Convencer em 15 minutos

Considerados frequentemente como verdadeiros espectáculos destinados a seduzir compradores e imprensa em breves minutos, os desfiles de moda exigem, todavia uma organização sem falhas que mobiliza dezenas de pessoas durante largas semanas.

Hoje em dia já não existe lugar para a improvisação, começa por explicar Olivier Massart, director da La Mode en Images (LMI), uma empresa de produção que organiza a maior parte dos 90 desfiles que se realizam durante a semana de moda de pronto-a-vestir em Paris.

Ainda que muitas marcas e criadores recorram a agências de produção para coordenar e colocar em cena as suas colecções, a verdade é que a organização de um desfile tem muito que se lhe diga, bem mais do que os quinze minutos aos quais o público tem direito. Isto porque, a preparação pode «ir de uma semana a três meses», sublinha Massart. «Às vezes a preparação começa exactamente no final do último desfile e prolonga-se até ao dia de apresentação do póximo, para que não falhe nenhum pormenor», afirma Alexandre de Betak, director da agência de produção Bureau Betak.

Uma agência de produção tem como missão organizar todo o evento «desde o contacto com os organismos profissionais até ao casting, passando pela parte técnica», explica Massart, acrescentando ainda que «intervimos nas diferentes etapas», como a escolha dos lugares, a cenografia, a disposição dos convidados, a decorações, o som, a luz, a coordenação das diferentes equipas… «Certos criadores já sabem o que desejam em termos de decoração enquanto outros falam-nos da sua linha e nós apresentamos uma proposta, que no fundo requer um verdadeiro trabalho de acompanhamento», declara.

Outros criadores, todavia, organizam eles próprios os seus desfiles, como sucede com Christian Lacroix que «decide tudo», de acordo com o seu ambiente. «Tudo fica preparado praticamente em três semanas, ou mesmo em quinze dias. Por esse motivo há uma espécie de aceleração do tempo nos últimos dias», sublinha o estilista Robert Normando. Os manequins vêm de Milão, onde desfilam durante a semana de moda, «e, por consequência, chegam muito atrasados, mas em dois dias têm de ser ensaiados e estar a par de todos os pormenores», explica.

«Os manequins e toda a equipa incluída num desfile ensaiam o seu papel em dois dias» revela Christian Lacroix, acrescentando que «mesmo assim, no dia do desfile, com cerca de 200 pessoas nos bastidores (entre cabeleireiros, maquilhadores, manequins, equipa técnica…) é um total frenesim».

Também a atribuição dos lugares aos convidados (compradores, clientes, imprensa, parceiros) é normalmente um quebra-cabeças. Certas marcas praticam o “surbooking”, outras multiplicam os lugares ao criar novas filas improvisadas para albergar todas as pessoas que se tornam essenciais nestes eventos. O importante mesmo é que não falte ninguém.

De acordo com vários profissionais, o custo de um desfile varia «entre os 10 mil e um milhão de euros». Deste modo, é necessário «cerca de 400.000 euros para realizar um bonito desfile», indica um responsável de comunicação de várias casas de pronto-a-vestir de luxo. Apesar do investimento avultado, o resultado final é, em geral, rentável. «Hoje, os desfiles são pensados para os fotógrafos, para as televisões e para a Internet. Tudo (decoração, luz, maquilhagem, lugar atribuído aos fotógrafos e operadores de câmara) é concebido para produzir a imagem que será difundida nos meios de comunicação social e explorada comercialmente pela marca», conclui o director da LMI.

Matéria do site Portugal Têxtil.