Evita Peron e a sua influência na Moda do século XX

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Maria Eva Duarte de Peron, Evita, que chegou a ser primeira dama da  Argentina e se tornou um verdadeiro ícone do país, nasceu em 1919 e faleceu em 1952. O francês Christian Dior, um dos mais famosos criadores de moda, gostava de afirmar a seu respeito: “Eu vesti apenas uma rainha: Eva Peron!”

Enquanto ela própria, dona de extraordinária força de vontade e obstinação que a  conduziram, da pobreza, até onde chegou, afirmou em seus tempos de luta, quando saiu de casa aos 15 anos e tentava ser atriz teatral e de rádio, o que conseguiu com muito esforço: “Só me casarei com um príncipe ou um presidente!”


Christian Dior era seu estilista favorito. Aqui um dos vestidos mais emblemáticos de Evita desenhado por ele

O seu porte natural régio e a convicção com que, na qualidade de primeira dama, abraçava e utilizava a alta costura francesa faziam dela um ícone da moda, ao mesmo tempo em que, como esposa do Presidente argentino Juan Domingo Peron, dedicava-se integralmente a amparar os mais necessitados, por ela chamados “los descamisados”. Até nessa denominação havia uma referência à roupa! Chegava a trabalhar, recebendo os pobres seus protegidos, para atender às suas necessidades, por mais de dezoito horas seguidas, na Fundação Eva Peron, que criou para arrecadar donativos para os mais carentes, apresentando-se ao mesmo tempo magnificamente vestida, coberta de diamantes, pois dizia que os seus pobres necessitavam de vê-la assim, para se sentirem mais ricos e terem o direito de sonhar.

 A expressividade e força de seus gestos eram marcantes

Como intérprete da alta costura francesa na América Latina, os trajes de festas e recepções a que comparecia com Peron eram magnificentes, marcando uma era de glamour que chegava até ao Brasil através das páginas coloridas da nossa revista maior de então, O Cruzeiro. Foi através de suas fotos na imprensa que muitos brasileiros comuns tiveram contato com a alta costura francesa, conhecendo nomes de estilistas como Dior, vindos através das reportagens sobre a vida social de Buenos Aires, que, nas décadas de 1940 e 50 era conhecida como a Paris da América Latina.

Apesar de a sua curta vida ter durado apenas 33 anos, Eva Peron é até hoje reverenciada na Argentina como um ícone político, junto com a figura do marido, Peron. Sua sepultura, no cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, permanece ornada de flores e velas, como se ela tivesse morrido hoje, sugerindo também um culto como a uma santa. Isso ainda ocorre, depois de o seu corpo, embalsamado, ter permanecido por muitos anos escondido, durante a vigência do governo militar na Argentina, que pretendia, assim, evitar justamente esse culto.

[http://www.youtube.com/watch?v=X88Cg_3CXDU]

Infância

A idolatrada mãe dos pobres argentinos nasceu na cidade de Los Toldos, no pampa argentino, filha ilegítima do proprietário de terras, Juan Duarte, e de Juana Ibarguren, jovem pobre muito bela, que ele comprou à família em troca de uma carroça e um burro. Nasceram cinco filhos dessa união, sendo Eva a caçula, nascida em 7 de maio de 1919. Ela, porém, quase não conheceu o pai, que pouco tempo após o seu nascimento abandonou sua mãe, voltando ao casamento e aos filhos legítimos.

Dona Juana enfrentou bravamente os problemas e dificuldades, criando os filhos. Quando Eva estava com 11 anos, mudou-se com os filhos para a vila de Junín, na província de Buenos Aires, onde a menina forjou seus ideais e sonhos de grandeza, ouvindo as novelas de rádio, lendo as revistas de cinema e assistindo aos filmes de Hollywood. Talvez isso representasse uma fuga à terrível realidade de privações e humilhações que sua condição de filha ilegítima lhe acarretavam, naqueles tempos em que os preconceitos eram muito mais vivos e poderosos na sociedade do que nos dias atuais.

