Fertilidade Feminina – Precauções para quem deseja adiar a maternidade

Médico especialista em Reprodução Humana, Dr. Geraldo Caldeira, tira as principais dúvidas sobre fertilidade feminina depois dos 40, gravidez na maturidade, com muitos dados, dicas e um manual com precauções que devemos tomar.

Como muitas mulheres, fui adiando a gravidez. Tinha uma noção das dificuldades de engravidar em uma fase mais madura, no entanto, a verdade, é que de fato eu não sabia, o quanto era difícil ter a primeira gestação depois dos 40 anos.

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Por isso resolvi fazer um especial sobre a fertilidade, ou melhor, a infertilidade feminina nas mulheres maduras. Para tirar as principais dúvidas, convidei o especialista em Reprodução Humana, Dr Geraldo Caldeira para nos explicar tudo direitinho.

Desta forma, segue um manual com precauções que devemos tomar, dados sobre a fertilidade feminina após os 35 anos, qual a idade ideal para congelar óvulos, quando procurar um especialista em casos de não conseguir engravidar e outras questões. Confira!

O depoimento de uma mulher madura, após adiar a maternidade

É cada vez mais comum que as mulheres adiem o sonho de ser mãe.

Muitos motivos as levam a essa decisão, ou muitas vezes nem há uma decisão. Vamos apenas empurrando com a barriga, achando que com a gente será diferente e na hora certa tudo acontecerá, mesmo que já depois dos 40 anos.

Pelo menos é isso que escutamos:

  • “Não fique ansiosa, na hora certa, as coisas acontecem…”

Paralisadas no conforto deste mantra, o tempo vai passando. Questões profissionais, a falta de um parceiro, enfim, são tantos os motivos.

Ao mesmo tempo, ouvimos acerca de toda a tecnologia existente e as constantes notícias de mulheres que tiveram seus filhos em uma idade mais madura e assim vamos deixando passar.

Chegam os 37 anos, os 38…. até que começamos a passar dos 40.

Muitas vezes, nenhuma providência é tomada: seja a de procurar um médico especializado em infertilidade ou mesmo a busca de informações sobre o congelamento de óvulos, para que possamos estender um pouco mais a garantia ou a esperança da realização do sonho de ser mãe.

-“O importante é não ficar ansiosa…”

Escutamos novamente, e, geralmente essa frase é citada com uma sequência de casos em que foi só partir para adoção que a mulher conseguiu engravidar. Ou quando ela já havia desistido e finalmente foi abençoada…

Sei das boas intenções por trás da repetição de cada um desses casos. Mas, não vou deixar de pontuar aqui que, quase sempre, é colocado como se fosse apenas um problema psicológico. Hora nenhuma é questionada sobre a possibilidade de alguma questão física em um dos parceiros. E em geral, a responsabilidade é colocada por inteiro, nos ombros da mulher e seus “problemas de cabeça”, digamos assim.

Quando finalmente você decide buscar ajuda, lá nos idos dos 40 anos, descobre que toda a tecnologia não adianta nada se você não tiver óvulos saudáveis. Só então, percebe que com você não vai ser diferente coisa nenhuma e entende quão complexa ainda é a primeira gravidez na fase madura.

Finalmente começa a compreender que seus óvulos têm a sua idade: afinal você já nasceu com eles e a natureza tem seus artifícios para garantir que mulheres com idade avançada não engravidem. Por mais que pareçam joviais fisicamente, biologicamente as questões são outras.

Nesta fase tudo muda.

A pergunta não é mais se você quer ser mãe, mas se você pode. Muitas mulheres adiam o sonho de ser mãe, mas, quando decidem abraçar a maternidade, descobrem que já não podem engravidar tão facilmente.

Isso aconteceu comigo.

Aos 41 anos, passei por duas fertilizações e nada. Descobri que nessa idade restam apenas 5% de reserva ovariana, o que torna ainda mais difícil a gravidez depois dos 40.

