Clodovil Hernandes: história do irreverente ícone da alta-costura no Brasil

Com uma carreira longa e diversificada, conheça mais a vida e trajetória de Clodovil Hernandes, um dos pioneiros da moda de luxo no Brasil.

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Dentro do surgimento da alta-costura no Brasil se destaca o nome de Clodovil Hernandes (1937-2009). Tendo iniciado o seu percurso profissional ainda muito jovem, nos anos 50, ele foi um artista polivalente, havendo atuado como estilista, figurinista, ator, jurado e apresentador de programas de televisão – além de posteriormente como político.

Como temos explorado aqui no Fashion Bubbles, a história da da moda brasileira se desenvolveu a partir do trabalho de diferentes instituições e personalidades. Nesse cenário, Clodovil Hernandes foi não apenas uma das figuras públicas mais chamativas e talentosas, mas também polêmicas.

Em seguida, dando ênfase à sua carreira como estilista e costureiro, conheça um pouco mais sobre a sua história, estilo e atuação no cenário da moda brasileiro.

Clodovil Hernandes.
Clodovil Hernandes. Fonte: Agência O Globo.
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Quem foi Clodovil Hernandes? 

” Aos poucos minha mãe foi se acostumando com o menininho perebento e carente. Desse encontro de sentimentos análogos nasceu o grande amor que ela passou a me dedicar… Fiquei bonitinho e insolente.” (Clodovil Hernandes em entrevista a Ronaldo Bôscoli, Revista Manchete, 14 de julho de 1979, no. 1421).

Clodovil Hernandes aos 15 anos.
Clodovil Hernandes aos 15 anos. Fonte: Famosos que partiram.

Clodovir Hernandes, como seu nome ficou registrado na certidão de nascimento por um equívoco do cartório, nasceu em Elisiário, interior de São Paulo, no dia 17 de junho de 1937. Ainda muito pequeno, ele foi adotado por Domingos Hernández e Isabel Sánchez Hernández, um casal de imigrantes espanhóis. Desde então, ele não teve nenhuma relação com os seus pais biológicos.

Segundo Clodovil, a mãe a princípio o rejeitou, tendo apenas com o tempo crescido por ele um amor genuíno e forte. Com o pai, a relação era mais complicada. Afinal, tendo dele recebido duras críticas sobre o seu hábito de desenhar e o seu “jeito fresco”, o estilista disse ter vivido o trauma de quando pequeno haver visto o seu pai adotivo na cama com outro homem (Revista Manchete, 14 de julho de 1979, no. 1421).

Ainda muito jovem, a família se mudou algumas vezes. Eles venderam a parte que lhes cabia de uma fazenda e, desde então, foram primeiro para Catanduva e depois Floreal, onde Domingo Hernández abriu uma loja de tecidos.

Foi nesse estabelecimento, e por meio dos trabalhos de sua mãe Isabel, que então costurava e vendia vestidos de noivas, que Clodovil teve os primeiros contatos com a moda.

Educação 

“Sem qualquer informação sobre o que seria moda, criava-as, eu mesmo, em cartolinas compradas no bazar local. Jamais sofri qualquer influência. E, apesar disso, meus desenhos eram bons.” (Clodovil Hernandes em entrevista a Ronaldo Bôscoli, Revista Manchete, 14 de julho de 1979, no. 1421).

Foto de Clodovil Hernandes do Fundo Correio da Manhã, de 1967.
Foto de Clodovil Hernandes do Fundo Correio da Manhã, de 1967. Crédito: Arquivo Nacional. Fonte: Wikimedia commons.

Apesar desse ambiente, a família sempre teve poucos recursos e a vida nunca se mostrou fácil.

Todavia, mesmo que com limitações financeiras, Clodovil Hernandes pôde ser educado em um colégio interno católico. Foi então nesse colégio que ele veio a dar os primeiros passos da sua carreira como estilista, logo aos 16 anos.

Clodovil ainda confessou que havia sido abusado por um dos padres do colégio, mas o feito não rompeu o bom sentimento que tinha em relação a ele e à religião. Além disso, teria sido também no internato que Clodovil foi chamado por outro padre de “Jacques Fath”, um famoso estilista francês daquela época.

Primeiros Passos

Nesse meio tempo, ele então participou de um pequeno concurso de desenhos da Revista Radiolância. Assim, depois de ganhá-lo, o jovem começou a sonhar cada vez mais alto.

