As sufragistas: do direito ao voto à emancipação da mulher

Conheça a história das mulheres sufragistas, grupo que revolucionou o mundo ao alcançar o direito ao voto feminino e foi precursor do movimento feminista.

Folheto sufragista. Fonte: The Houston Chronicle.

Atualmente, muitos optam por não participar das eleições. Entretanto, há pouco mais de um século, o sufrágio (direito ao voto) foi a causa que moveu muitas mulheres no mundo. A história das sufragistas é um importante capítulo do século XX, sendo uma inspiração até aos nossos dias.

Related Post

 

  • Por falar em mulheres empoderadas e à  frente do seu tempo,  depois, veja também Coco Chanel: biografia, estilo e frases famosas da estilista. Além de Diane von Furstenberg: biografia da estilista que lutava pela emancipação feminina e também criou o vestido envelope.

 

Elizabeth Wolstenholme observa uma processão de mulheres em 1911, com uma faixa onde se lê: “A militante sufragista mais velha da Inglaterra cumprimenta a suas irmãs”. Fonte: Flickr / LSE Library.

 

 

O direito ao voto feminino

 

 

É verdade, o direito ao voto não era apenas proibido para as mulheres. No início do século XX, eram poucos os que podiam participar das eleições. Por outro lado, eram muitos os excluídos.

A princípio, limitações com base no sexo, idade, renda, educação e classe social faziam a sociedade ser desigual. Seja como for, essa era a realidade do Brasil bem como de grande parte do mundo.

 

 

 

Reunião das líderes do Women’s Social and Political Union (WSPU), c.1906 – c.1907.

 

 

O primeiro país a conceder o sufrágio feminino foi a Nova Zelândia, em 1893.  Entretanto, foi na Inglaterra que as sufragistas foram projetadas.

No final século XIX e início do século XX, muitas inglesas saíram às ruas pelos direitos das mulheres. Logo depois, iniciaram uma verdadeira revolução.

Afinal, qual era o seu interesse? Acima de tudo,  o sufrágio: o direito ao voto.

 

 

A campanha das sufragistas

 

 

Um dos principais centros do movimento sufragista fo a cidade de Manchester.

As sufragistas passaram a se organizar em dois grupos: a União Nacional das Sociedades de Sufrágio de Mulheres (NUWSS) e a União Social e Política das Mulheres (WSPU).

Contudo, ao mesmo tempo em que a adesão crescia, esse era um tema que causava polêmica.

Mesmo entre as mulheres não havia um consenso sobre se o sufrágio deveria ser permitido. De acordo com a própria rainha inglesa Vitória (1819–1901), ela mesma uma mulher de poder, a luta pelos direitos das mulheres era uma “mad, wicked folly” (loucura insana e perversa).

 

  • Confira ainda nosso especial de Moda e Cidadania: instrumentos de afirmação da mulher – Parte 1/3.

 

Rainha Vitória da Inglaterra, 1871. Fonte: Wellcome Library / Wikimedia commons.

 

 

Ou seja, a oposição à campanha das mulheres sufragistas era enorme. Vinha mesmo desde o alto escalão do poder.

 

“A Rainha está ansiosa para listar todos que puderem falar ou escrever para ajudar a verificar essa loucura insana e perversa dos ´Direitos das Mulheres`.” (Carta da rainha Vitória a Theodore Martin, 29 May 1870. Fonte: Oxford Reference)

 

Suffragists e Suffragettes

 

 

Ainda que em português apenas usemos o termo sufragistas, no cenário inglês havia dois grupos : as Suffragists e as Suffragettes.

Esses nomes foram usados pela imprensa para ridicularizar as suas participantes. Bom, acabou por ter o efeito contrário, pois eles pegaram de vez!

Usando as cores branca, roxo e verde, as sufragistas produziam cartazes, crachás e faixas com os dizeres: “Votes for Women” (Votos para as Mulheres).

Todavia, ainda que a sua causa e mensagem fossem comuns, os dois grupos usavam táticas muitos distintas.

 

 

As líderes do WSPU Annie Kenney e Christabel Pankhurst, c. 1908. Fonte: Wikimedia commons.

 

 

 

 

As Suffragists

 

 

As Suffragists faziam parte da NUWSS. A sua principal líder foi Millicent Garrett Fawcett, que esteve diante do grupo entre 1890 e 1919.

 

 

Millicent Fawcett e outras sufragistas no Suffrage Alliance Congress, London 1909. Fonte: Flickr / National Library of Norway.

 

 

O grupo defendia um protesto pacífico e apelava pelo voto das mulheres de classe média e com propriedades.

A princípio, as sufragistas acreditavam que ganhariam o respeito do parlamento caso agissem de maneira inteligente, sensível e com base na lei. Como resultado, elas esperavam conseguir conquistar o direito ao voto .

