Dener Pamplona de Abreu: vida e obra do pioneiro da moda brasileira – Biografias
Segundo ele próprio, Dener Pamplona era o luxo em pessoa. Conheça a trajetória do estilista brasileiro que é considerado o pioneiro da alta-costura nacional.
Ainda que a França seja a maior referência do mundo da alta-costura, outros países também precisam de grandes estilistas nacionais que ajudarão a pensar e criar uma identidade. O Brasil não foi diferente. Aqui, um dos nomes mais importantes da moda de luxo foi o de Dener Pamplona (1937-1978), que é considerado o pioneiro da alta-costura brasileira.
Ao abrir o seu primeiro ateliê em São Paulo, Dener Pamplona quebrou um tabu. Afinal, ele passou a criar para as socialites em uma época em que a referência da moda era Paris, e quando no Brasil só existiam modistas que copiavam as criações francesas. Este foi o marco inicial da roupa brasileira com estilo próprio.
Dener foi o grande percursor da alta-costura brasileira: fugia da comodidade do copismo, desenhando para clientes de acordo com o seu físico, idade, gosto e em consonância com o nosso clima tropical.
Dener Pamplona: da juventude à vida adulta
“Sou mais novo do que a minha importância e mais velho do que a minha aparência” (Dener Pamplona).
Nascido no dia 3 de agosto de 1937 em Soure, no estado do Pará, Dener Pamplona de Abreu infelizmente não teve uma vida muito longa. Afinal, o estilista faleceu em São Paulo no dia 9 de novembro de 1978, com apenas 41 anos.
Entretanto, ainda que curta, a sua vida foi muita intensa e badalada, e o seu nome resiste como uma das principais referências da moda “Made in Brazil“.
Em 1945, quando tinha apenas 8 anos, Dener se mudou com a família para o Rio de Janeiro. Com toda a certeza, essa foi uma mudança crucial em sua vida. Ainda que fosse o mesmo país, a distância entre a então capital nacional e a sua cidade natal, no arquipélago do Marajó, era enorme.
Assim, já instalado no Rio de Janeiro, Dener Pamplona começou a desenhar os seus primeiros modelos ainda muito pequeno. O seu primeiro contato com o mundo da moda se deu em 1948, altura em que, aos 11 anos, teve a oportunidade de frequentar a “Casa Canadá“, então uma das mais importantes butiques do Rio de Janeiro.
“A mulher chique fica bem com qualquer trapinho” (Dener Pamplona).
A Casa Canadá
O empresário Jacob Peliks criou a Maison Canadá nos anos 30. Sendo, a princípio uma loja de peles, com o tempo o seu negócio evoluiu para a venda de roupas importadas, além de tecidos e outros materiais nobres. Logo em 1934 , com a sua diversificação, as irmãs Philomena Fiala e Cândida Gluzman passaram a dirigir uma nova sede (RANGEL, 2010).
Vindas de uma família de imigrantes italianos de Petrópolis, as irmãs diziam viajar a Paris até cinco vezes ao ano. Assim, de lá traziam os modelos dos estilistas mais renomados da época, como Christian Dior e Cristóbal Balenciaga.
Segundo Denise Pitta em suas pesquisas sobre Identidade Brasileira na Moda, a Casa Canadá ocupou o lugar de maior destaque na moda brasileira naquele período, devido à dificuldade de importação imposta durante a Segunda Guerra Mundial, começou a produzir modelos e tecidos exclusivos para a elite econômica daquela época, totalmente copiados dos modelos europeus. De acordo com Durand:
“Embora não se propusesse a fundar a alta costura nacional, a Casa Canadá realizou um trabalho de importação de moda mais elaborado e pioneiro. Ele envolvia organização de desfiles, um ateliê de costura fina encarregado das coleções e desfiles, das encomendas exclusivas de um pequeno estoque para os pedidos do prêt-à-porter. Compreendia também um esforço de divulgação, envolvendo um serviço de imprensa e apresentações nos Estados mais importantes.”(Durand, 1988 p. 72)
Todavia, com o crescimento do mercado e da demanda por novos produtos, além das complicações em apenas importar material, em 1944 surgiu a linha “Canadá de Luxe”. Veja a seguir!