Acima de tudo, o seu maior desejo passou a ser ir viver na capital paulista.

Clodovil Hernandes entre modelos. Revista Manchete, 1967, edição 794.
Clodovil Hernandes entre modelos. Revista Manchete, 1967, edição 794. Fonte: Memoria BN.

Clodovil então elaborou outros 11 desenhos para a cada Florence Modas. Segundo ele, os responsáveis pela loja teriam comprado apenas uma ilustração e o resto copiaram. Desse modo, ele acabou por voltar à casa dos pais sem dinheiro e frustrado, mas ainda decidido a se estabelecer em São Paulo e se dedicar à moda.

Por fim, aos 20 anos, em 1957, ele se mudou para São Paulo, o promissor centro urbano e fashionista do Brasil. Desde então estabelecido na cidade, o jovem Clodovil Hernandes traçou de vez o seu caminho como estilista a partir de 1960.

Início da Carreira de Clodovil Hernandes

“É um trabalho como os outros: acordar cedo, administrar. Não é só desenhar a roupa, é preciso construí-la, como uma casa: o arquiteto é o estilista, o engenheiro é a contramestra, os pedreiros são as costureiras. Se as coisas não batem, a construção fica torta. Sou autodidata.” (Clodovil Hernandes em trecho da entrevista de 1991 com Lilian Pacce, para a Folha de São Paulo em 2 de novembro de 1991).

Revista Manchester de 1961 sobre o prêmio Agulha de Olho vencido por Clodovil, n. 506.
Revista Manchester de 1961 sobre o prêmio Agulha de Olho vencido por Clodovil, n. 506. Fonte: Memória BN.

Naquela época, Dener Pamplona já ganhava destaque dentro do cenário da moda nacional. Tendo-se lançado e feito sucesso na badalada butique carioca Casa Canadá, dirigida por Mena Fiala, Dener se havia mudado para São Paulo em 1954.

Então na capital paulista, ele abriu a sua própria casa em 1957, a Dener Alta-Costura.

Assim, segundo Clodovil, “Denner estava aparecendo. Se eu não admirava o trabalho dele, nutria profunda inveja de sua profundíssima personalidade…” (Revista Manchete, 1979, no. 1421). Contudo, ainda que invejasse em parte o seu rival, o jovem queria mesmo era fazer as coisas à sua maneira.

Dessa maneira, já trilhando o seu próprio caminho, Clodovil ganhou o Prêmio Agulha de Ouro em 1960 e a Agulha de Platina em 1961, ambos concedidos pela importante Casa Matarazzo-Boussac.

Em resumo, Clodovil Hernandes começou a trabalhar com moda na década de 50, deu os primeiros passos para construir a sua carreira na década de 60, e se consolidou como estilista de sucesso na década de 70.

Clodovil Hernandes posando com modelo na primeira edição da revista VOGUE no Brasil, em 1975.
Clodovil Hernandes posando com modelo na primeira edição da revista VOGUE no Brasil, em 1975. Fonte: Facebook Instituto Clodovil Hernandes.

A Brasilidade na Moda

“O costureiro Clodovil anda espalhando nas rodas fechadas da moda que as fofocas de seu principal concorrente não podem mais afetar seu prestígio. E explica: o outro está circulando numa faixa de alto poder aquisitivo, porém cafona, enquanto ele só costura para mulheres de fino gosto. Como estes dois tipos de consumidores nunca se misturam, as fofocam não chegam até as suas clientes…” (Paulo Rehder sobre Clodovil, na Revista Manchete de 1971, edição 976).

Clodovil Hernandes na Vogue Brasil 1978.
Clodovil Hernandes na Vogue Brasil 1978. Fonte: Facebook Instituto Clodovil Hernandes.

Nesse período, um dos grandes méritos associados ao trabalho de Clodovil Hernandes foi o lançamento e defesa de uma moda de fato brasileira. Afinal, ele vinha na corrente do surgimento e diversificação da alta-costura no Brasil.

Além disso, esse período também era favorável para o seu trabalho já que se vivia o fortalecimento do movimento de valorização da cultura brasileira e do crescimento e diversificação da indústria têxtil no país.

Assim, ganhando destaque no cenário nacional, Clodovil rapidamente conquistou grandes personalidades da época. Entre elas, a cantora Elis Regina, a atriz Cacilda Becker e as famílias Diniz e Matarazzo.

