Customização em jeans e técnicas de designer de lavanderia
Por Prof. Wesley Paixão. Quando se fala em customização para artigos confeccionados em jeans logo chega à mente aquela peça mirabolante com aspecto revolucionário e…
Por Prof. Wesley Paixão.
Quando se fala em customização para artigos confeccionados em jeans logo chega à mente aquela peça mirabolante com aspecto revolucionário e com os moldes agressivos! Sim a modelagem reflete em tudo nas peças customizadas. Aliás a modelagem nada mais é do que a armadura que protege a elixir da matéria-prima da vida; e a customização é o brilho reluzente que amplia a beleza já propagada.
Quando falamos sobre customizar estamos vinculados a conceitos técnicos, morais, afetivos e muitas vezes até politicamente corretos, o que não seria diferente se pegarmos a tradução literal do vocábulo customizar (adaptar às preferências do utilizador, personalizar), com isso entende-se que seria como um processo de geração de vida, esteticamente falando; onde através de diversos e envolventes elementos a peça confeccionada em jeans ganha alma, toma forma, aparece e reaparece para o nosso cotidiano.
O que poucas pessoas sabem, e a ideia desta matéria é justamente promover este aspecto, é que nem sempre customizar significa aparecer em demasia, o que torna a customização uma arte tão singela e discreta e ao mesmo tempo brutal e inovadora como um origami na busca pela simetria e pelo realismo.
Vamos descrever alguns processos, muitos considerados como segredos de estado, mas são apenas fruto da interpretação do Laundry Designer (Designer de Lavanderia).
Lixado
Tanto se ouve falar em lixado, mas afinal de contas o que vem a ser lixado? Nada mais do que promover uma abrasão física e muitas vezes química sobre uma peça, deixando as fibrilas com um toque mais suave estilo pêssego ou mesmo um tecido de segunda ou terceira qualidade com o aspecto elegante e envolvente.
Uma dica bastante usada é a técnica de aplicação de um estilete ou superfície cortante por sobre o tecido antes da aplicação da lixa isto faz com que a superfície ganhe uma aparência bi-dimensional; mas é claro que se faz necessário a suavidade da técnica para se garantir um efeito de boa reprodutibilidade.
Permanganato de Potássio (KMNO4)
Outro honesto e gentil artifício é o nosso amigo Permanganato de Potássio (KMNO4) misturado a um umectante de boa procedência; juntos a penetrabilidade do umectante confere ao permanganato uma capacidade de deslocamento mais homogêneo e nesta técnica é possível a aplicação na peça pós lixada ainda com a presença da goma gerando um aspecto totalmente diferenciado ao produto, uma vez que após neutralização ainda poderá sofrer processos de stonagem, alvejamento, amaciamento, etc…
Adição de corante e dirty
Elementos diferentes e aspectos exclusivos podem ser obtidos com truques sutis e discretos como a adição de um corante direto junto ao processo de alvejamento, gerando um matiz incomum ao branco óptico, claro que respeitando a compatibilidade dos elementos colorimétricos. Em muitos casos, esta dica pode repelir a necessidade de um processo de tingimento pós-stonado, chamado por muitos de dirty. Nesta técnica o processo mais comum é seguido do tingimento pós-stonagem (da maneira citada anteriormente), assim descartamos um dos processos, o que aumenta a vida útil do artigo em função da redução de procedimentos e ainda amplia a margem de lucro de quem se utiliza desta prática.
Veja glossário com Técnicas de Beneficiamento de Jeans em Lavanderia.
Considerações
Na decorrência de qualquer um dos processos em lavanderias industriais todos somos acometidos por grandes fenômenos culturais obtidos da formação da sociedade no qual habitamos. Por exemplo: houve um tempo no passado que quando um homem usava uma calça jeans rasgada, puída e desuniforme, a sociedade o taxava como um elemento sem futuro, descredibilizado, de má família, isso em meados dos anos 70/80. Atualmente se um outro rapaz tiver uma peça rasgada, puída e desuniforme customizada com estampas, sem conexão alguma, este ser humano é o cara da “onda”, da “pegada” que tem o que a moçada e a sociedade buscam – a exclusividade.
Esta transitoriedade de conceitos vem promovendo a chamada: “era das tribos urbanas” que caracterizam movimentos como os punks, os emos, os românticos, etc… Tais fenômenos demonstram como as crenças da sociedade comandam os conceitos formativos do certo e do errado, e no que tange o aspecto de cultura de moda, a mesma dispara líder em um ciclo repetitivo e contínuo no seu ir e vir de tendências.
O jeans nada mais é do que a peça mais adaptável que se tem notícia, desde sua disponibilização feita por Lewis Strauss em 1872 migrando dos mineradores para as mais clássicas e requintadas versões que a sociedade e seus indivíduos podem lapidar, beneficiar e customizar.
Quando falamos da tal customização podemos verificar que desde 1872 nada mais houve do que uma intensa e massificada adaptação de suas formas e derivações ao espírito de cada década: o charme e suas vertentes são fruto da inferência humana pela constante diretriz de se tornar único, o que chamamos atualmente de exclusividade, onde cada um procura se diferenciar e encontrar seu estilo.
Dentro deste cenário, buscar e se adaptar é essencial nesta caçada, assim como a troca de informações e reconhecimento dos profissionais da área. De nada valem as máquinas e utensílios se não houver a valorização do profissional que as comanda, e, este é o pior dos erros das grandes grifes: a constante marginalização dos especialistas que se municiam de técnicas e informações, pois hoje em dia tudo mundo se acha estilista, todos são químicos e a maioria possui ideias mirabolantes, mas sem a base real de aplicação. Cabe a classe reverter tal situação e desencadear uma retomada de valores há muito perdidos.
A customização (adequação do produto) começa realmente na parte organizacional e não somente nas peças.
Por Wesley Paixão
(Wesley Paixão possui mais de 20 anos de atuação na carreira produtiva de indústrias têxteis e afins, formação em Tecnologia Têxtil com especialização em Química Têxtil pelo SENAI/SP e também em Administração de Empresas. Proprietário da WSP – Consultoria Têxtil, empresa que atende estamparias, tinturarias, indústrias de foulardagem e lavanderias industriais. Também é docente da Universidade Paulista (UNIP) e já atuou como docente do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e do SENAI Têxtil de São Paulo. É pesquisador e colaborador de artigos técnicos dos sites GBL Jeans e Guia Jeans Wear. E-mail: [email protected] / Whats: (11) 9.8169-0368)
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