Alguns dados referentes a fertilidade nas mulheres maduras

  • 25% das mulheres adiam a maternidade, seja para se dedicar aos estudos ou à carreira e 75% por não ter encontrado o par ideal.
  • A partir dos 35 anos, a reserva ovariana é em média apenas 10% da inicial e aos 40 anos apenas 5%.
  • O número de congelamento de óvulos e embriões aumentou mais de 13% entre 2016 e 2017.

Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, cerca de 8 milhões de brasileiros querem ter um filho e não conseguem. Dentre as causas pode-se atribuir cerca de 30% como infertilidade feminina, 30% masculina e 40% de causas mistas.

 

 

Entrevista com o Dr. Geraldo Caldeira, especialista em Reprodução Humana

Para tirar algumas dúvidas sobre fertilidade nas mulheres maduras, infertilidade, fertilização in vitro, congelamento de óvulos e outras questões, entrevistamos o Dr. Geraldo Caldeira. Experiente, ele tem 35 anos de profissão, mais de 10 mil partos realizados e 5 mil Fivs na carreira. Confira:

Denise Pitta – Quando pedir ajuda? Em que circunstância?

Geraldo Caldeira – Casais que não conseguem engravidar, sendo que a mulher tenha até 35 anos e mantenha relações sexuais sem método contraceptivo por um 1 ano, devem procurar auxílio médico.

O mesmo vale para casais onde a mulher já tenha mais de 35 anos e tenha tentado engravidar por 6 meses.

DP – Qual a idade ideal para congelar óvulos?

GC – 35 anos, até os 36 ainda vai bem, mas o ideal é 35 anos.

A quantidade de óvulos disponíveis para a fecundação cai, conforme a idade da mulher avança. Em cada menstruação há uma baixa na reserva e não existe nenhum método para impedir esse ciclo natural.

A partir dos 35 anos, a reserva ovariana em média é de 10% e aos 40 anos apenas 5%, dependendo de cada paciente, o que dificulta o processo de engravidar espontaneamente.

DP – Quais as principais causas para infertilidade?

GC – Na mulher, as principais causas para infertilidade são endometriose, alterações da ovulação e problemas relacionados a obstrução ou má formação das trompas, do útero, entre outras.

Nos homens, as causas mais comuns são oligospermia (quantidade baixa de espermatozoides), astenospermia ( alteração da motilidade), teratospermia (alteração na forma dos espermatozoides), varicocele, trauma testicular e infecção, além de comportamentos como tabagismo, consumo de drogas, medicamentos e obesidade, também podem interferir.

DP – Qual a importância do diagnóstico médico?

Após 1 ano na tentativa de engravidar, o casal de deve procurar um especialista, para diagnosticar possíveis causas da infertilidade, e, se for indicado, começar algum tratamento em tempo hábil.

Um caso simples pode ser resolvido com a inseminação artificial, por exemplo, que facilita o percurso do espermatozoide até o óvulo. Os espermatozoides são capacitados e injetados diretamente nas trompas no período ovulatório.

Em casos mais complexos, pode ser realizada a fertilização in vitro, conhecida como FIV, onde a fecundação ocorrerá em laboratório para posterior implantação do embrião.

DP – Quais exames são necessários no diagnóstico da causa da infertilidade?

Os seguintes exames são obrigatórios: espermograma: ultrassom pélvico transvaginal; histerossalpingografia; perfil hormonal basal (2º ao 5º dia do ciclo) como FSH basal, contagem de folículos antrais e hormônio antimülleriano.

DP – Qual o percentual de gravidez das mulheres aos 40 anos?

A faixa de gravidez das mulheres ao redor dos 40 anos é de 20%, porque elas têm menos óvulos, menos embriões e quando fazem o PGS*, muitas vezes o embrião vem alterado e não dá para usar, por isso a taxa é menor.

