéticas, marcam o desenvolvimento da confecção nacional, dando início ao nascimento do chamado prêt-à-porter. Começam a sair de cena as figuras familiares da modista e do alfaiate, os cortes de tecido, os figurinos, os chás beneficentes e desfiles de moda promovidos por senhoras da sociedade. A inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho contribuiu para inviabilizar a tradicional “roupa para toda a família” feita em casa, baseada na sugestão do figurino, dos moldes encartados em revistas. Começa o declínio dos trajes feitos sob medida e instaura-se o consumo da roupa pronta, produzida em larga escala, para mulheres, homens e crianças.
Tudo isso coincide também com o aparecimento das grandes feiras de moda. Bastaria mencionar o advento da Fenit, em 1958, e o importante papel desempenhado pela Rhodia no desenvolvimento de uma ‘moda brasileira’ ao longo da década seguinte para ilustrar este panorama. Falamos de um tempo onde lançamentos, desfiles e tendências adquirem o status de espetáculo, de grande negócio, no qual empresários, publicitários, estilistas (ainda denominados costureiros), artistas plásticos de renome, personalidades, jornalistas, editores de arte, fotógrafos e modelos iniciaram a formação de equipes profissionais que contribuíram para a gênese de uma visão de moda que se debate desde então entre ser brasileira e internacional .
Como conseqüência, a veiculação dos produtos da indústria têxtil e do setor de confecções é pautada por olhares que buscam enfoques e cenários diferenciados. O número de anunciantes nas páginas das revistas femininas cresce a olhos vistos. Os editoriais de moda aumentam em número e extensão e intensifica-se o uso de anúncios e encartes que veiculam a roupa pronta para usar. O estúdio fotográfico vai, pouco a pouco, sendo substituído por locações. Da barroca Ouro Preto à modernidade de Brasília, utilizando personalidades do momento, tudo enfim era motivo para um bom anúncio ou editorial de moda. É o início da escalada do consumo no Brasil e da consolidação da fotografia de moda como a conhecemos, seja sob a forma dos primeiros editoriais, sob a forma de catálogos ou campanhas publicitárias.
Os primeiros trabalhos de Otto Stupakoff datam de meados da década de 1950, quando uma viagem internacional durava três dias, o mercado editorial de revistas não permitia uma segmentação efetiva, o jornalismo de serviços dava seus passos iniciais e o enfoque sobre a moda era pautado por um olhar estrangeiro. Este artigo destaca a atividade do fotógrafo no segmento de moda nos anos 50 e 60, quando definem-se as bases de produção da fotografia de moda no país.
Seleção de imagens, destacando as tomadas com personalidades da área cultural, utilizadas em A personalidade da moda para o inverno 1961, um “publieditorial” – um encarte publicitário com formato de artigo – publicado na revista Manchete, em 29.04.1961 – SMC/BMMA
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