Mutantes apresenta música inédita no Teatro Municipal

Por Fernando Machado Coelho

Na noite de 24 de Abril de 2008 caminhava tranquilamente pelas ruas do centro de São Paulo, em direção ao Teatro Municipal, onde fui convidado para assistir a apresentação da nova música dos Mutantes. A banda, hoje liderada pelo guitarrista Sérgio Dias, apresentou “Mutantes Depois”, composição que vai entrar em um novo disco de inéditas prometido para o segundo semestre deste ano.

Ao chegar perto do teatro, em meio a sacerdotes ambulantes e ensaio de pagodeiros na rua, havia no andar de cima do Municipal, muitas luzes projetadas nos prédios vizinhos e sons chamando a atenção: eram os Mutantes gravando uma matéria exclusiva para a Rede Globo. Tal matéria atrasou a minha entrada, a de jornalistas de outros veículos e fãs da comunidade do Orkut. Ao entrar, pude tomar duas ou três taças de champanhe bem gelado e tive o privilégio de conhecer pessoalmente um dos parceiros de composição deste novo material da banda – ninguém menos que Tom Zé (antigo companheiro tropicalista dos Mutantes).

Os convidados já começavam a se apertar no salão nobre quando uma porta gigante à direita se abriu sem nenhum aviso, e lá estava a banda começando a tocar. Foram poucas músicas apresentadas: “Uma pessoa só”, “Technicolor” e “Baby”, antes da esperada “Mutantes Depois”.

Vale comentar que a letra da faixa fala do legado da banda e sobre a tocha que o público levará quando os Mutantes morrerem. Mesmo assim, a sonoridade é bem anos 60, do jeito que a maioria dos fãs gostam, com um ritmo alegre e com o mesmo tom debochado de sempre. Na gravação disponível para download tem a participação de Devandra Banhart nos backing vocals.

Em entrevista coletiva, perguntei se o disco novo foi gravado na casa do próprio Sérgio Dias e se a banda hoje se sente de alguma maneira independente. “Sim, gravamos o novo material no meu estúdio. A vantagem é gravar em alta qualidade em uma mesa de som feita à mão pelo meu irmão. O retorno da banda não dependeu de gravadoras nem de empresários. Estaremos lançando o próximo disco por uma major (CBS), mas em momento nenhum sofremos pressão na composição do repertório”, explicou Sergio Dias.

Perguntado sobre Arnaldo Baptista e Zélia Duncan, o baterista Dinho Leme explicou que ambos fazem falta: “Zélia foi muito importante, mas continuou com sua carreira solo. Arnaldo faz muita falta e pode voltar um dia”. Ainda na fase de composição, eles tentaram mandar “Mutantes Depois” para Rita Lee, mas ela sequer respondeu ao e-mail. Melhor para os Mutantes, que trouxe para perto seu antigo amigo Tom Zé (o novo mutante de acordo com Sérgio Dias).

Quando um repórter da Rolling Stones perguntou se os Mutantes estavam presos na estética dos anos 60, Dinho falou que eles tiveram o privilégio de viver a base do som de 40 anos atrás, como os Beatles, Tropicalismo, a época hippie, e que os fãs podem esperar sons bem complexos, com mudanças de ritmo, andamento e harmonia (“Mutantes Depois” é a mais simples das novas faixas). O som está mais bonito e virtuoso, bem diferente da mesmice praticada atualmente.

Eu, pessoalmente, concordo com o Dinho e, se levarmos em conta as bandas que nos são enfiadas goela a baixo pelo atual “Mercado Cultural”, os Mutantes continuarão sendo por muitos e muitos anos a maior banda de rock que o Brasil já teve o privilégio de parir.

Fernando Machado Coelho é guitarrista e compositor, formado em Propaganda e Cinema toca nas bandas Seychelles e Mamma Cadela.

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