Mas, quando ela tem um embrião geneticamente saudável e consegue transferir, a taxa de gravidez é boa. Depende de ela conseguir ter o embrião saudável geneticamente.

* PGS – Estudo genético do embrião; que é o diagnóstico genético pré-implantacional para alterações cromossômicas (PGS) e alterações genéticas (PGD).

DP – Quando pesquisamos na Internet, é comum vermos, pessoas que passaram pela FIV recomendarem a transferência do embrião no D3 (embrião no terceiro dia), evitando chegar ao D5, quando o embrião chega à fase de blastocisto* para tentar aumentar as chances de sucesso. Pode falar sobre estas questões e sobre os riscos dos teste genético para os embriões?

GC – Com a transferência de embriões em D3 a taxa de gravidez é 20% a menos.  Quando você engravida naturalmente, o embriãozinho se implanta no quinto dia, enquanto está na fase de blastocisto.

Só 50% dos embriões de D3 viram blastocisto, ou seja, a metade morre em D4. Então se você transferir em D3  e ele morre dentro do útero você não sabe o que aconteceu. Mas se aguarda chegar ao D5 em laboratório e ele morreu você não pode transferir, evitando mais custos e desgastes para a paciente.

Em relação ao teste genético, quando o laboratório é bom, a bióloga é boa e faz biópsia, bem feita, não tem risco para o embrião.

*Durante a FIV é acompanhada a evolução do embrião. Um blastocisto consiste em um embrião que evoluiu até o quinto dia.

DP – Quais os riscos para a mulher que se submete ao processo de FIV (fertilização in vitro)?

GC – O risco quando você vai fazer FIV com alguém inexperiente, é ter hiper estímulo, quando o ovário fica muito grande, você tem muitos óvulos e a barriga fica cheia de água e na hora da punção para retirada dos óvulos, pegar algum órgão como intestino, bexiga ou algum vaso, desencadeando hemorragia e ter que fazer uma laparoscopia para cauterizar o vaso sangrando.

DP – Para finalizar, que conselho daria para as mulheres que pensam em adiar a gravidez?

Um conselho é que todas as mulheres a partir dos 35 anos façam exames para medir a reserva ovariana. Esses exames são o Hormônio Antimulleriano, FSH e a ultrassonografia transvaginal para contagem de folículos antrais.

Assim, a mulher pode se precaver e preservar a fertilidade, congelando seus óvulos.

 

 

Acompanhe a rotina do Dr. Geraldo Caldeira pelo Instagram: @dr.geralcaldeira . Diariamente, ele tira dúvidas, conceitua procedimentos, relata as dificuldades nos diferentes casos.

Sobre o Dr Geraldo Caldeira

Dr. Geraldo Caldeira é médico ginecologista-obstetra e possui especialização em Ultrassonografia e Reprodução Humana.

Atua no Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana e é membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana 9SBRH). Está na área de reprodução humana há mais de 35 anos, tendo realizado mais de 5 mil FIVs (Fertilização in Vitro) e 10 mil partos.

Sua missão é diagnosticar e oferecer o tratamento mais indicado para problemas de fertilidade conjugal e ajudar a realizar o sonho de muitas pessoas.

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Denise Pitta: Denise Pitta é digital influencer e empreendedora. Uma das primeiras blogueiras de moda do país, é idealizadora do Fashion Bubbles, e também CEO do portal que já recebeu mais de 110 milhões de visitas. Estilista, formada em Moda e Artes Plásticas, atuou em diversas confecções e teve marca própria de lingeries, a Lility. Começou o blog em Janeiro de 2006 e atualmente desenvolve pesquisas de Moda Simbólica, História e Identidade Brasileira na Moda e Inovação. Além de prestar consultoria em novos negócios para Internet. É apaixonada por filosofia, física quântica, psicanálise e política. Siga Denise no Instagram: @denisepitta e @fashionbubblesoficial

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