De Paris a São Paulo

“Tenho que impor um gosto e um padrão. Estou sempre atento aos ditames da Chambre de Couture e é por isso que me considero um clássico por excelência. As mulheres que me procuram são todas de grande classe e muito bom gosto, mas sou eu que decido o que lhes fica bem.” (Clodovil Hernandes na Revista Mancheste de 1967, edição 794).

Até então a alta sociedade brasileira importava a moda que vinha de Paris, ou, como alternativa, comprava cópias fiéis dos modelos franceses. Assim, foi a partir do trabalho pioneiro de Dener Pamplona e Clodovil Hernandes que surgiu uma moda original feita e inspirada no Brasil, que caiu no gosto das mulheres mais sofisticadas do país.

Dessa maneira, já com o seu ateliê em São Paulo, Clodovil elaborou roupas exclusivas para mulheres ricas e famosas de todo o país.

Entretanto, posteriormente ele também foi um dos pioneiros da prêt-à-porter no Brasil,  a roupa de boa qualidade feita industrialmente em série que levava a assinatura de um estilista da moda. Além disso, Clodovil também se dedicou à produção de figurinos para o cinema, a televisão e o teatro.

Clodovil Hernandes X Dener Pamplona 

“A gente brigava durante o dia só para sair nos jornais. À noite nos encontrávamos para rir. Ele fazia isso para me promover, sabia que eu tinha valor. Hoje eu não poderia fazer o mesmo.” (Clodovil Hernandes em trecho da entrevista de 1991 com Lilian Pacce, para a Folha de São Paulo em 2 de novembro de 1991).

Matéria com Clodovil Hernandes na Revista Manchete onde ele é chamado de herdeiro de Dener.
Matéria com Clodovil Hernandes na Revista Manchete onde ele é chamado de herdeiro de Dener. Ano 1966, edição 736. Fonte: Memoria BN.

Como Clodovil chegou a confessar posteriormente, os dois estilistas mais do que nada alimentavam e exploravam na mídia uma aberta rivalidade.

Ou seja, essa foi acima de tudo uma jogada de marketing para ajudar os dois a se promoverem ainda mais, explorando a emergente mídia especializada no público feminino e na moda.

A aparente disputa entre os dois principais costureiros da época foi inclusive a possível inspiração da famosa novela Ti-Ti-Ti, de 1985 – que ganhou uma nova versão em 2010, recentemente reprisada pela Globo.

Clodovil Hernandes e Dener Pamplona em matéria na Revista Manchete de 1967, edição 800.
Clodovil Hernandes e Dener Pamplona em matéria na Revista Manchete de 1967, edição 800. Fonte: Memória BN.

Modelos Clodovil Hernandes

Manequim desfilando um modelo de Clodovil.
Manequim desfilando um modelo de Clodovil. Fonte: Facebook Instituto Clodovil Hernandes.

Clodovil também fez história nos grandes desfiles de moda. Afinal, esses eventos vinham ganhando peso desde a década de 50, sendo super badalados tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo.

Clodovil Hernandes com modelos em um desfile de 78, com Elke Maravilha no fundo.
Clodovil Hernandes com modelos em um desfile de 78, com Elke Maravilha no fundo. Fonte: Acervo Estadão.

Uma de suas principais manequins (como as modelos eram chamadas à época) foi a chamativa Elke Maravilha.  À época ela ainda se adaptava a um estilo mais “padrão”, mas já vinha firmando a forte personalidade do seu gosto e atitude singulares.

Vestido de noiva de Clodovil Hernandes usado por Nice, primeira esposa de Roberto Carlos.
Vestido de noiva de Clodovil Hernandes usado por Nice, primeira esposa de Roberto Carlos. Fonte: Noiva com Classe.

Além disso, Clodovil também ficou muito conhecido pelos seus vestidos de noiva. Um dos modelos mais famosos foi o usado por Cleonice Rossi, a Nice, primeira esposa do cantor Roberto Carlos, no seu casamento em 1968.

Figurinista

Croquis e projetos de figurinos de Clodovil para a peça "Eu & Ela", escrita e encenada por ele em 2006.
Croquis e projetos de figurinos de Clodovil para a peça “Eu & Ela”, escrita e encenada por ele em 2006. Fonte: Facebook Instituto Clodovil Hernandes.

