Moda Anos 70 e a Identidade Brasileira na Moda
Em um cenário cultural muito rico, a moda dos anos 70 no Brasil foi marcada por um estilo muito alegre e jovem. Conheça melhor a década!
Longe do conservadorismo das décadas anteriores, a moda dos anos 70 veio muito mais informal, alegre e colorida. Em um estilo que marcou época, conheça com mais detalhes a evolução do mercado fashion no país durante o período.
Qual era a Moda dos Anos 70?
Antes de mais nada, a moda dos anos 70 trouxe uma explosão de cores e padrões ousados. A roupa feminina transitava entre um estilo mais casual de dia e glamuroso à noite, remontando em parte aos anos 40.
Essa década começou com uma continuação do estilo hippie do final dos anos 60. Assim, a princípio era dada uma ênfase em materiais feitos a mão, mas a influência das lojas de boutique e linhas de difusão tornaram as roupas prontas para vestir cada vez mais acessíveis.
Além disso, os novos tecidos sintéticos significavam que os estilos da moda podiam ser comprados a qualquer preço. Desde então, esses materiais se difundiram tanto que os anos 70 se converteram na “Década do Poliéster”.
Alguns dos nomes mais importantes da moda do período eram, por exemplo, os de Yves Saint Laurent, Diane von Fürstenberg e Halston. No Brasil, se destacavam Dener Pamplona de Abreu, Clodovil Hernandez, Guilherme Guimarães e Zuzu Angel.
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Década de 70
Nessa época, o chamado “Milagre Brasileiro” trouxe uma forte atividade econômica. Como resultado, o mercado de consumo estava em plena escalada. Segundo Edgard Luiz de Barros, esses elementos foram de grande importância para a efervescência das representações da moda no Brasil dos anos 70.
Além disso, no início desse período se verificava o ufanismo, que então era alimentado pela vitória da Copa do Mundo com o slogan: “Brasil ame-o ou deixe-o”.
Seja como for, um dos principais pontos é que o consumismo e a euforia não demoraram a entrar em choque com a censura e perseguição política por parte da Ditadura Militar.
Além disso, nesta década a Rede Globo se consolidou no cenário nacional. Então, 40% das casas já tinham televisão! De acordo com dados citados por Edgard Luiz de Barros, esse feito fez com que o Brasil se tornasse um dos mais dinâmicos mercados de TV do chamado terceiro mundo.
Esse novo ambiente ajudou e muito a estimular o mercado da moda brasileiro nos anos 60, que cada vez mais ganhava importância e projeção.
- Veja também a roupa dos anos 70 em fotos originais da década.
O mercado da moda nacional
Desde então, também começou uma maior profissionalização da moda. Por exemplo, as butiques se firmaram e criaram suas próprias confecções. Para Joffily, é nesse momento que começa de fato a criação de roupas nacionais:
“(…) confecções de luxo: aqui começa, propriamente dita, a criação de roupas nacionais, o estilismo. Destaque para o Grupo Moda-Rio, no início dos anos 70, o primeiro núcleo organizado de estilistas – sem uma unidade estética, é verdade – reunindo esforços para conquistar espaço para a sua produção dentro do mercado nacional.”
E continua a dizer que “O público alvo era uma classe média de maior poder aquisitivo, aproveitando a ascensão propiciada pelo chamado ‘milagre econômico’. É o momento de fundação do prêt-à-porter nacional” (Joffily, 1991, p. 56).
Ícones da Moda dos Anos 70
Em 1972 a Rhodia promoveu o “Brazilian Nature”, evento onde os mais famosos pintores do país estamparam tecidos que depois foram trabalhados por costureiros igualmente conhecidos.
Nesse processo de surgimento de criações verdadeiramente nacionais esteve, por exemplo, a tanga. Nascida no Rio de Janeiro em 1974, a peça logo foi exportada para outros países. Desde então, ela fez tanto sucesso que continua a ser uma das favoritas das mulheres ao redor do mundo.
Nesse meio tempo, o bíquini se fortalecia como a escolha da preferência das mulheres. Além disso, as calças jeans, especialmente o modelo “boca de sino”, caíam de vez no gosto popular.
