A LIZZI é uma marca franco-brasileira que atravessa regularmente o Atlântico para trazer ao público coleções em edições limitadas que são desenhadas na França e fabricadas no Brasil. LIZZI apropria-se das técnicas de costura “à la francesa” com um toque de criação “à brasileira” o que torna suas peças únicas.
A grife tem um perfume futurista, não só em suas formas estruturadas mas principalmente na identidade, trazendo conceitos de sustentabilidade, preservação das origens e principalmente respeito às trocas feitas com todas as pessoas envolvidas no processo criativo de uma coleção. Desde os agricultores, artesãos e costureiras, até os coletivos de artistas e músicos que desejam seguir com o seu “savoir-faire” que numa tradução livre possui o significado de saber-fazer e está muito associado ao artesanal.
A Lizzi busca contribuir e perpetuar a arte do “savoir-faire”, com a difusão desse trabalho, assim como busca limitar o impacto ecológico. A Coop Natural, parceira da marca desde 2010, é a primeira cooperativa no Brasil a produzir um algodão certificado biológico e naturalmente colorido. Trata-se da certificação IBD, reconhecida por todas as organizações internacionais (USDA Organic, JAS Organic…).
Esse belíssimo trabalho de proteção do “savoir-faire” artesanal é realizado principalmente ao descobrir comunidades e famílias que organizaram-se com base nestes trabalhos, levando em consideração dois pontos:
1 – da pesquisa sobre grupos de artesãos ameaçados de desaparecer do mercado e raramente aplicados ao setor da moda;
2- de trabalho com grupos que aplicam suas técnicas ornamentais e artesanais que fortalecem uma identidade cultural;
Em tempos de globalização, quem não sabe quem é, também não sabe para onde vai. Tradições seculares quando desaparecem levam consigo uma parte importante da identidade, devemos mantê-las vivas. A Lizzi, através da moda, busca levar uma nova aplicação que gere renda para esses artistas. “Eles tem nas mãos uma delicadeza incomensurável….” explica a estilista.
Confira agora entrevista com a Lisyane Arize contando tudo sobre a marca!
Entrevista com Lisyane Arize, criadora da marca
Denise Pitta: Como nasceu a proposta da Lizzi?
Lisyane Arize: A Lizzi nasceu da proposta de mudar um pouco o olhar da mulher relacionado a dependência da roupa. Uma coisa que sempre destaco é a dependência da sensualidade na roupa.
A marca nasceu a partir de um momento que eu fui para França e encontrei um sócio que teve um olhar sobre minha criação e identificou que a Lizzi tinha um potencial no mercado internacional. Fui para estudar e encontrei o Timothee que trabalhava com moda, principalmente com comércio exterior.
Ao conhecer o estilo e conceito de sustentabilidade que eu transmitia nas peças, ele percebeu que a marca podia ganhar espaço na França: “uma marca brasileira que trabalhava alguns pontos do essencial universo feminino com muita delicadeza”, resumia Timotheé.
As peças da Lizzi podem ser adquiridas no E-shop da marca e possuem preço justo, como este bolero todo trabalhado em renda labirinto com valor de R$352.50. A grife possui peças a partir de R$160.00.
Eu já trabalhava muito com essa questão do “savoir-faire” artesanal no Brasil. Eu queria trazer algo do Brasil para a França, eu queria construir algo na França que o francês pudesse consumir, mas que em algum ponto ele lembrasse do Brasil, mas não do Brasil clichê… Então resolvi levar um trabalho feito com rendas e bordados de comunidades brasileiras.
O que lhe chamou atenção foi o fato de ser uma peça com perfil francês em cortes, cores e acabamento, mas que tinha um “quê” do brasileiro. Em minha percepção, as francesas não são nada sensuais e esses detalhes com os bordados ou com pequenos toques femininos da brasileira dava um tom especial para a expressão da francesa e ele achou super interessante essa leitura, em que consegui mesclar essas duas culturas.
O slogan da grife foi criado pautado nesse aspecto: uma marca que é um ponto entre duas culturas completamente diferentes e a gente conseguiu esse equilíbrio. Daí nasceu: “Lizzi, uma ponte entre duas culturas”.
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DP: Como construir essa ponte entre duas mulheres de culturas tão diferentes?
Lisyane: É justamente a busca de equilíbrio de uma mulher… Eu não buscava uma mulher sem nenhuma sensualidade, como a francesa. Nem com a sensualidade exaltada da brasileira que muitas vezes se mescla com o vulgar. Acho que a mulher brasileira trabalha muito sua sensualidade, o que acaba trazendo uma insegurança.
Já a mulher francesa, ela traz muito o intelecto, que lhe dar uma elegância bem particular, diferente de outras mulheres do mundo que já encontrei, mas que ao mesmo tempo, traz uma rigidez. A mulher francesa é mais rígida, e, eu queria mesclar e encontrar um ponto de equilíbrio entre essas duas mulheres e essas duas culturas.