Antes de nada mais, ele tinha um interesse especial pelo teatro, o cinema e a televisão. Assim, Clodovil Hernandes também trabalhou como figurinista em diversas produções e filmes brasileiros, como:

  • No filme O Corpo Ardente (1966), um romance e drama estrelando a atriz francesa Barbara Laage.
  • Posteriormente, na telenovela Beto Rockfeller (1970), da Rede Tupi.
  • Em seguida, na comédia romântica Lua de Mel e Amendoim (1971), na qual, além de contribuir com figurinos, ele também participou como ator, ao interpretar um costureiro.
  • Pouco depois, na comédia erótica A Infidelidade ao Alcance de Todos (1972).
  • No drama policial chamado A Paranóia (1976).
  • Além disso, criou figurinos para um conhecido espetáculo do Ballet Stagium, chamado Kuarup, ou a Questão do Índio (1977).
  • Também colaborou no espetáculo teatral Seda pura e alfinetadas (1981).
  • Na peça Sabe quem dançou? (1987).
  • Por fim, fez croquis e projetos de figurinos para a peça “Eu & Ela”, escrita e encenada por ele (2006).
Ensaio de Clodovil para a peça "Eu & Ela", escrita e encenada por ele em 2006.
Ensaio de Clodovil para a peça “Eu & Ela”, escrita e encenada por ele em 2006. Fonte: Facebook Instituto Clodovil Hernandes.

Televisão

Entre os inúmeros programas de televisão dos quais participou, seja como entrevistado, como júri ou posteriormente apresentador, Clodovil definiu que o gosto estético não dependia apenas da condição financeira da pessoa.

Afinal, para o artista, não lhe interessava ir à televisão para falar de peças que as ouvintes não poderiam consumir.

Clodovil Hernandes já se havia destacado nessa mídia em 1976, quando ganhou o maior prêmio no programa de perguntas 8 ou 800?, da Rede Globo. Ele parece ter tomado gosto pelos palcos. Assim, alguns anos depois, em 1979, ele também participou da novela Marron-Glacé, da mesma emissora.

Clodovil com Elke Maravilha no programa da Hebe Camargo.
Clodovil com Elke Maravilha no programa da Hebe Camargo. Fonte: Facebook Instituto Clodovil Hernandes.

Contudo, foi em 1980 que, para além do seu trabalho com a moda, ele deu os primeiros passos da sua carreira como apresentador de televisão.

Nesse ano, ele estreou um quadro no programa TV Mulher, também da Rede Globo. Nele, Clodovil Hernandes desenhava modelos exclusivos que se adaptam aos pedidos das telespectadoras.

Sendo liderado por Marília Gabriela, o programa também contava com outros participantes, como a então sexóloga Marta Suplicy. Considerando a sua projeção e o atrito que tinha com Marília Gabriela, ele em 1983 lançou o seu próprio programa, o Programa Clodovil, na TV Bandeirantes.

Clodovil na TV Mulher.
Clodovil na TV Mulher. Crédito: J. Ferreira da Silva. Fonte: Veja SP.

Diferentes Programas

Clodovil Hernandes passou por diferentes emissoras ao longo dos anos, tendo em todas elas alimentado a fama de polêmico, de alguém que não tinha filtros no falar. Como resultado de muitos comentários tidos como impróprios e descabidos, ele acabou por ser em distintas ocasiões afastado, demitido, e indiciado em processos judiciais por difamação e injúria.

O seu caráter provocador e atitudes polêmicas a princípio não foram um total impedimento, antes o contrário. Tanto é que no início da década de 1990 Clodovil passou a trabalhar primordialmente com a televisão, deixando a sua  carreira como estilista mais de lado.

Em 1992, na Rede Manchete, passou a apresentar o programa Clodovil Abre o Jogo. Na TV Bandeirantes, em 1998, lançou o Clodovil Soft.

Já nos últimos anos de vida, em 2001, ele passou a integrar a equipe do programa Mulheres, na TV Gazeta. Por fim, em 2003, ficou à frente do programa A Casa é Sua da Rede TV.

Polêmicas de Clodovil 

Clodovil Hernandes.
Clodovil Hernandes. Crédito: Agência Brasil / José Cruz ABr. Fonte: Wikimedia commons.

Clodovil Hernandes, que era abertamente homossexual, teve uma educação cristã e conservadora que transpareceu no seu percurso. Nesse sentido, muitas das críticas a ele direcionadas foram remetidas por militantes dos movimentos da causa LGBT.

