André Leon Talley: saiba quem foi o lendário ex-editor da Vogue
Com passagens pela Vogue, Numéro, W e New York Times, o jornalista faleceu hoje após travar batalha contra doença.
André Leon Talley fez história como o primeiro diretor criativo negro da Vogue. Vítima de um ataque cardíaco, ele faleceu nesta terça-feira, aos 73 anos, deixando para trás uma carreira sólida e um grande legado no mundo da moda.
De acordo com uma reportagem do TMZ, o jornalista já estava hospitalizado há algum tempo e lutava contra uma doença desconhecida. Descubra mais sobre a vida e carreira do ícone:
Quem foi André Leon Talley?
Sem dúvidas, André Leon Talley deixou sua marca entre os setores mais exclusivos do mundo da moda. Isso porque, com seu talento inigualável e estilo únicos, ele fez história ao se tornar o único jornalista negro a assumir como diretor criativo da Vogue norte-americana.
Em 1998, foi promovido a editor-chefe e braço direito de Anna Wintour no cargo, onde permaneceu até 2013.
Durante sua carreira, André Leon Talley foi até juiz do America’s Next Top Model. Ele também foi tema do documentário ‘O Evangelho segundo Andre’, lançado em 2016.
Na época, Talley ainda lançou duas memórias, “ALT: A Memoir” e “The Chiffon Trenches” (ambos sem tradução no Brasil). Nas publicações, o guru da moda revelou tudo sobre suas relações próximas com Lagerfeld, Naomi Campbell e, é claro, Anna Wintour, entre outros nomes fortes da indústria.
Após deixar a Vogue, Talley foi o editor geral da Numéro Russia em 2013, antes de renunciar devido às leis anti-LGBT no país. Ele também trabalhou com Andy Warhol na Interview Magazine, Women’s Wear Daily, W e The New York Times.
Talentoso e repleto de amizades poderosas, Talley ainda trabalhou como stylist de Barack e Michelle Obama durante seu tempo na Casa Branca.
- Se você gosta de moda, não deixe de ler – Babe Paley: a socialite fashionista que foi uma das favoritas de Halston
Vida e carreira do primeiro editor negro da Vogue norte-americana
Em um mundo dominado pela elite, a origem simples do editor chamou atenção. Isso porque Leon Talley foi criado por sua avó, uma empregada doméstica, enquanto os pais moravam em outra cidade.
Sob as duras leis de Jim Crow, ele afirmou em diversas entrevistas que mal podia bancar a própria comida no início de sua carreira jornalística.
“Minha história é um conto de fadas. E em todo conto de fadas existe a escuridão e o mal”. – André Leon Talley
Após concluir seu bacharelado em Artes e Literatura Francesa em 1970, Leon Talley conquistou uma bolsa de estudos na renomada universidade Brown para o seu mestrado.
Então, com as conexões que fez durante seu tempo na Brown, conseguiu um estágio não pago com a lendária Diana Vreeland no Metropolitan Museum of Art em 1974. Após o período, a então editora da Vogue ficou tão impressionada com seu talento que conectou o jornalista com o mundo da moda.
Foi depois de trabalhar para a Interview, W e até mesmo o New York Times que Talley finalmente chegou à Vogue em 1983. A partir daí, ele se tornou uma figura lendária na indústria.
Durante décadas, André Leon Talley foi o único negro na primeira fila dos desfiles internacionais. Aos poucos, ele conquistou seu espaço em um setor extremamente elitista. Hoje, seu falecimento certamente marca uma grande perda para o mundo da moda.
“Conquistei minha posição não porque eu fosse um negro bonito, magro (…) e bem articulado. Mas sim porque eu tinha feito minha lição de casa e conquistado meus diplomas. Eu nunca pensei sobre ser um homem de cor na minha carreira até bem recentemente. E agora isso não sai da minha cabeça” – André Leon Talley em entrevista ao The Guardian
5 curiosidades sobre André Leon Talley
Na sequência, trouxemos algumas histórias bem curiosas sobre a vida e a carreira do lendário editor da Vogue:
1. Leon Talley serviu de inspiração para personagem de filme
Em primeiro lugar, vale lembrar que o braço direito de Anna Wintour também serviu de inspiração para um personagem do icônico filme O Diabo Veste Prada. Isso porque acredita-se que o personagem Nigel Kipling, interpretado por Stanley Tucci, seja uma representação de Leon Talley.