Adolescência e Carreira Artística

Com 15 anos, pálida e morena, em 2 de janeiro de 1935, ela partia para a capital, Buenos Aires, onde sofreu terrivelmente, batendo à porta dos teatros, até consagrar-se como atriz radiofônica, em 1939, vivendo no rádio as heroínas sentimentais das novelas que embalaram sua infância e adolescência. Foi seduzida por diretores teatrais, viveu amores fugazes, mas nunca cedeu à insistência da família, que aconselhava a sua volta a casa.

Os folhetins radiofônicos de que participava tinham uma tônica nacionalista, prefigurando o ambiente e as ideias que já se impunham na Argentina, que se concretizaram em 4 de junho de 1943, com um golpe de estado que instaurou no país um governo militar, de que fazia parte o GOU, Grupo de Oficiais Unidos. Nele se integrava o Coronel Juan Domingo Peron, que já gozava de crescente influência popular.

Mas foi com o Coronel Anibal Imbert, diretor dos Correios e Comunicações, que mantinha o rádio em estrito controle, que Eva Duarte iniciou um romance, o que lhe rendeu grandes papéis de heroína em radionovelas históricas. Ela interpretou muitas rainhas nesses folhetins, como Catarina, da Rússia e Elizabeth, da Inglaterra, tornando-se conhecida e admirada pela população, enquanto, inconscientemente, se preparava para o papel de rainha.

 
Evita era morena e começou sua carreira artística aos 15 anos. Foi seduzida por diretores teatrais, viveu amores fugazes, mas nunca cedeu à insistência da família, que aconselhava a sua volta a casa.


Ela interpretou muitas rainhas nos folhetins do rádio, tornando-se conhecida e admirada pela população, enquanto, inconscientemente, já se preparava para o papel de rainha na vida real. Em 1943, aos 24 anos ela já  havia alcançado o topo de sua profissão e estava entre as atrizes mais bem pagas do país.

Evita Peron – Primeira Dama da Argentina

Um desastre natural aproximou Evita do Coronel Peron, que, desde que a conheceu, só teve olhos para ela: em 15 de janeiro de 1944 houve um forte terremoto que arrasou a cidade argentina de San Juan, onde Peron, como Secretário do Ministério do Trabalho, liderou o apoio às vítimas. Também os artistas se uniram em prol da mesma causa,  promovendo um grande espetáculo beneficente em prol dos desabrigados, no estádio Luna Park, além de uma caminhada, pedindo donativos à população, as atrizes junto com o Coronel Perón, através da “Calle Florida”, Rua das Flores, em Buenos Aires, onde, pela primeira vez Peron pode ter visto Evita.

Mas foi no espetáculo, à noite, que os dois se conheceram e tiveram súbita afinidade, pois Peron era também filho ilegítimo. Viúvo de 48 anos, encantou-se por Evita, vendo nela, também seu potencial como estrela do rádio. Logo Evita apaixonou-se pela causa política de Peron, demonstrando um fervor quase religioso, o que era sumamente conveniente para um líder político em ascensão. Após muitas peripécias políticas, em 21 de outubro de 1945 Peron se casou com Evita. Em 1946, promovido a General, foi eleito Presidente da Argentina, por maioria esmagadora de votos e assumiu o poder.

Com extraordinária intuição, Evita começou a assumir o papel de Mãe dos Necessitados, ao mesmo tempo em que se aperfeiçoava socialmente, distanciando-se de seus hábitos ligados às origens incultas.  Em 1944 havia pintado o cabelo de louro, para um papel teatral e essa mudança a fez ficar muito mais atraente, além do que, na Argentina da época, cabelo louro era símbolo de status.

Em 1947, foi convidada especialmente para uma visita pelos governos da Espanha, França, Itália e Suíça, numa viagem que durou três meses. Aprendeu muito e encantou-se pela alta-costura francesa, voltando à Argentina transformada, com uma elegância perfeita. Seu gosto inclinava-se para os vestidos muito enfeitados, que, na Maison Dior, eram considerados, por alguns, de gosto discutível.