- Saiba mais em A Casa Canadá: história do centro pioneiro da alta-costura no Brasil. Além de Quem foi Mena Fiala? A história da promotora dos desfiles de manequins no Brasil.
Leia também:
- Moda e Cidadania: instrumentos de afirmação da mulher – Parte 1/3.
- Em seguida, veja a moda nos anos 20 e 30 e a sua relação com a cidadania feminina – Parte 2/3.
- E para complementar, leia sobre a emancipação feminina nos anos 40 e 50 – Parte 3/3.
Dener Pamplona e o início de uma produção nacional
“Eu criei a moda brasileira, um estilo próprio, nosso, que fez com que as grandes senhoras do país não precisassem mais se vestir na Europa” (Dener Pamplona).
A partir de então, com essa nova linha, a butique começou a lançar modelos próprios. Outra inovação foi que as roupas passaram a ser apresentadas em um desfile de manequins (como as modelos da época eram chamadas) treinadas pela própria casa. Essa iniciativa foi uma completa inovação no setor da moda nacional, tendo aberto o caminho para uma nova geração de estilistas e modelos (SEIXAS, 2002).
Em outras palavras, esse foi o cenário que Dener Pamplona encontrou. Um mundo da alta-sociedade não só carioca como brasileira, já que vinham à loja mais badalada da época mulheres ricas de todo o país para comprar as últimas tendências.
Apesar disso, o estilo em vigor ainda era um espelho do que era lançado na França. Afinal, a moda à brasileira, como idealizada pelo estilista, ainda não era uma realidade.
Dener começou a trabalhar na Casa Canadá em 1948, aos 13 anos, e ali ficaria até 1956.
- Sobre a Casa Canadá na época de Dener Pamplona, leia RANGEL, D. “Seção Nostalgia”. In Revista Vogue. Janeiro, 2010; SEIXAS, Cristina A. A Questão da Cópia e da Interpretação no Contexto da Produção de Moda da Casa Canadá, no Rio de Janeiro da Década de 50. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design da PUC-Rio. Rio de Janeiro: 2002.
Os anos como costureiro no Rio de Janeiro
“Na moda brasileira, o marco da década de 50 foi o aparecimento de butiques e costureiros, sendo estes os fundadores de uma costura “de autor”, não colada nos lançamentos europeus. Gil Brandão aparece como o modelista mais famoso.
Verificamos este fenômeno principalmente em Dener Pamplona de Abreu, que inicia sua carreira no Rio de Janeiro e depois muda-se para São Paulo. Ele foi estilista da primeira-dama Maria Tereza Goulart, esposa do então presidente Jango. Maria Tereza, para os brasileiros, concorria com Jacqueline Kennedy em beleza e elegância.
Dener foi o primeiro costureiro a questionar sobre moda brasileira e freqüentemente gabava-se de ser ele o criador da moda nacional.” ( Identidade Brasileira na Moda – Anos 50 )
Já há algum tempo na Casa Canadá, Dener Pamplona ganhou destaque com um vestido que desenhou nos anos 50 para a então modelo e futura jornalista Danuza Leão (1933), irmã da cantora Nara Leão (1942-1989).
Desde então, ele começou a ter cada vez mais oportunidades.
Por fim, tendo podido aprimorar as suas habilidades com o desenho ainda muito jovem, Dener decidiu deixar o Rio de Janeiro. Assim, ele se mudou para São Paulo em 1956, após menos de uma década da sua experiência carioca.
A partir de então, já na “cidade de pedra”, a sua jornada de trabalhar para outros ateliês, não demoraria a chegar ao fim.
- Depois veja mais sobre a Moda Brasileira em Moda Anos 50 no Figurino de a “Coisa Mais Linda” com fotos originais da década.
A mudança para São Paulo
Após 3 anos em São Paulo, e contando com a ajuda de amigos, Dener Pamplona fundou a sua própria casa de costura. A então chamada “Dener Alta-Costura” foi por ele estabelecida na Praça da República.
O reconhecimento não demorou a chegar. Afinal, já a partir de 1958, Dener passou a ter muitas clientes famosas. Entre elas, nada menos do que a então primeira-dama Sarah Kubitschek (1908-1996).
