A diferença entre Desfiles Conceituais e Desfiles Comerciais
Algumas pessoas quando assistem a desfiles de moda não entendem como um estilista pôde criar algo tão “ridículo”… Será que alguém vai sair pelas ruas…
Algumas pessoas quando assistem a desfiles de moda não entendem como um estilista pôde criar algo tão “ridículo”… Será que alguém vai sair pelas ruas usando “aquilo” ?! Calma minha gente, não é bem assim que funciona.
Os desfiles geralmente são conceituais. As tendências apresentadas nas passarelas – cabelos, maquiagens, calçados, acessórios e roupas – não devem ser seguidas a risca. Se você for às lojas, certamente encontrará peças comerciais que são feitas para serem usadas.
Mas… se você vir algo muito interessante e tiver coragem pra encarar, qual o problema, não é? Vai que “aquilo” combinou com o seu style. Nesse caso, só me cabe desejar boa sorte!
Os Desfiles Conceituais tem sua origem na Arte Conceitual que considera a idéia, isto é, o conceito por trás de uma obra artística, como sendo superior ao próprio resultado final. A aceitação desse conceito é tão importante que o resultado final dessa obra, algumas vezes, poderá até ser dispensado.
Na década de 60, essa forma de expressão espalhou-se pelo mundo inteiro e resultou em vários movimentos artísticos e muito tem influenciado a arte contemporânea. Entretanto, desde Marcel Duchamp (pintor francês , 1887 – 1968), no início do século passado, podem ser percebidos os primeiros indícios da sobrevalorização do conceito.
Marcel Duchamp, A fonte e L.H.O.O.Q.
A escola de arquitetura alemã Bauhaus (1919) combatia a arte pela arte e estimulava a livre criação á fim de ressaltar a personalidade do homem. Foi sem dúvida uma grande responsável pelo desenvolvimento dessa forma de arte.
Sede da Bauhaus em Dessau, Alemanha.
Já a Moda Conceitual é aquela que consiste na construção de imagens e a roupa fica em “segundo plano”. A valorização da coleção bem como do desfile dá uma projeção não só ao designer, mas às modelos, maquiadores, cabeleireiros, fotógrafos, diretores de arte, enfim, a toda equipe envolvida na apresentação da marca. Quando há um retorno por parte da mídia, as marcas alcançam o reconhecimento de vários intelectuais de outras áreas e atingem a designação pretendida – obra de arte.
Desfiles Conceituais de Ronaldo Fraga e Lino Villaventura
Desfile de Alexandre Herchcovitch
Na moda que também é considerada arte, o estilista que traz em sua coleção um conceito, nem sempre faz uma roupa ou desfile conceitual. O conceito pode ser demonstrado de uma forma mais comercial, através de temas, onde o designer evidencia a roupa e não a idéia. Ainda assim, ele pode expor a idéia em um catálogo ou outdoor conceituando dessa forma a sua coleção e causando curiosidade nas pessoas.
Neste catálogo da Colcci a roupa é comercial e o tema aparece no cenário
Desfile da Chanel onde o tema são os ícones da marca
O estilista inglês Alexander McQueen é mestre em desfiles conceituais e disse no início de sua carreira:
“Meus desfiles eram provocantes por uma razão: a necessidade de se fazer notar. Eu não preciso mais fazer isso, mas ainda acredito que tenho os meus 20 minutos para chamar a atenção das pessoas. Você pode não gostar do que faço, mas ao menos o que faço leva você a pensar.”
Pensar: um dos propósitos de uma obra de arte é fazer o expectador pensar!
Nos desfiles, geralmente são colocados folders nos assentos que explicam os temas abordados pelos estilistas. O que possibilita um maior entendimento do que o artista-estilista quer expressar na passarela.
Alguns estilistas brasileiros realizam desfiles conceituais. O desfile de Jum Nakao, em Junho de 2004 entrou para história da moda brasileira. Em um dos mais emocionantes desfiles conceituais de nossa história, roupas extremamente trabalhadas e feitas em papel vegetal foram destruídas em plena passarela, ao final do desfile . O estilista questiona os valores da sociedade capitalista demonstrando o caráter absolutamente descartável da roupa.
Jun Nakaou em desfile conceitual questiona sobre o ciclo efêmero da moda
JUM NAKAO – AR DE PARIS – parte 10
Por Leonize Maurílio
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