Ainda, em seu sua auto-biografia The Chiffon Trenches, o jornalista revelou que os produtores do longa chegaram a convidá-lo para participar da produção. “Alguém me ligou e disse: ‘você topa fazer uma audição?’ e eu respondi, ‘Não! Adeus'”.
Além disso, ele também afirmou que, embora tenha adorado a atuação de Meryl Streep, o personagem interpretado por Stanley Tucci não refletia o mundo real da Vogue.
2. A relação entre Anna Wintour e André Leon Talley teve seus altos e baixos
Apesar da sua fama como uma chefe abusiva, a relação entre Wintour e Leon Telley foi, por muitas vezes, um laço simbiótico. Contudo, nem mesmo ele escapou da implicância da editora mais temida do mundo.
Por muitas vezes, Wintour enviou Leon Telley para spas detox. Isso porque ela insistia que ele deveria perder peso. E as despesas, é claro, eram pagas pela Condé Nast. Contudo, o jornalista disse em entrevista que ele adorava esse cuidado.
Mas, afinal, qual foi a rixa entre os dois? De acordo com o The Guardian, André Leon Talley ficou furioso ao ser trocado por uma Youtuber. Ele era quem conduzia as entrevistas no tapete vermelho do Met Gala. Porém, em 2018, foi substituido por Liza Koshy.
Para o The Guardian, ele afirmou que foi dispensado porque “de repente eu virei muito velho, muito acima do peso e nada descolado”.
- Quer saber mais sobre os bastidores da moda? Então leia também – Kamala Harris: entenda a recente polêmica sobre a capa da Vogue
3. Ele cresceu no sul dos Estados Unidos durante o período segregacionista
André Leon Talley nasceu e foi criado durante a Era Jim Crow, onde leis estaduais e locais impunham a segregação racial no sul dos Estados Unidos. Em inúmeras entrevistas, o ex-editor da Vogue falou sobre a sua infância e como as leis segregacionistas definiam as fronteiras sociais.
“Durante muito tempo minha avó não permitia que brancos entrassem em nossa casa. Essa era a regra dela. O único homem branco que entrava na casa era o legista”, afirmou Talley em entrevista ao NY Post.
Contudo, seu amor pela moda foi cultivado desde cedo pela avó e também pela descoberta da revista Vogue, encontrada na biblioteca local aos nove ou dez anos de idade.
4. Inicialmente, André Leon Talley planejava ensinar francês
Antes de conhecer Diana Vreeland, ele pretendia utilizar seu mestrado em literatura para ensinar língua francesa. Mesmo apesar da paixão pela moda – que o acompanhou desde criança – foi apenas após trabalhar com a icônica editora que ele decidiu seguir carreira na área. Certamente, o mundo da moda agradece!
- Para saber mais, leia também: Diana Vreeland – A primeira editora de moda
5. Leon Talley também sofreu discriminação e hate durante a sua carreira
Por fim, em seu livro o jornalista relembrou as vezes em que sofreu racismo – aberto e velado – de seus colegas. Assim, ele conta que, durante os anos 70, um RP de moda se referia a ele como “Queen Kong”, em referência depreciativa ao filme King Kong.
Ainda na mesma época, um colega o chamou de “gazela negra”, acusando-o de dormir com todos os designers de Paris, a fim de humilhá-lo e removê-lo do emprego. Após o escândalo, mortificado e furioso, Talley deixou a França e voltou para Nova York.
Em uma entrevista concedida em 2020 ao The Guardian, ele afirmou que os episódios despertaram em si uma responsabilidade diferente. “Sou descendente de escravizados, e isso está sempre na minha mente. Portanto, tudo o que eu articulo deve, de alguma forma, refletir quem eu sou como homem negro. E o que posso transmitir para a história da moda”, disse.
Conclusão
Finalizando, podemos dizer que André Leon Talley foi certamente um ícone da moda em sua geração. Hoje a indústria se despede, com pesar, de um homem que conquistou seu espaço em um dos mundos mais seletos. Afinal, seu talento ímpar, humor ácido e perspectiva inovadora marcaram para sempre a história.
- E por último, não deixe de conferir nossa categoria História da Moda. Nela você confere todos os acontecimentos e personalidades mais marcantes da indústria.