Todavia, ainda que soe bonito, as coisas não foram tão fáceis.

 

 

Líderes sufragistas na recepção da Women’s Social & Political Union (WSPU), c.1908-1912. Fonte: Flickr / LSE Library.

 

 

O trabalho das sufragistas começou a repercutir por volta de 1900.

Nessa altura, algumas propostas de lei foram apoiadas pelo parlamento. Porém, esse suporte não fez com que elas fossem aprovadas. Ainda assim, esse já era um bom sinal.

 

 

As Suffragettes

 

 

Nesse meio tempo, crendo que a sua abordagem deveria ser mais agressiva, Emmeline Pankhurst se sentia frustrada com o NUWSS. Ela era uma fervorosa defensora do sufrágio feminino.

Desde então, Emmeline decidiu formar outro grupo de sufragistas.

Emmeline Pankhurst, 1907-1912. Fonte: Flickr / LSE Library.

 

 

Dessa forma, nascia a WSPU. O grupo se mostrava mais aberto e inclusivo.  Nesse sentido, se propunha a receber todos os tipos de mulheres, sem importar a sua condição de vida.

Para além de Emmeline, suas filhas Christabel e Sylvia também foram sufragistas muito atuantes.

 

 

Christabel Pankhurst, c.1910. Fonte: Flickr / LSE Library.

 

Com a criação do grupo em 1903, a campanha pelo sufrágio feminino se tornou cada vez mais violenta.

O seu slogan era “Deeds Not Words” (Ações e não Palavras). Ou seja, as militantes já estavam cansadas de não obter resultados apenas com o debate. Dessa forma,  defendiam uma postura mais direta e imperativa.

 

 

Ethel Smyth em uma reunião da Women’s Social & Political Union (WSPU), 1912. Fonte: Flickr / LSE Library.

 

 

A campanha das sufragistas

 

 

A nova abordagem passou a incluir, por exemplo, a greve de fome, bombas e a destruição de janelas.

 

 

Cartaz da WSPU, c.1911. Fonte: Flickr / LSE Library.

 

 

Dessa forma, as sufragistas passaram a ter quatro métodos principais de ação: manifestações não violentas, manifestações violentas, greves de fome e trabalho, e campanhas publicitárias.

Como resultado, a prisão de mulheres sufragistas na Inglaterra se tornou habitual.

Além disso, a perseguição também era motivada pela rejeição ao comunismo. Em outras palavras, o medo a esta e outras correntes de esquerda foi outro fator para que o governo controlasse as sufragistas.

Desse modo,  Emmeline Pankhurst foi presa por diversas vezes, assim como sua filha Christabel e outras participantes.

 

 

Procissão com Christabel Pankhurs, em 1911, com uma faixa onde se lê: Prisões para ganhar a liberdade para as mulheres. Fonte: Flickr / LSE Library.

 

Emily Davison

 

 

No ano de 1913, em um ato mal calculado, uma das sufragistas acabou por causar a sua própria morte.

Emily Davison, professora e militante sufragista, decidiu se jogar diante do cavalo do Rei George V durante o circuito de corrida Derby Epson Downs.

Há quem diga que Davidson pretendia fixar um dos cartazes sufragistas no cavalo. A militante do WSPU era conhecida por ser mais radical. Afinal, havia inclusive tomado ações não aprovadas pelo grupo.

A intenção de Emily era apenas chamar a atenção do monarca e do público à causa sufragista. Entretanto, o seu plano foi fatal.

 

 

Jornal Daily Sketch sobre a morte de Emily Davidson. Fonte: Wikimedia commons.

 

 

A sua morte não foi imediata. Emily Davidson passou quatro dias no hospital. No fim, faleceu pelos ferimentos causados pelo impacto.

Apesar do resultado trágico, a sua morte chamou a atenção do rei e da sociedade. Além disso, serviu para unir ainda mais as sufragistas.

Como resultado, a militante virou uma verdadeira mártir do movimento.

 

 

A Segunda Guerra Mundial e as sufragistas

 

 

A Segunda Guerra Mundial teve um grande peso para as sufragistas. O conflito, que durou de 1914 a 1918, não apenas pausou as suas atividades, bem como deu uma maior projeção ao papel das mulheres na sociedade.

 

 

Sufragista mostrando um jornal a dois oficiais britânicos e segurando um poster que diz “Nós não vamos ser prussianizados”. 1915. Fonte: Imperial War Museum.

 

 

Antes presas ao lar, as mulheres então foram recrutadas. Muitas inclusive vieram a assumir postos de trabalho essenciais.

Além de hospitais e fábricas de alimentos, algumas foram até trabalhar na indústria de armas!

