Alice e seu país das maravilhas

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Vitrine Louis Vuitton

Vitrines são mundos dentro de outros. Como a Terra, possuem suas fases de rotações e translações. Modificam-se periodicamente, pois são organismos “vivos”, metaforicamente dizendo. Possuem ciclos: nascem, se desenvolvem e, por fim, morrem, abrindo espaço para uma nova formulação surgir. Fênix de si mesmas.

Geradora de sonhos, vontades, desejos, status, e muitos conflitos pessoais [será que compro ou não compro?] sempre mantém um vínculo com o espectador-comprador, através da sedução, dizendo sutilmente: “Você pode ter. Você pode ser”. E tudo aparenta ser belo, magnífico, nos sentimos bem, com nossos egos massageados, pois o diálogo é esse – “você pode”.

Contos de fadas à parte, a vitrine é um território considerado multifacetado. Vários estágios a compõem. Se destrincharmos essas etapas, veremos que primeiro, ela tem o propósito de ser vista, segundo o livro Vitrinas Entre Vistas de Sylvia Demetresco, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP . E se tem esse propósito, é porque tem um motivo óbvio – o econômico – o de vender ou pelo menos, tentar. Mas essa seqüência é um processo, pois o mundo da ‘moda’ transita em diversos níveis sociais, como políticos, psicológicos, históricos, culturais.

A premissa, ou promessa, de que nós só seremos alguém se tivermos tal roupa, tal sapato, aquele carro, aquela casa [e tem que ser uma na praia e outra no campo], viajar ‘N’ vezes por ano, é muito complexo e funciona igual como o nosso próprio corpo físico. Se não houvesse os ossos, não pararíamos em pé. E se não houvesse os músculos, não poderíamos andar, assim como se não possuíssemos vasos sanguíneos para o sangue, não teríamos o ‘combustível’ para realizarmos nossas atividades diárias.

Em suma, o meio-ambiente da moda não difere dos demais meio-ambientes que existem aos milhões. É um micro sistema coabitando e co-existindo em um mesmo lugar. Sincreticamente.

Mas para que haja vida dentro das vitrines, pois somente a intervenção humana faz com que ela tome forma e sentido, o vitrinista deve contar com a sua criatividade, e é claro, com a proposta da marca em que ele foi contratado. Como qualquer outra profissão, para que haja atração estética, deve haver responsabilidade e seriedade no montar as vitrines. É um negocio, antes de qualquer coisa. O ideário de um vitrinista, talvez seja tornar o produto que ele vai trabalhar em algo vital à pessoa, algo que ela necessite. Pois se não, não haveria motivos para que ela existisse.

Persuasivo, como a tentação do desejar, e do tocar, e do possuir, a vitrine, nada mais nada menos, é um reflexo de nossas vontades sensitivas e estéticas no âmbito visual. Nos projetamos virtualmente num país cheio de maravilhas, que até existem na realidade, mas que nem todos podem interagir igualmente. Tem horas que temos que virar a nós mesmos ou a outrem, nos situar com os pés no chão e dizer: Acorda Alice!

Por Diego Carvalho

Colaboradores: Colaboradores do Fashion Bubbles
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