A partir de 1948 passou a dedicar-se, cada vez com mais afinco, à causa dos necessitados, trabalhando na Fundação Eva Peron durante cada vez mais horas diárias, o que, sem dúvida, contribuiu para seu enfraquecimento físico e morte precoce, aos 33 anos, de um câncer no útero, que se recusou a tratar a tempo. Evita morreu a 26 de julho de 1952, causando muita dor e grande comoção entre os mais pobres da Argentina. Por 15 dias o povo desfilou perante seu caixão com tampa de cristal.

Em 1950 a fotógrafa alemã Gisele Frund foi à Argentina fotografar Evita, que lhe abriu as vitrines de seus vestidos, sapatos, chapéus, joias e peles. Divulgadas na revista Life, as fotos se tornaram famosas, sendo um dos mais importantes acervos de moda do século XX.

Leia também: Mitos e fatos de Eva ‘Evita’ Duarte de Perón (e um pouco de epígrafes e ego-cartografia)

Frases famosas de Evita

“O país não pertence a nenhuma força. País é o povo, e nada pode superar as pessoas sem pôr em perigo a liberdade e a justiça”

“Se este povo me pedisse a vida, lhe daria cantando, porque a felicidade de um só descamisado vale mas que toda minha vida”

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“Quando escolhi ser Evita sei que escolhi o caminho do meu povo”

“A violência nas mãos do povo não é violência mas justiça”

“A única coisa que se move é a inveja. Não tenha medo: a inveja de sapos nunca poderia cobrir a canção de rouxinóis”

“Chegou a hora da mulher que compartilha de uma causa pública e morreu a hora da mulher inerte, que tem valor apenas numérico dentro da sociedade.”

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“Eu tenho uma coisa importante, que é o meu coração, ele queima em minha alma, dói em minha carne, e inflama os nervos: esse é o meu amor pelas pessoas e Peron. ”

“Não há nada mais forte do que uma aldeia. Tudo o que é preciso é decidir ser justo, livre e soberano”

“Eu já disse isso outras vezes, eu sou o pequeno pardal em um enorme bando, a quem Peron, o condor que domina as alturas, ensinou a voar perto do céu”

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“Meu maior medo na vida é ser esquecida”

“Voltarei e serei milhões”(Eva Peron)

O estilo de Evita Peron

Ícone de elegância, Eva Duarte Peron, desenvolveu um inegável senso de moda. Seu estilo representava com perfeição o cargo de primeira dama e, junto com sua beleza e carisma, teve papel importante na construção do mito Evita.

Era adepta da alta costura e se vestia com designers e costureiros de Paris, incluindo Christian Dior, Pierre Balmain, Jacques Fath, Marcel Rochas, entre outros. Dior era seu estilista favorito e gostava de afirmar a seu respeito: “Eu vesti apenas uma rainha: Eva Peron!”

Evita foi uma mulher de contrastes, saiu da pobreza para alcançar o posto de primeira dama do país, essa característica marcou seu estilo que contrapunha força, glamour e feminilidade.

Seu guarda roupa pode ser dividido em três categorias: o  influencia militar típica dos anos 40 que  figurava em seus looks demonstrando seriedade e poder. New look, estilo que  Evita amava com toda sua  femininilidade permeando vestidos extremamente delicados e elegantes,  e por fim, os deslumbrantes vestidos de festa que eram puro glamour.

Ela adotou em 1940 seu penteado clássico – um coque apertado  – que lhe deu uma aparência política mais “séria”  e virou sinônimo do seu nome.


O coque apertado  lhe deu uma aparência mais “séria”  e virou sinônimo do seu nome

Os vestidos

Uma das características do estilo de Evita era o gosto por estampas florais e pois (bolinhas). Seus looks estavam sempre a altura do cargo, ela era sinônimo de bom gosto e elegância. O new look de Dior estava entre suas silhuetas favoritas.

 
Estampas e new look marcam o estilo elegante de Evita, que expressava poder e feminilidade

Influencia Militar

Casada com militar e tendo em vista a carreira política, Evita incorporou em seus looks a sobriedade do militarismo, característica dos anos 40, período de guerra mundial. Mas, ela não abriu mão do glamour e da feminilidade contrapondo bblazers com  rendas e detalhes super femininos, entre eles o peplum.

