A época de ouro da TV Record

A TV Record – canal 7, de São Paulo foi inaugurada em 27 de setembro de 1953, com os mais modernos equipamentos de televisão existentes,…

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A TV Record – canal 7, de São Paulo foi inaugurada em 27 de setembro de 1953, com os mais modernos equipamentos de televisão existentes, até então. Pertencente ao grupo empresarial radiofônico de Paulo Machado de Carvalho, a emissora surgiu como a terceira existente na capital paulista, ao lado da TV Tupi e da TV Paulista. Desde seu início, dedicou-se, intensamente, a produção de programas musicais, embora, é claro, apresentasse todas as outras atrações que compõem uma emissora de televisão.

O primeiro grande show musical produzido foi Grandes Espetáculos União, sob o comando de Blota Jr. e Sandra Amaral. Muitos outros surgiram, desde super produções, com a presença de orquestras, corpo de bailes, grupos musicais e muitos cantores, até programas intimistas do tipo um cantor, um piano e um violão. Os produtores desses programas foram Eduardo Moreira, Roberto Corte Real, Waldomiro Barone, Nilton Travesso e outros.  

 Persistente no seu propósito musical a emissora chegou, inclusive, a contratar cartazes internacionais como Louis Armstrong, Sarah Vaughan, Marlene Dietrich, Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr., Charles Aznavour e outros, para curtas temporadas, do final dos anos 50 até meados da década de 60, intercalando-os com a presença de artistas nacionais.

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Os anos 60 foram muito inovadores para o veículo televisão. Além da industrialização iniciada com o vídeo tape, o público televisivo cresceu bastante, em razão dos aparelhos de TV serem construídos pela indústria nacional, a custo mais acessível. A telenovela passou a alcançar índices espantosos de audiência e surgiram os grandes comunicadores de
auditório.

A partir de 1966, a Televisão Record, aproveitando sua experiência em atrações musicais, a popularidade ascendente dos programas de auditório e os novos talentos revelados, em 1965, pelo I Festival de Música Popular Brasileira, realizado pela TV Excelsior, produziu programas de valorização da música brasileira.

O primeiro a ser realizado foi O Fino da Bossa, com o comando de Elis Regina, cantora que havia conquistado o público com sua maneira personalíssima de interpretação e de Jair Rodrigues, cantor que despontava para o sucesso.O Fino da Bossa teve como objetivo exibir a moderna música popular brasileira, a MPB. Nessa época fazia sucesso desde o gênero bossa nova até a música de “protesto”, salientando as injustiças sociais do país. Assim, o programa exibia Badem Powell, Vinicius de Moraes, Silvinha Teles, Agostinho dos Santos, Maysa, Elza Soares, Nara Leão, Alaíde Costa, Geraldo Vandré, Wilson Simonal, Claudete Soares, Edu Lobo e lançou artistas como Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Toquinho, Maria Bethania, Theo de Barros, Zimbo Trio e tantos outros. O programa despertou grande interesse, devido a importância de suas atrações. Para prestigiar o samba mais tradicional, a emissora criou o programa Bossaudade que, sob o comando de Eliseth Cardoso e de Ciro Monteiro, trazia convidados como Silvio Caldas, Araci de Almeida, Orlando Silva, Isaurinha Garcia, Dalva de Oliveira, Miltinho, Dircinha e Linda Batista, Marlene, Nora Ney, Cauby Peixoto, Ângela Maria e muitos mais. 

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 Como a programação musical estava atendendo a gostos de gerações específicas, era preciso prestigiar também a música jovem. Assim, com apresentação de Roberto Carlos, cantor que se iniciava, surgiu o programa Jovem Guarda reunindo todos os compositores, cantores e conjuntos do rock e do ié-ié-ié brasileiros, tais como: Ronnie Cord, Jet Blacks, Os Incríveis, Erasmo Carlos, Wanderléa, Trio Esperança, Rosemary, Jorge Ben , Ronnie Von, Martinha, e outros que foram surgindo. Esses três programas fizeram com que a TV Record ficasse em primeiro lugar de audiência, no horário de suas apresentações, por muito tempo. Jovem Guarda, aos domingos à tarde, conseguiu, algumas vêzes, índices de 90% , no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. 1966 foi o ano do início do período áureo da Record (que durou até 1969). Com muita audiência e atraindo grande investimento publicitário, a emissora resolveu produzir outros programas, sempre com a presença de auditório. 

Para conquistar o horário nobre do domingo, às 20h., a Record trouxe de volta à televisão a cantora e apresentadora Hebe Camargo que, tendo sido uma das apresentadoras mais comunicativas da década de 50 na TV Paulista, havia deixado a televisão. A volta de Hebe com um programa de entrevistas, atrações musicais, debates de assuntos polêmicos, desfiles de moda e outras variedades, conquistou rapidamente o público e tornou-se, por três anos, um dos maiores sucessos da televisão em São Paulo. 

