Helena Montanarini fala sobre o mercado de moda masculina e revela tendências em entrevista exclusiva

Uma das mais importantes consultoras da moda masculina revela o que vai ser hit nas próximas estações

Há pouco tempo o homem brasileiro era extremamente conservador no que se refere à Moda, mas este panorama vem passando por uma grande transformação e nosso clássico homem começa a descobrir a importância da imagem e o universo das roupas, passando aos poucos a ousar em cores e formas, sem que isto contradiga sua masculinidade ou credibilidade.

Quem fala dessa mudança é a Helena Montanarini, uma das mais importantes consultoras de Moda Masculina no Brasil, com mais de 20 anos de experiência, compradora especializada em marcas de luxo, que já foi apontada – pela revista The Italian Fashion Weekly Magazine – como uma das seis compradoras mais importantes do mundo em moda homem.

A Trajetória

Formada em desenho industrial, Helena optou pelo jornalismo ao ser convidada para trabalhar na Editora Abril, como produtora. Depois passou a escrever sobre moda para veículos como O Estado de São Paulo, Vogue e Interview. Em 1979, cursou a Studio Berçot em Paris, desenvolveu uma consultoria para indústrias têxteis brasileiras, além de produzir desfiles para nomes como Jean Paul Gaultier, Thierry Mugler, Anne-Marie Beretta entre outros.

De volta ao Brasil, atuou como diretora do projeto de lançamento da marca Giorgio Armani no país, e depois mudou-se para Nova York, onde deu início ao projeto da primeira loja multimarca de moda masculina para o mercado brasileiro. Nascia ali a Daslu Homem.

“Sempre gostei de moda masculina em uma época que ninguém falava desse segmento.” Revela Helena. “Trabalhei na Revista Vip, depois fui trabalhar com o Sr Armani. Na época – anos 90 – era a Vila Romana que estava trazendo o Armani para o Brasil em licença. Depois de cinco anos, o Armani terminou a licença e fui convidada pela Eliana Tranchesi da Daslu, para montar o projeto Daslu Homem, foi aí que tive acesso a mais de 60 marcas masculinas, acesso ao Pitti Uomo e a todas as feiras de moda masculina. Meu conhecimento realmente deu um upgrade muito grande nesta área.” Conta a consultora.

Peculiaridades do Mercado de Moda Masculino no Brasil

Com toda essa experiência, Helena Montanarini, revela um dos seus grandes diferenciais: “Conheço muito bem o cliente, sou especialista no homem brasileiro. Então as compras, são sempre muito assertivas porque compro pensando neste homem. Na época, anos 90, o homem brasileiro era mais clássico, então eu comprava 70% de clássico e 30% de fashion”. Hoje ela conta que faria diferente: “60% de Fashion e 40% de clássico.”

A consultora foi chamada pelo Grupo Restoque, donos LeLis Blanc, para desenvolver o conceito e o projeto da marca masculina do grupo. “Foi quando deu para perceber que o homem brasileiro está muito mais propício a produtos um pouco mais fashion e já não é a mulher quem compra, antigamente, era só a mulher. Hoje o homem gosta de ir à loja, de ter a vivência, de ser atendido, de ele escolher as peças.”

Outro ponto de destaque segundo a compradora é que “o homem tem uma característica muito importante quando comprador, o homem se não entende, procura entender, de tecido, de corte, não gosta de comprar quantidade, mas prefere qualidade. Se você faz um produto muito bem acabado por dentro, ele percebe. Já a mulher não tem tanta preocupação, é mais pelo externo e o homem é mais o interno. As marcas mais bacanas de moda masculina tem forro bom, como o Paul Smith que lançou forro colorido, listrado… Tudo que é interno no masculino vem muito mais detalhado.”

Além da questão estética, Helena comenta ainda a complexidade da confecção na moda masculina. “Para você fazer uma roupa de homem você gasta muito mais tempo que para fazer uma roupa de mulher, você tem a técnica da sartoria – que é da alfaiataria – que são técnicas mais complicadas e que levam mais tempo. É um mundo a parte, um mundo mais sutil, mais muito rico e muito completo, para mim é fascinante!”

Tendências da Moda Masculina – Pitti Immagine Uomo

Helena Montanarini frequenta a Pitti Uomo há 20 anos, “era uma feira pequena e hoje se consagrou como a mais importante feira da moda masculina, lá estão todas as marcas. Antes era muito focada em moda italiana, depois eles abriram para os ingleses e depois para o mundo inteiro. Hoje você tem japoneses, africanos, islandeses, indianos… Infelizmente, a America do Sul ainda é muito pouco explorada, talvez porque na moda masculina não tenha aparecido ainda uma marca tão importante para estar lá, a não ser a Osklen, mas que nunca participou, preferiu construir seu caminho a parte da feira.” Revela Helena.

