Bambu promove uma autêntica revolução no mundo têxtil

     

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Peças confeccionadas em Fibra de Bambú

Além de resultar em roupas leves, macias e absorventes, a fibra produzida a partir desta gramínea é ecologicamente correta: uma dádiva para os estilistas

Na opinião de muitos, eles eram destinados principalmente aos ursos pandas que com eles se alimentam e se deliciam há séculos. Contudo, eis que os rebentos de bambu passaram a despertar também o apetite dos fabricantes de tecidos europeus. Da camiseta até as meias curtas, passando pela fralda-calção reciclável, a fibra que se extrai deles vem se imiscuindo de maneira discreta, porém irreversível no nosso cotidiano.

Nos hiper-mercados Carrefour, sob a marca Tex, o que se vê é uma enxurrada de travesseiros, toalhas e roupões de banho macios, fabricados a partir desta fibra, a qual é quatro vezes mais absorvente do que o algodão. Nos catálogos de firmas que vendem vestuário em domicílio, tais como Damart, Camif ou Les Trois Suisses, anúncios de camisetas e pulôveres leves fabricados a partir desta fibra celebram um verão “natural” que privilegia o bem-estar.”

“Suave e fluida, eis uma verdadeira segunda-pele ecológica para os seus pés”, garante por sua vez o americano Timberland, que faz a promoção das suas novas meias Bamboo, ao mesmo título que o francês DoréDoré ou que o site de vendas Sockness.com.

Uma matéria vegetal assim como o algodão ou o linho, o bambu tem em seu favor alguns trunfos suplementares. Esta gramínea arbórea é prolífica (ela pode crescer até 1 metro por dia). A sua fibra, extraída de uma pasta celulósica, se caracteriza pela sua característica homogênea e pesada (ela não amassa) e seu aspecto suave e reluzente, parecidos com os da seda.

Sobretudo, ela possui virtudes respiratórias, anti-bacterianas; além disso, ela protege dos raios indesejáveis do sol e não pode ser amassada.

Gérard Cirouge, o CEO da companhia Tissages de l’aigle (tecelagens da águia), em Biviers (na região de Grenoble, centro-leste), fez desta fibra o seu carro-chefe para o verão. “Nós nos precipitamos sobre o bambu dois anos atrás, pois ficamos felizes da vida por encontrar uma fibra natural que nos permita ampliar nossa coleção”, conta este especialista em tecidos para o esporte e o lazer. “Os nossos primeiros testes foram decepcionantes: o produto possuía uma estabilidade ruim, e revelava-se amarrotado depois da lavagem”.

Neste ano, a empresa não esconde seu orgulho pelo resultado que ela conseguiu obter. O seu bambu, tricotado junto com uma mistura de poliamida, é suave, acetinado, e torna a cor vibrante.

Este fabricante integra a centena de expositores que apresentaram produtos a base de bambu durante a Première Vision (primeira visão), o primeiro Salão mundial dos tecidos para vestuário, em fevereiro passado, em Paris. Por ser uma matéria-prima renovável e que não custa mais caro que o algodão, assim com um têxtil realmente muito leve e fresco, ideal para a temporada de calor, o bambu é uma dádiva para um grande número de fabricantes de tecidos. Ele interessa principalmente aqueles tentados pela perspectiva de abandonar os sintéticos derivados do petróleo em favor dos produtos que valorizam e protegem a natureza.

Várias grifes de alta-costura já cederam à tentação, tais como Hugo Boss, com a sua linha Black Label, que propõe, para o homem do verão de 2006, paletós de três botões de fibra de bambu, com 25% de lã e 15% de seda, “de uma flexibilidade sem igual, principalmente se comparada com a do linho”, afirmam os especialistas da casa.

Este é também o caso da Gaspard Yurkievich, que desenvolveu, a partir de um tecido de jérsei fluido e acetinado de bambu, um pequeno vestido preto cimbrado na cintura, assim como camisetas masculinas, nas cores preto, azul escuro ou salmão, nas quais se destaca a mensagem “Love Life” (amar a vida).

Massa de madeira
“No passado, os têxteis ‘ecologicamente corretos’ eram bege e um pouco rígidos”, explica Guido Voss, um sócio do estilista Gaspard Yurkievich. “Hoje, a sua força vem de que eles têm a aparência de um tecido anódino e que eles são, além disso, bons para o planeta”.

Esta não é a primeira tentativa notável desta jovem marca independente. Gaspard Yurkievich utiliza também massa de madeira (o lyocel, produzido pela marca Tencel) e um polímero oriundo do milho (Ingeo, desenvolvido pelo americano NatureWorks).

As fibras naturais, biodegradáveis e fabricadas sem causar poluição em demasia, vêm sendo cada vez mais procuradas. É o caso do algodão biológico, do cânhamo, e também da alga. “A tendência é irreversível”, avalia Evelyne Spilet, uma estilista da sociedade Spilan, a primeira a ter lançado roupas de bambu entre os produtos vendidos nas lojas de grande distribuição, sob a forma de pequenos pulôveres e de camisetas coloridos.

“Os franceses estão com vontade de consumir de maneira mais sutil. Ao comprarem fibras biológicas, eles adquirem duas vantagens de uma só vez, com um produto que está na moda e que representa um gesto em favor do desenvolvimento sustentável”, acrescenta esta mulher dinâmica, que investiu, de 20 de março a 20 de abril, 1 milhão de euros (R$ 2.778.220) para anunciar numa campanha publicitária, na televisão, as virtudes do seu tecido único.

E o sucesso não se fez esperar. Em 2005, a rede Carrefour distribuiu com exclusividade as malhas Spilan, fabricadas a 100% com bambu, a partir de um processo patenteado que preserva suas qualidades anti-bacterianas, mesmo depois de várias lavagens.

Em 2006, foi a vez de outras redes francesas de distribuição no varejo -Leclerc, Auchan, Cora, Casino ou Les Trois Suisses – de se disputarem a tapas as criações desta pequeno-média empresa, cujo faturamento deverá progredir neste ano em cerca de 20%, chegando a 24 milhões de euros (R$ 66,92 milhões). Evelyne e Alain Spilet, que trabalham há mais de 25 anos as fibras naturais, também lançaram sua própria grife, e abriram uma boutique batizada Les Ateliers de la maille (As Oficinas da malha), em Paris.

Todos aqueles que gostam de costurar e as mulheres com “dedos de fada”, adeptas do lazer criativo, poderão também se gabar de possuir a fibra vegetal. Nesta primavera, o “Bamboolo” está disponível em todos os armarinhos da França. Trata-se de um fio de cores suaves, que pode ser transformado em acessório para a casa, num pulôver na última moda ou numa blusa leve para as noites de verão. Essas criações serão de bambu a 70% e, sobretudo, zen a 100%.

Queila Ferraz: Queila Ferraz é historiadora de moda e arte, especialista em processos tecnológicos para confecção e consultora de implantação para modelos industriais para a área de vestuário. Trabalhou como coordenadora Geral do Curso de Design de Moda da UNIP, professora da Universidade Anhembi Morumbi e dos cursos de pós-graduação de Moda do Senac e da Belas Artes.
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