Além disso, logo no ano seguinte a sua coleção recebeu dois prêmios, a Agulha de Ouro e de Platina do Festival da Moda, então promovido pelas Indústrias Matarazzo-Boussac (DÓRIA, 1998, p. 168).
Claro, o reconhecimento apenas fez com que o seu trabalho ganhasse ainda mais projeção.
O estilista era muito bem relacionado, havendo frequentado ambientes dos mais diversos e promovido festas que davam o que falar. Entre as damas da alta sociedade que vestia estavam as Matarazzo, Simonsen e Trussardi, além das cantoras Maysa, Tuca e Elis Regina (1945-1982) – de quem foi padrinho no seu casamento com o compositor e produtor musical Ronaldo Bôscoli. Igualmente possuía uma relação com o costureiro Ronaldo Esper, além da poeta Hilda Hilst e do escritor Guilherme de Almeida (Lilian Pacce).
Evolução do seu estilo
A grande novidade do seu trabalho? Pela primeira vez surgiam roupas de alta-costura adaptadas a um estilo mais brasileiro. Afinal, até então os grandes ateliês se dedicavam a reproduzir os modelos dos grandes estilistas europeus – principalmente os franceses.
Com o sucesso, Dener transferiu o seu ateliê para a Avenida Paulista, bem no coração corporativo da cidade de São Paulo.
Assim, com uma melhor estrutura e o seu estilo singular, ele havia caído de vez no gosto de muitas mulheres importantes. Afinal, ele se tornou tão conhecido no cenário brasileiro que em 1963 foi escolhido como estilista oficial da primeira-dama do Brasil, Maria Thereza Goulart (1940), mulher do presidente João Goulart.
A relação de Dener Pamplona com Maria Thereza
Na sua posição privilegiada, a jovem começou a optar pela alta-costura brasileira que então surgia. Para tanto, se tornou cliente assídua de Dener Pamplona de Abreu, que seria por algum tempo o responsável pelo seu armário. Dener esteve de fato muito presente na vida da primeira-dama. Há quem diga que eram inclusive amigos pessoais.
Assim, ao haver escolhido os modelos do estilista para se apresentar em eventos públicos, tanto sociais como políticos, Maria Thereza Goulart tomava uma postura que marcaria a época.
Desde recepções e cerimônias oficiais até casamentos e funerais, a primeira-dama, considerada um dos maiores ícones do período, era então vista nos melhores trajes da nova moda nacional.
Antes de mais nada, Maria Theresa foi considerada a primeira-dama mais bonita do Brasil, tendo sido inclusive comparada com Jackie Kennedy, a badalada “first-lady” dos Estados Unidos.
A sua semelhança com Jackie inclusive alimentava o impulso para que a brasileira entrasse de vez de cabeça no mundo da alta-costura.
Assim, como resultado da atenção que recebia da mídia, além do papel que desempenhava na sociedade brasileira, a primeira-dama ajudou a impulsionar a moda nacional – e, por conseguinte, o trabalho de Dener Pamplona.
Esse foi o empurrão que faltava para a valorização da produção de moda com um estilo nacional, dos costureiros brasileiros e da própria mulher brasileira (SIMILI, 2014, p.279).
Maria Thereza na biografia de Dener Pamplona
Na sua autobiografia, o costureiro deu um grande destaque ao seu relacionamento com Maria Thereza Goulart.
Segundo descreveu, “Eu fiz vestidos para Maria Thereza para todas as ocasiões. Para recepções, casamentos, para funeral, para solenidades oficiais. Só não fiz um vestido para a deposição. Porque ela não me pediu. Mas Maria Thereza tinha roupas apropriadas.” (ABREU, 2007, p. 76).
- Para saber mais sobre a relação entre os dois, leia SIMILI, I. G. A primeira-dama Maria Thereza Goulart e o costureiro Dener: a valorização da moda nacional nos anos 1960. Revista História e Cultura, Franca-SP, v.3, n.1, p.276-298, 2014.
Vida pessoal de Dener Pamplona
Em 1965, contrariando os rumores sobre a sua sexualidade, Dener se casou com a modelo Maria Stella Splendore (1948), de apenas 16 anos. A cerimônia e união entre os dois recebeu muita atenção da mídia. Inclusive, o vestido de noiva usado por Maria Stella deu o que falar.
