Olimpíadas 2021 e feminismo: atletas enfrentam duplo padrão de uniformes

Nas classificatórias, ginastas alemãs competiram de macacão cobrindo todo o corpo. Assim, mostraram a importância de falar sobre Olimpíadas 2021 e feminismo

Mulheres fazendo história no esporte: as ginastas alemãs competiram de macacão, enquanto a seleção norueguesa de handebol de praia jogou de shorts. Fonte: Reprodução/Instagram @seitzeli e @norwaybeachhandballwomen

Os temas Olimpíadas 2021 e feminismo nem sempre caminharam juntos. Na Grécia Antiga, as mulheres eram proibidas não só de competir, mas também de torcer nas arquibancadas. Os primeiros Jogos da Modernidade aconteceram em 1896, em Atenas, com 241 atletas – todos homens.

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Foi só em 1900 que a situação começou a mudar: em Paris, a participação feminina foi de 2,2%. Apesar de Tóquio 2020 ser a edição mais equilibrada até hoje – dos quase 11 mil atletas, 48,8% são mulheres e 51,2%, homens – estamos longe de ver uma igualdade de gêneros nos esportes.

Isso porque uniformes curtos, justos e desconfortáveis para mulheres são uma realidade em várias modalidades. É o caso da ginástica artística e do vôlei de praia, por exemplo. Nesse sentido, vemos cada vez mais atletas se posicionando contra os duplos padrões. O objetivo é, assim, conquistar autonomia sobre o próprio corpo.

 

 

Ginastas alemãs nas Olimpíadas 2021 e feminismo

 

 

Cravar as acrobacias da ginástica artística já é um desafio enorme. Imagine, então, precisar fazer isso usando um uniforme cavado e justo que te incomoda? Muitas atletas, aliás, usam adesivo corporal ou spray de cabelo para evitar que o collant saia do lugar durante suas apresentações.

Assim sendo, a equipe alemã resolveu competir nas Olimpíadas 2021 com macacões que cobrem as pernas. De acordo com as atletas, o objetivo é combater a sexualização no esporte. Afinal, a modalidade é famosa por escândalos de abuso sexual. Recentemente, o ex-médico da equipe dos Estados Unidos Larry Nassar foi condenado a 175 anos de prisão por abusar de ginastas durante décadas.

“Nós queríamos mostrar que toda mulher, todo mundo, deveria poder decidir o que vestir”, afirmou a ginasta Elisabeth Seitz à revista Time. Os trajes que as atletas alemãs usaram não são proibidos, mas deram o que falar. Isso porque a prática não é tão comum. No entanto, pode servir de exemplo para que as próximas gerações de esportistas vistam o que as deixa confortáveis.

 

 

Ginastas alemãs no treino de pódio e nas classificatórias. Fonte: Reprodução/Instagram @seitzeli e @pauline_schaefer

 

 

Rebeca Andrade e Flávia Saraiva demonstraram apoio

 

 

Em entrevista ao canal SporTV logo após as classificatórias, as ginastas brasileiras apoiaram as alemãs. Para Rebeca Andrade, “isso mostra que a gente está lutando por uma coisa que vai fazer a diferença. Que vai fazer outras gerações se sentirem melhor. Se sentir confortável em um collant que te deixa segura é o melhor a se fazer”.

“É uma vitória das mulheres. A gente veio trabalhando não só de hoje, mas durante anos. É uma vitória para a gente também”, finalizou Flávia Saraiva.

 

 

 

 

Vôlei de praia: dois pesos e duas medidas

 

 

Sem dúvida, outro esporte polêmico em relação aos uniformes é o vôlei de praia. Enquanto a vestimenta tradicional dos homens consiste em shorts e camiseta regata, as mulheres jogam de biquíni. Quer faça calor, quer faça frio.

Em entrevista à revista TPM, a atleta Carol Somberg afirmou que se sente exposta usando o uniforme pré-estabelecido para o esporte. “É triste pensar que um esporte está relacionado à pessoa ligar a TV e ver mulher de biquíni. Não é esse o jogo”, explica.

 

 

As duplas Alison e Álvaro Filho e Ana Patricia e Rebecca em suas respectivas estreias nas Olimpíadas 2021. Fonte: Reprodução/Instagram @timebrasil

 

 

 

 

Antes das Olimpíadas 2021

 

 

No entanto, não é de hoje que as regras dos uniformes recebem críticas. Em 18 de julho, durante os Campeonatos Ingleses, a atleta paralímpica Olivia Breen passou por uma situação delicada. Logo após competir no salto em distância, ela ouviu de uma voluntária do evento que seu uniforme era muito revelador. E que, por isso, ela deveria comprar um shorts.

“Eu me pergunto se um competidor do sexo masculino seria criticado da mesma forma”, afirmou em um post no Twitter.

Um dia depois, a seleção feminina norueguesa de handebol de praia recebeu uma multa de 1500 euros da Federação Europeia de Handebol. Isso porque as atletas usaram shorts em vez de biquíni durante uma competição.

Por outro lado, a regra permite que os homens usem camiseta e shorts de até 10cm acima do joelho. A repercussão na internet foi grande e até P!nk se ofereceu para pagar o montante. A cantora afirmou estar orgulhosa da equipe e acredita que a Federação deveria se denunciada por sexismo.

 

 

As seleções masculina e feminina de handebol de praia da Noruega. Fonte: Reprodução/Instagram @norwaybeachhandballwomen

 

 

As norueguesas receberam multa por jogarem de shorts. Fonte: Reprodução/Instagram @norwaybeachhandballwomen

 

 

 

 

História dos uniformes femininos

 

 

A primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro olímpica foi Charlotte Cooper, em 1900. Na época, a tenista precisava usar roupas que limitavam muito o movimento. Contudo, os uniformes foram ficando cada vez mais leves. Hoje, por exemplo, vemos atletas como Serena Williams usando macacões nas quadras.

 

 

Charlotte Cooper e Serena Williams em quadra. Fonte: Wikimedia Commons e Reprodução/Instagram @serenawilliams

 

 

Do mesmo modo, o uniforme do basquete feminino também sofreu uma evolução. Durante as Olimpíadas de Sydney em 2000 e Atenas em 2004, a seleção brasileira jogou com um macaquinho colado no corpo. Hoje, elas podem competir com uniformes largos, assim como os masculinos.

 

 

Fonte: Wikimedia Commons e Reprodução/Instagram @basquetecbb

 

 

Quem define o uniforme de competição são as federações internacionais de cada esporte. Assim, espera-se que os protestos de atletas e do público gerem mais mudanças. Afinal, estamos vendo avanços nos últimos anos. Mas muito ainda precisa ser feito para garantir às atletas o respeito que elas merecem.

 

 

Laís Rodrigues: Laís Rodrigues é jornalista e produtora de conteúdo. Já trabalhou como redatora e editora de revistas de Decoração, Beleza e Comportamento e agora é pós-graduada em marketing digital e se dedica a escrever para a Internet.

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