A moda afro-carioca feminina do Século XIX

Um verdadeiro Fashion Rio acontecia nas ruas cariocas no decorrer do século XIX. Escravas e libertas de diferentes nações “desfilavam” seus looks com charme, sensualidade e muita criatividade.

Quando falamos em escravidão, logo pensamos em sofrimento certo? Errado! Este artigo nos leva além dos duros sinais desta condição, percebendo e analisando toda beleza inerente aos que foram o arcabouço da sociedade do Rio de Janeiro.

Das diversas produções criadas por nossas “it blacks” nos deteremos apenas a quatro looks que certamente causaram inveja em muitas “sinhás”.

O modo de vestir das cativas expressava não somente a cultura de sua nação, status ou fonte de renda pessoal, mas também a riqueza e posição social de seus senhores. Logo, quanto mais exuberantes, mais refletiam as posses de seu “dono”.

É o caso das “Negras Bonecas” – espelhos do status sócio econômico de suas senhoras, vestindo roupas europeizadas e desconfortáveis, essas escravas mais pareciam bonecas do que mulheres.


As “Negras Bonecas
expressavam a riqueza e posição social de seus senhores

Diversidade e criatividade marcaram presença na moda das cativas e negras libertas no século XIX. Visualizamos essa profusão de ideias nas vestimentas das “Negras Multiculturais” que montavam seus looks com traços europeus, nativos e brasileiros. O resultado era uma produção criativa com ousadia e elegância bem peculiar das negras afro cariocas.

Os homens da época certamente ficaram enlouquecidos com a sensualidade e intrepidez das “Negras Semidesnudas”, com suas blusas largas deslizando pelos ombros, deixando a mostra seis seios fartos e reluzentes como uma pedra ônix. Essas mulheres tinham que trabalhar na área urbana como ambulantes, logo suas roupas deveriam ser funcionais, mas isso não ocultava suas belas formas e provavelmente despertava ira, insegurança e inveja de suas senhoras.


Os homens da época certamente ficaram enlouquecidos com a sensualidade e intrepidez das “Negras Semidesnudas

Ostentando o seu poder de sedução, riqueza e independência em suas joias. As escravas e libertas adoravam sair pelas ruas do Rio de Janeiro exibindo suas rendas pessoais. Com grandes brincos, colares, braceletes e anéis delatavam seu status perante a sociedade carioca.

Mas como nem tudo que reluz é ouro… as que não possuíam sua própria fonte de renda e não pertenciam a senhores ricos adornavam-se com as famosas bijuterias feitas de contas ou cobre.

Fortes tendências vigoraram no decorrer do século XIX criadas e aderidas por nossas “it Blacks” com uma variedade de cores, volumes e formas essas mulheres, buscaram na moda um meio de comunicar (para a sociedade da época) visualmente a beleza oculta em suas vidas assoladas pela condição de bens, propriedade, objeto…

Obs: As denominações das negras ( bonecas, multiculturais e jóias) foi baseada na exposição Mulheres – modas + modos Reais no rio de dom João VI, realizada pela Prefeitura do RJ na Casa França Brasil em 2008.

Por Simone Cruz

Simone Cruz é historiadora e docente na área de moda (História da Arte / História da Moda e Produção de Moda) . Desenvolve análises sobre a moda em diferentes âmbitos como: sociológico, histórico e literário.
E-mail: simonecruz10@hotmail.com

Simone Peres Cruz: Simone é graduada em História e cursou MBA em Produção de Moda. É docente na área de história da moda e consultora em produção de moda, imagem e estilo.

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