Afinal, parecia contraditório, mas, por exemplo, Clodovil se posicionou contrário ao casamento gay, embora fosse a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo. Da mesma forma, se opôs à Parada Gay, por associá-la com a prostituição e o uso de drogas.

Além disso, ele não causou apenas polêmica no que diz respeito aos homossexuais, tendo também sido mais de uma vez acusado de tecer comentários racistas e antissemitas.

Processos contra Clodovil Hernandes

Assim, em 2004, Clodovil Hernandes foi condenado por danos morais por haver chamado a vereadora Claudete Alves da Silva Souza (PT) de “macaca de tailleur metida a besta”.

Esse comentário, claramente racista, foi feito após a vereadora  ter entrado com uma representação contra o apresentador junto ao Ministério Público justamente por racismo.

No dia 17 de março de 2004, no programa “A Casa é Sua”, da RedeTV, o então apresentador comentou após o cantor Agnaldo Timóteo (PP) se queixar da ação dos fiscais municipais de São Paulo que dificultavam a venda dos seus CDs: “Tem que vender disco na rua (…) Ele vai fazer o quê? Ele vai fazer o que todo crioulo faz no Brasil? Vai virar ladrão, bandido ou o quê?”.

No ano seguinte, em 2005, foi demitido da Rede TV. A decisão veio após um conflito direto com os humoristas do programa Pânico na TV.

Pouco depois, já com quase 70 anos, Clodovil teve que fazer uma cirurgia para a retirada de um tumor na próstata.

Em seguida, já que o tema é racismo, leia também:

Clodovil Hernandes na Política

Prestes a completar 70 anos, Clodovil se elegeu deputado federal por São Paulo pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC). Foi então o terceiro deputado mais votado no estado, atingindo um total de quase 494 mil votos.

Apesar de ter recebido grande apoio de homossexuais (à sua posse, em fevereiro de 2007, foi uma caravana de 50 ônibus com representantes do movimento gay), o recém-eleito deputado não quis atender aos apelos do grupo.

Clodovil Hernandes.
Clodovil Hernandes. Crédito: Agência Brasil / Fabio Pozzebom/ABr. Fonte: Wikimedia commons.

Afinal, Clodovil sempre se mostrou resistente e crítico ao movimento gay no geral, tendo inclusive feito em diversas ocasiões comentários ríspidos e preconceituosos.

Nesse sentido, ao longo do seu mandato, Clodovil Hernandes continuou a ser protagonista de diversas polêmicas. Pelo seu posicionamento, o apoio que recebia era maior entre os grupos conservadores de direita, que de fato exploravam a imagem de um homossexual que se colocava como conservador.

Além disso, uma das primeiras e maiores polêmicas como deputado foi a reforma do seu gabinete. Nada discreto e de um gosto considerado duvidoso, o espaço passou a contar com um sofá branco bordado com o brasão da República e a pintura de um retrato seu com os seus cachorros.

Nesse meio tempo, durante a sua atividade na Câmara dos Deputados, participou das comissões dos  Direitos Humanos e Minorias; da Educação e Cultura; das Relações Exteriores e Defesa Nacional.

Morte

Clodovil Hernandes em seu gabinete.
Clodovil Hernandes em seu gabinete. Crédito: Dida Sampaio/AE/VEJA. Fonte: Veja SP.

Tendo sofrido ao longo dos anos com outras doenças, Clodovil Hernandes faleceu no dia 17 de março de 2009, aos 71 anos, em Brasília. A causa da morte foi  um acidente vascular cerebral (AVC), seguido de parada cardíaca. O velório aconteceu no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Não tendo herdeiros, Clodovil deixou registrado em seu testamento que queria doar o seu patrimônio para a criação de uma fundação beneficente. Acima de tudo, o seu interesse era que essa instituição servisse para ajudar meninas carentes e em situação de abandono.

Apesar disso, devido a disputas e conflitos, os seus bens, além de uma soma milionária, permaneciam bloqueados pela Justiça ainda dez anos após a sua morte.

Posteriormente, o Instituto Clodovil Hernandes foi criado em 2011. Antes de mais nada, a sua finalidade é preservar e divulgar a memória do artista.

Por último, em 2019, a Ancine expediu uma autorizou para a captação de recursos para o filme Clodovil, baseado na biografia Tons de Clô, do jornalista Carlos Minuano (2017).

Por Mariana Boscariol.

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