A Moda e o seu Potencial de Mercado

A palavra moda carrega consigo um fetiche relacionado à elegância, porém, um aspecto intrigante e pouco comentado por aqueles que se encantam por sua magia, é sua capacidade gerar riquezas através do sistema de industrialização. Vamos olhar a moda como confecção e pensar no seu poder dentro da economia brasileira.

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As dimensões atuais da indústria de confecção no Brasil impressionam, estamos no 4º posto entre os maiores produtores mundiais. O que mais chama a atenção nessa industria nascida a poucas décadas atrás, é que se alastrou por todo país, extinguindo mercados enormes como os de venda de tecidos a metro e o de máquinas de costura doméstica, substituindo quase que totalmente a confecção artesanal realizada por alfaiates, costureiras e pelas próprias “donas de casa”.

Aqui, com cem anos de distância no tempo, chegamos ao mesmo ponto que a fabricação de roupas prontas alcançou dentro na economia capitalista durante a revolução industrial, na Europa do século XIX.

A indústria de confecção desmantelou um modo de construir vestuários e uma ordem social que sobrevivia dele, porém, demarcou novas fronteiras no campo das economias nacionais ao gerar um sistema sólido de trabalho e de mercado.

Hoje, temos que pensar a indústria da moda como geradora de trabalho, de bens e principalmente, de um sistema comercial que alimenta tanto a própria cadeia têxtil-confecção, como as áreas da mídia, que vivem de gerar informação sobre a moda e os modos elegantes de se vestir e de consumir diferentes outros produtos, que pertencem ao mundo da moda, tais como as revistas, a indústria de cosméticos e a cultura da saúde voltada para a beleza.

O mercado consumidor brasileiro apresenta diferenças regionais em seus hábitos de consumo e em seu poder de compra, ligados principalmente à formação cultural, ao clima e ao estágio de desenvolvimento econômico de cada região. Estes fatores têm tido influência sobre a oferta e a demanda regional de artigos têxteis e confeccionados.

Há uma razoável concentração regional da produção. Segundo a ABRAVEST, a região sudeste é responsável por 50,5% da produção nacional de vestuário. A região Nordeste hoje detém 21,8% da produção nacional. Apesar da crescente importância da região Nordeste, as regiões Sul e Sudeste concentram grande parte da produção, juntas participam com 80%, onde os estados de São Paulo e Santa Catarina são os principais destaques.

E são também as regiões mais industrializadas e desenvolvidas, como o Sudeste e o Sul, que respondem por participações no consumo, superiores as de suas populações, por conta do maior poder de compra de seus consumidores.

A projeção da produção de peças de vestuário para 2006 é um aumento de 18,6%, atingindo 889 mil toneladas, e para 2008, é de chegar a 1,051 milhões de toneladas.

A explosão do mercado de roupas prontas (confeccionadas industrialmente), no Brasil, se deu a partir da década de 60 e início dos anos 70, acompanhando a industrialização do país, que provocou a migração da população camponesa para os grandes centros urbanos do país e a entrada das mulheres no mercado de trabalho.

Essas transformações sócio-econômicas criaram as condições necessárias para a consolidação da nova indústria, já que resultaram na formação de um amplo mercado de consumo de massa, ao mesmo tempo em que eliminava o tempo disponível para a confecção doméstica.

Atualmente, a indústria nacional apresenta as mesmas características da estrutura internacional, grande fragmentação e diversidade de escalas e técnicas produtivas. O setor de confecções no Brasil é formado por um numeroso grupo de pequenas e médias indústrias, dedicadas à produção de artigos do vestuário, artigos decorativos e produtos técnicos.

Cerca de 71% das empresas nacionais são de pequeno porte, e respondem por apenas 11% do total da produção de confeccionados. As confecções de grande porte, que representam pouco mais de 2,5% do total das industrias, dominam 40% do mercado. A maior parcela da produção, provém das médias empresas, que respondem por 50% dos volumes produzidos.

A sobrevivência das pequenas e microempresas é viabilizada por aspectos que marcam o consumo de produtos de moda no país. A diversificação da demanda, com uma variada gama de tribos consumidoras de vestuário e agregados, cria nichos de mercado antieconômicos para as empresas de grande porte, e também, a flexibilidade exigida pela indústria do vestuário, submetida a um grande número de modelos durante todo o ano, devido ao lançamento das coleções de modinha, são fatores que favorecem as pequenas empresas, por terem maior capacidade de ajuste no uso de maquinários e alocação de mão de obra e, por sua simplicidade administrativa.

O elevado número de micros e pequenas empresas é justificado pelo fato de que, o baixo custo da mão-de-obra ainda exerce grande influência na decisão de investir e nas estratégias de localização dos empreendimentos.

A heterogeneidade da estrutura industrial brasileira é amplificada pela própria heterogeneidade do mercado consumidor, no qual estão presentes segmentos com rendimentos, padrões de informações e exigências totalmente diferenciadas.

No Brasil, operam cerca de 17.400 unidades fabris no setor (em escala industrial), gerando 1,2 milhões de empregos diretos e movimentando mais de US$22 bilhões (de produção), com uma participação superior a 4% do PIB. Suas dimensões reproduzem a amplitude do mercado consumidor brasileiro, e dão conta da importância da moda na formação da riqueza econômica e social do país. Dentre os seus principais segmentos, há que se destacar o papel do vestuário, que responde pelo maior e mais representativo negócio da indústria de confecções têxteis do Brasil.

A redução das tarifas alfandegárias, a partir do início da década de 90, expôs a indústria à concorrência com países mais competitivos, sobretudo os asiáticos. Na lista de produtos importados, figuravam não só artigos muito baratos, vindos da China e Taiwan, mas também artigos de marcas famosas e de melhor qualidade.

A mudança nos níveis de competitividade do mercado forçou a empresa nacional de vestuário a iniciaram um processo de reestruturação, em curso até hoje. As companhias passaram a terceirizar a produção parcialmente ou totalmente, nas chamadas facções (empresas muito menores, muitas vezes informais); passaram a aplicar seus esforços no fortalecimento da marca, através da melhoria do produto, da publicidade e do desing, e muitas passaram a atuar no varejo de moda, inaugurando lojas próprias e franquias.

Hoje, no mercado mundial de moda os estilistas brasileiros começam a ganhar prestígio e aumentam mais e mais seus pontos de venda no exterior. Nossa moda é altamente diferenciada, voltada para um modelo de mulher sensual, suave, vaporosa e colorida. Nossa moda se opõe à rigidez das cores, tecidos e formas tanto da moda européia quanto da japonesa.

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A autora, Queila Ferraz Monteiro, é estudiosa de História da Moda, é consultora de design e gestão industrial para confecção e Professora de História da Indumentária e Tecnologia da Confecção dos cursos de moda da Faculdade Belas Artes, Senac Moda e Universidade Anhembi Morumbi. queilamoda@yahoo.com.br .

Queila Ferraz: Queila Ferraz é historiadora de moda e arte, especialista em processos tecnológicos para confecção e consultora de implantação para modelos industriais para a área de vestuário. Trabalhou como coordenadora Geral do Curso de Design de Moda da UNIP, professora da Universidade Anhembi Morumbi e dos cursos de pós-graduação de Moda do Senac e da Belas Artes.

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