- Depois, conheça melhor a História do Jeans no Brasil: o clássico dos novos tempos no país.
Zuzu Angel
Segundo Joffily, a estilista mineira Zuzu Angel foi a precursora em retratar o instinto de nacionalidade em suas criações nos anos 70. Além disso, ela também foi a primeira criadora de roupas brasileiras a vender a sua produção nos Estados Unidos, em Nova York.
Acima de tudo, os seus modelos se encontravam em um meio-termo entre a alta-costura e o prêt-à-porter. Afinal, Zuzu Angel costumava dizer que sua moda era para mulheres que em nada lembravam as magérrimas manequins.
A moda como representação
À época, Zuzu foi pioneira em criar uma coleção inspirada em uma temática nacional. Dentre os elementos que incorporou estavam, por exemplo, Baianas, Lampiões e Marias Bonitas. Além disso, as suas criações traziam motivos de anjos que simbolizavam o seu filho Stuart Angel, uma das vítimas da Ditadura Militar.
Nesse interím, usando a moda para denunciar o que aconteceu com o seu filho, a estilista organizou o primeiro desfile-denúncia da história da moda, realizado em Nova York.
Nele, apresentou roupas adornadas com tanques, pássaros aprisionados, anjos mutilados, caveiras e manchas de sangue bordadas sob vestidos de gaze verde-amarela. Ela deixava, assim, a sua mensagem de cunho tanto artístico e político.
Por fim, a estilista faleceu em um acidente de carro em 1976, que se mostrou ser mais um dos atentados do regime ainda em vigor.
Criadores de Moda dos Anos 70
Desde então, no Rio, Luís de Freitas passou a ser a referência dentro da moda masculina brasileira. Com o lançamento de propostas inovadoras e inusitadas, a sua marca Mr. Wonderful também alcançou reconhecimento internacional (Braga, 2003).
Além dele, Clodovil Hernandes foi outro nome muito importante do período. Nessa época ele rivalizada diretamente com Dener, que se destacava no cenário nacional desde os anos 60.
Acima de tudo, um dos grandes méritos associados ao trabalho de Clodovil Hernandes foi o lançamento e defesa de uma moda de fato brasileira. Afinal, ele vinha na corrente do surgimento e diversificação da alta-costura no Brasil.
Em outras palavras, esse período também era favorável para o seu trabalho. Afinal, então se vivia um forte movimento de valorização da cultura brasileira e do crescimento e diversificação da indústria têxtil no país.
Assim, ganhando destaque no cenário nacional, Clodovil rapidamente conquistou grandes personalidades da época. Entre elas, a cantora Elis Regina, a atriz Cacilda Becker e as famílias Diniz e Matarazzo.
Os Anos 70 em movimento
Antes de mais nada, os anos 70 foram sinônimo de crescimento e internacionalização da economia. Como resultado, a indústria deixou de achar interessante falar de “moda autenticamente brasileira” como estratégia de venda.
Assim, empresas como a Rhodia optaram por reconhecer essa abertura na cadeia têxtil, tendo buscado sutilmente reduzir a dispersão através da pedagogia do estilismo industrial.
Como? Por exemplo, “(…) convidando a francesa Marie Rucki a visitar periodicamente o Brasil e a ensinar montagem de carnês de tendências, estimulando a ‘criatividade’ do estilista brasileiro na ‘conciliação’ entre a moda brasileira e as tendências emanadas de Paris” (Edgard Luiz de Barros, 1993, p. 36).
Para João Braga, nesse mesmo período prevalece a identidade da moda jovem e o aspecto de contestação. Foi nesse sentido que, dentro do circuito mundial, eclodiu o movimento hippie, que se tornou um verdadeiro fenômeno social e artístico.
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A moda dos anos 70 no Rio de Janeiro
Por fim, a seguir veja a descrição sobre as Butiques de Ipanema apresentada por Renata Sernagiotto na Revista Digital de IBModa.