Evita contrapunha a sobriedade dos ternos e looks de influência militar, com itens extremamente femininos como rendas e estilo peplum na foto abaixo

O s vestidos de baile

Os vestidos de baile de Eva Perom eram deslumbrantes, sinônimos de glamour e dignos de uma rainha. Seu gosto inclinava-se para os vestidos muito enfeitados, que, eram considerados, por alguns, de gosto discutível.

Ela era polêmica … mas seu senso de moda é inegável. Um fato marcante é que Franco, então ditador da Espanha, deu 50 vestidos, que representam cada província espanhola durante a sua visita em 1947. Os vestidos foram feitos um a um, especialmente criados para ela. Xales, joias, sapatos, saias elaboradas, e lenços bordados à mão carregam as iniciais de Perón e mensagens sentimentais como “Nós amamos você Evita”, completou cada traje. Deve ter sido um momento triunfal para uma mulher cuja mãe havia sustentado sua família, com o trabalho de costureira em uma cidade do interior apenas algumas décadas antes.  Veja o vídeo aqui, via I´m Obsessed With This.


O vestidos de baile de Evita eram famosos


Seu gosto inclinava-se para os vestidos muito enfeitados, que, eram considerados, por alguns, de gosto discutível


Eva Peron em vestido de Jacques Fath. Evita era puro glamour

Os Chapéus e Acessórios


Evita adorava chapéus e usava-os bem!


Alguns dos chapéus de Eva Peron 

Museu Evita na Argentina tem uma grande seleção de pertences pessoais de Eva incluindo muitos dos seus belos vestidos e vestidos de baile

 A foto acima, com vestido de corte clássico, adornado por um broche, antes não se encontrava na internet: faz parte do acervo fotográfico do museu municipal da cidade de Barreiras, no oeste da Bahia, pois é dedicada por Evita ao impulsionador do progresso daquela região, o jornalista Geraldo Rocha, brasileiro que teve papel relevante, na época, junto ao governo de Peron.

 
As joias deslumbrantes, assim como peles e chapeus marcavam seus estilo de diva e primeira dama
A expressividade d0s gestos eram marcantes, era como se ainda estivesse nos palcos

Consagração e  Morte

Evita Perón se tornou lenda bem antes de sua morte. Sua autobiográfia La Razon de Mi Vida (A Razão de Minha Vida), escrita no final de 1951, depois que ela soube que tinha câncer,  foi um best-seller na Argentina e no exterior. Cerca de 50 milhões de cópias foram impressas, vendendo 150 000 cópias no primeiro dia de publicação. Uma edição em árabe foi distribuída no Egito e em todo o Mediterrâneo. Onde quer que as pessoas estavam elevando-se para enfrentar o imperialismo, o livro de Evita aparecia.

Foi uma figura que rompeu todos os precedentes históricos e definiu uma modalidade política nunca antes vista, promoveu o reconhecimento dos direitos dos trabalhadores e das mulheres, incluindo o voto das mulheres, além de  realizar um extenso trabalho social. Durante o breve período, ao lado de Perón, foi o centro de um crescente poder e se tornou a alma do movimento peronista, em sua essência e em sua voz. Foi adorada por milhões de argentinos.

Eva Peron em votação de sua cama de hospital – primeira vez as mulheres votaram na Argentina. “Eu exigi mais direitos para as mulheres, porque eu sei o que as mulheres tinham de aturar.” (Eva Peron)

Por Ignez Pitta e Denise Pitta

Denise Pitta: Denise Pitta é digital influencer e empreendedora. Uma das primeiras blogueiras de moda do país, é idealizadora do Fashion Bubbles, e também CEO do portal que já recebeu mais de 110 milhões de visitas. Estilista, formada em Moda e Artes Plásticas, atuou em diversas confecções e teve marca própria de lingeries, a Lility. Começou o blog em Janeiro de 2006 e atualmente desenvolve pesquisas de Moda Simbólica, História e Identidade Brasileira na Moda e Inovação. Além de prestar consultoria em novos negócios para Internet. É apaixonada por filosofia, física quântica, psicanálise e política. Siga Denise no Instagram: @denisepitta e @fashionbubblesoficial
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