 

 

Enfim, o sufrágio feminino

 

 

Posteriormente ao fim da guerra, em 1918, o parlamento inglês aprovou uma lei que permitia algumas mulheres a votar.

Para ter esse direito, elas deveriam ter mais de 30 anos e possuir uma propriedade (delas ou do marido). Ainda que não fosse geral, essa lei atingia mais de 8 milhões de mulheres. Desse modo, esse foi sim um grande avanço!

Entretanto, demoraria 10 anos mais para que direitos iguais fossem garantidos para as inglesas.

 

 

As sufragistas nos Estados Unidos 

 

 

Ao mesmo tempo, as sufragistas nos Estados Unidos recebiam uma forte inspiração inglesa. Pouco depois da Inglaterra, as mulheres norte-americanas tiveram o direito ao voto logo em 1920.

 

 

Três sufragistas contando votos em Nova York, ca. 1917. Fonte: Library of Congress / Picryl.

 

 

Todavia, já no final do século XIX  algumas intelectuais haviam começado a reivindicar direitos às mulheres.

 

 

Sufragistas norte-americanas, em 1911. Fonte: Library of Congress / Picryl.

 

 

No fim, a campanha estadunidense foi muito menos agressiva que a inglesa.

As mulheres nos Estados Unidos se dedicaram a organizar eventos e reuniões políticas. Assim, buscaram pressionar os governantes e membros do poder por meio do debate mais que do embate.

 

 

As sufragistas no Brasil

 

 

No Brasil, o sufrágio feminino veio apenas em 1932, com a reforma de Getúlio Vargas. Claro, o país vinha com algum atraso na onda de outros países, os quais há tempos já haviam atualizado o seu sistema eleitoral.

 

 

Primeiras eleitoras do Brasil na cidade de Natal, 1928. Natal, Rio Grande do Norte. Fonte: Federação Brasileira pelo Progresso Feminino / Arquivo Nacional.

 

 

O grupo de sufragistas brasileiras pertencia à elite intelectual e política do país.  De certa maneira, esse fator ajudou a acelerar a concessão do direito ao voto às mulheres por parte do governo.

Entre os exemplos de sufragistas brasileiras, temos  o caso de Celina Guimarães Viana.

Na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Celina conseguiu a permissão da justiça para votar em 1928.

 

 

Celina Guimarães Viana, a primeira eleitora do Brasil, vota em 1928 no RN. Fonte: Memorial da Demoracia.

 

 

Para tanto, a defendia reunir todos os critérios para votar: tinha a idade exigida pela lei, era alfabetizada e não possuía antecedentes criminais.

O juiz do caso então  validou o pedido, que foi aprovado pelo então governador, Juvenal Lamartine.

 

 

Posse da prefeita Luísa Alzira Soriano, Lajes, Rio Grande do Norte, 1º de janeiro de 1929. Fonte: Arquivo Nacional / Wikimedia commons.

 

 

Também no Rio Grande do Norte, Alzira Soriano foi candidata à prefeitura de Lajes. Com o apoio de Lamartine, Alzira venceu as eleições em 1929. Dessa forma, se tornou a primeira mulher a ser prefeita na América Latina.

 

 

O legado das sufragistas 

 

 

Claro, há muitos críticos à violência das sufragistas. Todavia, é certo que a sua coragem mudou o mundo.

 

 

Estátua da líder sufragista Millicent Fawcett, em Londres, com a frase: “A coragem chama a coragem em todos os lugares”. Fonte: Pxfuel

 

 

Muitas sufragistas foram presas ou mesmo mortas. Entretanto, o seu legado sobrevive, tendo gerado frutos para as gerações seguintes.

Do direito ao voto, as sufragistas passou a exigir outros direitos. A partir dele, vieram os direitos das mulheres à educação, ao trabalho e à mais participação política.

Definitivamente, a luta pelos direitos das mulheres não terminou. No Brasil e em grande parte do mundo as mulheres seguem em marcha por tantas outras questões pendentes.

 

A luta por igualdade ainda continua.

 

Por fim, um pouco de história brasileira: Lampião, Maria Bonita e a história do cangaço com fotos originais da época.

Mariana Boscariol: Mariana Boscariol é uma historiadora especialista no período moderno. Sua experiência profissional e pessoal é em essência internacional, incluindo passagens por Portugal, Espanha, Itália, Japão e o Reino Unido. Sendo por natureza inquieta e curiosa, é também atleta, motoqueira e aventureira nas horas vagas – e sempre leva um livro na bolsa!

Usamos cookies em nosso site para oferecer uma melhor experiência. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações" para ajustar quais cookies deseja aceitar ou não em nossa Política de Privacidade.

Leia mais