A moda poetiza o corpo… com esta frase Marie Rucki, diretora do renomado Studio Berçot, fechou sua palestra do último dia 15, organizada pela Escola São Paulo e Shopping Iguatemi.
Com o tema: Fontes de pesquisa: inspiração, influências e consequências, Marie e Fabrice Paineau, professor do Studio Berçot, indicaram na visão deles, para a onde a moda caminha. Foi muito interessante porque a visão deles e da escola onde trabalham é essencialmente voltada para criação, eles não vieram falar das cartelas, tecidos e formas, mas sim de uma visão mais ampla da própria sociedade, do cinema, do homem, da mulher e como a moda, é claro, permeia os movimentos atuais. A visão deles é bem conceitual. Vão ainda mais longe, não acreditam em bureaux de tendências, pelo fato de massificarem a informação e dizem que a moda não é nada, ela é na verdade o que percebemos.
Falou-se muito de barroco, “travestimento”, mistura de gêneros, homem x mulheres.
Barroco no sentido de deslocamento, que pode ser, por exemplo, um botão num lugar inusitado, uma modelagem fora do comum e também o glamour dos brilhos, do lamê, influências que segundo eles, vêm permeando as últimas coleções dos maiores criadores.
Alexander McQueen – Primavera – 2009
Barroco, é o estilo do período que vai de 1600 a 1750. Seu significado original – “irregular, contorcido, grotesco”. Os livros de história da arte dizem que o estilo barroco exprime o espírito da Contra Reforma, mas há controvérsias. Segundo H.W.Janson e Anthony F. Janson; no livro Iniciação à História da Arte, dizem que por volta de 1600, a Contra Reforma; um movimento dinâmico de auto renovação da Igreja católica, já havia concluído seu trabalho, o Protestantismo estava na defensiva e nenhum dos lados tinha mais o poder de perturbar o novo equilíbrio.
O que se pode afirmar, é que Roma foi o local de origem do Barroco e quando o papado voltou a patrocinar a produção de obras de artes com o objetivo de fazer de Roma a cidade mais bela do mundo cristão, atraiu mestres jovens e ambiciosos. Foram eles que criaram o novo estilo.
Escultura de Gian Lorenzo Bernini “ O êxtase de Santa Tereza” / Palácio Palácio de San Telmo, Sevilha, estilo barroco
Chloé primavera 2009 / John Galliano Outono Inverno 09/10
Outro ponto muito discutido, aliás, a maior parte da palestra foi o “travestimento”. Conceito baseado no grupo teatral The Cockettes que se apresentavam em São Francisco, na época da emancipação gay, o filme Milk com Sean Penn também é referência desta temática.
The Cockettes
Trata-se da linguagem e atitude que vinham do underground da sociedade. Segundo Marie, o grupo The Cockettes influenciou também Andy Warhol.
The cockettes (fotos Bud Lee)
John Galliano – Primavera 2008
Na verdade, hoje, não necessariamente o “travestimento” aparece com temática sexual, mas no campo das idéias, é como se os criadores colocassem as idéias em um mix, obtendo como resultado a criatividade, a alegria, a festa, a ingenuidade daquela época.
Seria como num circo, o jogo de espetáculos, o forte contra o fraco, as feras e o domador, a moça delicada que alimenta os leões.
Alexander McQueen – Outono Inverno 09/10
A foto acima do McQueen mostra como o criador faz este mix de idéias, colar africano, boca inspirada nas artes plásticas, um casaco com o clássico “pied poule” e o filme plástico enrolando tudo isso. Esse exemplo foi usado por Marie para ilustrar como o “travestimento” entra na criação de moda, neste caso como uma metamorfose.
O filme “Blonde Venus” de 1932, com Marlene Dietrich dirigido por Josef von Sternberg foi citado por Marie também como exemplo de “travestimento”. No filme, a personagem de Marlene se veste de Gorila e canta na noite para conseguir dinheiro para um tratamento médico ao seu marido. Existe a temática do forte x fraco, ela se traveste de gorila, se traveste de cantora por um motivo nobre, existe um ar romântico também.
Marlene Dietrich, 1932 / John Galliano primavera 2009
Homem x mulher, mistura de gêneros… há algum tempo vemos o guarda roupa masculino presente no feminino, Marlene Dietrich fez vários papéis onde tinha um figurino nitidamente masculino, poderia ser considerada a musa inspiradora dos nossos tempos?
Marlene Dietrich / Desfile Marc Jacobs Outono Inverno 08/09
Marlene Dietrich / Campanha de Marc Jacobs, 2008
No fim da palestra, indicaram uma revista francesa que é o resumo de tudo que eles falaram no sentido da estética da moda de hoje, a ENCENS, publicação dedicada à independência e criação. Abaixo algumas imagens. Existe uma mistura de passado e presente nos editorais, fica difícil saber o que é anos 70, 80 e 2009!
Encens magazine, France ©
MARLENE DIETRICH in Blonde Venus
Milk Trailer 2008
Fontes:
JANSON H. W, Iniciação a História da arte / H.W Janson, Anthony F. janson; [tradução Jefferon Luiz Camargo] – 2 edição – São Paulo : Martins Fontes, 1996.
Palestra dia 15 de abril de 2009 no shopping Iguatemi: Fontes de pesquisa: inspiração, influências e consequências, Marie Ruckie e Fabrice Paineau