É a mulher que eu busco ser, que eu quero ver, é uma mulher que pode ser bonita, pode ser elegante e pode ser sensual, mas que não necessita ser escrava de tudo isso. A roupa é para afirmar a mulher que existe, como um todo, e, não para dar insegurança a um corpo somente…
Minha roupa não é para afirmar que a mulher é só o corpo, é para mostrar a mulher como o “todo” que ela é… Uma ponte de fato, que liga dois pontos de uma mesma mulher: o externo e o interno, afinal você quer ser uma mulher e não quer ser uma mulher objeto. Você que ser feminina e pode ser intelectual como as francesas. Você pode ser elegante, mas isso não te elimina de ser mulher.
DP: Qual a expectativa da Lizzi para essa nova mulher?
Lisyane: Quando meu sócio viu minha roupa, a minha coleção, ele disse: “ acho que sua coleção pode ser bem vendida na França”. Porque procuro trazer uma essência que as mulheres começam a buscar, sem vulgarizar, porque os franceses odeiam a vulgaridade e ao mesmo tempo é uma roupa que é criada para uma mulher brasileira a ser construída, uma mulher brasileira que hoje é independente, trabalha, é linda e não necessita ser vulgar.
A mulher brasileira que eu quero ver. Quero ver a minha filha, por exemplo, usar. Esses são questionamentos que eu faço diariamente, a roupa para mim é um comportamento, uma atitude e uma roupa para mim, é como uma vida, tem a leitura de uma vida… Eu quero usar uma roupa que a minha filha vai usar e que minha neta possa usar.
Essa roupa tem que ultrapassar gerações e não pode ser vulgar. Porque não faz parte da minha personalidade me tornar unicamente um objeto sensual. Na França com o Tim, conseguimos encontrar esse ponto de equilíbrio que é bem interessante para marca e foi o que deu o início, o ponto de partida para criação da identidade da Lizzi.
DP: Conta um pouquinho a história da marca e onde está sendo vendida?
Lisyane: A Lizzi começou na França e atualmente temos 26 pontos de venda no país: três lojas em Paris, Bordeaux, Toulouse, Saint Emilion. Somos muito mais voltados para o sul da França. Temos distribuição em algumas cidades do Sul da França e no Brasil já temos cinco pontos de venda: Rio de Janeiro, Salvador, São Luiz, Fortaleza, e, provavelmente já chegando em São Paulo nos próximos meses.
A marca tem três anos e começamos a nos desenvolver através de multimarcas, e, um diferencial que temos procurado, é encontrar multimarcas que realmente busquem a sustentabilidade de criadores mais originais que estão além das tendências do mercado para hoje, do fast fashion. Nós não queremos ser uma marca que represente o agora unicamente, então nossa identidade está voltada para lojas que busquem uma moda mais sustentável, não sustentável apenas em relação aos materiais, mas também no que diz respeito às formas, ao corte e à identidade de fato.
Em termos do comercial, hoje temos uma meta que é atingir no mínimo a venda de 200 peças por coleção, que é nosso ponto de equilíbrio, trazendo um trabalho mais autoral que envolvem processos manuais.
Nós funcionamos com dois projetos diferenciados: o Lizzi prêt-à-porter, que funciona com peças prontas e disponíveis para venda direto nas multimarcas e temos também um projeto que é o Lizzi Exclusif, onde a gente desenvolve projetos para clientes dentro da nossa criação já existente.
Para trabalhos sob medida, pedimos um mínimo de três meses de antecedência e que o cliente esteja a vontade com o trabalho de expressão e identidade da marca.
O trabalho sob encomenda tem funcionado e tenho gostado muito de realizar, porque na criação você trabalha com o universo psicológico da mulher, o universo de insegurança que permeia o imaginário dessa mulher, o que acaba sendo um campo de pesquisa para o que eu quero desenvolver dentro da marca e do que eu não quero desenvolver.
O interessante é que todo trabalho sob medida é desenvolvido à distância, normalmente via skype.
Optamos por realizar esse tipo de criação, através de um convite do site francês Mode Exclusive que desenvolve só projetos exclusivos. Tivemos esse convite, e, até então não desenvolvíamos este tipo de trabalho, optamos por aceitar, o que acabou gerando essa nova demanda para marca.
O resultado foi uma ponte que não tínhamos, um contato direto com o consumidor final, algo que queremos manter, porque nosso objetivo ao longo de 5 anos, é ter nossa própria loja e esse contato acaba se tornando importante, já que nos leva a conhecer quem é nosso consumidor final, o que que eles procuram.
DP: Qual a estrutura da marca?
Lisyane: Atualmente somos em dois sócios e seis pessoas fixas, um comercial, um gerenciador de redes e mídia, nossa equipe de costura e bordados, que na verdade, chamamos de laboratório. Nossa produção em série é terceirizada.