Para ela um dos pontos mais importantes de uma feira como esta é que “você tem os compradores do mundo inteiro, então o Pitti é um termômetro da Moda Masculina. Mesmo que você não tenha loja, não tenha que comprar nada, você vem ao Pitti Uomo para saber das tendências, apesar de ser um evento focado no Homem você consegue perceber as tendências do que está acontecendo no mundo todo, você reflete isso na moda masculina, na moda feminina”

Tendências para o Verão Brasileiro

Sobre as principais tendências da Pitti Immagine Uomo 86, Helena comenta que “houve uma confirmação de tendências já propostas na edição anterior e que agora realmente estão sendo confirmadas porque já começamos a ver na rua, no streetwear”.

Confira os destaques para o Verão Masculino segundo o olhar de Helena Montanarini

  • As cores. É fato que a gama de cor vem com muita cor forte, tendência que começou há três anos e agora realmente pegou, você vê na rua os homens usando roupas mais coloridas, e não é só jovem, tenho visto pessoas de 50 anos usando calça verde, vermelha, com palitó azul marinho, camisa branca. Eu acho um novo clássico, que defino como o new classic – o clássico revisitado;
  • Paletó mais curto. Essa é uma grande tendência. Paletó sem ombro, trans-passado curto, sem forro que chama foderato na Itália, é uma peça que é como se fosse uma camisa, só que em vez da camisa se usa essa peça para ficar mais chique e composto;
  • Calças também mais curtas (cerca de um cm mais curtas). Tendência que no Brasil o homem ainda não entende, nas lojas é a maior dificuldade de mostrar que uma calça é chique quando ela não cobre os sapatos, tem que ser acima, ali no ossinho, para não ficar aquela calça larga fazendo um monte de prega. E deve ter uma modelagem mais ajustada. Mas o jovem brasileiro já tem esse olhar. Felizmente você vê muito jovem brasileiro com esse novo shape;
  • Estamparia. Outra coisa que está confirmada é estampa para o homem, e a África hoje é o tema principal. Florais, listras, cashmeres. Destaque também para os geométricos, que é uma busca pelo étnico, pelos países africanos, principalmente nas cores marrom com amarelo, além do tradicional azul marinho, branco, com toques de vermelho;
  • Polos. Não tem mais essa moda de usar polo, o brasileiro não percebeu, mas essa moda já acabou, as polos são peças para se usar muito mais na praia do que na cidade;
  • Tecidos. Os destaques são o algodão e o linho. O italiano gosta de linho e exportou essa moda para todo o mundo. Estive no Japão e vi, por exemplo, muitos homens com ternos de linho, geralmente made Italy.  O linho vem pouco misto, em tecidos mais puros.
  • Sobre a resistência do brasileiro em relação ao linho: O brasileiro tem resistência ao linho por causa do amassado, até o dia que entender que o bonito do linho é o amassado.  Os italianos não deixam passar suas peças de linho, que são lavadas e vestidas direto , tem até o que amassam com a mão. Mas é cultura, a cultura do brasileiro é usar algodão.

Na moda masculina Helena Motanarini destaque como tendência paletós e calças mais curtas e ajustadas

Colorido vibrante é outro destaque, assim como as estampas que aparecem com muita força, principalmente as que trazem como tema a África

A moda masculina passa por uma transformação e os homens começam a ousar mais em cores, estampas e shapes

Paletós mais justos, materiais como linho e estampas estão entre os destaques para as próximas estações segundo a consultora

Helena Motanarini e Denise Pitta, editora do Fashion Bubbles

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Imagens: Fashion Bubbles, Instagram Helena Montanarini, Foto de abertura: Carolina Augusta

Por Denise Pitta

 

 

 

Denise Pitta: Denise Pitta é digital influencer e empreendedora. Uma das primeiras blogueiras de moda do país, é idealizadora do Fashion Bubbles, e também CEO do portal que já recebeu mais de 110 milhões de visitas. Estilista, formada em Moda e Artes Plásticas, atuou em diversas confecções e teve marca própria de lingeries, a Lility. Começou o blog em Janeiro de 2006 e atualmente desenvolve pesquisas de Moda Simbólica, História e Identidade Brasileira na Moda e Inovação. Além de prestar consultoria em novos negócios para Internet. É apaixonada por filosofia, física quântica, psicanálise e política. Siga Denise no Instagram: @denisepitta e @fashionbubblesoficial

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