Ela, modelo, era sempre fotografada com peças do estilista. Assim, à época, acabava por ser a sua melhor garota-propaganda. Afinal, os dois não eram discretos e tampouco tinham qualquer receio dos holofotes.
Entretanto, o casamento durou apenas 4 anos, tendo terminado em 1969. Da união nasceram dois filhos, Frederico Augusto, que faleceu em 1992, e Maria Leopoldina, que em 2007 apareceu nas notícias por frequentar a comunidade Hare Krishna da qual sua mãe fazia parte.
Dener voltaria a se casar em 1975 com uma cliente do seu ateliê, Vera Helena Camargo. Contudo, o casamento durou ainda menos, tendo-se dissolvido logo em 1977 (um ano antes de sua morte).
Apesar do insucesso nos seus casamentos, o vestido de noiva branco foi um dos seus modelos mais bem sucedidos.
- Leia mais sobre a História do Vestido de Noiva: uma peça emblemática da nossa sociedade que é símbolo de poder e mudança.
- Logo depois, veja a evolução do Vestido de Noiva branco durante o século XX.
Manias
Entre frases polêmicas e festas concorridas, Dener era uma pessoa de costumes e manias. Por exemplo, ele gostava de imergir na banheira com água quente e bicarbonato de sódio ou mesmo com muitos litros de leite – tudo para estimular o metabolismo e o “viço” da pele. Além disso, as suas olheiras marcadas e o cabelo despenteado eram propositais – afinal, ajudavam a caracterizar a sua personagem.
Mas não parava por aí. Ele também costumava traduzir os nomes dos funcionários para o inglês (assim Pedro passava a ser Peter), e pedia para que os seus lençóis fossem trocados todos os dias (Dória, 2012).
A evolução do seu negócio
Nesse meio tempo, Dener Pamplona deu um salto em sua carreira. Um ano antes do seu divórcio, em 1968, o costureiro criou a “Dener Difusão Industrial de Moda”. Assim, do seu ateliê, ele passou a ser o responsável pela primeira grife de moda criada no Brasil.
E não foi só isso. Cinco anos depois, em parceria com outros costureiros brasileiros, ele ajudou a estabelecer a Associação da Moda Brasileira (CALLAN, 2007, p. 107).
Mais do que nunca, Dener explorava os elementos brasileiros em tecidos singulares, com cores e estampas chamativas e diferentes.
O marketing pessoal
“Eu gosto de gente, mas acho multidão sempre cafona. Multidão só é boa quando aplaude” (Dener Pamplona).
Além do reconhecimento pelas suas peças e estilo, nas décadas de 60 e 70 Dener Pamplona se destacou pelo seu comportamento. Sendo uma figura polêmica e chamativa por natureza, o costureiro ganhou notoriedade da mídia por saber conjugar o seu talento com o marketing pessoal (CALLAN, 2007, p. 107).
Não sendo de todo discreto, tímido ou inseguro, Dener sempre chamava muito a atenção. Afinal, na década de 60 ele foi uma verdadeira celebridade, sendo amado ou odiado, mas conhecido em todo o Brasil.
Claro, longe de ter sido fruto do acaso, o costureiro soube divulgar e manter o seu nome “na boca do povo”. Para isso, explorou diferentes estratégias: desde a construção da sua imagem, passando pelas fotos tiradas no seu espaço íntimo, à publicação de uma autobiografia e sua participação em um importante programa de televisão da época.
A imagem de Dener Pamplona
“O que eu pude fazer para chocar e chamar a atenção eu fiz. Só não fiz mais porque não sabia o que poderia fazer ou a polícia não deixava” (Dener Pamplona).
Nesse sentido, para criar a sua imagem, Dener assumiu uma verdadeira personagem. A sua grande inspiração? Oscar Wilde, o escritor e dramaturgo britânico que viveu no século XIX e foi símbolo do dandismo, a imagem do homem de bom gosto e senso estético apurado, marcada pela sobriedade e elegância.
Nas palavras do próprio costureiro: “Faço uma figura extremamente démodé. Um homem pertencente ao ano de 1888. Aliás, eu me sinto todo pertencente a outro século, e isso inclui minha casa, minhas coisas. Sou um sofisticado personagem de Oscar Wilde, talvez.” (DÓRIA, 1998, p. 159).