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 Continuando as iniciativas, a emissora realizou o II Festival de Música Popular Brasileira. Seu êxito surpreendeu até seus organizadores. Desde o princípio, duas composições dividiram a opinião pública e o meio artístico: Disparada, de Theo de Barros e Geraldo Vandré, e A Banda, de Chico Buarque. A repercussão se espalhou pelo país e, pela primeira vez, jornais do Rio de Janeiro deram manchetes sobre um programa de televisão de São Paulo. As manifestações dos grupos envolvidos foram tão ostensivas que o júri resolveu declarar o empate das duas concorrentes. Essa popularidade serviu para consagrar a idéia e dar origem a diversos outros festivais da canção, inclusive internacionais. Famosas canções como Ponteio, Roda Viva, Domingo no Parque, Sem lenço-Sem documento, Lapinha, Upa Neguinho, A Praça e diversas outras foram consagradas nos programas da emissora, assim como inúmeros compositores e cantores. (…)

Tendo um famoso e milionário elenco musical, a emissora resolveu contratar, também, grandes cartazes em outros gêneros, que foram sendo distribuídos pelos diversos programas, além de exibirem-se, todos juntos, no famoso Show do dia 7, grande espetáculo mensal de variedades, assim denominado em razão do número do canal da emissora. No humorismo, o mais famoso programa criado foi Família Trapo, com o comando de Ronald Golias e Otelo Zeloni e texto de Carlos Alberto de Nóbrega e Jô Soares. Veiculado aos sábados, com a presença de auditório, dominou a audiência do horário, de 1967 a 1969, e marcou época na história da televisão como um dos melhores programas do gênero.  

 Com altos índices de preferência popular, a TV Record resolveu investir também em telenovela, ante o sucesso desse gênero nas outras emissoras como Tupi, Excelsior e Globo. Apostando na audiência cativa de seus shows, a emissora contratou, em 1969, um elenco dramático famoso e caro, encabeçado por Geórgia Gomide, Fulvio Stefanini e Altair Lima. Muitas novelas foram realizadas, algumas com êxito, como: Algemas de Ouro, As Pupilas do sr. Reitor ou Os Deuses estão Mortos. Mas o retorno popular não foi o desejado e a emissora se prejudicou, investindo muito dinheiro nessas realizações.

Apesar da “escalada musical” com a produção de tantas canções excelentes, que até hoje constituem um dos mais preciosos acervos do gênero, dos bons programas de humor e dos shows de variedades, a programação da TV Record começou a sofrer um grande desgaste, por repetir, exageradamente, sempre o mesmo esquema com as mesmas atrações, ano após ano, de 1966 a 1969, sem uma política de preservação dos artistas ou de renovação dos programas. (…)

Da mesma maneira repentina que a audiência começou a subir em 1966, começou a cair a partir de 1969. A emissora percebeu, então, que não podia mais manter a política de “Templo da Música Popular Brasileira” pois os telespectadores já não se sentiam atraídos nem mesmo pelas novidades dos Festivais, chamados, pela imprensa, de “festivaias”. O elenco milionário, começou a ser dispensado, pois o dinheiro estava ficando escasso, por três fatores bastante decisivos: falta de interesse do patrocinador, má administração financeira e o prejuízo causado por quatro incêndios. No primeiro motivo, só há interesse em patrocinar um programa quando ele dá audiência e o retorno financeiro é compensatório.

No  segundo motivo, os responsáveis pela administração da emissora, sem maior visão empresarial e confiando demais no sucesso obtido, não se precaveram financeiramente e não adotaram uma política de preservação dos valores artísticos, exibindo-os até a exaustão.

No terceiro motivo concentra-se a razão mais concreta da derrocada econômica que se seguiria, visto que os incêndios ocorridos, alguns considerados propositais, praticamente, arrasaram a emissora. De 1966 a 1969, foram destruídos: estúdios, rouparia e maquiagem, arquivos de fitas de vídeo, equipamentos de telecine, câmeras e aparelhos de vídeo-tape, na sede do bairro do Aeroporto; a torre de sustentáculo da antena de transmissão, num prédio da av. Paulista; e os teatros Record, na rua da Consolação e Paramount, na av. Brigadeiro Luiz Antonio. 

Na década seguinte, com todos os programas de sucesso encerrados, a televisão Record iria sofrer uma grave crise financeira, mantendo-se no ar às custas de filmes antigos, reprises de seriados e programas de baixo custo.

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Sem maior significação televisiva, sobreviveu até a década de 90, quando foi vendida para o grupo empresarial Igreja Universal do Reino de Deus, a quem pertence até a atualidade, constituindo-se na única das emissoras pioneiras de televisão a continuar em atividade.

A época de ouro nunca mais voltou, e dificilmente voltará, pois aquele momento histórico de renovação do cenário musical, com tantos talentos surgindo, dificilmente se repetirá. Contudo, na história da televisão, a TV Record de São Paulo tem o importante papel de ter propiciado um movimento de valorização da programação de televisão e ter revelado artistas de grande significação para a história da música popular brasileira. 
Texto de Edgard Ribeiro de Amorim
Matéria do site TV Brasil.

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