Essa é a equipe fixa, aí durante os desfiles e momentos de picos, nós temos uma demanda para trabalhos freelancers, o que gira em torno de 10 a 12 pessoas trabalhando em 2 ou 3 meses antes do desfile. Temos um ateliê terceirizado que faz nossa produção e está localizado na Bahia. Em São Luiz são desenvolvidos os trabalhos artesanais e também já trabalhamos com artesãos da Paraíba.
Esse ano tivemos inclusive, uma premiação do ministério da cultura, pela iniciativa de Economia Criativa, pois é um trabalho que não tinha sido explorado pelos artesãos de São Luiz voltado para moda. Foi bem interessante esse reconhecimento, porque é um mérito: já são 3 anos desenvolvendo esse trabalho com a comunidade. São artesãos que tem um trabalho de “savoir-faire” artesanal que é super valioso e que hoje no Brasil está em extinção e se não for economicamente viabilizado vai se tornar extinto …
DP: Isso é que é globalização: as peças são feitas na Bahia, com trabalhos artesanais desenvolvidos em São Luiz, vendidas na França e desenhadas onde você estiver pelo mundo… Como você consegue acompanhar todo esse processo produtivo tão complexo?
Lisyane: Uma vez por coleção, a cada seis meses, eu passo na Bahia para fazer o controle de qualidade. Hoje muito menos pois já temos 4 anos em parceria com esse mesmo ateliê e desenvolvemos credibilidade e confiança, o que deixa nossa margem de erro dentro da produção muito pequena. Dentro dente contexto, já tem duas coleções que eu não acompanho fisicamente a produção. Hoje me concentro muito mais no trabalho dos artesãos que tem uma margem maior de erro, do que unicamente na concepção produtiva.
DP: Quais os maiores desafios da sua trajetória?
Lisyane: O maior desafio é continuar fazendo uma ponte França – Brasil. É um grande desafio porque primeiro temos que adaptar duas coleções, para públicos diferenciados sem perder a identidade da marca. A coleção que é desenhada para França não pode ser integralmente comercializada no Brasil por uma questão de clima, de material, da própria forma. Ela precisa ser adaptada de uma forma que não se deixe perder a identidade pensada para marca, o que não é um trabalho tão simples.
DP: Se em algum momento você tivesse que escolher entre França ou Brasil, qual você escolheria?
Lisyane: Essa é uma questão muito difícil de responder. Não conseguiria escolher, só se eu for obrigada em algum momento a escolher, talvez eu consiga, mas hoje eu gosto de criar os dois. O inverno para mim, me dá elementos muito interessantes, eu gosto muito de sobreposição, por exemplo, e, é muito mais fácil trabalhar em um o lugar com o inverno do que com o verão. Trabalhar o verão que é o que a gente tem no Brasil, em nossa condição climática é mais lúdico e um acaba alimentando o outro. Acredito que a Lizzi, por mais que eu decidisse trabalhar um dos dos países exclusivamente, a marca continuaria a sofrer influência dos dois.
DP: Para encerrar, deixa uma mensagem para nossos leitores.
Lisyane: Hoje a Lizzi trabalha com público feminino e a gente busca trabalhar não a sensualidade da mulher de uma forma exagerada. A nossa mensagem é que busquem sempre ser original com a moda e não se prendam a ditaduras que a moda tenta ser. Pois, a moda, na verdade, é uma expressão e se isso é uma ditadura não faz sentido existir moda.
A trajetória da estilista Lisyane Arize
Lisyane Arize nasceu no interior da Bahia. Desde sua infância, inclinava-se para moda e aos 13 anos de idade começou a participar numa cooperativa criando fantasias durante as festas tradicionais da região.
Aos 17 anos mudou-se para Salvador, iniciando seus estudos em geometria, o que rapidamente lhe deu inspirações para sua primeira coleção. Com o sucesso dessa criação mudou-se para o Rio de Janeiro onde realizou seus estudos acadêmicos em estilismo na Universidade Cândido Mendes.
Após finalizar seus estudos, decidiu conhecer as regiões norte e amazônica do país, instalando-se na cidade de São Luis do Maranhão. Integrou durante dois anos a equipe de vestuário do SENAI, assumindo a coordenação do Núcleo de Design dessa Instituição.
Ganhou por dois anos consecutivos o SLZ Fashion (maior evento de moda do Maranhão), como novo talento.
Em meados de 2011, a estilista foi para a França. A Lizzi foi lançada em julho 2013 em Bordeaux e participou com ela nas duas últimas edições do Dragão Fashion Brasil, maior semana de moda autoral brasileira realizada em Fortaleza (2104 e 2015). A grife também marcou preseça na primeira edição do Palais de la Bourse de Bordeaux 2014.
2016 a marca veio cheia de surpresas: desfile no DFB 2016, a convite da maison Suíça irá realizar um desfile sensitivo para a abertura da Paralimpíadas Rio 2016 e mais Zip Zone Paris, Casa dos criadores…
Lisyane Arize em desfile realizado no Dragão Fashion 2016 /Denise Pitta e Lisyane Arize
A marca faz uma ponte entre Brasil e França
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