Efetivamente, se compararmos a imagem dos dois fica clara a influência do escritor no estilo de Dener.
Além disso, ele também foi jurado do programa de televisão do apresentador Flávio Cavalcanti, na extinta TV Tupi. Nesse papel, Dener ficou conhecido por dar o seu veredito com a frase “isso é um luxo” ou “um lixo”.
Nos agitados anos 70, em meio à expansão dos programas de televisão, Pamplona disputava o título de principal nome da alta-costura brasileira com Clodovil Hernandes (1937-2009). Aliás, dizem inclusive que a novela Ti-Ti-Ti de 1985 foi inspirada na “guerra” entre os dois.
- Para ler mais sobre a vida de Dener Pamplona, leia a biografia: DÓRIA, Carlos. O Bordado da Fama – Uma Biografia de Dener. Editora Senac, 1998.
O declínio dos anos 70
Assim, entre fantasia e realidade, Dener Pamplona lançou em 1972 a sua autobiografia, intitulada “Dener – o luxo”. No melhor estilo Dener, o seu livro tem claramente muitas passagens exageradas ou mesmo inventadas. Dessa maneira, tendo sido escrito por ele próprio, a obra é um espelho da personagem que ele não apenas criou como viveu. Além desse trabalho, o estilista também publicou o seu “Curso Básico de Corte e Costura”.
Entretanto, os anos 70 vieram com a popularização do prêt-à-porter (pronta a vestir), a roupa feita industrialmente em grande quantidade que levava o nome de um estilista da moda. Dener Pamplona rejeitava completamente a nova forma de consumo. Todavia, não havia muito como nadar contra a corrente. Essa era uma realidade já imparável.
Assim, com o avanço do novo sistema de produção, o mercado da alta-costura se viu ofuscado. Claro, a roupa de qualidade, mais diversa e acessível era do interesse da maior parte da população.
Como resultado, a nova realidade afetou tanto o mercado internacional como o nacional, fazendo com que muitas das grandes casas de moda sofressem um abalo importante. Não foi diferente com Dener.
Morte de Dener Pamplona
“A realização do artista só vem no fim, com a sensação da morte” (Dener Pamplpona).
Ainda que Dener se tenha adaptado às novas exigências, o estilista era extremamente crítico com essa forma de produzir e consumir moda. Afinal, para ele, a elegância e o luxo eram mais do que nada um estilo de vida. Ou seja, eram esses os elementos que o guiavam, e sem eles as coisas deixavam de ter o mesmo sentido.
Assim, ao tempo em que tentava digerir essas mudanças, além de outros problemas pessoais, Dener Pamplona de Abreu começou a viver um processo gradual de decadência. Ainda que aparecesse na mídia e seguisse muito atuante, havia indícios claros de que os seus tempos de glória haviam chegado ao fim.
Por fim, em 1976 o costureiro decidiu desativar o seu ateliê. Além disso, tendo se divorciado da sua segunda esposa no ano seguinte, Dener veio a falecer pouco tempo depois, logo em 1978, com apenas 41 anos. Considera-se que a sua morte veio em decorrência de uma cirrose hepática, fruto do agravamento dos seus problemas com o alcoolismo. De qualquer forma, não há um consenso sobre o tema.
O legado de Dener Pamplona
Sendo uma figura muito controversa e polêmica, claro que Dener Pamplona não despertou apenas admiração. A sua autobiografia foi inclusive muito criticada, já que parece se tratar mais da história da personagem Dener do que de fato da sua vida pessoal.Além disso, a autobiografia de Dener reapresenta estilista como aquele que “criou” a moda brasileira.
Seja como for, é indiscutível que o costureiro teve um papel fundamental na defesa e consolidação de uma moda genuinamente nacional.
O trabalho de Dener ajudou a moldar e fortalecer a identidade da mulher brasileira, então valorizada e destacada por ele como algo positivamente distinto daquilo que vinha exclusivamente da Europa.
Além disso, em 1990 foi criada a Teciteca (núcleo de documentação de tecidos, objetos e publicações) Dener Pamplona de Abreu, divisão que alimentada com a doação de desenhos de sua autoria ao Curso de Moda da Universidade Anhembi Morumbi.
Por Mariana Boscariol.
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