A criação da empresa I”M, reunindo várias grifes famosas, foi saudada como a grande novidade no mundo da moda nos últimos anos. Liderada por investidores financeiros, a I”M reuniu nomes de peso, como Zoomp, Alexandre Herchcovitch, Fause Haten, Clube Chocolate e Cúmplice. Foi descrita em várias reportagens como o início da profissionalização de uma atividade quase amadora, em que os estilistas estão mais preocupados com a criação do que em fechar as contas no fim do mês.
O que começa a aparecer agora, porém, é que, por trás do glamour e do poder financeiro de uma holding da moda, está um grupo empresarial com pouco capital, cercado de problemas e dívidas. Além de pendências com fornecedores e ex-funcionários, a I”M enfrenta questionamentos até sobre as empresas que teria comprado.
Uma delas, a Cúmplice, nega ter sido vendida para a I”M. O negócio foi anunciado em janeiro, antes da São Paulo Fashion Week, época que a holding de moda escolheu para apresentar seu portfólio de marcas ao mercado. “Nunca chegamos a assinar uma carta de intenções. É uma situação surreal e inverossímil, além de bastante irresponsável”, diz Paulo Junqueira, criador da Cúmplice.
Junqueira se nega a falar sobre as negociações com a I”M. Pessoas ligadas às empresas, porém, contam que a I”M ofereceu R$ 6 milhões pela grife. Junqueira pediu fianças reais, mas as garantias não foram apresentadas. As conversas emperraram. Junqueira exigiu então o pagamento à vista. Os donos da I”M, Enzo Monzani e Conrado Will, não apareceram para fechar o negócio. Mesmo assim, o anúncio da compra foi feito, junto com o das outras grifes.
Conrado afirma que o anúncio foi precipitado pelo vazamento de informações pela imprensa e diz que Junqueira concordou em divulgar a venda. As compras das marcas Herchcovitch, Fause Haten e Clube Chocolate também teriam sido anunciadas antes da hora, mas as negociações continuam evoluindo – cada uma em um estágio diferente -, diz Conrado.
A Cúmplice era uma peça importante do portfólio da I”M. Criada há 20 anos, a grife adota o modelo fast fashion, de peças mais baratas e troca rápida de coleções, como a Zara. Seria um complemento às grifes mais sofisticadas que compõem o portfólio da I”M. Assim como ocorreu com marcas de luxo na França, a I”M quer montar um grupo de grifes, melhorar as técnicas de gestão e revender a empresa por um valor mais alto.
Enzo e Conrado não têm patrimônio de empresários. São ex-executivos e consultores. Conrado era analista financeiro da empresa de investimentos Pátria. Segundo especialistas, um analista ganha em torno de R$ 8 mil por mês e, nos bons anos, pode receber bônus de R$ 100 mil. Ao ser questionado, Conrado ri da história e nega. Enzo é mais experiente, mas sempre atuou como empregado ou consultor. Quando tentou montar um fundo de investimentos, foi barrado pela CVM porque não tinha a experiência exigida pela lei.
Enzo e Conrado criaram a empresa de investimentos HLDC num modelo de negócios ousado. Sua idéia é comprar empresas – geralmente em situação difícil – com dinheiro emprestado ou assumindo dívidas. Seu cartão de visitas é a Zoomp. Em 2006, eles compraram a empresa em situação crítica. Não tiveram de desembolsar muito dinheiro, mas assumiram uma dívida de R$ 130 milhões. Renegociaram as dívidas, reestruturaram a gestão e a empresa voltou a crescer. Seu faturamento mensal está dobrando.
Mas a empresa continua com problemas de caixa, concentrados nos meses de baixa das vendas para o atacado. No mercado, estima-se que a Zoomp tenha uma necessidade de caixa de R$ 20 milhões. Somando o prazo negociado para pagamento e os atrasos, pode-se levar até 120 dias para que uma conta da Zoomp seja quitada. A maior lavanderia de jeans do País, a Private Label, do Paraná, desistiu de prestar serviços para a empresa porque só recebia depois de protestar títulos em cartório.
A Zoomp tem 1,5 mil títulos protestados. Enzo diz que a grande maioria já foi paga, mas que não foi dado baixa no cartório porque o custo é alto. “Preferimos reforçar o caixa da empresa”, diz. Mesmo com os apertos na Zoomp, eles resolveram comprar outras grifes para reforçar o grupo. “São operações diferentes”, diz Conrado. Eles não dizem se desembolsaram algum dinheiro, só explicam que parte do pagamento será feito com os ganhos gerados pela melhoria de gestão. Segundo Enzo, o que importa não é o tamanho do bolso do empresário, mas a competência.
Matéria do site no Economia em Dia.
No balaio da I´M
Zoomp: A maior empresa dentro da I´M foi adquirida em 2006, e seria responsável por quase metade do faturamento de R$ 300 milhões que o grupo esperava ter este ano. A previsão era abrir 8 novas lojas da marca em 2008;
Alexandre Herchcovitch: O estilista assumiu também a função de curador da I´M, ou seja, ajudaria a selecionar e compor o portfólio de marcas da empresa. Suas duas marcas (Herchcovitch;Alexandre e Herchcovitch Jeans) seriam as primeiras a receber investimentos para crescer no mercado internacional;
Fause Haten: O estilista de moda festa tinha previsão de ganhar duas novas lojas. Ele seria o segundo a receber investimentos para ir para fora do Brasil;
Clube Chocolate: Multimarcas que reúne os principais lançamentos de novos estilistas no exterior. Após alguns anos de sucesso, a marca caiu bastante e tentava se recuperar;
Cúmplice: Marca de “fast fashion”, visava o público mais jovem. Seu fundador, Paulo Junqueira, diz que não assinou papéis e nega que a empresa tenha sido vendida para a holding I´M.
Fonte: Assintecal e Economia em Dia.