Píer
“Com a chegada do Píer, em 1971 e todos os acontecimentos que marcaram o novo point de Ipanema, a marca era a preferida dos hippies de butique, sendo Gal Costa a artista que vestia a marca e símbolo também do Píer e das Dunas do Barato. Em 1973, Adriano Aquino ganhou um prêmio do governo francês e partiu para Paris, dando assim o encerramento da marca”.
Blu-Blu
“Marília Valls, a dama da moda carioca. Descendente de uma família que se mantinha de aparências: divorciada e sem o dinheiro de seu pai, viu-se obrigada a trabalhar em uma época em que as mulheres não trabalhavam e não se divorciavam.
Marília fez carreira na indústria têxtil e mudou o mercado da moda no Brasil. Cansada de ser empregada e já com um nome forte no mercado, decidiu pegar o dinheiro que tinha juntado e abriu a Blu-Blu, nome proveniente pela falta de dinheiro, fato que só permitia a criação de blusas.
Depois expandiu suas criações para vestidos de rendas, aventais tingidos por artistas plásticos e tudo o que pudesse ser usado do umbigo para cima.
A Blu-Blu desenvolveu um estilo inovador, uma moda de vanguarda, que era apoiada em aproximadamente cinco elementos estéticos: o elemento retrô e nostálgico; as cores de suas estamparias que misturavam cores jamais antes propostas como laranja e o turquesa; o toque branco nas coleções, inspirado em nossa cultura e pelo sol carioca; o toque romântico das rendas e babados, também inspirado por nossa cultura e folclore e por último o elemento lúdico e da fantasia imposto desde a decoração de sua loja, como nos desfiles que criava na rua, em frente à casa branca na antiga rua Montenegro – hoje, Vinícius de Moraes, número 111.”
De Blu-Blu a Moda-Rio
“Os desfiles eram grandes acontecimentos que paravam o bairro pela grandeza do seu show, anunciando o lançamento de uma nova coleção.
Modelos como Monique Evans, Xuxa Lopes, Silvia Pfifer, Ísis de Oliveira, Débora Bloch, Beth Lago, entre outras executavam coreografias dirigidas por Paulo César de Oliveira e Biza Vianna, filha mais velha de Marília. Por questões financeiras, a Blu-Blu fechou suas portas em 1987.
Marília nunca saiu do cenário da moda. Junto a toda sua experiência e aos anos que fez parte do grupo Moda-Rio, sentiu-se preocupada com a formação de profissionais deste setor. Criado em 1978, devido a fragilidade que o comércio da moda enfrentava naquela época sensível em todos os campos, estilistas e comerciantes em ascensão no momento se uniram buscando uma estrutura de base para melhorarem os negócios.”
Moda-Rio
“O grupo Moda-Rio tinha como objetivo melhorar o espaço de divulgação de seus trabalhos e era formado por Marília Valls, Luís de Freitas, José Augusto Bicalho, Teresa Gureg, Beth Brício, Sônia Mureb, Marco Rica, Ana Gasparini e Suely Sampaio.
Em estilo, cada um tinha a sua individualidade, mas em objetivo de melhoria do mercado, de pesquisa de tecidos, tendências, modelos de estratégias mercadológicas, todos compartilhavam juntos. A repercussão do grupo foi inevitável e foi o grande lançador das discussões de moda e das associações voltadas para este mercado.
Como conseqüência, consolidava o Rio de Janeiro como grande centro da moda brasileira.
O grupo foi dissolvido em 1982, no auge de um período de recessão marcado pelo declínio do então regime militar. Paralelamente, o Rio de Janeiro perdia seu lugar de centro da moda nacional. Em 1989, Marília passou a coordenar o setor de estilismo do Núcleo de Moda da faculdade Cândido Mendes, na cidade do Rio de Janeiro.”
Por Denise Pitta.
Editado e atualizado por Mariana Boscariol.
*Este é um trecho do relatório final da pesquisa Moda e Identidade Brasileira, feito por Denise Pitta de Almeida em 2003 à Faculdade de Moda da UNIP.
Leila Diniz: escândalo ao aparecer grávida na praia e de biquíni, em 1971.
Luís de Freitas criador da marca Mr. Wonderful
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